NO MUNDO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

Documentos relacionados
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FUNÇÃO VENTRICULAR PRESERVADA. Dr. José Maria Peixoto

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Insuficiência Cardíaca

16/04/2015. Insuficiência Cardíaca e DPOC. Roberto Stirbulov FCM da Santa Casa de SP

CDI na miocardiopatia não isquémica

aca Tratamento Nelson Siqueira de Morais Campo Grande MS Outubro / 2010

SISTEMA CARDIOVASCULAR

DR. CARLOS ROBERTO CAMPOS INSUFICIÊNCIA MITRAL (I.M.I)

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

Guideline insuficiência cardíaca 2012 Sociedade Europeia Cardiologia. Harrison Principles of Internal Medicine

Atividade Física e Cardiopatia

1. As derivações DI, DII e DIII representam que parede do coração? a) Inferior b) Lateral c) Infero-basal d) Anterior

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA. Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA) Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

Preditores de lesão renal aguda em doentes submetidos a implantação de prótese aórtica por via percutânea

Coração Outono/Inverno

DOENÇAS DO MIOCÁRDIO E PERICÁRDIO. Patrícia Vaz Silva

Diagnóstico de Saúde Lourinhã. Lourinhã 15 de Maio de 2017

Síndrome Coronariana Aguda

INTERVENÇÕES PREVENTIVAS E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA

XXXV Congresso Português de Cardiologia Abril ú ç

Rim: Aliado ou inimigo? Miguel Nobre Menezes João R. Agostinho. Serviço de Cardiologia, CHLN, CAML, CCUL

Detecção precoce de cardiotoxicidade no doente oncológico deve ser efectuada sistematicamente? Andreia Magalhães Hospital de Santa Maria

A Pessoa com alterações nos valores da Tensão Arterial

Internamentos evitáveis

Redução da PA (8 a 10 mmhg da PA sistólica e diastólica) Aumento do tonus venoso periférico volume plasmático

Julho de 2016 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

Curso de Reciclagem em Cardiologia ESTENOSE VALVAR AÓRTICA

O Papel dos Psicólogos no Envelhecimento

Curso Nacional de Reciclagem em Cardiologia da Região Sul Florianópolis Jamil Mattar Valente

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO PEDIDO DE COMPARTICIPAÇÃO DE MEDICAMENTO PARA USO HUMANO

Coração Outono/Inverno: casos clínicos. O que posso fazer pelo meu doente idoso com: Fibrilhação auricular

Avaliação do Risco Cardiovascular

Impacto prognóstico da Insuficiência Mitral isquémica no EAM sem suprast

FARMACOLOGIA 10 CONTINUAÇÃO DA AULA ANTERIOR

COMO CONTROLAR HIPERTENSÃO ARTERIAL?

Recomendações de Atividade Física para crianças e adolescentes

Hipertensão Arterial. Educação em saúde. Profa Telma L. Souza

Rede Médicos Sentinela: instrumento de observação e investigação em saúde

Projeto BPC: Conceitos Gerais. Sabrina Bernardez Pereira, MD, MSc, PhD

Angina Estável: Estratificação de Risco e Tratamento Clínico. Dr Anielo Itajubá Leite Greco

Direcção-Geral da Saúde

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

PROTOCOLO MÉDICO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NA UNIDADE DE EMERGÊNCIA. Área: Médica Versão: 1ª

Introdução ao Protocolo

12º RELATÓRIO DO OBSERVATÓRIO NACIONAL DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS RESUMO DOS DADOS

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 26. Profª. Lívia Bahia

Programa MÓDULO 1: DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA E PROGNÓSTICO (28-29 SETEMBRO 2018) Coordenador: Brenda Moura Sexta-feira

Prova de Esforço. Ana Mota

DIAGNÓSTICOS PARA ENCAMINHAMENTO VIA CROSS PARA TRIAGEM NO INSTITUTO DO CORAÇÃO

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

Desmistificando a ecocardiografia. O que fazer quando o ecocardiograma diz que... o meu doente tem o ventrículo esquerdo dilatado?

FERRAMENTAS DE APOIO À ABORDAGEM DA DISFUNÇÃO ERÉTIL

Insuficiência cardíaca agudamente descompensada

TERAPÊUTICA ESPECÍFICA DA DOENÇA DE FABRY

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA APÓS SCA

Importância da informação para o diagnóstico e tratamento da insuficiência cardíaca

Insuficiência Cardíaca

IPATIMUP. Private non-profit Institution of Public Utility Associated Laboratory of the Ministry of Science and Technology since 2000

Coração Normal. Fisiologia Cardíaca. Insuficiência Cardíaca Congestiva. Eficiência Cardíaca. Fisiopatogenia da Insuficiência Cardíaca Congestiva

09/07/2014. DPOC Doença inflamatória sistêmica. Manejo das doenças cardiovasculares difere no paciente com DPOC?

Influência do Género na Qualidade de Vida em Doentes com Insuficiência Cardíaca

Farmacologia cardiovascular

Educar Para a Saúde Saúde e Bem Estar Físico

Exame de Cardiologia - 23 de Fevereiro de 2006

Paulo Donato, Henrique Rodrigues

Maio, Unidade de Cuidados na Comunidade de Castelo Branco. Hipertensão Arterial

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDAMENTE DESCOMPENSADA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

SCA Estratificação de Risco Teste de exercício

Mesa 3 LUTS. Apresentações: HBP/LUTS (Dr. Roberto Jarimba/Dr. Cláudio Espírito Santo)

Síndrome Cardiorrenal. Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

Atualização Rápida CardioAula 2019

Terapêutica diurética e mecanismos de resistência diurética. Pedro Pereira Campos S. Nefrologia (Director: Dr. Pedro Correia)

Rosângela de Oliveira Alves ROA

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Velhas doenças, terapêuticas atuais

Glomerulonefrite Membranosa Idiopática: um estudo de caso

Evolução do prognóstico das síndromes coronárias agudas ao longo de 12 anos - a realidade de um centro.

comuns. ou o faz -carga). comorbidades. -lo. Desvio do ictus cordis para baixo e para a esquerda A presença de sopros EPIDEMIOLOGIA

CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES OCUPACIONAIS

Adesão a um Programa de Reabilitação Cardíaca: quais os benefícios e impacto no prognóstico?

MAIOR CONTRO. Informação De Segurança Importante Sobre PRILIGY. 1 Informação para o médico

HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR

Informamos que os seguintes trabalhos foram aprovados para apresentação PÔSTER.

MÓDULO FINAL RESUMO DO ESSENCIAL NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA. Prof. Doutor Ricardo Fontes-Carvalho. MD, PhD, FESC, FACC

M. Graça Castro. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

Processo Seletivo Unificado de Residência Médica 2017 PADRÃO DE RESPOSTAS HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA, ECOGRAFIA

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Luís Amaral Ferreira Internato de Radiologia 3º ano Outubro de 2016

Insuficiência cardíaca Resumo de diretriz NHG M51 (segunda revisão, julho 2010)

Quinta-Feira

Cardiomiopatia Conceitos, evolução e prognóstico

AFECÇÕES CARDIOVASCULARES

4ª Aula. Professora Sandra Nunes 13/04/2016. Parte III: Doenças do coração PRINCIPAIS DOENÇAS DO SISTEMA CARDIOVASCULAR

julho A SETEMBRO. PROVA: OUTUBRO. 360 horas/aulas. EM 14 SEMANAS

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

Focus no Feminino Caso Clinico

JANEIRO A SETEMBRO PROVA: SETEMBRO 257 AULAS E PROVAS EM 34 SEMANAS CRONOGRAMA CARDIOAULA TEC 2018 EXTENSIVO

Transcrição:

NO MUNDO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O Q U E S E P O D E F A Z E R P E L O D O E N T E N O C E N T R O D E S A Ú D E? Carlos Mestre cmm.master@hotmail.com

DEFINIÇÃO A Insuficiência Cardíaca (IC) é: Uma síndrome clínica Ocorre devido a uma anomalia hereditária ou adquirida da estrutura cardíaca e/ou da sua função Caracterizada por sintomas clínicos (dispneia e fadiga) e sinais (edema e fervores) Leva a internamentos hospitalares frequentes, diminuição da qualidade de vida e uma expectativa de vida mais curta.

EPIDEMIOLOGIA A IC é um problema crescente em todo o mundo, com mais de 20 milhões de pessoas afectadas A prevalência geral da IC na população adulta nos países desenvolvidos é de 2% Aumenta com a idade, afectando 6-10% das pessoas com mais de 65 anos. Em Portugal varia entre 1,36% no grupo etário dos 25 aos 50 anos e 16% acima dos 80 anos (EPICA)

CLASSIFICAÇÃO De acordo com a Função do Ventrículo Esquerdo (VE): IC com FE deprimida (IC sistólica) -- FE 40% IC com FE preservada (IC diastólica) Estudos epidemiológicos têm mostrado que aproximadamente metade dos doentes que desenvolvem IC têm uma FE normal ou preservada (FE 40-50 %)

CLASSIFICAÇÃO Classificação New York Heart Association Classe Funcional Classe I Classe II Classe III Classe IV Características Doente com doença cardíaca mas sem limitação da actividade física Doente com doença cardíaca e com ligeira limitação da actividade física Doente com doença cardíaca e com moderada limitação da actividade física. Sem sintomas em repouso Doente com doença cardíaca e com grave limitação da actividade física. Com sintomas em repouso

CLASSIFICAÇÃO Baseada na Progressão da Doença Estadio A B C Características Pessoas em risco de desenvolver IC, mas ainda sem doença estrutural perceptível ou sintomas Doentes que adquiriram lesão estrutural cardíaca, mas ainda sem sintomas atribuíveis à IC Doentes com lesão estrutural cardíaca e sintomas actuais ou pregressos de IC D Doentes com sintomas refractários ao tratamento convencional, e que requerem intervenções especializadas ou cuidados paliativos

PROGNÓSTICO Apesar de muitos avanços na avaliação e gestão da IC, o desenvolvimento de IC sintomática ainda está associada a mau prognóstico Estudos de base comunitária indicam que: 30-40% dos doentes morrem dentro de 1 ano após o diagnóstico 60-70% morrem dentro de 5 anos A mortalidade ocorre principalmente por: Agravamento da IC Morte súbita (provavelmente devido a arritmia ventricular)

O QUE SE PODE FAZER? Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção Terciária Prevenção Quaternária

PREVENÇÃO PRIMÁRIA Protecção da saúde por meio de intervenções pessoais e comunitárias Reduzir a Incidência da doença, controlando as causas e os factores de risco

ETIOLOGIA IC IC com com FE FE preservada preservada Hipertrofia patológica Primária (Cardiomiopatia Hipertrófica) Secundária (Hipertensão) Envelhecimento Cardiomiopatia Restritiva Doenças infiltrativas (Amiloidose, Sarcoidose) Doenças de Armazenamento (Hemocromatose) Fibrose Doenças Endomiocárdicas

ETIOLOGIA Doença Arterial Coronária * Sobrecarga Crónica de Pressão * Hipertensão Valvulopatia Obstrutiva Sobrecarga Crónica de Volume Valvulopatia Regurgitante Shunt intracardíaco (esquerdo-direito) ou extracardíaco Cardiomiopatia Dilatada Não Isquémica Lesão induzida por drogas/tóxicos * Doença de Chagas IC com depressão da FE ( 40%)

ETIOLOGIA As condições que levam a um débito cardíaco elevado raramente são responsáveis pelo desenvolvimento de IC num coração normal Anemia Crónica Hipertiroidismo Shunt Arteriovenoso Sistémico Doenças nutricionais (beriberi) No entanto, na presença de doença cardíaca estrutural subjacente, estas condições podem levar a IC

ETIOLOGIA Nos países industrializados, a Doença Arterial Coronária (DAC) tornou-se a causa predominante em homens e mulheres e é responsável por 60-75% dos casos de IC A Hipertensão Arterial contribui para o desenvolvimento de IC em 75% dos doentes, incluindo a maioria dos doentes com DAC Em 20-30% dos casos de IC com FE deprimida, a base etiológica exacta não é conhecida

PREVENÇÃO PRIMÁRIA Factores de Risco Tabagismo (evicção) Álcool [No máximo 2 copos no Homem (20g/dia) e 1 copo na mulher (10g/dia)] Diabetes (Hb A1c 6,5% ou Individualizado) Dislipidémia (de acordo com o risco CV) Obesidade (IMC 25 Kg/m2; Obesidade central: homens-94cm e mulheres 80cm)

PREVENÇÃO PRIMÁRIA Factores de Risco Hipertensão Arterial (Geral 140/90 mmhg) Sedentarismo (Adultos saudáveis 2.5 a 5 h/semana exercicio físico aeróbio moderado ou 1 a 2,5 h/semana de exercício intenso) Doença valvular (Referenciação precoce para eventual tratamento antes do desenvolvimento de IC) Consumo de Substâncias Ilícitas (Evicção) Consumo de Sódio ( 5g/dia)

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Detecção e tratamento precoce das doenças Diagnóstico Tratamento

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico de IC IC com FE reduzida requer 3 condições: 1. Sintomas típicos de IC 2. Sinais típicos de IC 3. FE do VE reduzida ( 40%) IC com FE preservada requer 4 condições: 1. Sintomas típicos de IC 2. Sinais típicos de IC 3. FE do VE normal ou apenas ligeiramente reduzida e VE não dilatado 4. Doença cardíaca estrutural relevante (hipertrofia do VE) e/ou disfunção diastólica

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico de IC ECD em ambulatório (todos os doentes com suspeita de IC) Ecocardiograma transtorácico (Classe I, Nível C) Avaliar estrutura e função cardíaca ECG com 12 derivações (Classe I, Nível C) Completamente normal torna improvável a IC sistólica

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico de IC ECD em ambulatório (todos os doentes com suspeita de IC) Análises sanguíneas (Classe I, Nível C) Hemograma Ionograma e Cálcio Ureia, Creatinina e taxa de filtração glomerular estimada Enzimas hepáticas e Bilirrubinas Ferritina Função tiroideia

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico de IC ECD em ambulatório Radiografia do Torax (Classe IIa, Nível C) Detectar/excluir doenças pulmonares (ex: cancro) Pode identificar congestão pulmonar/edema e cardiomegália Mais útil em doentes onde há suspeita de IC na fase aguda Peptideos Natriuréticos (Classe IIa, Nível C) Permite ponderar causas alternativas de dispneia Nível baixo torna a IC muito improvável (NT-proBNP < 125 pg/ml ou BNP < 35 pg/ml)

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Fisipatologia da IC Evento Index - Diminuição da capacidade contráctil Compensação a curto prazo Sintomas + Activação do SNS e SRAA Remodeling Progressão da doença a médio/ longo prazo

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC FE reduzida FE preservada Objectivos: Aliviar os sintomas e os sinais Evitar o internamento Melhorar a sobrevida

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Todos os doentes com IC sintomática (Classe II-IV da NYHA) FE 40% (Classe I, Nível A) ß-Bloqueante + IECA (ou ARA) FE 35% Antagonista dos Receptores de Mineralocorticóides (ARM) (Classe I, Nível A) Reduz o risco de hospitalização por IC e o risco de morte prematura

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Antagonistas dos receptores da Angiotensina (ARA) (Classe I, Nível A) 1) Intolerância ao IECA (+B-Bloqueante +ARM) (ou) 2) Intolerância ao ARM (+B-Bloqueante +IECA) Reduz o risco de hospitalização por IC (1;2) e morte prematura (1)

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Ivabradina (1) (Classe IIa, Nível B) Ritmo sinusal FE 35% Frequência cardíaca em repouso 70 b.p.m. Sintomas persistentes apesar de terapêutica optimizada (B-Bloqueante + IECA + ARM) Reduz o risco de hospitalização por IC

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Ivabradina (2) (Classe IIb, Nível C) Ritmo sinusal FE 35% Frequência cardíaca em repouso 70 b.p.m. Sem tolerância ao B-Bloqueante (+ IECA + ARM) Reduz o risco de hospitalização por IC

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Digoxina (1) (Classe IIb, Nível B) Ritmo sinusal Sintomas persistentes apesar de terapêutica optimizada (B-Bloqueante + IECA + ARM) Reduz o risco de hospitalização por IC

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Digoxina (2) (Classe IIb, Nível B) Ritmo sinusal Sem tolerância ao B-Bloqueante (+ IECA + ARM) Reduz o risco de hospitalização por IC

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Hidralazina e Dinitrato de isossorbido (1) (Classe IIb, Nível B) FE 45% e VE dilatado (ou FE 35%) Sintomas persistentes apesar de terapêutica optimizada (B-Bloqueante + IECA + ARM) Reduz o risco de hospitalização por IC e morte prematura

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE reduzida Em doentes selecionados com IC (Classe II-IV da NYHA) Hidralazina e Dinitrato de isossorbido (2) (Classe IIb, Nível B) FE 45% e VE dilatado (ou FE 35%) Em alternativa do IECA ou ARA se não tolerados (+B-Bloqueante + ARM) Reduz o risco de hospitalização por IC e morte prematura

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diuréticos Tratamento da IC com FE reduzida Não está comprovado que os diuréticos reduzem a mortalidade ou o nº de internamentos Aliviam a dispneia e o edema e constituem um tratamento fundamental na IC O objectivo é obter e manter a euvolemia (o peso seco do doente) com a menor dose possível Diuréticos de ança geralmente são preferíveis às tiazidas na IC com FE reduzida

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Tratamento da IC com FE preservada Até à data nenhum tratamento melhorou comprovadamente o prognóstico destes doentes Os diuréticos são utilizados para aliviar a dispneia e o edema Deve-se tratar/controlar a etiologia da IC e as comorbilidades

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Evitar ou reduzir as complicações, incluindo as sequelas, incapacidades e a morte precoce 1. Promoção da adesão terapêutica 2. Controlo dos factores de risco 3. Tratamento das Comorbilidades 4. Fármacos não recomendados 5. Imunizações 6. Ensino de competências 7. Adaptação Funcional Fundamental haver uma boa comunicação entre os Cuidados de Saúde Primários e Secundários

PREVENÇÃO TERCIÁRIA 1. Esclarecer o doente em relação à sua doença, prognóstico, terapêutica disponível e possíveis efeitos secundários 2. Envolver a família Promoção da Adesão Terapêutica 3. Negociar o plano terapêutico com o doente 4. Fazer prescrições tão simples quanto possível 5. Dar instruções claras acerca do regime de tratamento, oral e por escrito

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Promoção da Adesão Terapêutica 6. O regime de tratamento dever ter em consideração os horários do indivíduo 7. Facilitar a acessibilidade, presencial ou por telefone 8. Salientar a importância da adesão em cada visita 9. Adaptar a frequência das visitas às necessidades de adesão do doente 10. Promover a participação activa do doente na sua terapêutica através da auto-monitorização da doença

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Controlo dos Factores de Risco Tabagismo Álcool (*) Diabetes Dislipidemia Obesidade Hipertensão Arterial Sedentarismo (Actividade física aerobica moderada, a intensa moderada a 3 vezes por semana e 30 minutos por sessão) Consumo de Sódio ( 3g/dia)

PREVENÇÃO TERCIÁRIA DPOC Tratamento das Comorbilidades Está associada a um pior status funcional e é um factor independente de pior prognóstico Os B-bloqueantes são contra-indicados na Asma, mas não em doentes com DPOC Devem ser utilizados os cárdio-selectivos (Bisoprolol, Carvedilol ou Nebivolol) Os corticoides orais podem causar retenção de sódio e água, levando potencialmente a um agravamento da IC, mas tal não parece ser um problema com os corticoides inalados

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Disfunção Eréctil Tratamento das Comorbilidades Os Inibidores da fosfodiesterase V não estão contra-indicados, excepto em doentes que tomam nitratos. Estudos de curto prazo demonstraram que estes agentes têm um padrão hemodinâmico favorável em doentes com IC-FER Há, no entanto, relatos de agravamento da obstrução de saída do VE em doentes com cardiomiopatia hipertrófica, o que pode ser uma preocupação em alguns doentes com IC-FEP

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Depressão Tratamento das Comorbilidades A depressão é comum e está associada a pior estado clínico e mau prognóstico na IC Pode contribuir para uma baixa adesão terapêutica e isolamento social A intervenção psicossocial e o tratamento farmacológico podem ser úteis nestes casos Os ISRS são considerados seguros, enquanto que os antidepressivos tricíclicos não são, pois podem causar hipotensão, agravamento da IC e arritmias

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Tratamento das Comorbilidades Hiperplasia Benigna da Prostata Os Bloqueadores α-adrenérgicos podem causar hipotensão e retenção de água e sódio, podendo não ser seguros na IC sistólica Os inibidores da 5-alfa redutase são geralmente preferidos A obstrução prostática deve ser descartada em homens com deterioração da função renal

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Fármacos não recomendados Glitazonas (Classe III, Nivel A) ACC -excepção Amlodipina e Felodipina (Classe III, Nivel B) AINEs (Classe III, Nivel B) Combinação de IECA+ARA+ARM (Classe III, Nivel C)

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Imunizações Vacina da gripe: anualmente Vacina Pneumocócica: Prevenar13 1x em idade adulta Pneumo23 5 em 5 anos Synflorix 2x em idade adulta Programa Nacional de Vacinação actualizado

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Ensino de competências 1. Vigiar e reconhecer sinais e sintomas 2. Registar o peso diário e reconhecer ganhos de peso repentinos 3. Saber como e quando contactar um profissional de saúde 4. Usar terapêutica diurética flexível, caso seja apropriado e recomendado, depois de ensinado o doente e de fornecidas as instruções detalhadas

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Adaptação Funcional Ajudar o doente a adaptar-se à nova realidade: Casa Trabalho Actividades diárias Actividade sexual Lazer e Passatempos Família

PREVENÇÃO QUATERNÁRIA É a prevenção de intervenções médicas desnecessárias Prevenir a iatrogenia Prevenir a prevenção desapropriada Evitar o excesso de intervencionismo médico Detectar o individuo em risco de sobremedicação Tem de ser individualizada caso a caso

QUANDO REFERÊNCIAR Critérios para a Consulta de IC do HDS Disfunção sistólica do VE com FE 35% Ausência de Comorbilidades graves (ex: neoplasia) Ausência de causas de IC corrigiveis (ex: estenose aórtica grave, doença coronária)

QUANDO REFERÊNCIAR Outros critérios a considerar Referenciação IC sintomática e Bloqueio de ramo esquerdo (podem beneficiar de CRT) Classe Funcional III ou IV apesar de terapêutica optimizada Etiologia de IC desconhecida após estudo IC e Hipotensão arterial sintomática, Insuficiência renal e/ou Hiponatrémia

CONCLUSÃO A IC é uma sindroma com uma prevalência crescente em todo o mundo Nos países ocidentais a principal etiologia é a DAC sendo importante o controlo dos seus factores de risco A avaliação funcional (NYHA) tem valor prognóstico e na escolha da terapêutica Existe tratamento médico para a IC com FE reduzida que reduz os sintomas, internamentos por IC e aumenta a sobrevida Todos os tipos de prevenção são importantes na gestão dos doentes com IC, tendo os CSP um papel fundamental

BIBLIOGRAFIA European Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice (version 2012); European Heart Journal (2012) 33, 1635 1701 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure 2012; European Heart Journal (2012) 33, 1787 1847 Heart Failure and Cor Pulmonale. Harrison's Principles of Internal Medicine, 18e, Chapter 234 Lindenfeld J, et al. HFSA 2010 Comprehensive Heart Failure Guideline. J Card Fail 2010; 16:e1-e194 Ceia F, Insuficiência Cardíaca Crónica na segunda década do séc. XXI.Revista Factores de Risco, Nº29 ABR-JUN 2013 Pág. 12-15 Ceia F, Fonseca C, Mota T, Morais H, Matias F, de Sousa A, Gouveia-Oliveira A, on behalf of the EPICA Investigators. Prevalence of chronic heart failure in Southwestern Europe: the EPICA study. Eur J Heart Fail 2002; 4: 531-539.

NO MUNDO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O Q U E S E P O D E F A Z E R P E L O D O E N T E N O C E N T R O D E S A Ú D E? Carlos Mestre

Anexos

ANEXOS

ANEXOS

ANEXOS

ANEXOS

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico de IC ECD em ambulatório (todos os doentes com suspeita de IC) Peptideos Natriuréticos (Classe IIa, Nível C) Excluir causas alternativas de dispneia Nível baixo torna a IC é muito improvável Radiografia do Torax(Classe IIa, Nível C) Detectar/excluir doenças pulmonares (ex: cancro) Pode identificar também congestão pulmonar/edema Mais útil em doentes onde há suspeita de IC na fase aguda

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Fármacos não recomendados Benefício não comprovado Estatinas (excepto se DAC) Anticoagulantes (excepto se FA) Malefício comprovado Glitazonas (Classe III, Nivel A) ACC -excepção Amlodipina e Felodipina (Classe III, Nivel B) AINEs (Classe III, Nivel B) Combinação de IECA+ARA+ARM (Classe III, Nivel C)

PREVENÇÃO TERCIÁRIA Tratamento das Comorbilidades 1. Podem interferir com os tratamentos para a IC (ex. IECA e disfunção renal) 2. Os fármacos usados no tratamento das comorbilidades podem causar agravamento da IC (ex. AINEs) 3. Os fármacos usados para tratar a IC e os usados no tratamento das comorbilidades podem interagir (Ex. B-bloqueantes e B- agonistas para tratamento de DPOC e Asma)