Sérgio Simka ORTOGRAFIA NÃO É UM BICHO-DE-SETE-CABEÇAS
Introdução
Introdução V Mais do que um livro voltado à gramática da língua portuguesa, este vem com a vontade de tornar o ensino de nosso idioma mais prazeroso, menos maçante, menos cansativo, mais atrativo. Daí a maneira não tradicional, mais despojada, de passar o conteúdo. Trata-se de uma tentativa de alterar o rumo de nosso ensino de língua, a começar por apresentar novas maneiras de ver velhos conteúdos. Este dá continuidade a seus precedentes: Português, Crase e, dentro da coleção Não é um Bicho-de- -sete-cabeças, editada pela Ciência Moderna, a partir de 2008. Todos têm vale a repetição o objetivo de apresentar o universo de nossa língua de modo que as pessoas vejam o idioma com outro olhar, cheio de encantamento, com um brilho de gosto, cancelando suas ideias anteriores, cheias de desgosto. O conteúdo aqui abordado foi testado em oficinas, por isso possui um caráter prático. A preocupação que alicerça a metodologia consiste em que os conteúdos gramaticais devem contribuir para a ascensão linguística da pessoa, ou seja, que esses conteúdos não permaneçam na superficialidade, na teoria, mas sejam usados no dia a dia, tanto na escrita, quanto na fala, proporcionando-lhe, consequentemete, uma mudança em sua convicção de que a língua portuguesa é complicada. Assim, quando a pessoa, por exemplo, pedir, numa situação específica de comunicação (num restaurante), um chope em vez do consagrado um chopps, estará praticando a língua em sua modalidade-padrão, o que não a assustará, porque a maneira de expressar-se faz parte de seu eu linguístico, de sua personalidade de linguagem.
VI Ortografia não é um Bicho-de-sete-cabeças Tal justificativa pode parecer de um simplismo arrasador, convenhamos, mas, pelo menos, estamos enfrentando o monstro do encino de português que tive, concerteza, foi péssimo. Simples assim. Mas, como o leitor vai poder ver, todo o livro traduz-se numa ampla justificativa para o conjunto do uso das palavras. Trata-se, enfim, de uma leitura deste autor com relação ao ensino de ortografia, que submeto ao leitor (e aos colegas professores) com o intuito de promover um ensino de português que desperte no ser humano o seu potencial linguístico, motivando-o a ser bem- -sucedido em sua própria língua. Muita luz! Prof. Sérgio Simka www.sergiosimka.com
Sumário
Sumário IX 1 - Porque a ortografia faz, sim, toda a diferença...1 2 - Ditado ortográfico...5 3 - Dissertação de mestrado... 11 4 - Abaixo-assinado... 17 5 - Texto literário... 25 6 - Notícia... 29 7 - Anúncio publicitário... 33 8 - E-mail... 37 9 - Carta... 41 10 - Fôlder... 49 11 - Diário... 53 12 - Poema... 57 13 - Emprego dos porquês... 61 14 - Exercícios para o lar... 67 15 - Jogo ortográfico... 71
1 Porque a ortografia faz, sim, toda a diferença
Porque a ortografia faz, sim, toda a diferença 3 Muitos poderão dizer que se trata de preciosismo deste autor preocupar-se com a maneira como as palavras são grafadas, quando existem problemas mais graves, como o mau uso do acento grave, que muitos acham que é crase, a exigir dos professores maior atenção. Pode até ser, mas, mesmo quando o professor trabalha o texto em sala de aula, este se inicia pela palavra. Imagine um texto sobre corrupção cujo título seja: Corrupção nascional. Não há erro de digitação: o infeliz candidato a um curso de direito atribuiu à sua redação esse título sobrenatural. Fico imaginando se o indivíduo não costuma grafar piscina deste jeito: picina. Em julho de 2010 ministrei na Casa da Palavra, um espaço cultural da Prefeitura de Santo André-SP, uma oficina de escrita e gramática à qual concorreram umas 70 pessoas interessadas nos segredos de como escrever um bom texto. E, óbvio, comecei o primeiro módulo discutindo as impropriedades que o redator pode cometer caso seu conhecimento gramatical seja tão robusto quanto o seu pagamento no final do mês. No final de duas horas, dentre outras situações de comunicação que me permitiram abordar mais de 80 erros quanto à ortografia, ainda me dei ao luxo de declamar um poema à minha mulher, que participava da oficina: Ó musa, ó pomo do amor, eu cobrir-lhe-ei de diademas e aplicar-lhe-ei um ósculo mádido diante do venusto pélago, caso fores morar comigo em Diadema. Lógico que, por ser a minha mulher, ela não me olhou como se eu tivesse me transformado num E.T. ou numa coisa repugnante, tipo professor de português que perdera completamente a gramática de sua vida.
4 Ortografia não é um Bicho-de-sete-cabeças Traduzindo o poeminha numa linguagem menos alienígena, até que a declaração de amor ficou uma graça. Se o pessoal da oficina se emocionou? Bem, confesso que vi o pessoal indo embora com lágrimas nos olhos. Por que é que está olhando para estas linhas com esses olhos abertos? As próximas páginas vão apresentar, de forma prática, regras importantes para quem precisa empregar competentemente a variedade-padrão da língua portuguesa na produção de textos mais formais (textos escolares, acadêmicos, institucionais), ampliando no leitor sua competência comunicativa. Pois o texto precisamos insistir, qualquer que seja sua modalidade ou gênero, principia pela palavra. E uma palavra escrita errada, ou usada em sentido oposto ao que o redator havia pensado, pode trazer prejuízos incalculáveis à comunicação. Então, não demore um minuto sequer para ficar conhecendo os 80 erros e evitá-los na comunicação. E, também, conhecer a tradução do poeminha romântico.