Revista Paulista de Pediatria ISSN: Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil

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Transcrição:

Revista Paulista de Pediatria ISSN: 01030582 rpp@spsp.org.br Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil Netto, Alexandre; Gondin, Larissa; Robledo, Hamilton Henrique; Romero, Kelencristina Thomaz Causas de morte em adolescentes no Município de Mogi das Cruzes no período de 2000 a 2004 Revista Paulista de Pediatria, vol. 23, núm. 4, diciembre, 2005, pp. 165169 Sociedade de Pediatria de São Paulo São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406038914002 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Artigo Original Causas de morte em adolescentes no Município de Mogi das Cruzes no período de 2000 a 2004 Causes of death among adolescents of mogi das cruzes municipality from 2000 2004 Alexandre Netto 1, Larissa Gondin 1, Hamilton Henrique Robledo 2, Kelencristina Thomaz Romero 3 RESUMO ABSTRACT Objetivo: Estudar as principais causas de morte em adolescentes de 10 a 19 anos do Município de Mogi das Cruzes, no período de 20002004. Métodos: Análise de dados coletados de um banco de dados da Secretaria Municipal de Saúde de Mogi das Cruzes, que possui este serviço desde janeiro de 2000. Na análise dos dados, foram calculados os coeficientes de mortalidade de acordo com o ano, o sexo, a faixa etária e causa da morte. As causas de óbitos foram codificadas de acordo com o CID 10.0 (Classificação Internacional de Doenças). Resultados: No período de estudo, o coeficiente de mortalidade na população estudada foi 74,24 por 100.000 habitantes, sendo de 52,07 e 22,77/100.000 habitantes, respectivamente para o sexo masculino e feminino. À exceção de 2004, o coeficiente de mortalidade aumentou a cada ano desde 2000. A principal causa de óbito foi a externa entre os adolescentes estudados, sobretudo no sexo masculino de 15 a 19 anos de idade. Conclusão: As principais causas de morte em adolescentes de Mogi das Cruzes no período estudado seriam evitáveis. Tal fato sugere a necessidade de programas de saúde voltados para a promoção da saúde do adolescente. Palavraschave: Taxa de mortalidade, saúde do adolescente, violência, causa de morte. Objective: To analyze the causes of death among teenagers between 10 and 19 years old that live in Mogi das Cruzes Municipality, during the years 2000 to 2004. Methods: Data were collected from Mogi das Cruzes Health Department. Causes of death were codified according to International Disease Classification ICD 10.0 and analyzed according to age, gender, and cause of death. Results: From 2000 to 2004, mortality rate was 74.24 per 100.000 inhabitants; being 52.07 in teenagers males and 22.77 in females. This coefficient increased year by year until 2003. In 2004, there was a decrease in the mortality rate among adolescents in Mogi das Cruzes. The higher rate of mortality was noted among male teenagers between 15 and 19 years old and it was due to external causes. Conclusion: The main cause of death among teenagers in this Municipality could be avoidable. Therefore, data suggest that the implementation of violence prevention programs and promotion of teenagers health would reduce the mortality rate in this population. Keywords: Mortality rates, health of adolescents, violence, cause of death. 1 Acadêmicos internos da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes (FMUMC) 2 Professor Assistente da Disciplina de Propedêutica Médica da FMUMC 3 Mestre em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo escola Paulista de Medicina e Tutora de Pediatria do Internato da FMUMC Endereço para correspondência: Alexandre Netto Rua Garção Tinoco, 62, bl. 3, apto. 13 Santana CEP 02402020 São Paulo / SP Email: ale_netto@hotmail.com Recebido em: 1/4/2005 Rev Paul Pediatria 2005;23(4);1659. 165

Causas de morte em adolescentes no município de Mogi das Cruzes no período de 2000 a 2004 Introdução A adolescência é definida como o período de transição entre a infância e a idade adulta, período no qual ocorrem profundas transformações biopsicossociais (1). É a fase da vida em que se verificam progressivas alterações físicas, tais como elevação da massa corporal, aumento da velocidade de crescimento e aparecimento de caracteres sexuais secundários. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000) (2), a adolescência compreende a fase da vida que vai dos 10 aos 19 anos 11 meses e 29 dias e, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (CBIA, 1990) (3), esta fase inclui os indivíduos da faixa etária de 12 a 18 anos. O estudo da mortalidade em adolescentes revestese de importância devido ao fato de a morte nessa faixa etária representar perdas irreparáveis para a sociedade e para o Estado, com perda de indivíduos em pleno desenvolvimento do seu potencial. Além disso, apesar de a taxa de mortalidade ser baixa nessa faixa etária, se comparada à de outros grupos etários, o maior contingente de óbitos em adolescentes é constituído por causas evitáveis. Neste sentido, é fundamental a caracterização da situação de mortalidade de adolescentes nos diferentes locais para ajudar a desenhar programas preventivos (4). Tais argumentos justificam a necessidade de se conhecer a taxa de mortalidade, assim como suas principais causas, para elaborar programas de educação, fóruns e agendas das instituições públicas das esferas municipal, estadual e federal para a promoção da saúde. Conforme dados da literatura (57), a mortalidade é maior em adolescentes de 15 a 19 anos, comparada à de adolescentes de 10 a 14 anos, e em indivíduos do sexo masculino, em ambas faixas etárias referidas. Assinalase, também, que grande parte dos óbitos resulta de causas externas, sabendose que, desde o início da década de 80, a mortalidade por tais eventos é a segunda principal causa de morte em adolescentes, só sobrepujada pelas doenças do aparelho circulatório (6). Dada à importância desse grupo etário, o objetivo do presente trabalho foi conhecer a taxa de mortalidade em adolescentes de 10 a 19 anos, bem como as principais causas de óbito de acordo com a faixa etária e o sexo no Município de Mogi das Cruzes, no período de 2000 a 2004. Métodos Tratase de um estudo de corte transversal, do tipo observacional, com coleta retrospectiva de dados. Esses foram colhidos de um banco de dados fornecido pela Secretaria Municipal de Saúde de Mogi das Cruzes (SP, Brasil) relativo ao sistema de informações sobre mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS). O período foi escolhido para o estudo porque os dados informatizados somente estavam disponíveis a partir de 2000. Os dados populacionais foram obtidos na Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SEADE (8). Mogi das Cruzes é uma cidade localizada no Estado de São Paulo, na região do Alto Tietê, onde está instalado o Campus I da Faculdade de Medicina da Universidade Mogi das Cruzes (FMUMC). O município contava com uma população de 330.241 habitantes em 2000 e 354.775 habitantes em 2004 (Fundação SEADE) (8). No ano 2000, o número de adolescentes no Município era 65.453, o que representava 19,81% da população, sendo 50,2% homens e 49,8% mulheres. Para o estudo de mortalidade dos adolescentes no Município de Mogi das Cruzes, foi utilizada a delimitação etária proposta pela Organização Mundial de Saúde (10 a 19 anos), subdividida conforme proposta do censo (IBGE) (9) em dois subgrupos: 10 a 14 anos e 15 a 19 anos. As causas de óbitos foram codificadas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID10/OMS, 1997) (10), que inclui como causas de óbitos: I. Doenças Infecciosas e Parasitárias: doenças infecciosas intestinais; tuberculose; outras doenças bacterianas; doenças venéreas; outras doenças infecciosas e parasitárias e efeitos tardios de doenças infecciosas e parasitárias. II. Neoplasias: neoplasias malignas, neoplasias benignas, carcinoma in situ, outras neoplasias. III. Doenças do Sangue e dos Órgãos Hematopoéticos IV. Doenças das Glândulas Endócrinas, da Nutrição e do Metabolismo e Transtornos Imunitários. V. Doenças do Sistema Nervoso e dos Órgãos dos Sentidos VI. Doenças do Aparelho Circulatório: febre reumática e doença reumática do coração, doença hipertensiva, doença isquêmica do coração, doença da circulação pulmonar e outras formas de doença do coração, doença cérebrovascular, outras doenças do aparelho circulatório. VII. Doenças do Aparelho Respiratório: doenças do trato respiratório superior, outras doenças do trato respiratório. VIII. Doenças do Aparelho Geniturinário: doenças do aparelho urinário, doenças do órgão genital masculino, doenças do órgão genital feminino. 166 Rev Paul Pediatria 2005;23(4);1659.

Alexandre Netto et al. IX. Complicações da Gravidez, do Parto e do Puerpério: aborto, causas obstétricas diretas, causas obstétricas indiretas. X. Anomalias Congênitas XI. Sintomas, Sinais e Afecções Mal Definidas XII. Causas Externas: acidentes de trânsito, envenenamento acidental e acidentes provocados em pacientes durante procedimento médico, reações anormais e complicações tardias, exposição a fatores não especificados, afogamentos, suicídios e lesões autoinfligidas, homicídios e lesões provocadas intencionalmente por outras pessoas, outras violências. Para determinar o coeficiente de mortalidade de adolescentes (CMA), utilizouse a seguinte relação (11) : CMA = Nº de óbitos na faixa de 10 a 19 anos x 100.000 habitantes População no respectivo grupo etário Já o coeficiente de mortalidade por causa específica (CMA/ por causa) é a razão entre: CMA por causa = Nº de óbitos pela causa na faixa de 10 a 19 anos x 100.000 habitantes População no respectivo grupo etário Resultados No período de 2000 a 2004, o coeficiente de mortalidade de adolescentes foi de 74,24 por 100.000 habitantes, com taxas de 52,07 e 22,77 óbitos por 100.000 para adolescentes do sexo masculino e feminino, respectivamente. À análise anual, observouse que, em todos os anos, o coeficiente de mortalidade para o sexo masculino foi superior ao do sexo feminino e, de 2000 a 2003, o coeficiente de mortalidade triplicou, havendo, em 2004, uma queda desse coeficiente (Tabela 1). Na tabela 2 está exposto o coeficiente de mortalidade por causas por 100.000 habitantes e o número absoluto de óbitos de adolescentes da cidade de Mogi das Cruzes no período de 2000 a 2004, segundo o sexo. Durante todo o período de estudo, observouse que as principais causas de óbito foram as externas (Tabela 3). Tabela 1 Coeficiente de mortalidade por 100.000 habitantes em adolescentes de 10 a 19 anos na cidade de Mogi das Cruzes, por ano 2000 2001 2002 2003 2004 Geral 33,67 73,65 90,78 95,69 77,42 Masculino 21,42 41,42 64,62 70,99 61,94 Feminino 12,24 32,22 26,15 24,69 18,58 Tabela 2. Coeficiente de mortalidade por causas por 100.000 habitantes e número absoluto de óbitos de adolescentes da cidade de Mogi das Cruzes no período de 2000 a 2004, segundo o sexo Causas Masculino Feminino Total n Coef. n Coef. n Coef. Causas Externas 139 42,84 42 12,90 181 27,87 Aparelho Circulatório 8 2,46 7 2,15 15 2,31 Sistema Nervoso 3 0,92 6 1,85 9 1,38 Aparelho Respiratório 3 0,93 5 8 2,47 Sangue e Órgãos Hematopoéticos 2 0,61 2 0,61 4 0,61 Doenças Infecciosas 3 0,93 2 0,61 5 0,31 Neoplasias 4 1,23 0 0 4 0,62 Nutrição e Metabolismo 1 0,31 0 0 1 0,16 Anomalias Congênitas 2 0,62 1 0,31 3 0,46 Aparelho Geniturinário 0 0 3 0,92 3 0,46 Complicações da Gravidez 0 0 3 0,92 3 0,92 Osteoarticular 1 0,31 2 0,62 3 0,46 Sintomas, Sinais MalDefinidos 1 0,31 1 0,31 2 0,31 Total 169 52,07 74 22,77 241 74,24 n: número absoluto de óbitos; Coef.: coeficiente de mortalidade Rev Paul Pediatria 2005;23(4);1659. 167

Causas de morte em adolescentes no município de Mogi das Cruzes no período de 2000 a 2004 Tabela 3 Coeficiente de mortalidade por causas por 100.000 habitantes em adolescentes da cidade de Mogi das Cruzes, conforme sexo e ano de ocorrência Causas Causas Externas Suicídio Homicídio Afogamento Acidente de trânsito Outros Dentre elas, as de maior relevância foram os homicídios, principalmente no sexo masculino, que aumentaram de importância no decorrer do período analisado. O coeficiente de mortalidade por causas externas foi maior no subgrupo de adolescentes com 15 a 19 anos, sendo esta alta taxa relacionada aos homicídios no sexo masculino (Tabela 4). Discussão Este é o primeiro trabalho investigativo sobre mortalidade em adolescentes na população de Mogi das Cruzes, que aumentou ano a ano durante o período de estudo. Em 2003, a taxa de mortalidade foi três vezes a observada em 2000 (Tabela 1), ano em que os valores situavamse próximos aos observados por Barata et al (15) na cidade de São Paulo, nos anos 90. Os resultados obtidos neste estudo foram semelhantes aos relatados na literatura (1,4,6,12), que também apontam elevadas taxas de mortalidade por causas externas na população do sexo masculino de 15 a 19 anos. Conforme dados do DataSUS (MS, Tabela 4 Coeficiente de mortalidade por causas externas por 100.000 habitantes entre adolescentes da cidade de Mogi das Cruzes, segundo faixa etária e sexo, no período de 2000 a 2004. Causas Suicídio Homicídio Afogamento Acidente de trânsito Outros 1014 1519 M F M F 0 0,63 2,42 0,60 3,79 5,71 3,14 2,53 2000 2001 2002 2003 2004 M F M F M F M F M F 13,70 4,59 36,83 16,88 52,29 13,83 60,19 16,98 51,00 12,36 0,63 1,87 4,38 2,50 33,92 12,69 7,86 12,70 6,05 0,60 4,23 4,23 Total 12,52 10,03 69,68 16,33 M: masculino; F: feminino; Outros: exposição a fatores não especificados, envenenamento acidental, choque elétrico ou qualquer morte violenta não enquadrada nos critérios acima. 4,59 1,52 6,12 16,86 1,53 7,66 7,66 M: masculino; F: feminino; Outros: exposição a fatores não especificados, envenenamento acidental, choque elétrico ou qualquer morte violenta não enquadrada nos critérios acima 21,52 9,22 10,77 10,77 3,14 1,53 1,53 4,60 33,93 15,42 6,16 7,70 4,62 3,08 6,71 3,08 30,92 2,64 13,91 2001) (14), o mesmo padrão pode ser observado no país como um todo, com 13.740 casos de mortes por causas externas em adolescentes de 10 a 19 anos em 2000, dos quais apenas 2.767 eram mulheres. Observouse ainda que, entre 2000 e 2003 (Tabela 1), houve um aumento no coeficiente de mortalidade, mas chama atenção o fato de, no ano de 2004, ter havido um decréscimo do mesmo, o que pode estar relacionado às políticas de combate à violência e/ou a acidentes de um modo geral. É possível que a redução na mortalidade possa ter ocorrido devido à maior atuação do governo, em suas diversas esferas, em relação à prevenção da violência e acidentes. Outra hipótese possível para explicar a redução da mortalidade no Município seria a instalação de radares eletrônicos para controle de velocidade dos veículos automotores. Entretanto, há necessidade de novos estudos para determinar a causa real de tal redução. No período de 2000 a 2004, as causas externas revelaramse como o motivo principal do óbito de adolescentes em Mogi das Cruzes, com coeficiente de mortalidade de 27,87 por 100.000 habitantes. Observouse também que tais causas aumentaram ou tenderam a se elevar a cada ano (Tabela 3). Para o sexo masculino, os índices foram mais elevados (42,84/100.000), se comparados ao sexo feminino (12,9/100.000). De forma similar, Barros et al, em 2001 (7), ao estudarem a mesma faixa etária de adolescentes no Recife, concluíram que o aumento da mortalidade por causas externas ocorreu devido à urbanização do país, à velocidade e à magnitude desse processo, permeado pela presença de desigualdades acentuadas entre grupos populacionais urbanos. O elevado ritmo de migração interna, sobretudo de jovens, sem a correspondente colocação no mercado de trabalho, aumentou a população marginalizada na periferia das grandes cidades. Tal fato resultou em amplificação da violência estrutural, elevando o número de jovens que se envolvem com drogas, crimes e violência. 4,64 3,08 4,64 168 Rev Paul Pediatria 2005;23(4);1659.

Alexandre Netto et al. No Rio de Janeiro, segundo Szwarcwald e Castilho, em 1998 (5), e Ruzany e Szwarcwald, em 1999 (12), e em São Paulo, de acordo com Barata et al, em 1999 (15), as principais causas de óbitos em adolescentes também foram as externas. Tal fato pode estar relacionado ao alto índice de violência nas grandes cidades, assim como nas cidades interioranas, como mostra Lyra et al, em 1996 (1). Outra explicação para esta distribuição de causas de mortes em adolescentes poderia residir no espírito de conquistas, de desbravamento, de atitudes contraditórias e, principalmente, na falta de limites, presente em alguns indivíduos desta faixa etária. Na Tabela 3, observase que as causas externas se constituíram em causas fundamentais de óbito na adolescência, sugerindo que tal quadro possa ser revertido com medidas adequadas de política pública. O poder público pode ser pressionado diretamente pela sociedade civil organizada e pela articulação desta com instituições como os Conselhos Tutelares e o Ministério Público a fim de desenvolver iniciativas de promoção de saúde, desenvolvimento local e melhoria das condições de vida da população. Conforme mostram as Tabelas 3 e 4, os homicídios foram mais freqüentes na faixa etária de 15 a 19 anos e no sexo masculino. Tal observação já havia sido constatada em países desenvolvidos como os EUA, em 1979 e 1989, nos quais as taxas de mortalidade cresceram 37% na população desse grupo etário (16). Sabese que grande parte dos homicídios envolve armas de fogo e que a disponibilidade de armas nos domicílios está associada às taxas elevadas de homicídios em vários países. Em uma pesquisa envolvendo 14 países na década de 90, observouse alta correlação (r=0,75) entre porte de armas e homicídios cometidos com armas de fogo (17). Szwarcwald e Castilho, em 1998 (4), também relataram aumento da mortalidade por armas de fogo em adolescentes de 15 a 19 anos. No presente estudo, confirmando os dados da literatura, o número de mortes foi maior na faixa etária de 15 a 19 anos, principalmente no sexo masculino, sugerindo também que os adolescentes desta faixa etária apresentam atitudes que os expõem ao risco de morte, incluindo os acidentes de trânsito, já que nesta idade já se pode estar habilitado a dirigir (5,6,11). Assim, o presente estudo permitiu concluir que a mortalidade em adolescentes no Município de Mogi das Cruzes foi mais elevada no sexo masculino e na faixa etária de 15 a 19 anos devido às causas externas. Os acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e outros tipos de acidentes foram as principais causas externas de óbitos em todos os anos do período estudado. Ao comparar as causas externas com todas as outras causas de mortalidade, percebeuse que aquelas foram responsáveis por mais de 75% das mortes nessa faixa etária. Excluindo o ano de 2004, o total de mortes de adolescentes cresceu anualmente, em termos absolutos, de 2000 a 2003, indicando o aumento da violência urbana, principalmente entre os jovens (6). Para planejar programas para prevenir a morte de adolescentes são necessários novos estudos para investigar as características próprias dos adolescentes, assim como conhecer as causas externas que possam interferir na mortalidade entre adolescentes. Referências bibliográficas 1. Lyra SM, Goldberg T, Iyda M. Mortalidade de adolescentes em área urbana da região Sudeste do Brasil, 19841993. Rev Saúde Pública 1996;30:58791. 2. World Health Organization study group on young people and health for all by the year, 2000. Geneva 1984. Report. Geneva, 1986. (WHOTechn. Rep. Ser. 731). 3. Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (CBIA). Estatuto da criança e do adolescente: Lei n8069, 13 de julho de 1990; artigo 2. Brasília, Ministério de Ação Social, 1990. 4. Moreira MR, Cruz ON, Sucena LFM. Um olhar sobre condições de vida: mortalidade de crianças e adolescentes residentes em Manguinhos, Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública 2003;19:16173. 5. Szwarcwald CL, Castilho EA. Mortalidade por armas de fogo no estado do Rio de Janeiro, Brasil: uma análise espacial. Rev Panam Salud Publica 1998;4:16170. 6. de Souza E, Assis SG, da Silva CM. Violência no município do Rio de Janeiro: áreas de risco e tendências da mortalidade entre adolescentes de 10 a 19 anos. Rev Panam Salud Publica 1997;1:38998. 7. Barros MD, Ximenes R, Lima ML. Mortalidade por causas externas em crianças e adolescentes: tendências de 1979 a 1995. Rev Saúde Pública 2001;35:1429. 8. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados [publicação on line] [citado 2005 mar]. Disponível em: URL: http// www.seade.gov.br 9. IBGE. Censo Demográfico 2000. 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