Sexta Turma Publicacao: 01/12/2014 Ass. Digital em 25/11/2014 por FERNANDO ANTONIO VIEGAS PEIXOTO Relator: FAVP Revisor: RVF PODER JUDICIÁRIO RECORRENTE(S): OTÍLIO FREITAS SANTOS RECORRIDO(S): USINA SÃO PAULO ENERGIA E ETANOL LTDA. EMENTA: HORAS IN ITINERE RECONHECIMENTO DAS NORMAS COLETIVAS ARTIGO 7º, XXVI, DA CR/88. Os Instrumentos Normativos, livremente celebrados, gozam da garantia constitucional prevista no artigo 7º, XXVI, da CR/88, devendo ser observados, pois advindos da negociação entre os representantes de empregados e empregadores, legitimados para tanto, quando foram analisadas as vantagens e desvantagens das imposições normativas para ambas as partes. Assim, deve ser mantida a v. Sentença que indeferiu as horas in itinere no lapso em que vigente cláusula coletiva estipulando tempo pré fixado para fins de pagamento da verba, o que foi observado pela Ré. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário, em que figuram, como Recorrente, OTÍLIO FREITAS SANTOS e, como Recorrida, USINA SÃO PAULO ENERGIA E ETANOL LTDA. RELATÓRIO O MM. Juiz Sérgio Silveira Mourão, da Vara do Trabalho de Monte Azul, às f. 100/105, julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados pelo Autor em face da Ré. às f. 106/108. Inconformado, o Demandante interpôs Recurso Ordinário A Reclamada apresentou Contrarrazões às f. 110/114. Trabalho. Dispensada manifestação prévia da d. Procuradoria do É, em síntese, o relatório. VOTO
JUÍZO DE CONHECIMENTO formalidades legais. Conheço o Recurso Ordinário, porquanto cumpridas as JUÍZO DE MÉRITO HORAS IN ITINERE O Reclamante pretende a condenação alusiva às horas in itinere. Alega a invalidade da norma coletiva que limitou o seu pagamento. Examino. No período a partir de 21/05/2011 até o fim do pacto laboral (f. 10/10/2011), a CCT vigente, qual seja 2011/2012, prevê que, para o pagamento das horas in itinere, fica convencionado o tempo pré fixado de uma hora por dia efetivamente trabalhado (f. 60, Cláusula 28ª). Os demonstrativos de pagamento evidenciam a quitação de horas a esse título, não tendo o Autor apontado qualquer diferença com relação ao estipulado no Instrumento Normativo. Entendo que as Normas Coletivas refletem a vontade das partes convenentes e, por isso, devem ser amplamente observadas. Torna se, portanto, eficaz de pleno direito e se constitui em ato jurídico perfeito, cuja validade é reconhecida pela Constituição da República, por meio do artigo 7º, XXVI. A flexibilização de alguns direitos trabalhistas é permitida, dentre os quais o das horas in itinere referente ao percurso realizado por transporte gratuito fornecido pela Empresa. Pelo Princípio do Conglobamento, norteador do instituto da negociação coletiva, que impõe o interesse conflitante, sempre há concessões recíprocas entre as partes, no intuito de se chegar ao denominador comum. É natural que a conquista de uma vantagem acabe por acarretar a renúncia a algum direito. Estando as partes legitimamente representadas, presumese que a negociação envolvendo as horas de transporte foram pactuadas em benefício de toda a categoria.
Registro que a abdicação do direito em apreço encontra ressonância na conquista de outros interesses da categoria, devendo a norma ser reconhecida, sob pena de desestímulo à negociação coletiva como forma de composição dos conflitos pelos próprios interessados. Assim, impõe se atribuir plena validade aos resultados dessa negociação, eis que não vislumbro prejudicialidade ao empregado e, ainda que assim não fosse, a existência de vantagens e desvantagens para as partes é o resultado daquilo que se intitula negociação. No que se refere ao primeiro mês de labor (26/04/2011 a 21/05/2011), a CCT vigente no período não veio aos autos, de modo a autorizar a limitação do seu pagamento. No entanto, diante da divergência do tempo descrito pelas testemunhas (f. 95), tenho como não comprovado que era gasto mais de uma hora por dia no percurso, tempo este já remunerado, ônus que incumbia ao Obreiro nos termos do artigo 818 da CLT c/c artigo 333, I, do CPC. Nada a prover. DANOS MORAIS O Reclamante pleiteia indenização por danos morais ao argumento de que faltava água no alojamento, o que fere sua dignidade. Analiso. A doutrina subjetivista considera necessária e essencial a coexistência de três requisitos na etiologia da responsabilidade civil, a saber: a ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta, o dano e o nexo de causalidade do evento com o labor. A obrigação de reparação do dano moral perpetrado decorre da configuração de ato ou omissão injusta ou desmedida do agressor contra o agredido, no concernente à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem. In casu, entendo que o Reclamante não se desincumbiu do ônus probatório que lhe cabia (artigo 818 da CLT c/c/ artigo 333, I, do CPC), não tendo sido comprovado que a Recorrida ensejava aos trabalhadores condições de trabalho incompatíveis ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
As testemunhas ouvidas nos autos divergiram acerca das condições de fornecimento de água no alojamento. Daniela Alves da Silva, arrolada pela Ré, afirmou (f. 95): "que trabalha para a reclamada desde 2008, na função de bióloga; que conhece o reclamante; (...) que havia água potável nos ônibus, que era disponibilizada aos trabalhadores no local de trabalho.; que a depoente fiscalizava tal procedimento; que no alojamento também possui água potável encanada, oriunda de poço artesiano; que não havia caminhão pipa o fornecimento de água; que o alojamento fica no município de Porteirão, onde reside a depoente; que a reclamada fornece garrafa térmica com água potável, de 05 litros, aos trabalhadores; que nunca faltou água nos alojamentos grifei Obreiro, aduziu (f. 95): Adenicio Francisco de Freitas, arregimentado pelo que morou no alojamento juntamente com o reclamante; que trabalhou para a reclamada de 26 de abril a 26 de outubro de 2011, na função de trabalhador rural (cortador de cana) que havia água potável no ônibus; (...) que no alojamento havia água potável encanada, mas as vezes faltava; que tinha alguns dias que a água faltava e não dava para tomar banho ("dormia sujo"); que isso ocorria cerca de 04 vezes por semana; que não sabe porque faltava água; que não conhece a testemunha Daniela Alves; que era o fiscal quem registrava os cartões de ponto; que os cartões de ponto ficavam na posse do fiscal, que devolvia apenas no sábado após a jornada da semana; que possuíam cerca de 10/15 minutos de intervalo intrajornada, na própria lavoura; que haviam cerca de 150 empregados no corte de cana; que os trabalhadores usavam garrafa térmica de aproximadamente 15 litros; que havia caixa d'água no alojamento grifei Diante da diversidade de informações prestadas há que privilegiar a valoração da prova oral colhida pelo Julgador de Origem, que esteve em contato direto com as Partes, podendo perceber não só as palavras que restam registradas em ata, mas atos, olhares, movimentos, atitudes e quaisquer outros gestos pelos quais também se comunicam as pessoas.
E o referido Magistrado conferiu maior credibilidade à testemunha patronal destacando que Adenicio Francisco de Freitas informou inicialmente que tinha alguns (dias) que a água faltava, afirmação que denotou uma frequência reduzida na ocasião; todavia, ao ser reinquirido, informou que isso ocorria cerca de 04 vezes por semana, cuja frequência é muito superior à denotação conferida anteriormente (note se que o Reclamante laborava de segunda a sábado, ou seja, durante 6 dias por semana, sendo que 04 daqueles sem tomar banho, segundo a versão da testemunha) f. 103. Como bem salientado na r. Sentença, a alta frequência apontada para a falta de água destoa até mesmo da narrações contidas na Petição Inicial. Ademais, o Autor mencionou que a falta de água decorria do fato de que o alojamento ser abastecido por caminhão pipa, que era insuficiente para a quantidade de funcionários, o que foi infirmado pela prova oral. Adenício relatou haver água potável encanada e caixa d'água no local, Daniela Alves da Silva, por sua vez, afirmou que o alojamento possui água potável encanada, oriunda de poço artesiano; sendo que não era utilizado caminhão pipa. Diante do exposto, não comprovado o dano há que se manter a Decisão que indeferiu o pleito de indenização. Nego provimento. CONCLUSÃO provimento. Conheço o Recurso Ordinário e, no mérito, nego lhe Fundamentos pelos quais, O Tribunal Regional do Trabalho da 3 a. Região, por sua 6ª Turma, à unanimidade, conheceu do Recurso Ordinário; no mérito, sem divergência, negou lhe provimento. Belo Horizonte, 25 de novembro de 2014. Fernando Antônio Viégas Peixoto Desembargador Relator