FUNCIONAMENTO INTESTINAL DE ACORDO COM A INGESTÃO DE FIBRAS EM ADVENTISTAS OVOLACTOVEGETARIANOS Daniela Marques Eckert, Amélia Carolina Cebulski (Acadêmicas do curso de Nutrição/UNICENTRO), Raquel Rosalva Gatti (Orientadora - Departamento de Nutrição/UNICENTRO), e-mail: damae_17@hotmail.com Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO / Setor de Ciências da Saúde Guarapuava Paraná Palavras-chave: ovolactovegetarianos, adventistas, fibras, função intestinal. Resumo O objetivo foi verificar a função intestinal de acordo com a ingestão de fibras em adventistas ovolactovegetarianos. Os dados foram coletados através de anamnese alimentar e registro alimentar de 4 dias. A média da ingestão de fibras foi de 30,5 g/dia, e 63,6% tiveram ingestão adequada de fibras. Todos os participantes possuíam função intestinal normal. Concluiu-se que a ingestão de fibras não foi motivo para a ausência de constipação. Introdução Os Adventistas do Sétimo Dia (ASD) são um grupo religioso caracterizado por difundir conceitos sobre uma vida saudável por meio da prática do vegetarianismo (1). Eles recomendam fortemente seu estilo de vida, embora atualmente, somente o uso de álcool e tabaco e o consumo de alimentos biblicamente impuros como a carne de porco, sejam proibidos (2). A maioria das pessoas que adotam o vegetarianismo baseia sua escolha num estilo de vida saudável (3). A dieta ovolactovegetariana inclui ovos, leite e derivados (4). Os vegetarianos fazem um consumo elevado de vegetais, frutas, cereais, legumes e nozes, além de sua dieta conter menor quantidade de gordura saturada, e maior quantidade de gordura insaturada, carboidratos e fibras (5). Isso contribui para a redução do risco de muitas doenças crônicas não-transmissíveis, como também para o risco de mortalidade (6). As fibras alimentares (FA) são substâncias encontradas em alimentos de origem vegetal que são eliminadas pelo organismo quase que intactas ou dissolvidas. São classificadas como insolúveis, que auxiliam principalmente
o trânsito intestinal, e as solúveis que formam géis que desaceleram a passagem do alimento pelo trato gastrointestinal (7). A constipação é prevenida pela ação que as fibras exercem no colón, induzindo a estimulação osmótica (produção de gases) e mecânica (retenção de água) (8). O controle da constipação depende da incorporação de hábitos alimentares que proporcionem quantidade adequada de fibra alimentar que pode, inclusive, melhorar as condições de saúde e ajudar a prevenir a ocorrência de outras doenças (9). O objetivo deste estudo foi verificar o funcionamento intestinal de acordo com a ingestão de fibras em adventistas ovolactovegetarianos. Materiais e Métodos Estudo de estimativa, com análise descritiva, de cunho quantitativo, transversal. Levantamento investigativo de 11 indivíduos da igreja Adventista do Sétimo Dia com idades superiores a 19 anos e inferiores ou igual a 60 anos, que utilizam dieta ovolactovegetariana, de ambos os sexos. Antes da coleta de dados, foi enviado o projeto ao COMEP/UNICENTRO. Após aprovação, foi feita autorização dos participantes, através de assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a coleta de dados, utilizou-se anamnese alimentar e registro alimentar de 4 dias. Na análise dos resultados foram avaliadas variáveis de sexo, idade, funcionamento intestinal e consumo de fibras. Para cálculo da ingestão de fibras foi utilizado o software DIETWIN CLÍNICO, sendo que para o cálculo da adequação de fibras foi utilizada a recomendação da ADA 2002 (American Dietetic Association). O banco de dados e os cálculos para a comparação entre variáveis foram feitos através de planilha do Excel em duplicata. Resultados e Discussão Foram entrevistados 11 indivíduos ASD ovolactovegetarianos, de ambos os sexos e idades entre 21 e 60 anos. Dos 11 indivíduos, 72,7% (n=8) eram do sexo masculino e 27,3% (n=3) do sexo feminino. A idade média foi 39,27 anos, com desvio padrão de ±12,08. De acordo com o registro de 4 dias, a média do consumo de alimentos refinados foi de 129,77 g/dia, enquanto que a média de alimentos ricos em fibras (frutas, hortaliças, leguminosas, cereais, grãos, biscoitos, pão e macarrão integral) foi de 762,71 g/dia. Além de frutas e hortaliças que são ricas em fibras, os indivíduos também consumiam pão integral (81,8%),
feijão e arroz integral (72,7%), milho verde a aveia (45,4%), biscoito integral e linhaça (36,3%), lentilha e gérmem de trigo (27,2%), granola (18,1%), ervilha e macarrão integral (9,1%) (Figura 1). Verificou-se que todos os participantes possuem hábito intestinal normal, sendo que 91,0% destes evacuavam todos os dias e 9,0% evacuavam 3 vezes na semana sem dificuldade, estando dentro da normalidade. Todos os ASD ovolactovegetarianos possuíam fezes de consistência normal, contudo, apenas 63,6% dos ovolactovegetarianos tiveram ingestão adequada de fibras. Figura 1 Alimentos ricos em fibras consumidos pelos ASD ovolactovegetarianos. Em pesquisa para avaliar as relações entre as quantidades de fibras ingeridas, intensidade da constipação e o tempo de trânsito colônico em pacientes com constipação funcional, Lopes e Victória (10) verificaram que os pacientes constipados apresentaram maior ingestão de fibras que os voluntários sadios. Os pacientes constipados não foram sensíveis às suplementações de fibra na dieta, fato que se confirma pela ausência de correlações significativas entre as quantidades de fibras ingeridas e a intensidade da constipação encontradas neste grupo. A adequação na ingestão de fibras entre mulheres e homens foi respectivamente de 66,6% e 62,5%. As mulheres consumiram em média 24,04 g/dia, e os homens 32,9 g/dia de FA. A média da ingestão de FA entre os indivíduos foi de 30,5 g/dia, valor adequado para a população em geral. No estudo de Mattos e Martins (11) para estimar o consumo médio diário de fibras alimentares, a ingestão foi de 24 g/dia de fibras totais na amostra estudada. O consumo de fibras alimentares entre mulheres e homens foi, respectivamente, 20 g/dia e 29 g/dia. A maioria dos alimentos presentes na dieta continha baixo teor de fibras, sendo o feijão o único alimento com alto teor de fibras na dieta habitual.
Burkitt et al. (12) descreveram que o consumo de maior quantidade de fibra se associa ao tempo de trânsito intestinal mais rápido em pessoas normais. Belo, Diniz e Pereira (13) testaram o impacto da suplementação dietética com fibras GGPH (goma-guar parcialmente hidrolisada) no tratamento da constipação intestinal funcional (CIF) em pacientes hospitalizados, concluindo que intervenção dietoterápica com fibras alimentares causou impacto significativo na remissão deste quadro, com aumento considerável na média de evacuações semanais. Entretanto, o uso adicional de fibra GGPH não resultou em maior impacto na função evacuatória. Conclusões Concluiu-se com esta pesquisa que a ingestão de fibras alimentares não foi motivo para a ausência de constipação, pois mesmo havendo inadequação do consumo de FA em alguns indivíduos, todos eles tinham função intestinal normal. Referências Fraser, G. E. Associations between diet and cancer, ischemic heart disease, and all-cause mortality in non-hispanic white California Seventh-day Adventists. Am J Clin Nutr. 1999, 70(3 Suppl), 532S-538S. Knutsen, S. F.; Fraser, G. E.; Beeson, W. L.; Lindsted, K. D.; Shavlik, D. J. Comparison of adipose tissue fatty acids with dietary fatty acids as measured by 24-hour recall and food frequency questionnaire in Black and White Adventists: the Adventist Health Study. Ann Epidemiol. 2003, 13(2),119-27. Melina, V.; Davis, B.; Harrison, V. A dieta saudável dos vegetais: o guia completo para uma nova alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Teixeira, R. C. M. A.; Molina, M. C. B.; Zandonade, E.; Mill, J. G. Risco cardiovascular em vegetarianos e onívoros: um estudo comparativo. Arq Bras Cardiol. São Paulo out. 2007, 89 (4), 237-44. Key, T.J.; Fraser, G. E.; Thorogood, M.; Appleby, N.; Beral, V.; Reeves, G.; et al. Mortality in vegetarians and nonvegetarians: detailed findings from a collaborative analysis of 5 prospective studies. Am J Clin Nutr. 1999, 70(3 Suppl), 516S-524S. Sabaté, J. The contribution of vegetarian diets to health and disease: a paradigm shift? Am J Clin Nutr. 2003, 78(3 Suppl), 502S-507S.
Mahan, L. K.; Escott-Stump, S.; tradução Andréa Favano. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 9 ed. São Paulo: Roca, 1998. Dammous, R.; Campos, T.; Nunes, M.; Fioratti, F.; Maitan, L.; Cassab, C.; Barros, D.; Montenegro, G.; Madeiros, R.; Zampini, R. C. A constipação intestinal está relacionada à saciedade que as fibras solúveis promovem no estômago? São Paulo, 2001. Disponível em: <http://www.nutrimais.com/nutri/trabalho/trab_fibras.asp>. Acesso em 26 agosto 2009. Morais, M. B.; Maffei, H. V. L. Constipação intestinal. Jornal de Pediatria 2000, 76 (supl. 2), 147-156. Lopes, A. C.; Victoria, C. R. Ingestão de fibra alimentar e tempo de trânsito colônico em pacientes com constipação funcional. Arq Gastroenterol. jan./mar. 2008, 45 (1), 58-63. Mattos LL, Martins IS. Dietary fiber consumption in an adult population. J Public Health. 2000, 34, 50-5. Burkitt, D. P.; Walker, A. R.; Painter, N. S. Effect of dietary fiber of stools and transit times and its role in the causation of disease. Lancet. 1972, 2, 1408-12. Belo, G. M. S.; Diniz, A. S.; Pereira, A. P. C. Efeito terapêutico da fibra goma-guar parcialmente hidrolisada na constipação intestinal funcional em pacientes hospitalizados. Arq Gastroenterol. jan./mar. 2008, 45 (1), 93-5.