O Desafio do Ajuste Fiscal Brasileiro: as regras fiscais necessárias FGV SP

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Transcrição:

O Desafio do Ajuste Fiscal Brasileiro: as regras fiscais necessárias FGV SP 1º de junho de 2015 Marcos Mendes Consultor Legislativo do Senado Editor do site Brasil, Economia e Governo

As regras criadas nos anos 90 Executivo Federal com forte incentivo a se ajustar após 1999 (acordo com o FMI, fim do câmbio fixo). O problema estava nos Estados e Municípios: renegociação da dívida + PROES + LRF Um pouco antes, em 1997, CPI dos precatórios: transferência das atribuições do Senado e Bacen para a STN Executivo foi deixado de fora dos controles e assumiu o controle das restrições aos E&M

Funcionou bem enquanto o Executivo Federal tinha incentivos para fazer política fiscal equilibrada, mas a partir de 2006... Boom de commodities (=aumento de receitas) + Fragilidade política (mensalão) + Ilusão do pré-sal + Convicção expansionistas da política fiscal = = Executivo Federal perdeu incentivo para ser conservador na política fiscal.

Não há instituições capazes de conter a expansão fiscal do Executivo Federal: Limite de endividamento da União na LRF não regulamentado Conselho de Gestão Fiscal não foi criado: ampla margem de manobra para contabilidade criativa explorando brechas da lei Congresso sem incentivos para impor restrição fiscal (vide estimativas de receita do orçamento) TCU sem poder político e voz (intervenção depois do estrago feito); Lentidão da justiça indicando baixa probabilidade de punição por crime fiscal Muitos instrumentos parafiscais nas mãos da União: bancos públicos, empresas estatais, fundos de pensão das estatais, relação contábil com BC pouco transparente.

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 dez/06 mai/07 out/07 mar/08 ago/08 jan/09 jun/09 nov/09 abr/10 set/10 fev/11 jul/11 dez/11 mai/12 out/12 mar/13 ago/13 jan/14 jun/14 nov/14 Resultado Primário do Governo Federal (esquerda) e Dívida Bruta do Governo Geral (direita) - % do PIB 3 2,5 2 2,19 2,26 2,69 2,58 2,14 2,21 2,31 2,04 2,14 1,84 64 62 60 1,5 1 1,29 1,49 58 56 54 0,5 52 0 50-0,5-0,37 Fonte: Bacen

E o afrouxamento fiscal espraiou-se para os Estados e Municípios Executivo Federal com poderes para soltar as rédeas da dívida de Estados e Municípios (todo controle de endividamento centrado na STN); Desonerações de tributos partilhados deu argumento político para E&M pressionarem por mais dívida e transferências: PEC aumento FPM; De 2011 a 2014 foram assinadas 64 autorizações especiais pelo Ministro da Fazenda para concessão de garantia a E&M com rating C ou D, somando R$ 29,9 bi. Aprovação de Lei revendo parâmetros da dívida renegociada com a União: mais espaço fiscal (sem contrapartida) e ameaça à credibilidade dos contratos

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Resultado Primário de Estados e Municípios (% do PIB) 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,71 0,80 0,89 0,98 0,82 1,10 0,98 0,63 0,53 0,75 0,46 0,32 - -0,20-0,14-0,40 Fonte: Bacen

O que fazer? 1) Criar/aperfeiçoar instituições para impor restrição fiscal ao Executivo Federal: Instituição Fiscal Independente (monitoramento tempestivo, sem poder normativo ou punitivo); CGF (colegiado de 3 níveis de governo, normas contábeis); Regulamentar limite da dívida da União Melhorar a credibilidade do TCU alterando critérios de nomeação dos dirigentes Avaliação de políticas públicas: TCU + Congresso + Universidades Avaliar existência de espaço para financiamento ao TN pelo Bacen no atual marco legal (operações compromissadas) Reforma na governança de empresas estatais e fundos de pensão: vedação de participação de militantes partidários, proteção a acionista minoritário, seleção competitiva de diretores executivos no mercado, reduzir o número de conselheiros de livre indicação pelo Presidente da República, reforçar autonomia da PREVIC (mandatos fixos e alternados), explicitar vedação do uso das empresas e fundos como instrumento de política econômica.

O que fazer? 2. Aperfeiçoar o processo orçamentário: Atualizar conceitos gerais de finanças públicas substituindo a Lei 4.320/64 e deixando para o CGF e SOF a normatização contábil (atualmente cada governo tem seus conceitos e planos de contas, a revelia da lei) Simplificar PPA (burocracia e perda de tempo) e utilizá-lo para fixar metas fiscais de médio prazo. Maior transparência das rubricas orçamentárias (tente procurar o Pronatec e o Minha Casa Minha Vida no orçamento...) Banco de projetos de infraestrutura Orçamento plurianual de investimentos Limites aos restos a pagar

O que fazer? 3) Tornar o gasto público menos pró-cíclico: Conceito de Receita Líquida Real que é o parâmetro para limites de dívida e gasto de pessoal, além do gasto da União com saúde, considera intervalo curto: 1 ano Gasto mínimo em educação e saúde referenciados na receita do ano Transferências constitucionais: % da receita arrecadada mês a mês Salário mínimo indexado ao PIB do passado recente

4) Ajustes pontuais na LRF: O que fazer? Melhorar redação da proibição de se deixar para o sucessor dívidas e obrigações sem funding (atualmente só restringe final de mandato) Rever limites máximos de despesa de pessoal (muito altos atualmente) Evitar detalhar muito os conceitos na Lei, dar preferência ao CGF A Lei não faz milagre se o Judiciário não punir (vide ex-governadores do DF e RS)

Obrigado mendes@senado.gov.br