A Formação de Educadoras(es) dos Movimentos. Sociais de Luta pela Terra: uma análise da Primeira. Turma de Pedagogia da Terra do Estado de SP

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Transcrição:

A Formação de Educadoras(es) dos Movimentos Sociais de Luta pela Terra: uma análise da Primeira Turma de Pedagogia da Terra do Estado de SP Resumo Nome: Paula da Silva Orientador Prof. Dr: Manoel Nelito M. Nascimento Mestrado Linha de Pesquisa: Estado, Política e Formação Humana A temática da educação está situada no debate mais amplo da sociedade, para localizá la é necessário compreender os processos históricos pelos quais a humanidade produz suas bases materiais de existência e como ela se organiza para produzir o conhecimento. Quais os espaços têm socializado esse conhecimento e de que forma? Todos têm a mesma legitimidade para isso? Que conhecimento, a favor de quem e para quem? Buscando compreender a formação humana como um processo mais amplo, que não se restringe apenas à escola, o nosso foco na pesquisa será a formação de educadoras (es) dos movimentos sociais de luta pela terra para captar o que é essencial nos processos formativos. Quais os instrumentos e mecanismos de ensino presentes no curso de Pedagogia da Terra que garantem uma formação totalitária? Como tem sido desenvolvidas as práticas pedagógicas por esses educadores (as)? A atuação no movimento social reflete elementos dessa formação humana integral? Uma discussão ainda pouco difundida em relação a questão educacional brasileira, porém, de grande importância num país como o Brasil, um dos maiores do mundo tanto no que diz respeito as dimensões territoriais, como também econômica e de riquezas naturais e em meio a sua recente história de colonização nunca realizou uma reforma agrária, contudo, tem um alto percentual de pessoas que vivem no e do campo num território cada vez mais disputado pelas grandes empresas, mas também marcado pela resistência e organização dos (as) trabalhadores (as) para garantir direitos básicos de qualquer cidadão. Palavras Chaves Movimentos Sociais de luta pela terra; Formação Humana; Pedagogia da Terra.

Nos diferentes espaços em que se desenvolvem processos educativos, temos como atores envolvidos nessa ação, educadores e educandos, sujeitos que ao estabelecerem estas relações educam-se mutuamente. O primeiro traz consigo, saberes construídos em sua trajetória de vida. O segundo além destes saberes, tem a responsabilidade de conduzir o momento de ensino e aprendizagem, devido a sua formação e apropriação de conhecimentos sistematizados, articulados à metodologia e recursos diversos, com base nos objetivos traçados previamente. Este projeto de pesquisa intitulado A formação de educadoras (es) dos movimentos sociais de luta pela terra: uma análise da primeira turma de Pedagogia da Terra do estado de São Paulo, tem como finalidade fazer uma reflexão a partir da formação dos (as) estudantes do curso de Pedagogia da Terra convênio INCRA, Movimentos Sociais e UFSCar oriundos dos assentamentos e acampamentos de reforma agrária, buscando compreender se esses processos direcionam-se no sentido da formação humana, na qual tenha como resultado de suas ações a formação de sujeitos emancipados, com capacidade de pensar, intervir e produzir mudanças no seu contexto social. A relevância dessa temática se dá na medida em que considerando os movimentos de luta pela terra enquanto espaço de formação e luta social, buscamos fazer a relação entre a trajetória de militância e as vivências da turma Helenira Resende, articuladas às práticas educativas desenvolvidas pelos educadores os quais têm na formação sua maior fonte de apropriação das teorias pedagógicas e a partir delas fundamentam a sua prática. Compreendemos que essa formação não se efetiva somente através de um curso, mas, que se completa a cada dia frente aos novos desafios, assim, trazemos como recorte da materialidade dessa formação elementos da história do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST. Os movimentos sociais populares, de forma geral, têm uma dinâmica pedagógica que se materializa na sua organização, esta, produz transformações nas pessoas que nele se inserem: educa o sujeito ao passo que estes entram no movimento buscando mudar a sua realidade imediata. A partir de suas vivências e da compreensão que vão adquirindo da organicidade interna do movimento, os sujeitos começam a olhar a realidade, fazendo uma leitura crítica, o seu sentimento de revolta vai se tornando consciência de reivindicação, e todo esse processo, junto à inserção no coletivo, os levam a lutarem pela garantia de seus

direitos. Esse é um processo complexo, que conjuga vários elementos, entre eles a participação social e a compreensão da histórica de nossa sociedade. O MST desde a sua origem vem reafirmando a importância da educação como direito dos sujeitos do campo, trabalhando na linha de uma formação com base na totalidade, como afirma Gramsci apud Vieira sobre a formação e a cultura: Gramsci pensa a questão da formação do indivíduo como uma função estratégica da política, como parte da implementação do projeto de uma classe na perspectiva de se fazer hegemônica, como tarefa de uma vanguarda sobre a militância, como responsabilidade dos mais velhos perante os mais jovens, na perspectiva de criar formas mais avançadas de civilidade. (VIEIRA, 1999) Assim, o MST ao longo de sua trajetória tem garantido a formação de seus integrantes, de forma coletiva procurando sempre dialogar com o trabalho que é definido a partir da cultura de cada região. O que Vieira retrata como elementos da resistência que assumem nova função: Nesse novo horizonte social, o trabalho produtivo assume uma posição de destaque na conformação do modo de viver e dos processos de formação humana, de tal maneira que o regionalismo, a família, a religião não estejam suprimidos nessa nova fase inaugurada pela indústria, mas que, certamente, não ocupam mais a mesma posição que ocupavam nos períodos históricos anteriores. (VIEIRA, 1999). Concomitante a este processo, o MST começa a se abrir ao que havia na sociedade para além das questões específicas do campesinato, o movimento atrai diversos setores, entendendo, que a luta pela reforma agrária é uma luta de todos, juntaram-se ao movimento diversos professores e outros profissionais que buscavam desenvolver ações diferenciadas para garantir dignidade às famílias no campo, segundo Stédile apud Caldart: (...) embora o MST tenha a sua raiz no trabalho da terra, sempre entendeu que, para lutar pela Reforma Agrária, não é preciso ser necessariamente um camponês. Por isso, entra todo mundo, porque pode entrar o padre, o agrônomo, a professora, o economista, a agente de saúde, cada um participando desde a sua atuação específica. Analisa Stédile: eu acho que isso deu também uma consistência maior ao MST, porque ele soube se abrir ao que havia na sociedade e não ficar fechado ao que seria um Movimento camponês típico... mas sem abrir mão da vinculação com a base. O

MST tem que ser feito pelos trabalhadores (1998). Sem dúvida, essa foi uma das características importantes na constituição do MST também como uma organização social, bem como no delineamento do que veio a ser a Identidade Sem Terra (CALDART, 2004, p.115 e 116). O MST avança na compreensão dos processos que constituem a formação do sem terra, pois o próprio movimento é um espaço educativo que tem como centro o sujeito que vai se formando e transformando a partir da luta, nas místicas, no trabalho com a terra, dentre os processos que fazem parte da dinâmica do MST e o constituem enquanto sujeito pedagógico destacam-se como principais matrizes: Pedagogia da luta social, Pedagogia da organização coletiva, Pedagogia da terra, Pedagogia da cultura e Pedagogia da história, pois são processos educativos que constituem mais amplamente a experiência de formação dos Sem Terra dentro do contexto do Movimento Social. Entre as matrizes pedagógicas do Movimento, está a Pedagogia da terra que busca entender como os sujeitos se educam em sua relação com o trabalho e a produção, tomando-o como princípio educativo, pois ao lançar um olhar sobre a paisagem transformada, observamos as construções e produções feitas em coletivo. É a síntese do processo de organização social e coletiva, em que as pessoas vivenciam experiências novas e estabelecem relações, não só de trabalho, mas de companheirismo. É quando o sujeito percebe-se não mais sozinho e frágil diante do conflito, mas parte de uma coletividade que está construindo a sua própria história, através da força da organização coletiva, é uma Pedagogia que vem trazer outra perspectiva de vida, seguindo na contra mão da sociedade capitalista, como podemos ver em Silva: Nas sociedades capitalistas contemporâneas, o padrão que direciona as ações humanas, constituindo-se num imperativo, numa necessidade racional, é a lógica do capital, princípio de ação individual, coletiva e pública. É partir dela que são reguladas as atividades humanas. Assim, a moral é pensada como capital social e como tal deve ser formada. São as relações de mercado, a lógica dos negócios, o desenvolvimento de competências adaptativo - competitivas que definem os parâmetros éticos de formação humana, que estabelecem o que é ser autônomo. (SILVA, 2006)

Essa educação tem em sua essência a valorização do ser humano, do diálogo, dos saberes populares e do respeito mútuo, que tem a especificidade de um contexto e do Movimento com o protagonismo dos sujeitos do campo, por isso, também faz parte da Educação do Campo, pois são os movimentos sociais articulados a outras entidades organizadas que começam a luta por uma educação de qualidade pensada e implementada no território do campo brasileiro. É a luta dos trabalhadores do campo pelo seu direito à educação, principalmente através dos Movimentos Sociais buscando a implementação de políticas públicas em todos os níveis de ensino. Outro eixo é a construção de uma concepção de educação, pois o que caracteriza a Educação do Campo são esses dois elementos: a luta pelos direitos e a construção da concepção de educação para dar formato às políticas públicas. Nesse sentido, Lamarra apud Rothen apresenta alguns elementos do que considera central ao se referir a educação: Uma outra vertente leva a considerar a qualidade em relação com o contexto político, econômico e sociocultural, sendo entendida como eficiência nos processos, eficácia nos resultados e relevância, considerada essa última como o impacto e valor das suas contribuições, no que diz respeito às necessidades e problemas da sociedade. (ROTHEN, 2008). Assim, a formação dos estudantes da Pedagogia da Terra, está inserida nessa perspectiva, que em sua prática pedagógica na Educação Infantil, Ensino fundamental e Educação de jovens e adultos, o que o educando aprende na escola deve servir para ele resolver os problemas do seu cotidiano, formar uma nova visão de mundo, deve ir além, oportunizar o acesso a coisas que ele não conhece. E durante a sua formação teórico-prática, a turma se coloca no processo do curso, participando e avaliando para que as ações desenvolvidas se direcionem de acordo com suas necessidades, anseios e expectativas, conforme vemos novamente em Sobrinho apud Rothen: Nessa mesma linha, para Dias Sobrinho (2000, p. 212) a qualidade da educação é considerada como: "[...] um juízo valorativo que se constrói socialmente. É um atributo ou um conjunto de propriedades que definem uma coisa e a distinguem das demais, de acordo com julgamentos de valor praticados num determinado meio". (ROTHEN, 2008)

Uma última questão é que na Educação do Campo, o do não pode ser substituído pelo para. Assim sendo, com a participação do Estado deve-se refletir e continuar na disputa pelo projeto, pois os protagonistas são os sujeitos do campo e quando ocorre a institucionalização de alguma experiência, há uma descaracterização do projeto inicial, suprimindo todo um histórico da luta dos trabalhadores, que devem resistir, já que de todo esse processo resultará a concretização de uma educação de qualidade, construída junto com a comunidade e que atenda aos objetivos da classe trabalhadora. Dessa forma, os objetivos com essa pesquisa são: Investigar a formação de educadores (as) do curso de Pedagogia da Terra, buscando compreender em que medida esse processo associado à militância nos movimentos sociais do campo, se direciona na perspectiva da formação humana; Conceituar os movimentos sociais em geral e em especial os movimentos sociais de luta pela terra e pela educação no campo extraindo os aspectos centrais que dizem respeito ao seu caráter educativo; Apresentar um perfil geral dos integrantes da turma de forma a sistematizar os limites e as potencialidades da organicidade construída durante os 4 anos; Identificar como a trajetória nos movimentos sociais incidiu no curso de Pedagogia da Terra e se esse processo proporcionou uma formação emancipatória; Analisar o projeto político pedagógico e sua implementação com base na proposta teórico metodológica do curso. A metodologia e os procedimentos serão utilizados com a finalidade de elaborar uma pesquisa com base na construção de conhecimento científico extraindo algumas categorias de análise que contribuam para compreensão de processos formativos amplos. O intuito é realizar uma pesquisa qualitativa, a partir de uma abordagem participante colocando-me na condição de educadora e pesquisadora, a qual está imersa nesta realidade imediata, porém, entende a necessidade de se distanciar, para apreender elementos que contribuam para uma melhor leitura e qualificação da mesma, somo ao compromisso com esta realidade e com os sujeitos que farão parte desse processo de investigação, a ética profissional e a rigorosidade

científica, pressuposto de qualquer prática desta natureza. Para sua realização utilizaremos procedimentos tais como pesquisa de campo, observação das atividades dos grupos estudados, entrevistas para captar suas considerações em relação ao tema. Além de outros recursos como levantamentos bibliográficos, análise de documentos, fotografias e notícias. Procurando situar as descobertas da pesquisa referente a formação de educadores no contexto mais amplo da educação e da teoria marxiana partindo de leituras e fichamentos de obras que contribuem para a sistematização do tema pesquisado. Assim, os resultados serão fruto tanto dessa pesquisa teórica como de pesquisa empírica que terá como base de obtenção de dados e informações dos participantes da turma a aplicação de questionário, cujas respostas serão trabalhadas no texto junto ao referencial teórico possibilitando uma síntese que contemple diferentes dimensões. Tendo presente a História enquanto categoria de análise, é importante destacar que embora o questionário seja individual, a ênfase do curso sempre foi para as produções coletivas que somadas aos documentos e outro materiais, foram utilizados para compor uma pequena memória desde os primeiros passos para construção do projeto até o período atual constituindo também, uma rica fonte para caracterizar as diversas fases de organização, desenvolvimento e finalização do curso. Além destes materiais e demais elaborações, a própria vivência do processo auxiliará na estruturação da dissertação e no estudo da auto gestão das (dos) educandas (os) enquanto elemento fundante da proposta teórico metodológica e seus desdobramentos no espaço acadêmico. Referências Bibliográficas CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. Expressão Popular. São Paulo. 2004..CERIOLI, Paulo Ricardo. KOLLING, Edgar Jorge. Educação do Campo: Identidade e Políticas Públicas. [s.n]. Brasília, 2004. MST E A PESQUISA. Cadernos do Iterra Ano I No. 3. Veranópolis. Junho de 2002.

ROTHEN, José Carlos. Avaliação, agências e especialistas: padrões oficiais de qualidade da educação superior. Abril de 2009. Disponível em <http://www.scielo.com.br>. Acessado em: 26 out.10. SILVA, Sidney Reinaldo da. Ética pública e formação humana. Educ. Soc., Out 2006. Disponível em: <http://www.scielo.com.br>. Acessado em 26 out.10. VIEIRA, Carlos Eduardo. Cultura e formação humana no pensamento de Antonio Gramsci. Educ. Pesqui., Jun 1999. Disponível em: <http://www.scielo.com.br>. Acessado em 26 out.10