A UTILIZAÇÃO DA CARTOGRAFIA TÁTIL NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DE ALUNOS VIDENTES SOBRE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

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Transcrição:

A UTILIZAÇÃO DA CARTOGRAFIA TÁTIL NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA COMO ESTRATÉGIA PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DE ALUNOS VIDENTES SOBRE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Lívia Menezes das Neves Lins liviabsb2003@hotmail.com Jacqueline Praxedes de Almeida jacquepdealmeida@yahoo.com.br RESUMO Este trabalho tem como objetivo relatar um trabalho desenvolvido com alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola pública estadual Théo Brandão, localizada em Maceió, que teve como proposta aplicar uma atividade de cartografia tátil em sala de aula, a fim de conscientizar alunos videntes para a importância da inclusão. O desafio consistiu na customização do mapa do Brasil, convertendo-o para alto relevo, de forma a ser compreendido através do tato. Desse modo, os discentes puderam identificar o formato dos estados brasileiros e do Brasil e assimilar a configuração do mapa de uma forma diferenciada da convencional, sem o auxílio exclusivo da visão. Ao final, ao avaliar os resultados através do que foi produzido pelos alunos e do debate criado em torno do tema inclusão na escola, ficou nítido, pela fala dos mesmos, o despertar de uma reflexão voltada às dificuldades de pessoas com necessidades especiais e do papel da escola na formação cidadã. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Geografia. Formação Cidadã. Cartografia Tátil. Inclusão. 1 PROBLEMÁTICA DA PESQUISA Apesar dos avanços legais e científicos, respeitar a diversidade ainda é um desafio no Brasil. Essa situação fica evidenciada quando nos debruçamos sobre as questões relacionadas à inclusão, posto que a falta de conhecimento e comprometimento de grande parte dos sujeitos ditos normais para com pessoas com necessidades especiais dificulta a inclusão social desses indivíduos. A falta de qualificação adequada dos profissionais da educação para atender a essa parcela da sociedade também gera obstáculos para a inclusão educativa. Assim, Segundo Pletsch (2009, p. 150), no Brasil, a formação de professores e demais agentes educacionais ligados à educação segue ainda um modelo tradicional inadequado para suprir as reivindicações em favor da educação inclusiva, sendo incluídas nesse conjunto as licenciaturas em Geografia. Nesse contexto, ser professor de Geografia na atualidade requer favorecer aos discentes a oportunidade de refletir sobre sua realidade e sobre questões 1

sociais, além de aprender a ser tolerante, respeitando a diversidade humana (CALAZANS; CONCEIÇÃO, 2013). O professor de Geografia poderá lecionar os conteúdos da disciplina de maneira inclusiva, através, por exemplo, da cartografia tátil. Em sua concepção, a cartografia tátil se preocupa em: [...] atender principalmente as duas necessidades: a educação e a orientação/mobilidade de pessoas com deficiência visual severa ou com cegueira. Desta forma, para a primeira necessidade os mapas serão aqueles de referência geral, concebidos em escala pequena, como os mapas de atlas e os geográficos de parede, além dos mapas de livros didáticos. Para atender à segunda necessidade, os mapas precisam ser confeccionados em escalas grandes, como é o caso dos mapas de centros urbanos, e em escala maior ainda, para auxiliar a mobilidade em edifícios públicos de grande circulação (LOCH, 2008, p. 46). A produção de materiais cartográficos táteis tem sido o caminho para atender pessoas com deficiência visual no ensino de Geografia, permitindo pensar a cartografia de maneira mais abrangente e inclusiva. Como a realidade da deficiência visual não é vivenciada pelos alunos da turma que foi analisada, propôs-se, neste trabalho, avaliar a eficiência de se trabalhar o conteúdo de cartografia a partir da produção de mapas táteis, para que alunos sem deficiência visual pudessem compreender a representação cartográfica do seu país e dos respectivos estados sem se valer do sentido da visão, a fim de, através desse novo desafio, sensibilizá-los para as necessidades de pessoas com deficiência visual e trazer, com isso, o debate da questão da inclusão no ambiente escolar para a sala de aula. 2 OBJETIVOS A presente pesquisa objetiva refletir sobre a importância da Geografia como disciplina escolar e suas contribuições para a prática da inclusão, como também apresentar o trabalho desenvolvido com os alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Théo Brandão, localizada no bairro da Jatiúca, no município de Maceió, referente à produção de mapas táteis, tendo essa atividade como finalidade ajudar os discentes envolvidos a perceber o espaço geográfico, bem como discutir a 2

questão da inclusão escolar de pessoas com necessidades educativas especiais a fim de despertar neles uma consciência cidadã. 3 METODOLOGIA Os materiais utilizados foram mapas do Brasil impressos em papel cartão, que tem uma textura mais firme que o A4; cola; tesoura e caneta esferográfica ou lápis. Optou-se pela utilização de poucos materiais: por ser a primeira experiência da turma em estudar mapas com o uso das mãos. Cada grupo (com no máximo cinco alunos) recebeu duas folhas de mapas, onde uma serviu de base e na outra foram recortadas as imagens de cada estado, de modo que se formou um quebra cabeça do nosso país. As peças, na forma de cada estado brasileiro, foram coladas na outra folha com mapa inteiro, deixando um espaço entre os estados para que se possa sentir, ao tatear, a forma de cada um deles. Os mapas em alto relevo foram montados através do método de sobreposição e colagem das peças com as formas dos estados brasileiros. Ao final, as siglas dos estados foram convertidas no sistema Braille e a legenda com a divisa entre eles foi feita com duas tiras de papel, representando o espaço entre cada um. O Norte e a escala também foram colocados em alto relevo, usando o mesmo método do sistema Braille, ou seja, pontos em alto relevo com a linguagem em Braille, como podemos observar nas imagens da Figura 1: Figura 1 Mapa finalizado Fonte: acervo iconográfico da autora (2015). 3

Os pontos em Braille que foram decalcados de frente para o verso da folha; em seguida, os pontos no verso da folha foram pressionados com caneta esferográfica, resultando na formação de pontos em alto relevo na frente da folha, permitindo, dessa forma, a leitura tátil. Assim, a escrita em Braille ficou garantida, mesmo sem o auxílio do reglete de punção, instrumento utilizado para a escrita Braille. Com os mapas customizados, formaram-se duplas. Um aluno, de olhos fechados, começou a tatear, à medida que outro aluno ia invertendo a posição do papel para se certificar que tanto ele conseguia se guiar pelo Norte quanto pelas legendas e formas dos estados. Ao final, invertiam-se os papéis, de modo que todos os alunos participaram. 4 RESULTADOS Os resultados foram colhidos através de entrevista padronizada, feita com os alunos em um encontro realizado posteriormente na escola. A entrevista foi desenvolvida a partir de três perguntas e as respostas dadas foram escritas pela pesquisadora exatamente como os alunos falaram. Ao final, selecionaram-se três respostas de cada pergunta para fazer a análise e discussões. A primeira pergunta foi: o que vocês acharam de estudar o mapa do Brasil através do tato? O segundo questionamento feito aos alunos foi como eles apercebem a utilização do mapa tátil em sala de aula, sendo ele um instrumento de inclusão para pessoas com deficiência. A terceira e última indagação feita aos alunos foi se eles já haviam pensado na questão da inclusão de colegas com necessidades especiais na escola que frequentam. Através das respostas dadas pelos alunos, observou-se primeiramente que o projeto tátil foi recebido como novidade, tanto pelo uso da escrita em Braille como pela própria forma de apresentação do mapa, em alto relevo. Segundo, que por ser uma atividade que exigiu a participação ativa dos alunos na produção de seus materiais de estudo, acabou por reforçar e consolidar a aprendizagem de um conteúdo que já tinha sido visto anteriormente, por meio do método convencional com os mapas bidimensionais. 4

Como vemos, levar essa temática para a sala de aula despertou a consciência crítica dos discentes para a importância da inclusão, não só dos deficientes visuais que tiveram sua limitação evidenciada na atividade, mas também de outros alunos que possam ter necessidades educativas especiais no convívio escolar e social, como destaca o Aluno 1: [...] agora penso que se até um mapa pode ser entendido por um deficiente visual, deve-se criar várias formas para que todos os alunos que tenham outras deficiências possam aprender conosco, que não possuímos deficiências. Dessa forma, vemos que o projeto do mapa tátil levou a uma reflexão ampliada quando os alunos expuseram que também se podem criar métodos e materiais para outros tipos de deficiências físicas que possam levar a um aprendizado equitativo a todos, independentemente terem necessidades especiais ou não, como constatou o Aluno 2: Agora entendo que todos são capazes, se tiverem oportunidade iguais [...]. Essa prática foi além das expectativas, pois permitiu que os discentes pensassem em outras perspectivas de inclusão de alunos com necessidades especiais através da produção ou da adaptação de material didático para cada tipo de necessidade específica, como fica claro na fala de um dos alunos: Aluno 2: Acho que agora devemos cobrar para que todos nós tenhamos aulas iguais, que todos possam participar. Essa forma de pensar do Aluno 2 corrobora com o que diz Picetti (2005, p.13), quando afirma que [...] o sujeito, quanto mais conscientizado torna-se, mais capacitado a ser um anunciador e denunciador. Tudo isso graças ao compromisso de transformação que ele assume. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através das falas dos alunos, o objetivo a que se propôs esse trabalho introduzir a cartografia tátil na aula da disciplina de Geografia, como forma de levar o aprendizado de forma diversificada e atrativa, além de criar uma conscientização em 5

relação à questão da inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas escolas e contribuir com a formação cidadã foi alcançado com sucesso, visto que os alunos compreenderam, se interessaram, interagiram e participaram da aula, o que provou a eficiência deste tipo de atividade, tanto no sentido da aprendizagem do conteúdo da disciplina quanto na sensibilização para a questão da inclusão, a partir do que cada aluno vivenciou ao tentar apreender a disposição dos estados brasileiros no mapa sem o uso da visão, porém obtendo êxito através do tato. Isso os levou a adquirir uma percepção ampliada de que há outras formas de aprendizagem que podem incluir a todos, independente de possuírem alguma limitação. REFERÊNCIAS CALAZANS, D. R.; CONCEIÇÃO, J. P. Homossexualidade e a formação do professor de Geografia: quebrando preconceitos. In: ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA, 12. João Pessoa. Anais... João Pessoa, UFPB, 2013. p. 680-690. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf >. Acesso em: 22 out. 2015. LOCH, R. E. N. Cartografia Tátil: mapas para deficientes visuais. Portal de Cartografia Geociências, Londrina, v.1, n.1, p. 35-58, maio/ago. 2008. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/portalcartografia/article/view/1362/1087 >. Acesso em: 10 jan.2016. PICETTI, J. S. O processo de conscientização na perspectiva de Paulo Freire. Porto Alegre: UFRGS, 2005. PLETSCH, M. D. A formação de professores para a educação inclusiva: legislação, diretrizes políticas e resultados de pesquisa. Educar em revista, Curitiba, v. 33, p. 143-156, 2009. 6