O PROFESSOR MEDIADOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NUMA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA

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Transcrição:

O PROFESSOR MEDIADOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NUMA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA Flaviane de Fátima Lima Bueno 1, Maria Romoaldo de Oliveira 2, Renata Flávia Nobre Canela Dias 3, Cairo Amarildo Batista Martins 4 1,2,3,4 Uniube/ Mestrado em Educação 1 flavianebueno1@hotmail.com, mromoaldoiftm@gmail.com 2, renanobre@hotmail.com 3, cairo.engenharia@gmail.com, 3 Linha de trabalho: Formação inicial de professores. Resumo: Este artigo ressalta a importância da mediação na construção da autonomia observando os postulados de Vygotsky. Segundo Vygotsky, o desenvolvimento do indivíduo é resultado de um processo sócio-histórico e o professor é um dos mediadores que o aluno terá ao longo da vida. A metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica com uma abordagem qualitativa. O fundamento teórico deste trabalho é a teoria sociointeracionista de Vygotsky. Este artigo visa mostrar a importância da mediação, diante da complexidade do problema no processo de ensino-aprendizagem atualmente, no qual preocupados demasiadamente na transmissão de conhecimentos, estão deixando de lado o desenvolvimento cognitivo do aluno. Palavras chaves: Concepção de aprendizagem, professor, mediador. 1- INTRODUÇÃO Atualmente as escolas vêm trabalhando com vários temas novos e de destaque, e mesmo com esse interesse na qualidade de ensino, o desenvolvimento cognitivo não vem sendo devidamente explorado de forma mais abrangente, que seria o ideal para que fosse transformado o conhecimento cotidiano em conhecimento científico. Os professores ainda continuam seguindo um modelo tradicional adotado por professores em cima de suas

experiências como alunos. Ao se confrontar com essa realidade, o educando preocupa-se exclusivamente com a nota, não considerando a aquisição real do conhecimento, tornando-se um instrumento de exclusão social, pois devido à excessiva importância dada ao produto final da aprendizagem, o professor não consegue exercitar a sua principal tarefa que é identificar o real conhecimento do aluno e identificar as possíveis falhas a fim de serem corrigidas. Este modelo de ensino, amplamente difundido tem se tornado um instrumento de exclusão, pois ao se preocupar mais com o produto final da aprendizagem, o professor não exercita o seu papel da forma mais adequada, reforçando as deficiências por enfatizar mais a dimensão quantitativa, relegando a qualidade da aprendizagem ao segundo plano. A criança quando chega à escola é um indivíduo que já traz uma bagagem, que sabe coisas, faz parte de um grupo sócio-cultural determinado, que lhe oferece material cultural o qual vai utilizar na sua vida cotidiana desde os objetos concretos até os conceitos bem como os modos de operação sobre esse material. O aluno é um indivíduo absolutamente único, neste sentido é preciso compreender e melhorar a idéia de adotar um ensino que trabalhe com o aluno, não somente a aquisição de conhecimentos, mas também que tenha uma interação contínua entre professor aluno, onde o professor seja instrumento facilitador da aprendizagem, ajudando a desenvolver novos conceitos e internalizar novos conhecimentos transferindo-os do plano social para o individual e assim habilitá-lo a prosseguir no seu processo cognitivo. O propósito deste artigo é fazer um estudo teórico sobre a concepção de aprendizagem numa perspectiva sociointeracionista na tentativa de buscar alternativas aos professores que paralisaram a dinâmica de seu ensino e aos professores que continuam atrelados a uma proposta de ensino antiquada e sem muitos resultados positivos. Refletir e valorar as contribuições de Vygotsky que possam fundamentar o processo de ensino aprendizagem com uma perspectiva sociointeracionista capaz de fornecer medidas diretas do potencial da aprendizagem e desenvolvimento da criança. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica com uma abordagem qualitativa e utilizando a análise de conteúdos dos textos. O fundamento teórico o qual será embasado este trabalho é a teoria sociointeracionista de Vygotsky e seguidores. Trata-se de uma compreensão do desenvolvimento cognitivo como construção histórico-social. Além disso, a referida teoria possibilita o estudo da gênese das formações psicológicas do indivíduo durante a sua atividade vital, social, as relações entre atividade externa e interna e como uma se transforma em outra, a unidade do afetivo e do

cognitivo, as relações que se estabelecem entre desenvolvimento e ensino e em especial o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. 2- AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM Apesar do professor não se perceber dentro destas correntes epistemológicas, toda prática educativa e inserida numa teoria do conhecimento. Tomando isto como ponto de partida, é necessário também discutir as diferentes concepções de aprendizagem que norteiam as práticas pedagógicas e seus resultados, considerando seus aspectos positivos e também contradições. A primeira corrente a ser analisada é a que diferentes teóricos chamam de Ambientalismo ou Empirismo segundo Agnela Giusta (1985, p. 26): O conceito de aprendizagem emergiu das investigações empiristas em Psicologia, ou seja, de investigações levadas a termo com base no pressuposto de que todo conhecimento provém da experiência. Isso significa afirmar o primado absoluto do objeto e considerar o sujeito como uma tábula rasa, uma cera mole, cujas impressões do mundo, formadas pelos órgãos dos sentidos, são associadas umas às outras, dando lugar ao conhecimento. O conhecimento é, portanto, uma cadeia de idéias atomisticamente formada a partir do registro dos fatos e se reduz a uma simples cópia do real. Nesta concepção de aprendizagem, as características individuais são delimitadas por fatores externos ao indivíduo, surgindo então a definição de aprendizagem através da mudança de comportamento resultante de treino ou experiência. Nesse conceito a dissociação entre sujeito e conhecimento fica clara. O primeiro é a tábula rasa e aprendizagem é vista como condicionamento (GIUSTA, 1985). Assim sendo, o processo de ensino aprendizagem é focado no professor, que organiza o que será ensinado aos alunos, sendo estes apenas receptores e armazenadores de informações na memória. Este conceito de aprendizagem é refutado por uma outra corrente psicológica que é a Gestalt, que surge na Alemanha no início do século com Kohler, Koffka e Wertheier. Conceito este que ressalta que todo conhecimento é precedente à experiência, sendo portanto resultado de estruturas racionais que já se encontravam pré-formadas no indivíduo. Esta corrente de aprendizagem trabalha com estruturas mentais organizadas, numa postura extremamente oposta ao behaviorismo (GIUSTA, 1985). O professor passa a ser auxiliar do

estudante, um facilitador, visto que o aluno já vem com o conhecimento necessário, precisando somente trazer isto à consciência, organizar e se preciso acrescentar, sendo a intervenção mínima do professor, onde este acredita que o aluno aprende por si só, sendo seu papel auxiliar na aprendizagem. Uma terceira concepção epistemológica que é o interacionismo, construtivismo ou dialética, traz autores como Piaget, Vygotsky e Wallon, Paulo Freire, etc. Eles têm em comum a ação do sujeito como cerne do processo de aprendizagem. A perspectiva epistemológica interacionista representada por Piaget é uma síntese do empirismo e racionalismo, colocando em dúvida a concepção de que o conhecimento já nasce com o indivíduo ou é conseguido através do meio social, construindo então a afirmação de que o conhecimento é uma interação entre o meio físico e social e essa construção depende tanto do indivíduo quanto do meio (DARSIE, 1999). A ideia central é de que o conhecimento não oriunda nem da experiência com os objetos nem é inato do indivíduo, apesar de em sua teoria encontrarmos referências a elementos inatos, porém de construção sucessiva com consonância com elaboração de estruturas novas, resultados da interação entre sujeito e objeto, em que um não se opõe ao outro, nem se sobrepõe, mas sim se solidarizam-se como um todo. Piaget discorda das concepções anteriores, embora ele negue que seus estudos seriam uma teoria de aprendizagem, classificando-a como teoria do desenvolvimento, admitindo seu uso para o entendimento do processo de ensino aprendizagem (GIUSTA, 1985). A teoria de Wallom apesar de ser pouco divulgada nos últimos anos, gerou uma importante contribuição à Psicologia, direcionada para a evolução psicológica da criança, o resultado desses estudos forneceu dados para que fosse compreendido o processo de conhecimento. Wallon busca na gênese do processo, de forma teorizar sobre a passagem do orgânico ao psíquico e mostrando caminhos que chegassem na análise dialética de teorias reducionistas que ora privilegiam o social, ora o orgânico no decorrer do desenvolvimento humano. Essa passagem é referente à síntese entre o individual e o social, para ele, um dos problemas cruciais da Psicologia, Wallon tenta explicar essa passagem através de quatro elementos que para ele estão profundamente interligados: emoção, motricidade, imitação e socius. A emoção tem um sentido inicial de comunhão com os outros indivíduos, permitindo a criança nascer para a vida psíquica, a princípio indistinta, porém depois vai desdobrando

gradualmente dando inicio às estruturas da consciência. Sua primeira expressão é o movimento, a motricidade que para Wallon é o tecido comum que irá proceder às realizações da vida psíquica. Nessa primeira fase da criança há uma troca desta com os outros indivíduos, uma inteligência discursiva, o qual a manifestação inicial é a representação, sendo a imitação um elemento importante para superação de uma forma de inteligência pela outra. Nas obras de Wallon, encontramos uma preocupação em analisar os processos, por acreditar que é através do confronto do indivíduo com a sociedade que é construída a inteligência. Jamais pude dissociar o biológico do social, não porque os creia redutíveis um ao outro, mas porque me parecem, no homem, tão estreitamente complementares desde o nascimento que é impossível encarar a vida psíquica de outro modo que não seja sob a forma de suas relações recíprocas. (WALLON, 1951 apud ZAZZO, 1978, p. 51). 3- A CONCEPÇÃO DE APRENDIZAGEM NA TEORIA VYGOTSKYANA Vygotsky (1982) não se opõe a existência de diferenças de aprendizagem entre os indivíduos, fazendo com que uns tenham mais predisposição e se destaquem em atividades em detrimento a outros, em razão de fatores físicos ou genéticos, porém ele não concebe essa diferença como determinante para o processo de aprendizagem. Ele refuga estes modelos baseados em ideias inatistas que tomam características comportamentais universais como aquelas que o desenvolvimento por faixa etária do indivíduo esta atrelado a sua estrutura biológica e conjuntura biológica. Ele não concorda também da concepção ambientalista, segundo ele, o indivíduo não é produto do determinismo cultural, não sendo portanto um receptáculo vazio e passivo que só responde frente às pressões externas do meio, mas sim aquele indivíduo que organiza suas atividades em sua interação com o meio, capaz até de renovar a própria cultura. Se Vygotsky entende que o homem é produto do meio, qual seria a discordância entre sua concepção e o empirismo? Segundo Vygotsky (1982), o sujeito é ativo, agindo sobre o meio, não havendo natureza humana ou essência humana, primeiramente somos sociais, posteriormente indivíduos. De acordo com Teresa Cristina Rego (2002, p. 98), ao descrever a teoria de Vygotsky: Em síntese, nessa abordagem, o sujeito produtor de conhecimento não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de

um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem. Segundo a teoria histórico-cultural os processos de desenvolvimento são impelidos pelo aprendizado visto que Vygotsky concebeu a instrução antecede ao desenvolvimento. Afirmando que o ensino adequado é aquele que se antecede ao desenvolvimento, assim sendo, se dirige as funções psicológicas que estão em vias de se completarem (REGO, 2002). Daí pode-se concluir que há na teoria de Vygotsky uma dimensão prospectiva do desenvolvimento psicológico. Embora se admita que os processos de desenvolvimento se façam presentes no indivíduo é necessário recorrer à intervenção e a contribuição de sujeitos mais experientes para que os mesmos sejam consolidados. Vygotsky entende como funções psicológicas superiores, memória voluntária, a capacidade de planejamento, imaginação, etc. Esta classificação acontece devido ao fato destes processos mentais se aludirem aos mecanismos intencionais, ações conscientemente controladas, processos voluntários que dão ao sujeito possibilidade de independência em relação às características do momento e espaços presentes. (REGO, 2002, p.37). Ressalta também que estes processos não são inatos, eles se iniciam nas relações (interações) entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamento. (REGO, 2002, p.39). As contribuições da teoria histórico-cultural para a educação somente podem ser entendidas à luz da concepção que se tem do homem e de como ocorre seu desenvolvimento e aprendizagem, tornando-se referencial para que todos os envolvidos com o processo ensinoaprendizagem disponham de um modelo psicológico do homem capaz de orientar as atividades de ensino. Ao contrário das escolas psicológicas de sua época, Vygotsky propõe o rompimento que há entre cognitivo e o afetivo, assim reconhece o caráter integral do psiquismo humano. Em outras palavras pode se dizer que em qualquer situação de aprendizagem estarão envolvidos os aspectos cognitivos do aprendiz bem como os aspectos afetivos. A originalidade da psicologia vygotskyana reside no fato de que os processos cognitivos são resultados das interações sociais e culturais e de que todas as funções psicológicas superiores do homem têm sua origem no social. Vygotsky põe em destaque o

papel do professor mediador na direção do desenvolvimento da criança por meio das contínuas interações que acontecerá entre ambos. Além disso, na teoria vygotskyana não há espaço para o ensino puramente verbalista e muito menos para ensinar conceitos que já foram internalizados pela criança. Diferente de Piaget (Vygotsky: 1998:11 a 29) que acentua a maturação biológica, mediante a interação do organismo do sujeito com o ambiente que o cerca, Vygotsky destaca a importância do sujeito e a sua interação com o seu contexto histórico-cultural e social, ampliando assim o papel do professor. O conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é a distância real de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver sozinho seus problemas e o nível de desenvolvimento potencial, que é a resolução de um problema com a orientação de um adulto ou alguém mais capaz, acentua a importância do trabalho do mesmo nas situações de ensino aprendizagem. Resumindo, a partir disso, vemos a importância de uma boa mediação no processo de ensino-aprendizagem. 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS o ensino direto de conceitos é impossível e infrutífero. Um professor que tenta fazer isso geralmente não obtém qualquer resultado, exceto o verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança, semelhante a de um papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na realidade oculta um vácuo. (VYGOTSKY, 1998, p.72). É preciso que toda a escola e professores atentem que não têm como único objetivo ensinar aquilo que o aluno tem capacidade de aprender por si mesmo e sim potencializar o processo de aprendizagem do estudante. Uma das principais funções da escola é fazer com que os conceitos que as crianças adquirem na convivência social: conceitos espontâneos e individuais evoluam para conceitos: científicos, sistemáticos e formais que se adquirem através do ensino formal. Aí sim, estará completo o papel mediador do docente. Podemos considerar como professor vygotskyano, segundo FREITAS (2000), seria aquele que possuindo mais experiência que seu aluno, faria a intervenção através da mediação

do conhecimento. Ele deve estar sempre atento em seu trabalho pedagógico em criar Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDP s), possibilidades de aprendizagem, ou seja, atuando através da intervenção, ajudando seu aluno de forma que ele utilize o conhecimento que ele já possui paralelamente ao novo que esta sendo apresentado. Na Zona de Desenvolvimento Proximal o professor atua de maneira explícita, interferindo, interagindo e mediando o processo de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos, de forma a alcançar os objetivos programados como também superá-los, alcançando avanços que não aconteceriam de forma espontânea. Assim, a concepção de aprendizagem de Vygotsky contribuiria no resgate da importância da escola como também do papel do professor, como sendo agente indispensável no processo de ensino aprendizagem. O professor interfere e contribui no processo de ensino aprendizagem, transmitindo o conhecimento adquirido historicamente pelo homem. É com esse sentido que a teoria de Vygotsky sobre Educação tem muito a contribuir na atuação do professor neste processo tão importante. REFERÊNCIAS DARSIE, M. M. P. 1999. Perspectivas Epistemológicas e suas Implicações no Processo de Ensino e de Aprendizagem. Cuiabá, Uniciências, v3: 9-21. FREITAS, M. T. de A. 2000. As apropriações do pensamento de Vygotsky no Brasil: um tema em debate. In: Psicologia da Educação. Revista do Programa de Estudos Pós- Graduados em Psicologia da Educação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, n.10/11: 9-28. GIUSTA, A. da S. 1985. Concepções de Aprendizagem e Práticas Pedagógicas. In: Educ.Rev. Belo Horizonte, v.1: 24-31. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 14 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. VYGOTSKY, L.S. 1982. Obras Escogidas: problemas de psicologia geral. Gráficas Rogar. Fuenlabrada. Madrid, 387 p. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ZAZZO, R. Psicologia e Marxismo. Lisboa: Vega, 1978.