A PROFISSIONALIZAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: FORMAÇÃO ACADÊMICA OU FORMAÇÃO TÉCNICA?

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Transcrição:

A PROFISSIONALIZAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: FORMAÇÃO ACADÊMICA OU FORMAÇÃO TÉCNICA? Andréa Duarte de Oliveira Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/ Campus do Pantanal - UFMS/CPAN Política Educacional Inclusiva Palavras-chaves: Educação de surdos Intérprete de Libras Inclusão Educacional Políticas Públicas. 1. Introdução O presente texto busca conduzir uma breve explanação sobre as condições da formação profissional de intérpretes de Língua Brasileira de Sinais LIBRAS no contexto das políticas públicas subsidiadas pela legislação da política de educação inclusiva proposta pelo Estado brasileiro (BRASIL, 2008) desde o início do século, objetivando discutir alguns aspectos sobre a formação profissional do intérprete de Língua Brasileira de Sinais, sendo este profissional aquele que media a comunicação e a aprendizagem de crianças surdas nas escolas. Os dados apresentados fazem parte de uma pesquisa para conhecer e averiguar o nível de formação dos profissionais atuantes como intérpretes de LIBRAS que atuam em escolas públicas na cidade de Corumbá/MS. A metodologia de coleta de dados foi quali-quantitativa, pois os sujeitos participantes da pesquisa responderam questionários com perguntas estruturadas e as informações foram separadas, analisadas e qualificadas tomando por base a legislação que subsidia a educação de pessoas surdas no sistema educacional brasileiro. Diversos autores que pesquisam sobre a educação/inclusão de crianças surdas no sistema público de ensino no Brasil demonstram grande preocupação com importância da utilização da LIBRAS como base da educação de pessoas surdas (LACERDA, 2009; ALBRES, 2012; NASCIMENTO, 2012; KOTAKI e LACERDA, 2013). Situando a importância da LIBRAS e a política de educação inclusiva nacional temos a oficialização da LIBRAS como segunda língua utilizada no território nacional no ano de 2002; através da Lei n 10.436/02. Esta lei designa que LIBRAS:

Art. 1 o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002, s/p). Cerca de três anos após esta oficialização há a regulamentação da LIBRAS (Decreto n 5.626/05), contextualizando seu ensino, uso e divulgação, não apenas entre surdos, mas acrescentando a importância da participação de toda a sociedade na inserção social dos surdos no Brasil. Neste momento, temos destacado a caracterização do surdo usuário da LIBRAS, a caracterização do profissional de LIBRAS e também sua formação profissional: Art. 2 o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras (...). Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa. Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. (BRASIL, 2005, s/p, grifo nosso). Assim sendo, temos o contexto de caracterização da LIBRAS como uma manifestação cultural, de interação com o mundo, de pessoas surdas e caracterização do profissional, ouvinte, que acompanha essa manifestação. 2. Desenvolvimento Um pouco antes de explanar sobre a condição atual de profissionalização do intérprete de LIBRAS, é necessário colocar algumas pontuações sobre o início de sua atuação junto aos surdos. Caracterizada como uma função filantrópica, grande parte da formação inicial de

intérprete nascia dentro de instituições religiosas quando estas buscaram difundir seus ensinamentos entre a população surda. Também temos muitos intérpretes que adquiriram conhecimento acerca desta língua através da convivência com parentes surdos (LACERDA, 2009; ALBRES, 2012; GRUGEL, 2013). Quando entrelaçamos as informações da existência de leis que apontam para uma recente de inclusão de crianças surdas nas escolas públicas, presenciamos uma formação profissional para intérpretes emergencial. Ainda é grande o número de cursos de LIBRAS ofertado por organizações da sociedade civil. Albres (2012) também aponta a existência de uma formação técnica em detrimento de uma formação acadêmica que necessita de conhecimentos acerca de aspectos linguísticos das línguas a serem trabalhadas, diferenças culturais e de identidades. Essa formação acontece, sobretudo dentro do contexto de trabalho do intérprete, o que podemos classificar como Formação Continuada. A maioria dos locais onde se encontram a execução dessa formação são as próprias escolas públicas, são as formações em serviço, com características distanciadas da formação com conhecimentos específicos para um intérprete de LIBRAS. A partir do ano de 2004 o governo começa a subsidiar a criação de cursos de formação de intérprete de LIBRAS em nível de graduação e pós-graduação. Entretanto, são cursos com possibilidades de acesso escassas: a formação do profissional necessita de fundamentação não apenas técnica, mas também científica; ainda não há um perfil de ensino técnico-científico, que desenvolva a reflexão sobre a prática, pensando e reelaborando o fazer da intepretação da LIBRAS (ALBRES, 2012). Na coleta de dados empíricos para a pesquisa, foram recolhidos dados de 13 (treze) participantes de um grupo de intérpretes de LIBRAS. A grande maioria (12 doze) dos participantes exerce a função de intérpretes de LIBRAS entre o período de cinco a dez anos. Em dados gerais oito participantes são formados em cursos de licenciatura, demonstrando assim a relação de interesse entre profissionais do magistério para o aprendizado de LIBRAS para sua atuação profissional. Sete participantes são especialistas em LIBRAS e seis são especialistas em outras áreas de atuação educacional, demonstrando assim a proporção elevada de profissionais atuantes que não possuem uma formação acadêmica estruturada para a atuação como intérprete de LIBRAS dentro do ambiente escolar, situação esta que se torna mais peculiar quando

encontramos dois participantes que afirmam não possuir diploma de ensino superior concluído, mesmo assim atuam como intérprete. Essa realidade é compartilhada por Lacerda (2015) quando esta afirma que: No Brasil, a profissão de ILS ainda não é reconhecida, e, por essa razão, essa atividade é desempenhada por profissionais oriundos de diferentes áreas, como: pedagogos, fonoaudiólogos e pastores, entre outros (p. 269). 3. Conclusões Para finalizar este breve ensaio sobre a importância da formação profissional do intérprete de LIBRAS, ressaltamos a lacuna existente entre as proposições legais e a realidade do sistema de ensino público no país. Esta pesquisa tem seu valor afirmado ao constatarmos que a dificuldade de se organizar um padrão acadêmico para a formação dos intérpretes de LIBRAS não é um fato isolado e sim uma realidade que dificulta ou inviabiliza não apenas a inclusão social de estudantes surdos, mas também da população surda na sociedade como um todo. Outro aspecto a ser ressaltado é a dificuldade mesmo de cursos técnicos chegarem a determinados locais do território nacional. Um fator que dificulta a formação dos profissionais participantes dessa pesquisa é a dificuldade de se destinar professores de LIBRAS para ministrar cursos para a continuidade do aprendizado desses profissionais. Muitos precisam se deslocar para a capital do estado de MS para poder atualizar seus conhecimentos. Além do custo monetário, temos também a distância geográfica que acarreta num deslocamento de varia de seis a oito horas de viagem apenas para se locomover de uma cidade para outra. Referências ALBRES, N. A. Formação acadêmico-científica do tradutor/intérprete de libras e português: o processo investigativo como objeto de conhecimento. In: ALBRES, N. A.; SANTIAGO, V. A. A. (Org.). Libras em estudo: tradução/interpretação. São Paulo: FENEIS, 2012. p. 15-33.

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