Catarina Santos, Ana Faria, Ana Cláudia Monteiro Unidade Autónoma de Oncologia Hospital Fernando Fonseca Amadora, 19 de Maio 2016

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Transcrição:

Catarina Santos, Ana Faria, Ana Cláudia Monteiro Unidade Autónoma de Oncologia Hospital Fernando Fonseca Amadora, 19 de Maio 2016

Caracterizar a actividade e papel actuais da Oncologia na prática clínica Discutir a importância do diagnóstico histológico para a prática do oncologista: situações de excepção Identificar as principais formas de apresentação metastática da doença oncológica Propor estratégias diagnósticas para os diferentes níveis de apresentação Discutir e propor medidas que facilitem a colaboração entre a Oncologia e a Medicina Interna nos casos mais desafiantes

É o cancro uma enfermidade tão fera, que à violência de sua fúria parece impossível escapar, o que por infortúnio caiu em suas garras, podendo-se supor infeliz na possessão de tão desumano mal. É um ardiloso veneno, que entrando com suavidade a nascer, acaba com rigor a maltratar; e de sorte que se não contenta, sem que devore a mais preciosa prenda da saúde, por conseguinte, sem que roube a mais estimável jóia da vida. Anastácio da Nóbrega, 1741 O cancro é uma questão palpitante do momento actual, aquela que por toda a parte do mundo civilizado chama a atenção de todas as inteligências e se tornou em mira de todas as actividades no campo da Medicina. Miguel Bombarda, 1907

1904 - Criação de uma Comissão para o Estudo do Cancro : João Ferraz de Macedo, Azevedo Neves, Curry Cabral, Oliveira Feijão e Custódio de Almeida Cabeça 1912 1ª Clínica Cirúrgica, sob Direcção de Francisco Gentil, no Hospital de Santa Marta, Lisboa: 40 camas, 2 blocos operatórios 29 Dezembro 1923 Instituto Nacional para o Estudo do Cancro

1979 Criação do Sistema Nacional de Saúde; descentralização do IPO como centro de formação e tratamento em Oncologia hospitais centrais e distritais começam a seguir doentes com cancro 1994 PELA PRIMEIRA VEZ: INTERNATO DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM ONCOLOGIA MÉDICA Esperança média de vida Métodos de diagnóstico e rastreio Opções terapêuticas American Cancer Society, 2010

Indicadores 2000 2006 2012 2013 2014 2015 Δ 2013-2015 N.º Total de Consultas 6 474 11 988 14 168 14 496 14 775 14 880 2,7% N.º 1. as Consultas 434 656 756 790 816 1 049 33,0% N.º Consultas Subsequentes 6 040 11 332 13 412 13 706 13 959 13 831 0,9% N.º Doentes Distintos 1 936 2 053 2 069 2 228 8,5% % 1. as Consultas /Total Consultas 6,7% 5,5% 5,3% 5,4% 5,5% 7,0%

Prevenção/ Rastreio Diagnóstico Follow-up Terapêutica

Valor prognóstico Valor preditivo Dados como tipo; grau; número de mitoses; índice proliferativo; IHQ (p16, CD117, HER2 ) e mesmo estudos moleculares são marcadores INDEPENDENTES de prognóstico Além de definir prognóstico, estes dados permitem ORIENTAR TERAPÊUTICA conforme previsão de resposta TERAPÊUTICAS ALVO

Carcinoma hepatocelular: diagnóstico pode ser estabelecido pelo Doença contexto óssea clínico metastática (doença num doente hepática de sexo pré-existente) masculino com e/ou PSA alfafetoproteína elevada e exame de imagem confirmatório TC elevado trifásica Carcinomatose peritoneal em doente do sexo feminino com massa ovárica e CA 125 elevado Senso clínico: situações de prognóstico limitado em que a caracterização Doença metastática histológica num doente não alterará com massa a decisão pancreática terapêutica e CA 19.9 elevado Situações cujo contexto clínico é altamente sugestivo do tumor CADA DECISÃO DEVE SER TOMADA CASO A CASO primário e a caracterização histológica não terá valor prognóstico ou preditivo

Não há nenhum marcador tumoral que seja patognomónico na ausência de contexto clínico A sua utilidade é sobretudo monitorizar a resposta terapêutica Reconhecem-se apenas quatro marcadores com utilidade diagnóstica ( valor preditivo positivo) na presença de contexto clínico apropriado: B-HCG (tumores germinativos/ trofoblasto); alfa-fetoproteína (tumores germinativos; CHC); calcitonina (tumor medular da tiroideia); PSA (adenocarcinoma da próstata)

O DIAGNÓSTICO Não há nenhum marcador tumoral que seja patognomónico na ausência de contexto clínico POR MARCADORES A sua utilidade é sobretudo monitorizar a resposta terapêutica NÃO EXCLUI Reconhecem-se apenas quatro marcadores com utilidade diagnóstica ( valor NECESSIDADE preditivo positivo) DE na presença de contexto clínico apropriado: ESTUDO HISTOLÓGICO NA B-HCG (tumores germinativos/ trofoblasto); alfa-fetoproteína (tumores germinativos; GRANDE CHC); calcitonina MAIORIA (tumor medular da tiroideia); PSA (adenocarcinoma da próstata) DOS CASOS!

Cérebro 80%/ Cerebelo 15%/Tronco 5% 16-20% 7% 7-10% 5-10% 1-2% Prioridade: gerir complicações e sintomas Risco convulsivo/ PIC / edema TC-CE (múltiplas lesões) com contraste RMN-CE com gadolínio (lesão única)

Múltiplas LOE LOE única Anamnese/ exame objectivo/ lab Queixas sugestivas de processo infeccioso (diagnóstico diferencial) Hábitos tabágicos Queixas de órgão e sistema História familiar NÃO Para doentes unfit acamados, sem vida de relação é lícito não prosseguir investigação! CASO A CASO TC TAP Auscultação/ Percussão tórax Pele Palpação mamária Toque rectal Homens jovens: avaliar testículos PRIMÁRIO IDENTIFICADO? SIM Exame dirigido Anemia (ferropénica, doença crónica) SE CONTEXTO: B-HCG, alfa-fetoproteina

TC TAP Sugestiva de primário? NÃO SIM Múltiplas LOE Avaliação ORL (endoscopia) Ponderar exames endoscópicos (EDA/ colonoscopia) PET? apenas se dúvidas na TC LOE única Ponderar biópsia cerebral e/ ou neurocirurgia Exame dirigido (endoscópico, biópsia guiada)

O tipo histológico pode apontar para um foco primário, caso seja um tumor indiferenciado ou pouco diferenciado, direccionando o tratamento ADENOCARCINOMA: pulmão, mama, cólon CARCINOMA PAVIMENTO-CELULAR: pulmão, cabeça e pescoço, esófago RTE paliativa e/ ou QT em esquema para tumores de origem primária desconhecida Na grande maioria dos casos é possível determinar uma origem primária do tumor; nos casos desafiantes, a decisão será sempre individualizada e o bom senso clínico deve imperar

É tipicamente de apresentação metácrona, mas pode ser forma de apresentação e deve haver sempre suspeita na presença de contexto clínico apropriado 12-35% 10-26% 5-25% 4-14% Prioridade: gerir complicações e sintomas Risco convulsivo/ dor/ compressão medular 50-80% ALERTA: sinais neurológicos suspeitos (focais, meningismo, alterações comportamento) na ausência de LOE e sem contexto infeccioso PL mandatória

PUNÇÃO LOMBAR + RMN neuroeixo Para doentes unfit acamados, sem vida de relação é lícito não prosseguir investigação! CASO A CASO caracterização histológica/ citometria de fluxo %identificar massas meníngeas passiveis de irradiar e o respectivo nível Anamnese/ exame objectivo/ lab Hábitos tabágicos Queixas de órgão e sistema História familiar NÃO TC TAP Auscultação/ Percussão tórax Palpação mamária Toque rectal Homens jovens: avaliar testículos Anemia (ferropénica, doença crónica) SE CONTEXTO: B-HCG, alfa-fetoproteina PRIMÁRIO IDENTIFICADO? SIM Exame dirigido

TC TAP Sugestiva de primário? NÃO SIM Avaliação ORL (endoscopia) Ponderar exames endoscópicos (EDA/ colonoscopia) PET? apenas se dúvidas na TC Exame dirigido (endoscópico, biópsia guiada)

O tipo histológico pode apontar para um foco primário, caso seja um tumor indiferenciado ou pouco diferenciado, direccionando o tratamento ADENOCARCINOMA: pulmão, mama, cólon CARCINOMA PAVIMENTO-CELULAR: pulmão, cabeça e pescoço, esófago IHQ pode aprofundar o conhecimento! RT paliativa e/ ou QT intratecal (MTX; citarabina; tiotepa) QT sistémica Na grande maioria dos casos é possível determinar uma origem primária do tumor; nos casos desafiantes, a decisão será sempre individualizada e o bom senso clínico deve imperar

Líticas Blásticas Mistas

Prioridade: gerir complicações e sintomas Fractura ou risco; compressão medular; hipercalcémia Se há confirmação de metástases ósseas vertebrais em doente fit, deve ser programada RMN coluna DIAGNÓSTICO vertebral completa para caracterização de envolvimento medular RX simples Fácil acesso; rápido Particularmente útil na avaliação das extremidades Cintigrafia óssea Técnica de medicina nuclear; mais dispendiosa e menos acessível em contexto urgência UTILIDADE LIMITADA (RT) EM METS LÍTICAS RMN Ideal para avaliar compromisso medular Melhor para lesões líticas Exames como cintigrafia óssea ou RMN óssea do corpo/ RX esqueleto devem ser pedidos atempadamente para caracterizar a extensão do envolvimento ósseo PLANEAMENTO TERAPÊUTICO

Líticas Blásticas Anamnese/ exame objectivo/ lab Hábitos tabágicos Queixas de órgão e sistema História familiar Auscultação/ Percussão tórax Palpação tiróide Anemia (ferropénica, doença crónica) Outros critérios CRAB Electroforese proteínas imunofixação SE CONTEXTO: calcitonina Anamnese/ exame objectivo/ lab Queixas de órgão e sistema História familiar Auscultação/ Percussão tórax Palpação mama Toque rectal Homens jovens: avaliar testículos Anemia (ferropénica, doença crónica) SE CONTEXTO: PSA B-HCG, alfa-fetoproteina

PRIMÁRIO IDENTIFICADO? SIM NÃO TC TAP Exame dirigido Sugestiva de primário? SIM NÃO O tratamento com bifosfonatos não compromete o diagnóstico e deve ser iniciado precocemente RADIOTERAPIA para controlo local deve ser realizada APENAS se assegurado outro local de biópsia Biópsia óssea antes de RT!

TC-Tórax Nódulos múltiplos, >1 cm Bases e topografia subpleural Arredondados, bordos bem delimitados (excepto se hemorragia) Ausência de calcificações Cavitação rara

ANAMNESE Sexo Idade Hábitos AP ( cirurgias, tratamentos) AF Sintomas EO Adenopatias Exame mamário Pele Cavidade oral

Doente com AP de doença oncológica Pulmão Mama C. coloretal C. cabeça e pescoço Manifestação inicial de doença oncológica Testículo /TCG não gonadal Rins Mama Canal anal Melanoma Sarcomas

TC-TAP? Sempre que suspeita tumor maligno metastisado Possibilidade de identificação do primário BIÓPSIA LESÃO PULMONAR? Se ausência de canditado a tumor primário mais facilmente biopsável (histologia obtida restringe as hipóteses) Punção TT, TB, biópsia excisional ESTUDO MAMÁRIO? Se EO suspeito Se anamnese enquadrável numa possível recidiva local e sistémica

ECOGRAFIA TESTÍCULO? Se homem < 50 A e TC de corpo sem pista de lesão primária Associar doseamento de αfp e βhcg ENDOSCOPIA DIGESTIVA? Se anemia ferropénica concomitante e ausência de AP de c. gástrico/coloretal Se TC-TAP sugerir lesão nessa topografia

PRIMÁRIO IDENTIFICADO? SIM NÃO TC TAP Exame dirigido Sugestiva de primário? SIM NÃO Biópsia de lesão pulmonar

Tumor primário da pleura 10 % dos derrames pleurais associados a doença maligna Envolvimento secundário 90 % do DP malignos Forma de apresentação de 10% dos cancros Mesotelioma maligno C. Pulmão C. Mama Linfomas C. ovário C. gástrico C. primário desconhecido

FISIOPATOLOGIA Aumento da produção de LP Aumento da vasos na superfície serosa (VEGF) Aumento permeabilidade vascular (citocinas, VEGF) Aumento pressão hidrostática capilar Diminuição da drenagem linfática Oclusão e destruição vasos linfáticos pelas células tumorais Diminuição pressão oncótica capilar

Presença de células malignas no líquido pleural (LP) Exame citoquímico compatível com exsudado em contexto de doença metastática e ausência de outra causa aparente

TORACOCENTESE DIAGNÓSTICA Avaliação citoquímica e citológica ± microbiologia Citologia inicial positiva em apenas 66% casos de DPM Biópsia pleural apenas se evidência de alt. pleurais difusas TC-TAP Se suspeita/confirmado DPM Possibilidade indicação do primário Melhor caracterização das superfícies pleurais TORACOSCOPIA Pleuroscopia directa/ video-assistida Se suspeita de mesotelioma maligno e ausência de citologia/ histologia que sustente a hipótese Não avançar para este passo sem discussão em RMD

HC + EO +citologia + TC-TAP SIM Exame dirigido PRIMÁRIO IDENTIFICADO/ suspeito NÃO Toracoscopia Biópsia de lesão visível

Ascite associada a doença maligna: aquela que se desenvolve na sequência de presença de cancro avançado Ascite maligna carcinomatose peritoneal (2/3 casos)

Carcinomatose peritoneal Ovário/1º peritoneu Estômago Coloretal Pâncreas Mama Pulmão HTPortal CHC Mtx hepática múltipla Obstrução linfática Linfoma Massa retroperitoneal

ANAMNESE Antecedentes pessoais doença oncológica Hepatites crónicas, alcoolismo, outras doenças hepáticas crónicas, tabagismo Vigilância ginecológica Sintomas B, queixas GI, pelvialgias, queixas GU EXAME OBJECTIVO Estigmas DHC Nódulo de Sister Mary Joseph Adenopatias (N. Virchow) mamas

PARACENTESE DIAGNÓSTICA Aspecto do LA Exames citoquímico, citológico, ± microbiológico Presença de células tumorais Gradiente sero-ascítico da albumina < 1.1 ECOGRAFIA /TC ABDOMINAL Sempre que AM Pode preceder a paracentese Topografia sede de grande parte tumores primários TC-TAP Procura primário, completar estadiamento BIOPSIA primário Massa metastática (IHQ relevante) +ECD? LAPAROSCOPIA?(RMD)

Dicotomia cuidados paliativos vs abordagem curativa

HC + EO +citologia + TC-TAP PRIMÁRIO IDENTIFICADO/ suspeito Discutir/ Rever SIM NÃO LAPAROSCOPIA Exame dirigido Suporte paliativo PS favorável e/ou HD Linfoma/c.ovário NÃO SIM Biópsia de lesão visível

Tumores agressivos, acumuladores de aberrações genéticas/cromossómicas e grande capacidade de desdiferenciação

CPPC Conglomerados mediastínicos Apresentação multimetastática em 70% casos S. paraneoplásicos ADC Pele Mucosas Uvea Disseminação para qq órgão Protótipo doença sistémica C. Lobular C. Anaplásico Tiroide Crescimento rápido Massa cervical Apresentação plurimetastática em 90% casos L Burkitt Tempo duplicação tumoral 25h LDH Hiperuricémia

HC + EO + TC-TAP PRIMÁRIO IDENTIFICADO/ suspeito NÃO SIM Exame dirigido SIM PS favorável e/ou HD Linfoma NÃO BOM Biópsia Revisão AP Centro Ref. Perseguir diagnóstico Discutir paragem MD

Usualmente identificadas em ecografia abdominal ou TC. Completar estadiamento para avaliar extensão da doença e eventual primário. Restantes exames dirigidos pela clínica e achados da TC. Primário Colo-rectal Mama Pulmão Pâncreas Estômago Neuroendócrino Melanoma

SIM PRIMÁRIO IDENTIFICADO por anamnese/ EO? NÃO TC TAP Exame dirigido Sugestiva de primário? SIM NÃO É preferível obter diagnóstico por biópsia hepática directa a aguardar por avaliação endoscópica, na ausência de contexto clínico! BIÓPSIA HEPÁTICA

Diferentes hipóteses consoante o nível envolvido! Adenopatias axilares na mulher (ADC) neoplasia da mama oculta (EO e mamografia negativa) Considerar RM mamária Receptores estrogéneo/progesterona na biópsia Na ausência de doença metastática à distância considerar Cirurgia + RT+ QT Potencialmente curável

Adenopatias cervicais isoladas Mais provável: CPC ou carcinoma indiferenciado Observação por ORL Biópsias cegas naso/oro/hipofaringe PET Possibilidade de aumento sobrevida com RT locoregional Tiroglobulina na biópsia para excluir neoplasia tiróide Quando possível excisão ganglionar ou biópsia aspirativa do gânglio

Adenopatias inguinais Exame anorectal e genital (CPC) Considerar ainda neoplasia pele Toque rectal + protoscopia + exame ginecológico A neoplasia do canal anal é potencialmente curável pelo que deve ser considerada

Adenopatias retroperitoneais ou mediastinicas no homem Beta-HCG e AFP neoplasia germinativa QT com platina deve ser considerada mesmo na ausência de confirmação histológica de neoplasia células germinativas ou MT elevados MTs diagnósticos em contexto clínico! biópsia não é, contudo, dispensada

SIM PRIMÁRIO IDENTIFICADO por anamnese/ EO? NÃO TC TAP Exame dirigido Sugestiva de primário? SIM NÃO É preferível obter diagnóstico atempado por biópsia ganglionar directa, quando acessível! BIÓPSIA DO GÂNGLIO

Grupo heterogéno de tumores que têm em comum: metástases como primeira manifestação não se identifica tumor primário no momento diagnóstico, apesar da realização de MCDTs. 3 a 5% das neoplasias 2/3 são adenocarcinomas disseminação metastática precoce locais de metastização mais frequentes: fígado, pulmão, osso e ganglionar 50% sem identificação de tumor primário em autópsia mau prognóstico

Procura exaustiva do primitivo não é recomendada A apresentação clínica é um bom guia dado que revela a história natural e vias de disseminação da doença MCDTs invasivos conforme a clínica do doente Tentativa de excluir as neoplasias sensíveis a terapêuticas conhecidas

Anamnese/ exame objectivo/ MCDTs Homem / Mulher Sintomas Tempo evolução Antecedentes pessoais História familiar Exaustivo Avaliação ORL Toque rectal Observação ginecológica Palpação mamária Hemograma Bioquímica Urina II TC-TAP Mamografia (mulher) PET-FDG (adenopatias cervicais, metástase única) MT: AFP, beta HCG e PSA (contexto!)

Sub-divisão pela histologia ADC bem e moderadamente diferenciados (60%) Carcinoma pouco diferenciado/indiferenciado (29%) Carcinoma epidermóide (5%) Neoplasia mal diferenciada (5%) Diferenciação neuro-endócrina (1%) Imunohistoquímica Para as formas pouco diferenciadas, conforme a histologia, para eliminar tumores hormonosensíveis, quimiosensíveis e potencialmente curáveis.

Imunohistoquímica

Homem, 31 anos Dor abdominal ecografia com massas hepáticas múltiplas SUG HIPÓTESES: Carcinoma hepatocelular Tumor germinativo Outro tumor NET; GIST; tubo digestivo Objectivo e MCDT História pessoal e familiar PALPAÇÃO TESTÍCULOS OBRIGATÓRIA Toque rectal B-HCG e alfa-fetoproteína Serologias para hepatites Resultados: EO sem alterações AST e ALT elevadas; sem colestase; alfa-fetoproteína e B-HCG normal Hepatites negativas

Homem, 31 anos Dor abdominal ecografia com massas hepáticas múltiplas SUG UMA TC TRIFÁSICA ABDOMINAL NESTE DOENTE PERMITIRIA ESTABELECER O DIAGNÓSTICO DE CHC próximo passo diagnóstico TC trifásica não confirmatória BIÓPSIA HEPÁTICA DIRECTA (adiantando TC tórax para completar estadiamento)

Homem, 71 anos Dor lombar TC coluna com lesões ósseas múltiplas SUG HIPÓTESES: PRÓSTATA MM Pulmão Rim Digestivo Objectivo e MCDT História pessoal e familiar Toque rectal PSA Calcio, albumina Resultados: Toque rectal com prostata aumentada de volume, pétrea PSA

Homem, 71 anos Dor lombar TC coluna com lesões ósseas múltiplas SUG DIAGNÓSTICO PROVÁVEL DE ADC PRÓSTATA pedir biópsia prostática SE POSSÍVEL ADIANTAR PEDIDO DE: RMN coluna TC TAP Cintigrafia óssea Se biópsia não confirmatória: TRATAR COMO ADC DA PROSTATA IV

Mulher, 62 anos Tosse, dor torácica, dispneia ; TC com derrame pleural unilateral SUG HIPÓTESES: Mama Pulmão Ginecológico Objectivo e MCDT História pessoal e familiar Hábitos tabágicos História ginecológica - TSH Palpação mamária Palpação abdomen massas pélvicas? Resultados: Não fumadora; sem TSH; palpação mamária sem alterações Liquido pleural com células atípicas; sugestivas de adenocarcinoma indiferenciado sem origem primária definida

Mulher, 62 anos Tosse, dor torácica, dispneia ; TC com derrame pleural unilateral SUG Próximo passo: perceber se há mais algum foco de metastização ou sugestão de primário TC TAP + mamografia/ eco mamária Se NÃO há imagem sugestiva de primário TORACOSCOPIA + BIÓPSIA PLEURAL CONCLUSIVO tratamento dirigido INCONCLUSIVO MTs; CA 15.3, CA 125 para eventual orientação

Mulher, 62 anos Tosse, dor torácica, dispneia ; TC com derrame pleural unilateral SUG MTs inconclusivos SEM EVIDÊNCIA DE ORIGEM MAMÁRIA OU GINECOLÓGICA PONDERAR SUSPENDER INVESTIGAÇÃO e tratar com QT dirigida para doença agressiva de origem primária oculta.

MAMA 2ª feira, 12:30, Serviço Anatomia Patológica DIGESTIVO 4ª feira, 14:30, Serviço Cirurgia B TORÁCICOS 5ª feira, 13:30, Serviço de Pneumologia UROLÓGICO 6ª feira, 8:30, Serviço de Urologia GINECOLÓGICO 6ª feira, 12:30, Serviço de Imagiologia SEMANAIS (excepto Urologia - bimensal)

A doença oncológica com apresentação metastática permanece um desafio da prática clínica diária A colaboração entre especialidades é essencial para o diagnóstico atempado ESSENCIAL sobretudo para a doença com potencial de resposta a terapêutica CONTACTAR ONCOLOGIA em caso de dúvidas na abordagem até para reduzir tempos de internamento REUNIÕES MULTIDISCIPLINARES CONVIDA-SE TODOS OS COLEGAS A PARTICIPAR ABORDAGEM INDIVIDUALIZADA

A vida no hospital oncológico é uma vida de combate, em que saímos, todos os dias, derrotados. A mais vergonhosa e dolorosa das derrotas, que é não conseguir cumprir a promessa nunca formulada, mas sempre implícita, de transportar para margem segura, quem em nós confiou e depositou esperança. João Lobo Antunes, 2006