6. Moeda, reços e Taxa de Câmbio no Longo razo 6. Moeda, reços e Taxa de Câmbio no Longo razo 6.1. Introdução 6.2. O rincípio da Neutralidade da Moeda 6.4. O rincípio da aridade dos oderes de Compra Burda & Wyplosz, 5ª Edição, Capítulo 6 1
Taxas de câmbio nominais O estabelecimento de relações económicas entre países requer a conversão de valores económicos entre diferentes moedas nacionais. A conversão ocorre a uma taxa de câmbio nominal, em mercados especializados; mercados cambiais: mercados financeiros internacionais nos quais empresas financeiras tipicamente bancos transaccionam entre si diferentes moedas. Taxa de câmbio nominal: numero de unidades duma moeda que é trocado por uma unidade de outra moeda, i.e. o preço duma moeda em termos de outra. No nosso caso, as taxas de câmbio nominais (S) são expressas em unidades de moeda estrangeira por unidade de moeda nacional. Nessa definição, um aumento (diminuição) de S corresponde a uma apreciação (depreciação) da moeda nacional. Numero de unidades de moeda estrangeira S 1 unidade de moeda nacional 2
Taxas de câmbio reais ara a análise económica é particularmente relevante (para além do preço relativo das moedas nacionais) o preço relativo dos produtos nacionais; este é um indicador do poder de compra internacional da produção nacional ou da competitividade-preço da economia nacional. Taxa de câmbio real: preço relativo dum cabaz de produtos nacionais em termos dum cabaz de produtos externos. Dado que os preços dos produtos de diferentes países estão expressos em moedas diferentes, a sua comparação requer a respectiva conversão numa unidade monetária comum, por recurso a uma taxa de câmbio nominal. Taxa de câmbio real com preços expressos em moeda estrangeira: Taxa de câmbio real com preços expressos em moeda nacional: S /S 3
Taxas de câmbio reais Adiante ver-se-á de forma mais sistemática os problemas de cálculo de taxas de câmbio reais, incluindo a questão de qual o cabaz de produtos a considerar. Essa escolha tem, contudo, fundamentos e implicações teóricas, interessando distinguir duas abordagens entre as várias alternativas disponíveis: Termos de troca externos: Termos de troca internos: exportações importações bens não transaccionáveis bens transaccionáveis TT externos: analisa os preços relativos dos bens que são de facto transaccionados. TT internos: analisa os incentivos e a capacidade da economia para afectar recursos à produção de bens transaccionáveis (e garantir o equilíbrio externo). 4
Taxas de câmbio reais: níveis vs. variações Em termos agregados (macroeconómicos) compara-se os preços dum cabaz representativo da produção, consumo ou comércio externo de cada país. Os deflatores e os índices de preços são números índices. Então, as taxas de câmbio reais são igualmente números índices e, portanto, o seu valor não tem uma leitura directa em níveis, mas sim em variações. S ln ln S ln ln d d ln ln S ln ln dt dt d ds d d S d ds S 5
Taxas de câmbio reais: determinantes No decurso de um dado período de tempo, podem variar em resultado de dois factores: 1. Alterações na taxa de câmbio nominal; 2. Diferenciais de inflação entre a economia nacional e a externa. d ds S Exemplo: uma apreciação real (aumento do preço relativo dos produtos nacionais em termos dos produtos estrangeiros) pode decorrer de i. Apreciação (nominal) da moeda nacional (aumento de S); ii. Diferencial de inflação nacional relativamente à inflação externa; Uma apreciação real corresponde a uma perda de competitividade-preço da economia nacional porque os preços relativos dos produtos nacionais aumentaram e/ou esses preços ficam mais elevados quando expressos em moeda estrangeira. 6
Taxas de câmbio reais: medição A medição de taxas de câmbio levanta dois problemas práticos: 1. Definição de exterior ; 2. Definição de preços dos produtos. d ds S 1. Taxa de câmbio efectiva vs. bilateral Na realidade o país não se relaciona apenas com um outro, pelo que são relevantes no seu relacionamento económico externo n taxas bilaterais; Taxa de câmbio efectiva: média das taxas de câmbio e dos índices de preços dos países com os quais o nosso país tem relações económicas, ponderada pelo respectivo peso nas relações externas nacionais; ara efeitos de modelização e análise económica, é interessante calcular-se um índice de taxa de câmbio efectiva (indicador sintético). 7
Taxas de câmbio reais: medição 1. Taxa de câmbio real efectiva: Requer o cálculo de (i) taxa de câmbio nominal efectiva e (ii) índice médio de preços dos produtos do exterior; i. Taxa de câmbio nominal efectiva: média ponderada das taxas de câmbio bilaterais, em que os pesos w são a importância relativa no comércio externo: ii. 1 2 3 4 w w w w w n n S S S S S... S, em que w 1 1 2 3 4 n i 1 Índice de preços no exterior efectivo: média dos índices de preços dos países considerados em S, ponderados igualmente com os pesos w: 1 2 3 4..., em que w 1 Então, a taxa de câmbio real efectiva é: w w w w w n n 1 2 3 4 n i 1 d ds S w1 w2 w3 w n S1 S2 S3... Sn S 1 2 3 n i i 8
Taxas de câmbio reais: medição 2. reços dos produtos: Há uma variedade de preços considerados em análises aplicadas. Dificuldade: não é possível utilizar-se cabazes de produtos estritamente comparáveis. Alternativas usuais: i. Deflator do IB (problema: composição diferente e variável no tempo) ii. iii. Índices de preços no consumidor (problema: padrões de consumo diferentes) Custos unitários em trabalho (interessante, no sentido em que o factor trabalho está presente na produção de todos os bens e serviços) iv. Termos de troca: deflator das exportações dividido pelo deflator das importações (problema: comércio externo é apenas uma pequena parte da produção) v. Termos de troca internos: índice de preços dos produtos domésticos não transaccionáveis dividido por um índice de preços dos produtos transaccionáveis. do d ds S Nota: A escolha da medida dos preços depende das características país e dos objectivos da análise. 9
Exemplo: Taxa de câmbio real dum conjunto de países da Área do Euro medida pelos custos unitários em trabalho na indústria transformadora relativamente aos da Alemanha (Relatório da OCDE de Outubro 2010). 10
Exemplo [Burda & Wyplosz]: Dutch Guilder's nominal and real exchange rate (1970-2007) 150 125 100 75 50 Nominal Real Bilateral ($/DGL) 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O rincípio da aridade dos oderes de Compra Hipótese teórica sobre a taxa de câmbio de equilíbrio no longo prazo. o ara que se garanta o equilíbrio externo da economia, numa perspectiva de longo prazo, a taxa de câmbio real deve estar estável ao longo do tempo. o Ou seja, para a nação cumprir a sua restrição inter-temporal, a taxa de câmbio real deve manter-se estável ao longo do tempo. o O valor da taxa de câmbio real de equilíbrio depende de um conjunto de variáveis fundamentais reais tais como: dotação de recursos produtivos, produtividade dos factores produtivos (tecnologia, ), preferências (privadas, públicas), 12
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O rincípio da aridade dos oderes de Compra Uma implicação da o o Dicotomia clássica (o equilíbrio de longo prazo das variáveis reais e nominais é determinado independentemente) e do rincípio da Neutralidade da Moeda (no longo prazo, alterações na quantidade de Moeda apenas causam alterações da inflação e das variáveis nominais) Relativamente à taxa de câmbio: No longo prazo, a quantidade de Moeda de cada país afecta a taxa de inflação respectiva (TQM); No longo prazo, a diferença entre as taxas de inflação nacionais reflecte-se apenas em alterações na taxa de câmbio nominal (S) e não na taxa de câmbio real ( ). 13
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O rincípio da aridade dos oderes de Compra Absoluta C aplicado ao nível, valor absoluto, da taxa de câmbio. No limite, se o mercado de bens e serviços global fosse perfeitamente concorrencial e os custos de transporte irrelevantes, um cabaz de produtos deveria ter o mesmo preço em todos os países, quando expresso numa mesma unidade monetária. Eventuais diferenças de preço seriam anuladas por arbitragem aumento da quantidade procurada nos mercados em que os preços estivessem mais baixos e redução da quantidade procurada naqueles em que estivessem mais altos até que as oportunidades de lucros de arbitragem desaparecessem. Lei do reço Único (rincípio da aridade dos oderes de Compra absoluta): S 1 14
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O rincípio da aridade dos oderes de Compra Absoluta A taxa de câmbio real seria não apenas estável mas igual a 1. S 1 Contudo, relativamente à taxa de câmbio real (valor absoluto) de uma dada economia, observa-se, empiricamente, que não existe uma tendência para a convergência dessa taxa para a unidade. Ou seja, se por exemplo temos um país em que um cabaz de bens desse país adquire dois cabazes de bens de um outro país, a taxa de câmbio real desse país tende a permanecer ao longo do tempo num valor elevado. Empiricamente, não se observa a paridade dos poderes de compra em termos absolutos. Nota: entre as razões para que tal aconteça, inclui-se o facto dos mercados serem localmente e não globalmente concorrenciais e o facto duma parte dos bens e serviços não serem transaccionáveis. 15
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O rincípio da aridade dos oderes de Compra Relativa C aplicado à variação ao longo do tempo da taxa de câmbio real. ara que exista equilíbrio externo no longo prazo, a taxa de câmbio real deve ser constante ao longo do tempo: d 0 d ds Dado que Esta condição de equilíbrio externo de longo prazo tem uma consequência numa economia com perfeita mobilidade de capitais : ds S S 16
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O rincípio da aridade dos oderes de Compra Relativa d 0 ds S Se numa dada economia o stock de moeda acelerar, então, pela TQM, no longo prazo a inflação virá a aumentar; Se a taxa de câmbio nominal se mantivesse estável, tudo o resto constante, a taxa de câmbio real apreciar-se-ia em resultado do diferencial de inflação; A economia perderia gradualmente competitividade-preço, o que geraria um défice externo que se tornaria insustentável; A taxa de câmbio nominal teria de depreciar, sob pena do país não cumprir a sua restrição orçamental inter-temporal, seja politicamente (se regime de câmbios fixos) seja pelas forças do mercado cambial (se regime de câmbios flexíveis). 17
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra O C Relativa e a Teoria Quantitativa da Moeda De acordo com a TQM, no longo prazo a inflação é dada por m De acordo com o rincípio da aridade dos oderes de Compra Relativa: ds S N N m y m y y N Assumindo, por simplificação, que as taxas de crescimento do produto natural são idênticas na nação e no exterior, obtém-se o seguinte resultado: ds m S m ode prever-se que, no longo prazo, os movimentos da taxa de câmbio nominal são explicados pela diferença das taxas de crescimento da oferta nominal de moeda no país, relativamente à oferta nominal de moeda no exterior. 18
6.4. rincípio da aridade dos oderes de Compra Inflation and exchange rate depreciation, 1975-2006 Burda & Wyplosz, fig. 6.01 (b) Diferenciais de taxas de inflação face à dos EUA vs. Taxas de depreciação das moedas nacionais face ao Dólar taxas anuais médias (ao longo de 30 anos) de 155 países. rincípio da aridade dos oderes de Compra relativos é aparente numa média de muitos anos (medida que aproxima o longo prazo).