O USO DE RECURSOS VISUAIS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS Daniella Zanellato 1 Universidade de São Paulo Elaine Cristina Paixão da Silva 2 Universidade de São Paulo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação (FEUSP) 3 Área temática: Educação Bilíngue de Surdos Modalidade: Comunicação Oral Palavras-Chave: Recursos didático, recurso visual, atendimento educacional especializado, educação de surdos, surdez. 1. Introdução A educação de surdos, na perspectiva da educação inclusiva no Brasil, tem merecido recorrentes reflexões acadêmicas, sobretudo em função de suas especificidades linguísticas e pedagógicas. Isso porque, tanto o professor da escola comum, quanto o professor do atendimento educacional especializado devem buscar práticas pedagógicas que considerem a diversidade de todos os alunos e, por sua vez, as especifícidades dos alunos surdos. Partindo do pressuposto que o trabalho com recurso didático visual considera a inter-relação entre visualidade e surdez e que esta, quando adequadamente proposta pelo professor, pode favorecer aprendizagens mais significativas na construção de sentido pelos surdos, entendemos que as imagens devem ser decodificadas enquanto signos e utilizadas de maneira a valorizar a experiência visual dos alunos. A relevância da imagem enquanto possibilidade de construção de aprendizagens esteve presente em diferentes momentos da história. A questão, discutida por Fabris (1998) a partir de estudos que remotam ao Renascimento, identificou que a estrutura de organização espacial e racional da imagem coincidiu com uma nova visualidade que se desenvolvia paralelamente ao advento da imprensa. Tal abordagem, segundo a autora, perduraria até a fotografia e o início das imagens em movimento, culminando em tempos atuais com outras estruturas e formas de pensamento e visualidade, redefinindo conceitos de espaço, tempo, memória, produção e acesso ao conhecimento. No contexto 1 Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação (FEUSP) 2 Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação (FEUSP)
da contemporaneidade, as novas formas de ver, sentir e estar no mundo, possibilitam reflexões sobre as distintas formas de inter-relacionamento, necessários a construção de aprendizagens mais significativas e que consideram as potencialidades da visualidade na educação de todos os alunos. De acordo com Reily (2004), na educação escolar a imagem vem sendo concebida como primordial no ensino de crianças que ainda não sabem ler, mas gradativamente tal importância é substituída conforme a aquisição da escrita, sendo mesmo eliminada dos materiais didáticos e ambientes escolares. Nesse processo, a autora apontou que o potencial da imagem como veículo de mediação sígnica no processo de aprendizagem é desconsiderado, deixando de atender não somente alunos surdos, mas pessoas com deficiência que se beneficiariam diretamente da linguagem visual. Dentre esses, são considerados os alunos com deficiência intelectual, alunos com deficiência neuromotora que fazem uso de sistemas de comunicação alternativa ou pictográfica, pessoas com autismo e síndrome de Asperger, dentre outras que fazem parte do público-alvo da educação especial e que contam com a garantia de acesso e permanência na escola e nas salas de atendimento educacional especializado, de forma complementar ou suplementar. Assim, tal autora nos apresenta que, neste processo, a imagem pode ser um veículo primordial de mediação sígnica. Por sua vez, ao recairmos a ênfase da discussão na educação de surdos, as recorrentes abordagens apontam para os recursos visuais como importantes elementos pedagógicos, mas que nem sempre são empregadas em toda sua potencialidade. Conforme identificou Lebedeff (2010), as práticas de ensino ainda são baseadas na fonética da lingua oral e se sobrepõem ao uso de ferramentas visuais, intensificando a necessidade de pesquisas sobre tal abordagem na educação de alunos surdos. O trabalho com imagens enquanto recursos didáticos visuais na educação de surdos pressupõe compreender por parte de professores do ensino comum e das salas de AEE as estruturas básicas que compõem o sígno visual e dentre as quais a percepção se estrutura. Nesse sentido, autores como Arnhein (1957) e Dondis (1991) fundamentaram aspectos formais de análise da imagem que podem auxiliar professores a organizarem e sistematizarem diferentes possibilidades a partir de seus empregos no currículo escolar inclusivo. Para Arnhein (1957) as principais estruturas que compõem a percepção visual estão centradas em equilíbrio, figura, forma, espaço, luz, cor, movimento, dinâmica e expressão. Por sua vez, Dondis (1991) nos apresenta elementos que fundamentam aspectos compositivos da sintaxe visual, tais como ponto, linha, forma, cor e luz.
Em contrapartida, Reily (2004) destaca que no trabalho pedagógico com imagens, a significação não está na percepção sensorial, mas, sim, no movimento de síntese e de interpretação e nesse sentido torna-se necessário avançar para sintetizar o sentido geral que o artista pretende comunicar (p.29). Partindo do pressuposto que o trabalho com recurso didático visual pode favorecer aprendizagens mais significativas na construção de sentido pelos surdos, ao consideramos a interrelação entre visualidade e surdez; e que as imagens devem ser decodificadas enquanto signos e utilizadas de maneira a valorizar a experiência dos alunos surdos, por meio da síntese e da interpretação, delineamos os objetivos e métodos apresentados a seguir. 1.1 Objetivo, método e discussão dos resultados Diante das considerações apresentadas, o presente estudo buscou responder as seguintes indagações: Os professores de escolas inclusivas entendem a importância do recurso didático visual e o utilizam em suas práticas pedagógicas com surdos? Como os professores podem favorecer aprendizagens mais significativas por meio do recurso didático visual e considerando a interrelação entre visualidade e surdez? Há estudos sobre recurso didático visual em salas de aula comum e/ou salas de atendimento educacional especializado, que considerem a imagem visual como elemento importante na educação de surdos? Diante dessas questões, a pesquisa teve por objetivo geral investigar como os recursos didáticos visuais são utilizados nas práticas pedagógicas na educação de surdos e salas de atendimento educacional especializado e, como objetivo específico, identificar e analisar produções científicas relacionadas ao uso de recursos didáticos visuais para o trabalho com alunos surdos. Para tanto essa pesquisa possui uma abordagem qualitativa, envolvendo pesquisa bibliográfica. Também foi realizada pesquisa em periódicos científicos indexados, por meio do balanço de produções.
Inicialmente foi feita a delimitação dos descritores: a) Recursos visuais; b) Atendimento educacional especializado; c) Educação de surdos; d) Surdez; e) Imagem; f)visual. Na primeira etapa do balanço de produções, foi feita uma busca pela página inicial da Scientific Electronic Library Online (SciELO), a partir da coleção da biblioteca, sendo indicados os seis descritores inicialmente escolhidos. Nessa fase, foram selecionados os campos assunto e toda coleção para delimitação da busca. A partir do número de publicações apresentadas, a busca foi refinada no campo palavras do título. Todos os títulos das publicações apresentadas nesssa fase foram analisados individualmente e, naqueles onde havia indicações de aproximações com a abordagem em discussão, recursos didáticos visuais, os resumos foram lidos e analisados. Os dados revelados podem ser analisados na tabela 1: Tabela 1: Scielo - Coleção da Biblioteca Descritores Palavras no título Trabalhos que versam sobre recursos didáticos visuais na educação de surdos Recursos visuais 0 0 Atendimento educacional especializado 0 0 Educação de surdos 0 0 Surdez 66 0 Imagem 646 0 Visual 586 02 Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2015. Os dados da tabela revelaram que somente dois artigos dentro do descritor Visual, se referem ao uso de recursos visuais na educação de alunos surdos, apesar destes não aparecem como descritores. Os dois artigos localizados se referem ao trabalho com sequência de imagens para desenvolver a escrita de alunos surdos, confirmando a abordagem teórica sobre a importancia da imagem na mediação sígnica (REILY, 2004).
Na segunda etapa, a busca pela página inicial da Scientific Electronic Library Online (SciELO) foi delimitada a partir do periódico Revista Brasileira de Educação Especial, publicada pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial ABPEE. O processo de análise seguiu o método aplicado na primeira etapa, ou seja, foram indicados os seis descritores inicialmente escolhidos e selecionados os campos assunto, delimitando a busca para neste periódico. Novamente, a partir do número de publicações apresentadas, a busca foi refinada no campo palavras do título. Os títulos foram analisados individualmente e, nas indicações de aproximações com a abordagem em discussão, recursos didáticos visuais, os resumos também foram lidos e analisados. Os dados dessa pesquisa podem ser analisados na tabela 2: Tabela 2: Scielo - Revista Brasileira de Educação Especial Descritores Trabalhos encontrados Trabalhos que versam sobre recursos didáticos visuais na educação de surdos Recursos visuais 0 0 Atendimento educacional especializado 0 0 Educação de surdos 0 0 Surdez 05 0 Imagem 0 0 Visual 0 0 Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2015. Os dados apresentados na tabela dois revelaram que dentre os artigos coletados na Revista Brasileira de Educação Especial, nenhum versou sobre o objeto desta pesquisa. Nos cinco trabalhos encontrados, os temas recorrentes foram letramento, sem referência ao uso de imagens, confirmando a hipótese de Lebedeff (2010) ao apontar que as práticas de ensino se sobrepõem ao uso de ferramentas visuais. 1.2 Considerações finais
O levantamento preliminar realizado evidencia a escassez de publicações de trabalhos científicos na coleção de periódicos da SciELO e, em específico, na Revista Brasileira de Educação Especial. Entendemos que seria importante uma amostragem mais ampla em outras bases de dados para melhor análise quanto ao quadro de publicações sobre este objeto de pesquisa, uma vez que somente duas publicações na base de dados pesquisada indicou a presença do uso de recursos didáticos visuais na educação de surdos. Contudo, os resultados indicam a relevância da pesquisa, uma vez que a imagem trata-se de importante recurso pedagógico na educação de surdos, podendo se expressar como modalidade sígnica estática e tátil, e também, como imagem em movimento, com um sistema sígnico híbrido, que é ao mesmo tempo sonoro, visual e verbal (REILY, 2004). Nesse sentido, também são apontados novos caminhos para o uso da imagem e sua abordagem nas diferentes linguagens, favorecendo não apenas a aprendizagem dos alunos surdos, mas de todos os alunos envolvidos na educação escolar. Referências Bibliográficas ARNHEIN, R. Arte e percepção visual:uma psicologia da visão criadora. São Paulo:Edusp, Pioneira, 1989. DONDIS, D. A Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991. LEBEDEFF, T. B. Aprendendo a ler com outros olhos : relatos de oficinas de letramento visual com professores surdos. Pelotas: FaE/PPGE/UFPel, 2010. REILY, L. Recursos pedagógicos: a imagem visual em duas dimensões e a imagem em movimento. In: Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004. Scientific Electronic Library Online- SciELO Brasil, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_home&lng=pt&nrm=iso, acesso em 24 de mai. 2014 Revista Brasileira de Educação Especial, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-6538&lng=pt&nrm=iso, acesso em 24 de mai. 2014.