TOMADA DE DECISÃO EM GRUPO NA PRIORIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS EM EMPRESAS MÉDIAS DE ELETRÔNICOS

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TOMADA DE DECISÃO EM GRUPO NA PRIORIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS EM EMPRESAS MÉDIAS DE ELETRÔNICOS Eduardo Gomes Salgado Universidade Federal de Alfenas Alfenas, MG, Brasil E-mail: eduardosalgado@unifal-mg.edu.br Valério A. P. Salomon Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho Guaratinguetá, SP, Brasil E-mail: salomon@feg.unesp.br Carlos Henrique Pereira Mello Universidade Federal de Itajubá Itajubá, MG, Brasil E-mail: carlos.mello@unifei.edu.br Rafael Medeiros Alvarenga Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho Guaratinguetá, SP, Brasil E-mail: rafaelvai@yahoo.com.br RESUMO A importância do processo de Desenvolvimento de Novos Produtos aumentou significativamente nos últimos anos. A busca pela inovação e pelo lançamento de novos produtos com aceitação pelo mercado é uma das preocupações de empresas de diversos setores econômicos. Este artigo busca responder a seguinte pergunta: quais são as atividades consideradas de maior importância no Desenvolvimento de Novos Produtos para empresas eletrônicas de médio porte? O método de pesquisa utilizado foi a Modelagem Matemática. Analytic Hierarchy Process, o método de Tomada de Decisão Multicriterial com maior número de publicações científicas foi aplicado nesta modelagem. A escolha por este método também se embasou na necessidade de se considerar aspectos de Tomada de Decisão em Grupo. O uso de software do Analytic Hierarchy Process em uma plataforma WWW facilitou a aplicação com Tomada de Decisão em Grupo. Dez atividades de um modelo de Desenvolvimento de Novos Produtos obtiveram prioridade menor que 0,5 ponto percentual. Assim, foram consideradas não essenciais para o NPD. PALAVARAS CHAVE. Analytic Hierarchy Process, Desenvolvimento de novos produtos, Empresas de médio porte, Tomada de Decisão em Grupo. 3091

1. Introdução A importância do processo de Desenvolvimento de Novos Produtos (NPD, do inglês, New Product Development) aumentou significativamente nos últimos anos. A busca pela inovação e pelo lançamento de novos produtos com aceitação pelo mercado é uma das preocupações de empresas de diversos setores econômicos (Tyagi & Sawhney, 2010). No setor industrial, notadamente em ramos como o aeronáutico, alimentício, automobilístico, eletrônico, farmacêutico, moveleiro, entre outros, o desempenho do NPD é crítico para sobrevivência da empresa (Brentani, Kleinschmidt, & Salomo, 2010). As pequenas e médias empresas representam um elemento chave nas economias nacionais em torno do mundo. A maioria da literatura de NPD centra-se sobre as atividades de grandes empresas conhecidas ou no contexto de economias bem desenvolvidas (Millward, Byrne, Walters, & Lewis, 2006). A literatura sobre pequenas e médias empresas, localizadas em países em desenvolvimento, é bem mais limitada. Dessa forma, esse artigo busca responder a seguinte pergunta: quais são as atividades consideradas de maior importância no NPD de empresas eletrônicas de médio porte? Pretende-se, assim, obter-se a priorização das diversas atividades de NPD destas empresas. O objeto de estudo foi o Arranjo Produtivo Local (APL) de Santa Rita do Sapucaí, no sul do Estado de Minas Gerais. Este APL já atendeu a 70% do mercado nacional de radiodifusão (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, 2007) e é um dos pioneiros nas pesquisas do sistema de TV Digital. Assim, este APL possui relevância no ramo nacional de indústrias eletrônicas. Este APL é formado por cerca de 120 empresas com diferenças significativas no número de equipamentos e funcionários. Contudo, pode-se generalizar que o perfil das empresas do APL como médias empresas de base tecnológica. (Almus & Nerlinger, 1999) A priorização apresentada neste artigo não pretende abranger diversos setores. Mas, sim, caracterizar-se como uma sistematização de procedimentos voltados à indústria de eletrônicos, especificamente, às empresas de médio porte. O artigo justifica-se, pois a priorização de atividades de NPD se faz necessária já que, para pequenas e médias empresas, não é possível gerenciar e monitorar todas as atividades do NPD com a mesma atenção (Millward & Lewis, 2005). Algumas atividades estão mais sujeitas a sofrerem alterações durante a execução do que outras, assim, o gerente do NPD deve dedicar um maior esforço no monitoramento e controle das atividades consideradas de maior importância. Esta priorização alinha-se com a eficiência e o desempenho organizacional de empresas de médio porte. O método de pesquisa utilizado foi a Modelagem Matemática. Especificamente modelou-se o problema com a Tomada de Decisão Multicriterial (MCDM, Multiple Criteria Decision Making). Analytic Hierarchy Process (AHP), o método de MCDM com maior número de publicações científicas (Wallenius et al., 2008) foi aplicado nesta modelagem. A escolha por este método também se embasou na necessidade de se considerar aspectos de Tomada de Decisão em Grupo (GDM, Group Decision Making). O uso de software do AHP em uma plataforma WWW facilitou a aplicação com GDM. O artigo está estruturado em mais quatro seções, além desta primeira. Na Seção 2 estão apresentados conceitos de NPD. Na Seção 3 apresentam-se conceitos de AHP e GDM. Na Seção 4 apresenta-se a modelagem da priorização de atividades de NPD em pequenas empresas de eletrônicos. Na Seção 5 apresentam-se as conclusões do artigo, seguidas de Agradecimentos e Referências Bibliográficas. 2. Desenvolvimento de Novos Produtos No presente trabalho, NPD, refere-se aos passos, atividades, tarefas, estágios e decisões que envolvem o projeto de desenvolvimento de um novo produto (ou serviço), desde a ideia inicial até a descontinuação do produto, com a finalidade de sistematizar esse processo. Com o NPD identificam-se os desejos dos clientes que são traduzidos em especificações a serem desenvolvidas para gerar soluções técnicas e comerciais (Clark & Wheelright, 1993). Tudo isso atrelado à estratégia, às restrições e às possibilidades operacionais da empresa e às necessidades dos clientes (Clark & Fujimoto, 1991). 3092

Embora muitas empresas saibam da importância do NPD nos negócios em longo prazo, com esforços na direção da melhoria do NPD, a taxa de falhas dos novos produtos é elevada. Existem várias razões para essas elevadas taxas de falhas, sendo uma das mais significativas, a baixa utilização de ferramentas, modelos, ou técnicas para auxiliar o NPD (González & Palacios, 2002). Descobrir como ter sucesso no NPD ou identificar as causas do insucesso passou a ser objetivo de vários pesquisadores nos últimos anos. A Figura 1 apresenta os três primeiros níveis hierárquicos de um modelo de NPD. No primeiro nível hierárquico tem-se o objetivo do modelo que é o desenvolvimento de um novo produto. No segundo nível estão as macrofases: Pré-desenvolvimento, Desenvolvimento e Pósdesenvolvimento. No terceiro nível estão as fases de cada macrofase. Figura 1. Modelo de NPD (Adaptado de Rozenfeld, et al., 2006). O modelo de NPD possui ainda um quarto e último nível hierárquico contendo as atividades de cada fase. Projeto do Produto, com oito atividades é a fase com maior número de atividades. Um total de 42 atividades compõe o modelo. Com o intuito de facilitar o NPD de empresas eletrônicas de médio porte aplicou-se o AHP para a priorização e seleção das atividades do modelo. Buscou-se a generalização dos resultados para um tipo de empresa, mas, ouvindo-se especialistas de diferentes empresas. Assim, conceitos de GDM foram utilizados na modelagem do problema. 3. Tomada de Decisão com Múltiplos Critérios 3.1. Modelagem da tomada de decisão A Modelagem Matemática com aplicação de métodos de MCDM consiste em três passos (Salomon, 2010): 1. Identificação dos critérios e das alternativas de decisão. 2. Atribuição de pesos para os critérios e de prioridades para alternativas. 3. Síntese dos resultados. Existem vários métodos de MCDM (Figueira, Greco, & Ehrgott, 2005). Porém, todos os métodos executam, basicamente, os mesmos passos e utilizam a mesma ferramenta principal: a Matriz de Decisão. O que torna um método diferente do outro é a maneira com que os passos são executados, ou seja, a maneira com que os componentes da Matriz de Decisão são obtidos e trabalhados. A Tabela 1 apresenta uma Matriz de Decisão, D, genérica para uma tomada de decisão envolvendo I alternativas e J critérios. Os componentes da Matriz de Decisão representam a prioridade de cada alternativa com relação a cada critério. 3093

Tabela 1. Matriz de decisão genérica Alternativa Critério 1 Critério 2... Critério J 1 d 11 d 12... d 1J 2 d 21 d 22... d 2J............ I d I1 d I2... d IJ AHP é o método de MCDM com maior quantidade de publicações científicas (Wallenius et al., 2008). A escolha por este método também se embasou na necessidade de se considerar aspecto de Tomada de Decisão em Grupo (GDM, Group Decision Making). A disponibilidade de software do AHP em uma plataforma WWW também contribuiu para escolha deste método, pois facilitaria a aplicação na GDM. O AHP é um método sistemático para síntese de prioridades, estruturalmente representadas em uma hierarquia (Saaty, 2010). A Figura 2 apresenta uma estrutura hierárquica composta por três níveis: objetivo, critérios e alternativas. Na prática, uma aplicação do AHP pode conter mais níveis, por exemplo, com a inclusão de subcritérios. Figura 2. Estrutura hierárquica convencional da MCDM A representação da MCDM com estruturas hierárquicas é válida para outros métodos, além do AHP como, por exemplo, ELECTRE e MAUT (Figueira, Greco, & Ehrgott, 2005). Uma implicação da representação com hierarquias é que se considera que as alternativas e critérios são independentes entre si. Mas, alternativas e critérios totalmente independentes, dificilmente, são encontrados em situações reais. Porém, se as relações de dependência não forem tão determinantes em um processo de tomada de decisão, o modelo pode ser mantido (Keeney, 1996). Caso contrário, o modelo deve ser alterado, por exemplo, com a aglutinação de critérios dependentes. Contudo, pode ser que se deseje manter a análise de critérios dependentes, como custo e qualidade, por exemplo. Neste caso, a aplicação de outro método de MCDM, que utilize outra estrutura, como o Analytic Network Process (ANP) deve ser considerada. Nota-se na Figura 2 que todas as alternativas são avaliadas de acordo com cada critério. Ou seja, considera que todas as alternativas contribuem para todos os critérios. Na modelagem do problema em questão, as alternativas contribuirão apenas para um critério. Ou seja, uma atividade de NPD está associada apenas a uma fase. E cada fase de NPD está associada apenas a uma macrofase. Assim, a Figura 3 apresenta uma estrutura hierárquica genérica para a priorização de atividades de NPD, com a aplicação de um método de MCDM. 3094

Figura 3. Estrutura hierárquica genérica para um problema de priorização de atividades 3.2. Comparações entre alternativas e entre critérios No AHP, os pesos dos critérios e as prioridades das alternativas são obtidos com julgamentos, geralmente, fornecidos por especialistas. Os julgamentos são inseridos em uma matriz de comparações aos pares, A. Os pesos, ou prioridades, dos objetos comparados (alternativas ou critérios) são obtidos com o autovetor direito, w, da matriz de comparações, conforme a Equação 1, onde max é o autovalor máximo da matriz. A w = max w (1) O autovalor é uma medida da consistência da matriz de comparações. Em uma matriz 100% consistente, a Relação de Transitividade (Gomes, Gomes, & Almeida, 2009), a ij = a ik a kj é obedecida para todas as comparações. Além disso, tem-se max = n, onde n é o número de objetos em comparação. Em aplicações do AHP, utiliza-se, geralmente, a Escala Fundamental (Saaty, 1980). Trata-se de uma escala linear de 1 a 9. O valor 1 da escala é usado quando se julgar que dois objetos devem possuir o mesmo peso, ou prioridade. A implicação do uso desta escala é que A será uma matriz recíproca positiva. Ou seja, a ij =1/a ji e a ij > 0, i,j = 1, 2... n. Assim, x, o número de comparações necessárias para completar uma matriz de comparações pode ser obtido pela Equação 2. x = n(n 1)/2 (2) Considerando, por exemplo, um problema com seis critérios e sete alternativas, para cada critério, 21 comparações serão necessárias. Além dessas, mais 15 comparações serão necessárias para se obter os pesos dos critérios. Assim, 141 comparações serão necessárias para se preencher, ao todo sete matrizes. Comparações demais é uma reclamação constantemente apresentada por especialistas consultados em aplicações do AHP (Wedley, 2009). Contudo, aplicações de outros métodos de MCDM, como ANP e MACBETH, geralmente, requererem mais comparações que as do AHP (Salomon & Shimizu, 2006). O algoritmo Incomplete Pairwise Comparisons (IPC) foi desenvolvido com o propósito de reduzir o número de comparações necessárias, o que permitirá ao grupo focar-se no debate e não na trabalhosa tarefa de preencher, por completo, cada matriz de comparações (Harker, 1987). Aplicando-se a Relação de Transitividade em uma matriz incompleta, A, com apenas y = (n 1) comparações, as demais comparações podem ser obtidas. A partir da matriz completa 3095

resultante, A, pode-se obter um autovetor, w. O IPC se inicia com o especialista fornecendo n comparações. No lugar das demais comparações utiliza-se a média geométrica de valores obtidos com a Relação de Transitividade. Assim, pode se obter w. Se alguma regra de parada for satisfeita, então, a utilização do algoritmo se encerra; se não, mais comparações devem ser fornecidas, uma a uma, pelo especialista até que se atenda à regra, ou até que a matriz esteja completa. Como o IPC possui certa complexidade, o algoritmo foi, de facto, pouco utilizado (Fedrizzi & Giove, 2007). Na aplicação do AHP apresentada neste artigo utilizou-se de software do AHP em uma plataforma WWW (Expert Choice, Inc., 2008). O default deste software é solicitar para o especialista apenas as z = (2n 3) comparações de duas diagonais acima da diagonal principal, nesta ordem. Assim, busca-se reduzir o número de comparações e obter uma maior precisão do que quando se solicitam apenas as y comparações de uma diagonal. A Tabela 2 apresenta o número de comparações necessárias para se completar uma matriz, x, obtido com a Equação 2 para n = 1, 2... 9. Apresentam-se, também o número mínimo de comparações, y, obtido de árvores geradoras mínimas (Goodrich & Tamassia, 2004), e z, o número de comparações solicitadas por default no software do AHP. Tabela 2. Números máximo, mínimo e intermediário de comparações n x y z 2 1 1 1 3 3 2 3 4 6 3 5 5 10 4 7 6 15 5 9 7 21 6 11 8 28 7 13 9 36 8 15 A Tabela 3 apresenta as z comparações solicitadas, pelo software do AHP, para uma matriz de ordem n = 5. Tabela 3. Matriz de comparações genérica para n = 5 Objeto Objeto 1 Objeto 2 Objeto 3 Objeto 4 Objeto 5 1 1 c 1 c 5 2 1/c 1 1 c 2 c 6 3 1/c 5 1/ c 2 1 c 3 c 7 4 1/ c 6 1/c 3 1 c 4 5 1/ c 7 1/c 4 1 Conforme comentado na Seção 2, para a priorização das atividades de NPD, especialistas de diferentes empresas foram consultados. Assim, as prioridades finais das alternativas, obtidas dos julgamentos de cada um dos especialistas, foram agrupadas. Ou seja, utilizou-se a abordagem de Aggregation of Individual Priorities (AIP). Outra abordagem seria agregar as comparações de cada especialista, individualmente (AIJ, Aggregation of Individual Judgments). No entanto, como se tratam de especialistas de empresas diferentes, com missões, princípios e visões diferentes, a abordagem AIP é a mais indicada (Forman & Peniwati, 1998). Aqui foi necessário tomar um cuidado, pois, o default do software é utilizar a abordagem AIJ. 4. Priorização das Atividades de NPD Três empresas do APL de Santa Rita de Sapucaí, que desenvolvem seus produtos, foram contatadas e aceitaram fazer parte da pesquisa sobre priorização de atividades de NPD. Na Empresa A são desenvolvidos PABX e soluções integradas de telefonia; na Empresa B desenvolvem-se transmissores, receptores e moduladores; e na Empresa C desenvolvem-se transmissores e retransmissores. A Figura 4 apresenta o perfil dos especialistas que efetivamente fizeram parte da 3096

pesquisa. Todos possuem graduação em Engenharia Elétrica. Foi consultado um especialista de cada empresa. Característica Empresa A Empresa B Empresa C Cargo Gerente de Desenvolvimento Diretor Industrial Gerente de P&D Formação acadêmica Especialização MBA Empresarial (Pós-graduação) em Gestão de Projetos Tempo de empresa 13 anos 7 anos 10 anos Tempo na função 6 anos 7 anos 4 anos Figura 4. Perfil dos participantes da pesquisa Mestrado em Eng. de Produção O passo seguinte na priorização das atividades de NPD se deu com visitas a cada uma das empresas. Nesta visita, o especialista da empresa foi informado sobre como o software realizaria a coleta de dados e como os dados seriam processados. Em suma, foram explicados conceitos do método AHP e de GDM, como AIP. A partir do modelo apresentado na Figura 1 foi criado um projeto de decisão na plataforma WWW do software. Os especialistas foram contatados por e-mail e, individualmente, cada um forneceu seus julgamentos com relação às comparações entre macrofases, fases e atividades de NPD. Cada especialista deveria de fornecer 110 comparações, se todas as comparações das 12 matrizes fossem solicitadas. Mas, como se utilizou o default do software de redução do número de comparações, foram solicitadas apenas 70 comparações. Assim, houve uma redução de 36% no esforço total a ser exigido dos especialistas. Considera-se que este fator tenha sido determinante para que a coleta dos dados tenha sido concluída em apenas um mês. Mais do que isto, a coleta de dados poderia perder em qualidade, por exemplo, devido ao cansaço proporcionado por comparações redundantes (Wedley, 2009). Assim, o default do software se mostrou adequado para o problema em questão. A Tabela 4 apresenta uma matriz de comparações entre macrofases do NPD e seus pesos. Estas comparações foram fornecidas pelo Especialista da Empresa A. Neste caso, todas as comparações foram solicitadas, pois, conforme a Tabela 2, para n = 3, temos x = z = 3. Tabela 4. Comparações entre macrofases de NPD Macrofase Pré-desenvolvimento Desenvolvimento Pós-desenvolvimento Pesos Pré-desenvolvimento 1 3/2 1 37% Desenvolvimento 1 2/3 26% Pós-desenvolvimento 1 37% A Tabela 5 apresenta os pesos obtidos para as macrofases de NPD. Observa-se que Prédesenvolvimento foi considerada a macrofase de maior peso, de acordo com todos os especialistas. Porém, para o Especialista da Empresa A, Pós-desenvolvimento possui o mesmo peso desta macrofase. Já para o Especialista da Empresa B, praticamente, apenas o Prédesenvolvimento tem peso no NPD. Como são especialistas de empresas diferentes, neste momento, não se buscou um consenso, segundo a teoria de GDM (Forman & Peniwati, 1998). Assim, para a agregação destes julgamentos e dos demais, utilizou-se a abordagem AIP. Tabela 5. Peso das macrofases de NPD Macrofase Empresa A Empresa B Empresa C Pré-desenvolvimento 37% 97% 53% Desenvolvimento 26% 2% 31% Pós-desenvolvimento 37% 1% 16% A Tabela 6 apresenta parte da Matriz de Decisão, apenas com as atividades da macrofase de Desenvolvimento. Dez atividades estão apresentadas em negrito porque obtiveram prioridade menor que 0,5 ponto percentual e foram consideradas não essenciais para o NPD. 3097

Tabela 6. Prioridade das atividades de Desenvolvimento Atividade Fase Prioridade Revisar e atualizar o escopo do produto 0,28% Identificar requisitos dos clientes Projeto 1,77% Definir requisitos de entrada Informacional 1,16% Avaliar, aprovar e documentar 0,51% Modelar funcionalmente o produto 0,17% Desenvolver princípios e alternativas de solução 0,15% Definir arquitetura do produto 0,68% Projeto Analisar Sistema, subsistema e componentes 0,36% Conceitual Definir fornecedores e parcerias 0,34% Planejar a manufatura 0,21% Avaliar, aprovar e documentar 0,12% Definir sistema, subsistema e componentes 0,96% Definir fornecedores 0,74% Planejar o processo de fabricação e montagem Projeto 0,84% Projetar embalagem Detalhado 0,19% Testar e homologar o produto 1,95% Avaliar, aprovar e documentar 0,46% Obter e instalar recursos 0,15% Planejar e produzir lote piloto 0,35% Preparação da Certificar produto 0,53% Produção Desenvolver processo de produção e manutenção 0,50% Avaliar, aprovar e documentar 0,16% Desenvolver processo de vendas 0,76% Desenvolver assistência técnica e atendimento ao cliente Lançamento do 0,41% Lançar o produto Produto 0,50% Avaliar, aprovar e documentar 0,16% O resultado prático da aplicação do AHP é indicação da eliminação das atividades negritadas na Tabela 6. Ou seja, entende-se que uma média empresa de eletrônicos não precise executar esta atividade. Caso opte por executá-la, não necessita despender tanta atenção durante esta atividade de NPD. As atividades Consolidar informações sobre tecnologia e mercado e Verificar viabilidade do portfólio de produto, ambas da macrofase de Pré-desenvolvimento, foram as que obtiveram maior valor de prioridade. 5. Conclusões Neste artigo, foi apresentada a priorização de atividades de NPD por empresas médias de eletrônicos. O NPD é um processo complexo e de escopo amplo. Uma limitação da pesquisa foi ter consultado especialistas em NPD apenas do APL de Santa Rita do Sapucaí, no Estado de Minas Gerais. Por meio da análise dos resultados dos julgamentos, observou-se que as atividades relacionadas com o Pré-desenvolvimento no NPD devem ser cuidadosamente gerenciados. Pois, estas atividades foram consideradas de grande importância no desenvolvimento de novos produtos. Foi utilizado na pesquisa um software do método AHP em uma plataforma WWW. Adotou-se o default do software de redução de comparações. Assim, obteve-se uma redução superior a 30% do total de comparações necessárias para aplicação do AHP. Considera-se que este fator tenha sido determinante para que a coleta dos dados tenha sido concluída em apenas um mês. Trabalhos futuros podem replicar o método de pesquisa adotado em outros segmentos de empresas, a fim de se obter a priorização ou a seleção das atividades do NPD em ambientes específicos. Espera-se que os resultados deste trabalho possam somar-se ao corpo teórico sobre 3098

aplicações dos métodos de MCDM e, ao mesmo tempo, contribuir para melhorias no NPD de médias e pequenas empresas. Afinal, as atividades mais importantes que condicionam o sucesso de um novo produto foram hierarquizadas. Com isso, pretende-se permitir que gerentes atuem nas atividades principais de NPD em empresas eletrônicas de médio porte. Agradecimentos A CAPES (Programa Pró-Engenharias, Processo PE024/2008), CNPQ (Edital Universal, Processo 483583/2009-0) e FAPESP (Processo 2010/05940-3). Referências Almus, M. e Nerlinger, E. A. (1999), Growth of New Technology-Based Firms: Which Factors Matter? Small Business Economics, 13, 141 154. Brentani, U., Kleinschmidt, E. J. e Salomo, S. (2010), Success in global new product development: impact of strategy and the behavioral environment of the firm, Journal of Product Innovation Management, 27, 143-160. Clark, K. B. e Fujimoto, T., Product Development Performance: strategy, organization, and management in the world auto industry, HBS Press, Boston, 1991. Clark, K. B. e Wheelright, S. C., Managing New Product and Process Development, Free Press, N. York, 1993. Expert Choice, Inc. Comparion Core, 4.6.002.4473, https://core.expertchoice.com, 10, 2010. Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Diagnóstico do arranjo produtivo da indústria do vale da eletrônica: mercado, tecnologia e inovação, 2007, http://pt.scribd.com/doc/20946016/diagnostico-do-arranjo-produtivo-da-industria-do-vale-da- Eletronica, 4, 2011. Fedrizzi, M., e Giove, S. (2007), Incomplete pairwise comparison and consistency optimization. European Journal of Operational Research, 183, 303 313. Figueira, J., Greco, S., e Ehrgott, M., Multiple criteria decision analysis, Springer, N. York, 2005. Forman, E., e Peniwati, K. (1998), Aggregating individual judgments and priorities with the analytic hierarchy process, European Journal of Operational Reserach, 108, 165-169. Gomes, L. F., Gomes, C. F., e Almeida, A. T., Tomada de decisão gerencial: enfoque multicritério, Atlas, S. Paulo, 2009. González, F. J., e Palacios, T. M. (2002), The effect of new product development techniques on new product success in Spanish firms. Industrial Marketing Management, 31, 261-271. Goodrich, M. T., e Tamassia, R., Projeto de Algoritmos, Bookman, P. Alegre, 2004. Harker, P. T. (1987). Incomplete Pairwise Comparisons in the Analytic Hierarchy Process. Mathematical Modeling, 9, 837-848. Keeney, R. L., Value-Focused Thinking: a path to creative decisionmaking, Harvard University Press, Cambridge, USA, 1996. Millward, H., e Lewis, A. (2005), Barriers to successful new product development within small manufacturing companies, Journal of Small Business and Enterprise Development, 12, 379-394. Millward, H., Byrne, C., Walters, A., e Lewis, A. (2006), New product development within small and medium-sized enterprises: analysis through technology management maps, International Journal of Innovation and Technology Management, 3, 283-302. Rozenfeld, H., Forcellini, F. A., Amaral, D. C., De Toledo, J. C., Da Silva, S. L., Alliprandini, D. H., et al., Gestão de Desenvolvimento de Produtos: uma referência para a melhoria do processo, Saraiva, S. Paulo, 2006. Saaty, T. L., Principia Mathematica Decernendi, RWS, Pittsburgh, 2010. Saaty, T. L., The Analytic Hierarchy Process, McGraw-Hill, N. York, 1980. Salomon, V. A. P. Analytic Hierarchy Process, em Marins, F. A. S., Pereira, M. S., Neyra B., M. S e Soto U., L. M. Métodos de tomada de decisão com múltiplos critérios: aplicações na indústria aeroespacial, E. Blucher, S. Paulo, 21-39, 2010. 3099

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