AULA AO VIVO Professora Laira Pinheiro
Folha de São Paulo, São Paulo, 28 out., 1993, pg.6, cad.4. Você sabe o que é ética? Será que ela tem preço? Qual é o seu valor? A ética está em crise?
Vivemos numa sociedade e a grande preocupação nos dias de hoje é a busca de uma fundamentação para o agir livre e racional. Qual a melhor forma de agir? Nas relações cotidianas dos homens surgem sempre vários problemas. Como agir diante deles? Que valores guiam a conduta de um funcionário público ou de político que aceitam suborno? Nos últimos anos virou moda falar de ética. Todos falam dela, todos a desejam, mas, ninguém sabe onde está e como é. Está obscurecida no país a noção do que é certo e do que é errado. Uma pesquisa realizada em seis grandes capitais do país, publicada pela Revista Superinteressante, mostra que infelizmente os comportamentos de levar vantagem e dar um jeitinho são reconhecidos como típicos dos brasileiros por uma parcela considerável da população.
39% acham que o brasileiro é racista, 57% acham que o brasileiro quer sempre levar vantagem, 62% acham que o brasileiro dá sempre um jeitinho, 68% acham que o brasileiro cuida mal da natureza, 67% acham que o brasileiro espera tudo do governo, (SUPERINTERESSANTE, Editora Abril, 2013). O famoso jeitinho ou levar vantagem não deixou de ser uma prática de ações imorais. O desrespeito e até desprezo à lei dá lugar ao oportunismo, à prepotência e ao imperativo do mais forte e do mais esperto. O resultado disso é a desmoralização da ideia de justiça, um clima de desconfiança generalizada é um incentivo a comportamentos desonestos.
Sem dúvida sabemos hoje que os valores que embutimos em nossa prática são herdados de nossa própria cultura, nós os recebemos e incorporamos, sem saber justificá-los. Mas essa sua imersão na cultura não evita que continuemos enfrentando o desafio de fundamentá-los. Para legitimar o nosso agir individual e coletivo, faz-se necessário conhecermos o percurso da ética ao longo do tempo. Deu início à discussão sobre a ética. Para ele, os valores éticos podem ser ensinados. O homem virtuoso é aquele que aprendeu a conhecer o bem. Sócrates passou a ocupar-se do homem e de sua conduta. Ter consciência de suas ações, dominá-las pelo conhecimento, conduz a uma vida ética.
A ética platônica está ligada à política. Para ele o homem é bom enquanto bom cidadão. Para Platão, a ética está relacionada ao mundo das ideias. A verdadeira virtude provém do verdadeiro saber e este se encontra nas ideias. A atividade essencial do homem é praticar a virtude, por meio da razão. Esta prática é aprendida pela boa educação: sem sabedoria não se pode ser verdadeiramente bom e nem ser sábio sem virtude ética. A ética constitui uma investigação sobre aquilo que é bom, no sentido de valores e princípios que permitem uma vida feliz e prazerosa.
A moral concreta e a ética como doutrina moral estão impregnadas de um conteúdo religioso, manifesto em toda a vida medieval. A ética cristã parte de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com seu criador. (CORDI, Cassiano, Para Filosofar, 2000, pg.171). Pode considerar-se moderna a ética dominante desde o século XVI até o começo do século XIX, que tem como fundamento o antropocentrismo. Esta sociedade é caracterizada pela ciência moderna e pela valorização da razão. A razão é o caminho não só para o conhecimento, mas também para uma sociedade mais adequada e justa. Cabe à razão reordenar o mundo. Um ser ético é um ser de razão.
A ética de Kant é a mais perfeita expressão da ética moderna. Em Kant, o homem como consciência ou moral é, antes de tudo, um ser ativo, criador e legislador, tanto no plano do conhecimento, quanto no da moral. Época de grandes correntes filosóficas como o existencialismo, cujo fundamento é o sentido do existir humano. Neste período, surge Nietzsche, onde fez uma análise das condições e contradições da existência humana. A ética vista por Nietzsche, deve também ser o espaço da transvaloração dos valores.