Mulheres engenheiras: adaptação ao universo masculino

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Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008 Mulheres engenheiras: adaptação ao universo masculino Benedito Guilherme Falcão Farias 1 ; Marília Gomes de Carvalho 2 Palavras-chaves: Mulheres engenheiras; Adaptação e Gênero ST 38 Ciência, tecnologia e poder: conhecimento e práticas de gênero Introdução O que me levou a pesquisar o mercado de trabalho na questão de gênero, quanto às mulheres nas engenharias de produção civil e mecânica, foi da minha formação em ciências humanas nos cursos de: Psicologia e Filosofia, com especialização em Sexualidade Humana e pós-graduação em Teologia. A prática clínica em psicologia e sexualidade humana, durante os últimos 26 anos, além de ministrar aulas e cursos de psicologia e aconselhamento em sexualidade humana, possibilitou um maior envolvimento profissional na compreensão cultural e social. Desse modo, eu percebi várias diferenças de gênero - as questões biológicas, sociais e culturais - interferindo nos relacionamentos, quer pessoais ou profissionais. Além disso, atendi clinicamente engenheiros e engenheiras que apresentavam dificuldades de adaptação ao mercado de trabalho, tais como, não saber se relacionar quanto às funções e papéis no seio das engenharias, de modo especial as engenheiras. As duas experiências foram aumentando meu interesse em pesquisar a razão dessas dificuldades. Com a minha entrada e participação no Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Relações de Gênero e Tecnologia (Getec), no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), agregou e muito o interesse a pesquisar esta área. Na continuidade dos estudos e discussões acerca de gênero, tecnologia e mercado de trabalho, além dos estudos de teses, dissertações e livros sobre estes temas, aumentaram o interesse em fazer esta pesquisa. Daí quando apareceu a oportunidade de pesquisar sobre a mulher engenheira, não só gostei da idéia, como uma chance de realizar este estudo. Um outro olhar quanto ao questionamento pessoal que ampliou a minha motivação em estudar a questão de gênero nas engenharias, foi à percepção, como psicólogo e sexólogo desde 1980, que faço parte de uma minoria de profissionais do sexo masculino, e não sou discriminado pela maioria do sexo feminino. Esse número maior de mulheres na Psicologia pode ser observado no quadro abaixo onde se encontra o resultado da pesquisa realizada pelo Ibope Opinião - pesquisa de opinião pública - OppO39/2004 - Brasil - com uma amostra de dois mil psicólogos (as) que fazem parte do Conselho Federal de Psicologia entre 04/03/2004 a 23/03/2004, para conhecer a

2 porcentagem de psicólogos(as) existentes. É percebível de modo claro uma maioria do sexo feminino e, por conseguinte, uma minoria de homens no universo de profissionais em Psicologia no Brasil. QUADRO 1 - PROFISSIONAIS EM PSICOLOGIA Gênero Total de psicólogos em números Em % Feminino 1816 91 % Masculino 184 9 % FONTE: adaptado do Ibope Opinião - pesquisa de opinião pública - 0pp039/2004 Brasil. Eu percebo como psicólogo que não precisei adaptar-me ao universo predominantemente feminino, isto é, não interferiu em meu modo de ser masculino segundo o que convencionado observado na sociedade brasileira. Ao fazer um mestrado em uma Universidade Tecnológica possibilitou perceber a importância deste estudo bem como, conhecer melhor o meio acadêmico, que ainda tem uma minoria de alunos do sexo feminino. Mas nas engenharias a situação é diferente. A pesquisa é pertinente, e o resultado, certamente dará uma contribuição às próximas gerações de engenheiras, auxiliando e interferindo na academia e no mercado de trabalho, no que diz respeito às relações mais justas e igualitárias nesse meio, diminuindo a possibilidade de discriminação e o preconceito neste universo tecnológico. A pesquisa em estudo é qualitativa/interpretativa, aplicada ao exercício da profissão nas engenharias, de modo especial na Engenharia Industrial Mecânica e na Engenharia de Produção Civil na Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, tendo como foco a presença de mulheres engenheiras, quanto as relações de gênero no mercado de trabalho. Quanto a este tema, os (as) seguintes autores (as) contribuíram com conceitos e informações importantes: Hirata (2003), Cabral (2006), Lombardi (2005), Butlher (2003), Carvalho (2006) Scott (1988), Louro (2003) e Schienbinger (2001), bem como outros (as) que deram um bom embasamento teórico a pesquisa realizada por este autor, por meio dos campos: social, cultural, do trabalho, de gênero e tecnológico. Diante destas considerações este artigo tem como objetivo geral: Compreender a questão de gênero nos cursos e no exercício da profissão em engenharia. Assim como contribuir para uma mudança na academia e no mercado de trabalho.

A Questão de Gênero no Ambiente Acadêmico 3 No que diz respeito à questão de gênero no ambiente acadêmico, percebeu-se a necessidade das mulheres de se adaptarem ao ambiente onde existia uma maioria de alunos do sexo masculino no curso de Engenharia Industrial Mecânica, por conta do número pequeno delas na sala de aula. Isto foi percebido nas entrevistas, entre elas de dois engenheiros logo abaixo: Foi bom (a convivência), independente do sexo. Embora que, como elas convivem mais com homens, vão se adaptando (Pedro, Engenharia Industrial Mecânica). Acontecia as vezes, de um professor falar que só tinha macho na turma; e, tinha uma menina escondida lá (Lucas, Engenharia Industrial Mecânica)....a gente falava que as mulheres eram feias porque faziam engenharia, mas é coisa de piá (Tiago, Engenharia de Produção Civil). Percebe-se com estas respostas um início de discriminação e uma adaptação das alunas em uma sala com predominância masculina. Mas, havia também uma forma de adaptação de algumas alunas por preferir conviver com os alunos, como pode ser observado logo a seguir: Sim, eu tive a chance de perceber isso. Mas eu percebi mais quando eu comecei a estudar na Mecânica. Eu já procurava trabalhar mais com os meninos, porque era diferente. Então a coisa fluía mais, eles escutam mais o que você tem para falar, a sua opinião. Quando há muitas mulheres elas começam a competir (Rebeca, Engenharia Industrial Mecânica). Uma outra entrevistada que teve uma boa convivência acadêmica, teve uma experiência de estágio na Alemanha e lá percebeu que há também um olhar diferente quanto a mulher na Engenharia segundo seu próprio depoimento em seguida: Fiz no final do curso um estágio na Alemanha e lá, embora tivesse mais mulheres, ainda "estranhavam" uma mulher engenheira mecânica...eles falavam: Ah, uma mulher!" Achavam "diferente", "engraçado" (AmSélia, Engenharia Industrial Mecânica). A Relação de Gênero nas Atribuições de Funções Destinadas às Mulheres Engenheiras No exercício das funções como engenheira, várias mulheres nas entrevistas compartilharam a necessidade de aprender a lidar com os homens, peões ou colegas e chefes, nas atividades do cotidiano, como pode ser observado nos relatos abaixo:...então mesmo para lidar com peões, eles são gente boa, mas sempre tem que saber como lidar, como chegar; você não pode dar muita liberdade...(rebeca, Engenharia Industrial Mecânica).

Sobre os colegas de trabalho ela declara: 4...se você tem uma idéia, vai conversando de mansinho, e se eles verem que tá certo, eles vão acatar a sua idéia (Rebeca, Engenharia Industrial Mecânica). E, quanto a chefia, nota-se que dependendo do chefe há uma clara divisão sexual de trabalho, de acordo com a declaração abaixo: Depende muito do chefe, porque, por exemplo, meu antigo chefe, de quando eu era estagiária aqui, dava bastante apoio. E não tinha muito essa divisão de trabalho. [...] Mas, tem alguns que ficam com receio de passar alguma coisa mais pesada, não por preconceito, mas por receio da gente não gostar do trabalho. Mas se a gente falar que pode passar que eu faço, eles passam numa boa (Rebeca, Engenharia Industrial Mecânica). Em alguns casos, mesmo quando a engenheira é filha do dono da empresa, e já tinha trabalhado em diversos setores da mesma em experiências operacionais de produção e administrativas, percebe-se uma desvalorização profissional pelo fato de ser mulher. Conforme relato abaixo: Eu acho que quando um profissional não conhece o teu trabalho, às vezes você chega na obra, primeiro que te confundem com arquiteto, isso é inevitável. Mulher na frente de obras deve ser arquiteta, e não engenheira [...]. Eu estou nessa empresa há 8 anos, tenho assumido cargos de gerência, tenho administrado e gerenciado vários setores da empresa e, mesmo assim, em alguns momentos, algumas pessoas comentam: chama teu pai, ou então, chama o encarregado para falar, que eu acho melhor (Marina, Engenharia de Produção Civil). Ao longo das entrevistas pode-se perceber que havia um clara divisão sexual de trabalho, além de uma adaptação da mulher ao meio deste universo masculino envolto nas engenharias. Hirata (2003), diz: "A complexidade que caracteriza o trabalho hoje está mais dividida e alocada aos homens, em termos de trabalho de equipe. As mulheres estão ainda mais alocadas em linhas de montagem, em trabalho com cadência e repetitivos". Segundo Carvalho (1998), o determinismo biológico procura mostrar que há diferenças entre pessoas e sociedades; deste modo seria "natural" que pessoas sejam de raça superior a outras, incluindo inteligência, e que tenham valores elevados só pela cor da pele e por origem étnica. Ela ainda emite sua opinião acerca deste determinismo biológico quanto à questão de gênero. Desse modo diz: Qualquer determinismo é reducionista e não permite uma visão totalizante da sociedade. É importante considerar a interdependência dos fenômenos culturais, políticos, econômicos, ideológicos, religiosos, educacionais, jurídicos, tecnológicos e históricos, todos interagindo de formas diversas com o meio geográfico e com as características biológicas das pessoas que compõem os grupos sociais, para se ter uma compreensão da sociedade humana (CARVALHO, 1998, P.89).

5 Na verdade este determinismo termina acontecendo na forma como se pode perceber nesta pesquisa citada e neste artigo, na forma como as engenheiras tiveram que se adaptar desde a graduação, até ao mercado de trabalho, para poderem exercer a profissão. Considerações Finais Ao chegar-se ao final deste artigo, pode-se certifica-se que a pesquisa revelou claramente que da graduação, estágio e no mercado de trabalho, as mulheres tiveram que passar por um processo de adaptação ao estereótipo masculino percebido na sociedade. Esta adaptação é prolongada a vida profissional, quanto a questão de gênero, embora que para boa parte delas isto não venha a constituir um problema. Elas declaram gostar de trabalhar nas engenharias quanto a objetividade existente nesse meio. Essas considerações vêm confirmar o embasamento teórico da pesquisa e deste artigo em que os autores apontam para a existência de uma divisão sexual do trabalho no âmbito das engenharias, isto percebe-se pelas entrevistas realizadas com as engenheiras e engenheiros. Uma das sugestões nesta pesquisa é que se faça uma pesquisa na área da psicologia, para investigar o porquê, não houve necessidade de adaptação entre os psicólogos, pelo fato deles serem minoria na profissão. Há muitos avanços nas engenharias quanto a questão de gênero com as engenheiras, mas ainda há muito o que fazer a partir de mudanças no currículo na graduação incluindo a discussão sobre gênero, bem como nas instâncias profissionais das engenharias e nos meios de comunicações. Referência bibliográfica BUTLER, Judith. Problemas de Gênero - Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003. CABRAL, C. Giovana. O conhecimento dialogicamente situado. Florianápolis, 2006. 205 f. Tese de doutorado - UFSC. CARVALHO, M. Gomes de. Tecnologia e trabalho. PPTGTE - UTFPR. Curitiba, p.29. 2004. HIRATA, Helena. Tecnologia, formação profissional e relações de gênero no trabalho. Revista Educação & Tecnologia, Periódico científico dos Programas de Pós-Graduação em Tecnologia dos CEFETs-PR/MG/RJ, p. 144-156, 2003. LOMBARDI, M. R. Perseverança e resistência: A engenharia como profissão feminina. São Paulo, 2005. Tese de doutorado.

LOURO, G. L. Corpo, gênero e sexualidade. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. 6 SCOTT, J. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. São Paulo, v. 15, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995. SCHEINBINGER, L. O feminismo mudou a ciência? Bauru: Editora da Universidade do Sagrado Coração, 2001. 1 Mestre em Tecnologia pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR. Sob orientação da Prof a Dr a. Marília Gomes de Carvalho; Psicólogo; Terapeuta Sexual; Professor da FTBP; Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações de Gênero e Tecnologia GeTec (www.ppgte.cefet.br/genero). 2 Doutora em Antropologia Social, professora do PPGTE/UTFPR, coordenadora e pesquisadora do GeTec da UTFPR, PhD. Em Multiculturalismo pela Compegnie da França. (www.ppgte.cefet.br/genero).