ATIVIDADE EXPLORATÓRIA COM GÊNEROS TEXTUAIS NA PERSPECTIVA DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL.

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Transcrição:

ATIVIDADE EXPLORATÓRIA COM GÊNEROS TEXTUAIS NA PERSPECTIVA DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL. Angela Machado de Paula. Fernando Ringel. UNIUBE/Uberaba. PPGE/UNIUBE. ampaula1@gmail.com. fernando.ringel@gmail.com.br. Eixo Temático: Leitura e Escrita. Resumo: Este trabalho apresenta parte de uma pesquisa de Mestrado intitulada "Constituição da autoria: a escrita de contos por alunos do 4º ano do Ensino Fundamental," desenvolvida em uma escola pública de Frutal, Minas Gerais, no ano de 2013. A investigação partiu de observações por meio das quais foram analisadas as atividades desenvolvidas pela professora em sala de aula. A seguir foi realizada uma atividade exploratória com a finalidade de identificar alguns gêneros textuais e verificar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto. No segundo momento, foi desenvolvido o experimento pedagógico, por meio de sete sequências didáticas planejadas, tendo como corpus contos maravilhosos latino-americanos. Quanto ao aporte teórico-metodológico, subsidiaram a pesquisa, principalmente, autores como Vigotski, Luria, Leontiev, Bakhtin, Schneuwly e Dolz. Após termos observado as atividades com a produção de textos em sala de aula, desenvolvemos uma atividade exploratória com o objetivo de mostrar para os alunos que a língua materna é um sistema que se estrutura em seus usos e para seus usos sociais, como primeira atividade do experimento didático-pedagógico. A realização desta atividade possibilitou que os alunos identificassem os três gêneros textuais para que, partindo da compreensão de que existem múltiplos gêneros textuais, realizássemos o experimento pedagógico. Na organização da atividade exploratória, tomamos como categoria de análise a mediação pedagógica do professor. Palavras-chave: Constituição autora do aluno. Gêneros textuais. Processos de Ensino e Aprendizagem. 1. Introdução A vida social se organiza em torno da escrita, ou seja, no cotidiano as práticas de escrita estão presentes em todos os lugares, cumprindo diferentes funções. Por isso, entendemos que trabalhar conhecimentos e atitudes envolvidos na compreensão dos usos e funções sociais da escrita implica trazer para a sala de aula diversos textos, pertencentes a 1

diferentes gêneros e suportes, trazendo os modos de produção e de circulação da escrita na sociedade. Segundo Vigotski (2010), o papel do educador é organizar o ensino de maneira consciente e intencional, propiciando condições para que o aluno crie a necessidade de apropriação do saber científico sobre a escrita. Nessa perspectiva, é por meio da atividade pedagógica que se materializa a necessidade de a criança apropriar-se dos bens culturais. A criança apreende o conhecimento a partir de suas relações com os objetos e o outro social, por isso, a atividade pedagógica organizada e executada conscientemente com o objetivo de promover a humanização dos sujeitos precisa ser planejada para esse fim. Tomando como categoria de análise a mediação, analisamos seu papel na organização da atividade exploratória. O ensino, quando planejado intencionalmente para promover o desenvolvimento integral na infância, exerce uma enorme influência no desenvolvimento das funções psíquicas superiores. Sendo assim, o papel da educação é garantir o conjunto dessas qualidades humanas que estão postas nos objetos, mas não estão dadas. Nesse sentido, entendemos a experiência social como a fonte do desenvolvimento psíquico da criança que, por meio da mediação do professor, se apropria do mundo da cultura e constrói as qualidades psíquicas e as singularidades de sua personalidade. Para Vigotski (2010), cabe ao educador mediar os processos de ensino e aprendizagem, criando a necessidade e os motivos para se aprender a linguagem escrita em sua complexidade. 2. A interação verbal e os gêneros textuais na atividade pedagógica Segundo Bakhtin, a linguagem é interação social, isto é, comunicação entre falante e ouvinte. O autor afirma que: [...] os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada; eles penetram na corrente da comunicação verbal; ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua consciência desperta e começa a operar. [...] não adquirem sua língua materna: é nela e por meio dela que ocorre o primeiro despertar da consciência. (2006, p. 109). A linguagem pode ser vista como uma forma de relação entre as pessoas. Nesse sentido, o papel mediador da pesquisadora se iniciou com o cuidado de organizar o tempo e o 2

espaço da sala de aula, selecionar os conteúdos científicos sobre os gêneros textuais necessários à realização da atividade. O planejamento da atividade levou em conta a criação da necessidade, fazendo com os alunos assumissem atitudes de conhecer e aprender diferentes textos. Para realizar a atividade, compreendida na concepção de Leontiev (1983), a pesquisadora levou para a sala de aula três gêneros textuais diferentes: biografia, notícia e piada. Esse contato com diferentes gêneros que circulam na sociedade possibilitou que os alunos compreendessem diferentes usos sociais da escrita, ou seja, a função do texto biográfico, da notícia e da piada. Partimos da proposta de agrupamento de gêneros elaborada por Schneuwly e Dolz (2011, p. 102). Dentro do agrupamento narrar, apresentamos a piada, e no agrupamento relatar, apresentamos a biografia e a notícia, como podemos verificar no quadro abaixo. Domínios sociais de comunicação Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gêneros orais e escritos Cultura literária ficcional NARRAR Mimeses da ação através da criação de intriga Conto maravilhoso Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado Documentação e memorização de ações humanas RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico Discussão de problemas sociais controversos ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação informal Debate regrado Discurso de defesa (adv.) 3

Discurso de acusação (adv.) Transmissão e construção de saberes EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes Seminário Conferência Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos expositivos ou explicativos Relatório científico Relato de experiência científica Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos Instruções de montagem Receita Regulamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções Quadro 1: Aspectos tipológicos. Fonte: Dolz e Schneuwly, 2011. Na atividade exploratória, a pesquisadora procurou orientar e explorar esses gêneros textuais a partir dos conhecimentos prévios dos alunos, oportunizando inferências e descobertas das características que marcam cada gênero textual. Durante uma conversa inicial com as crianças, a pesquisadora indagou se elas conheciam aqueles gêneros textuais, se sabiam para que serviam e onde poderiam ser encontrados. Para realizar a atividade foram estabelecidos previamente os objetivos, e planejadas as ações que a comporiam. Os objetivos de ensino definidos para a atividade foram: reconhecer os usos e funções sociais da escrita; compreender o uso da escrita em diferentes gêneros textuais; identificar e caracterizar os diferentes gêneros textuais: biografia, notícia e piada. Após a leitura de cada texto, a pesquisadora fez os seguintes questionamentos: Que tipo de texto é esse? É um texto para buscar informação? É um texto que busca conhecer alguém? É um texto engraçado? Onde encontramos esse tipo de texto?. Os alunos identificavam o gênero de cada texto a partir das perguntas feitas e dos conhecimentos prévios que tinham sobre o assunto. A pesquisadora buscou contextualizar os textos com o objetivo de os alunos significarem a atividade com os três gêneros textuais. A biografia escolhida para trabalhar com os alunos foi a da escritora Maria José Dupré, porque eles estavam lendo um de seus livros e, por esse motivo, demonstraram interesse em saber mais sobre sua vida. 4

Para analisar os dados, recortamos episódios da sequência didática que revelam como, no processo, os alunos foram se apropriando das categorias que estruturam um conto maravilhoso. Entendemos, como Moura, que: Os episódios poderão ser frases escritas ou faladas, gestos e ações que constituem cenas que podem revelar uma interdependência entre elementos de uma ação formadora. Assim, os episódios não são definidos a partir de um conjunto de ações lineares. Pode ser que uma afirmação de um participante de uma atividade não tenha um impacto imediato sobre os outros sujeitos da coletividade. Esse impacto poderá estar revelado em um outro momento em que o sujeito foi solicitado a utilizar-se de algum conhecimento para participar de uma ação no coletivo. O pesquisador, tal como um produtor de cinema, é que faz a leitura dessas várias ações que parecem isoladas, à procura das interdependências reveladoras do modo de formar-se. (MOURA, 2004, p.276) (Grifos do autor). Episódio 1 Tema: Identificação do gênero biografia PESQUISADORA: Hoje eu trouxe um texto que busca conhecer mais sobre a Maria José Dupré. Quem sabe quem é ela e gostaria de falar? ANA CÁSSIA: É uma escritora de livros. PESQUISADORA: Escritora de livros, isso mesmo. RENATA: Ela já escreveu O cachorrinho Samba. PESQUISADORA: Ela já escreveu O cachorrinho Samba. Muito bem. [...] PESQUISADORA: Isto é uma biografia. E onde podemos encontrar biografias? Vocês sabem? RAQUEL: Na internet e nos livros. PESQUISADORA: Na internet, nos livros. LAURA: Nos jornais. RAQUEL: Nas revistas. (03/09/2013) A pesquisadora medeia o conhecimento sobre o gênero textual biografia, instigando os alunos a buscarem seus conhecimentos prévios em relação à vida da escritora, ou seja, a pesquisadora aponta a biografia como um gênero textual a partir da pergunta sobre quem é a escritora Maria José Dupré. Episódio 2 Tema: Caracterização do gênero biografia PESQUISADORA: Bom, e que tipo de texto é esse? QUASE TODOS: Informativo. 5

PESQUISADORA: Um texto que busca conhecer sobre uma pessoa? QUASE TODOS: Biografia. PESQUISADORA: Ah, ele traz informações sobre uma pessoa, então quando é específico a uma pessoa é chamado de... QUASE TODOS: Biografia. PESQUISADORA: Isto é uma biografia. (03/09/2013) Neste episódio, analisamos o conceito de biografia, apresentando-o como um texto informativo que trata sobre a vida de uma pessoa, embora não tenhamos caracterizado esse gênero de forma a trabalhar as características, pois nosso objetivo era apenas que os alunos identificassem diferentes gêneros. No episódio 3, referente ao gênero notícia e tendo como suporte o jornal impresso, prevendo que a maioria dos alunos não tem contato com este tipo de suporte, perguntamos às crianças sobre outros suportes de notícias, como o jornal televisivo. O jornal impresso de onde retiramos a notícia é o Revelação, um jornal- laboratório do curso de Comunicação Social da UNIUBE (Universidade de Uberaba). Atualmente o jornal tem periodicidade mensal e retiramos a notícia do Caderno Especial, na página 7, intitulada A invasão do açaí, texto escrito por Marília Mayer e Tatiana Melo. Episódio 3 Tema: Identificação do gênero notícia PESQUISADORA: Vocês têm costume em casa, o papai, a mamãe e vocês, de ler as notícias nos jornais? QUASE TODOS: Não. PESQUISADORA: No jornal assim impresso, não? QUASE TODOS: Não. PESQUISADORA: E qual outra forma? Existem outras formas de ter informações? TODOS: Sim. PESQUISADORA: De ter notícias, como? QUASE TODOS: Na internet, na televisão, em revistas, em jornais. (03/09/2013) Ao analisar a apresentação do gênero notícia, constatamos que na apresentação desse gênero textual não exploramos o conceito de notícia, nos detendo na explicação sobre a fruta açaí, de forma a não apresentar as características desse gênero. 6

Episódio 4 - Tema: Identificação da piada PESQUISADORA: Alguém sabe contar uma piada? Quem quer contar? O Augusto quer contar? Então, conta. AUGUSTO: É uma professora falou para o Joãozinho: Feche a janela, Joãozinho, porque lá de fora está frio. O aluno respondeu: Mas, se eu fechar a janela, do mesmo jeito vai continuar frio lá de fora. TODOS: Risadas. PESQUISADORA: Muito bem, Augusto. (03/09/2013) Para apresentar o gênero textual piada, a pesquisadora indagou quem conhecia uma piada para contar. O aluno Augusto revelou interesse em contar uma piada que conhecia, embora ainda não tenha uma reflexão sobre como o texto piada se constitui. Além do Augusto, outras cinco crianças contaram uma piada. Percebemos que os alunos conheciam piadas, talvez pelo seu aspecto lúdico, engraçado, imprevisível e pelo fato de que piadas são contadas desde muito cedo às crianças fora da escola. Também nessa atividade, não tivemos a preocupação de caracterizar o gênero piada, apontado para uma conceituação desse gênero. A apresentação de uma notícia, uma biografia e uma piada com a finalidade de mostrar que nos comunicamos por meio de diferentes textos atingiu nosso objetivo, os alunos diferenciaram os três textos apresentados na atividade exploratória. Nessa perspectiva, o papel mediador a que nos propusemos atingiu seu objetivo no sentido de mostrarmos como podemos conhecer a vida de uma pessoa, uma notícia e uma piada por meio de textos escritos, embora em nossa mediação tenhamos deixado de trabalhar com os alunos o conceito desses gêneros textuais, ficando apenas na identificação de cada um deles. 3. Considerações finais A partir da análise das observações, concluímos que os resultados mostraram claramente que as tarefas dadas aos alunos não se constituíam como atividades significativas, eram simplesmente ações com foco no código alfabético, na gramática normativa, que os alunos internalizaram como simples técnica de cópia e memorização, mecanicamente, sem assumir o papel de sujeitos em atos de leitura e de escrita. A atividade exploratória revelou como as crianças reconhecem os diferentes gêneros e seus usos sociais. Por isso, o professor 7

precisa repensar como a escrita vem sendo escolarizada, perdendo sua essência como objeto cultural, que possui funções sociais e não existe fora da atividade humana. Para nos comunicar, recorremos aos gêneros textuais, de acordo com o contexto das relações sociais no qual estamos inseridos. Em cada esfera comunicativa existe uma variedade de gêneros textuais e, por fazer parte de nossas práticas sociais, a escola precisa trazê-los para suas atividades pedagógicas. Nesse sentido, a atividade exploratória realizada possibilitou que os alunos identificassem os três gêneros textuais para que, partindo da compreensão de que existem múltiplos gêneros textuais, pudéssemos realizar o experimento pedagógico propriamente dito. Referências BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.. Marxismo e filosofia da linguagem. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Língua portuguesa. Brasília: MEC/SEE, 1997. SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. 3 ed. Campinas: Mercado de Letras. 2011. VYGOTSKY, L. S. Obras Escogidas III. Madrid: Visor Distribuiciones, S.A. 1996.. A Formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.. Imaginação e criação na infância. São Paulo: Editora Ática, 2009.. A Construção do pensamento e da linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 8