Entrevista Claudia

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Juliana Graça
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1 Entrevista Claudia (Bloco A - Legitimação da entrevista onde se clarificam os objectivos do estudo, se contextualiza a realização do estudo e participação dos sujeitos e se obtém o seu consentimento) I. - Como é que tem sido o seu percurso escolar até aqui? C. - Tem corrido bem. Acabei o 12º com uma boa média. O que eu queria mesmo sempre era medicina. Mas o ano passado não consegui entrar. Nem este ano consegui. I. - Já é o segundo ano que tenta? C. - Medicina é. Mas o ano passado estive em biologia celular noutra faculdade. Mas saí porque de todo não era o curso que eu queria, porque em saídas profissionais não era o que eu queria, era mais laboratórios e assim e o que eu queria não era isso. Era um curso que dava ou para investigação ou para dar aulas, mas eu não queria nenhuma destas, mas o que eu queria era na saúde, e estar em contacto com as pessoas. I. - Factores de sucesso no seu percurso, até aqui? C. - Eu nunca fui de estar sempre enfiada em casa agarrada aos livros. Estudo quando vejo que aquilo está a dar rendimento e depois quando vejo que não está a dar rendimento páro e retomo. E tem funcionado bem. Quando tenho que estudar, estudo e tenho arranjado sempre tempo para me divertir. I. - Sempre quis vir para o ensino superior? C. - Sim, sempre quis porque sempre tive sempre na ideia tirar o curso de medicina agora essa hipótese (hesitação) ainda está de pé, mas tem sido bastante difícil... I. - Esta foi a sua 6ª opção. C. - Foi. Nunca tinha concorrido para enfermagem. O ano passado concorri para medicina, biologia e físico-química... Acho eu. Este ano escolhi Medicina e depois Medicina Dentaria e depois é que foi Enfermagem Este ano é um curso que eu tenho a certeza que vou gostar porque é interessante, tem coisas interessantes e já ouvi falar muito bem, de muitas pessoas aqui desta escola e de outra também. E para além disso tem saídas profissionais que eu acho interessantes.

2 I. - O que a leva a achar que o curso seja interessante? C. - Falei com enfermeiros que falam muito bem do curso, mas em termos de emprego não falam tão bem. É muito à base de trabalhar por turnos e que é muito cansativo e dizem que o curso é muito giro, mas que depois no trabalho não serve de muito, que não tem muito a ver. Quem me falou muito bem do curso são amigas minhas que entraram e me dizem muito bem, que o curso é muito giro, e vejo-as muito entusiasmadas, algumas até queriam também medicina e já desistiram de ideia e revolveram ficar por cá. E ficam Dizem que como não conseguiram entrar lá ficaram mesmo por aqui... Desta escola já ouvi falar muito bem, do ambiente, do espírito e dos professores também. Também me fica mais perto de casa. I. - Como é que a sua família e pessoas significativas que a rodeiam vêem a sua entrada neste curso? C. - É uma coisa que sempre tive total liberdade de escolha. E as decisões que eu tomo. Eu tomo e falo com eles e eles normalmente apoiam-me, e dão-me sempre uma opinião. Acham que eu não devo desistir de medicina porque foi sempre uma coisa que eu sempre quis I. - Porquê a medicina? C. - Porque é um curso que acho que é óptimo e aprende-se muito, e depois as saídas profissionais... eu acho que a especialização... que eu queria era mesmo ser médica, ser pediatra. Gosto de estar em contacto com pessoas. O que me interessa é tratar as pessoas, e o que me interessa são mesmo as coisas relacionadas com o tratamento. I. - Teve na sua experiência pessoal, até hoje alguma experiência relacionadas com este mundo da saúde? C. - Não sei. Acho que não. Por acaso na família nem sequer há médicos. I. - O que acha que de concreto um enfermeiro faz no seu local de trabalho? E em que contextos de trabalho? C. - Hospitais, centros de saúde... no INEM também.. O que fazem... Também depende da área em que estão, se estão num hospital ou num centro de saúde. Se estão, por exemplo, na parte do planeamento familiar estão mais na base do aconselhamento, ou se estão no centro de saúde, estão mais na parte das vacinas estão mais na base de dar as vacinas. No hospital, se estiverem, por exemplo na ala dos recém nascidos estão mais em contacto com os bébés e as mães. No fundo acho

3 que estão mais em contacto com o doente do que o próprio médico, passam mais tempo. Os doentes passam mais tempo com os enfermeiros do que o médico. I. - E do ponto de vista mais técnico, não tão relacional, alguma coisa que distinga o trabalho dos enfermeiros? Algo que eles façam especificamente? C. - Não sei... agora assim.. Não me ocorre nada. I. - Experiências pessoais próximas dos enfermeiros, que tenha tido? Ou da saúde? C. - Este ano, no verão, fiz um curso de TAT (tripulante de ambulância de transporte) nos bombeiros voluntários e alguns turnos no INEM e andei nas ambulâncias. Tive pouca prática porque o curso não incluía prática. Não fiz nada por aí além. Era mais o velhinho que tinha a tensão alta ou baixa, era medir a tensão e depois fazer o teste da glicémia e transportar para o hospital se fosse caso disso. Apanhei também um acidente de viação, mas também não era nada de especial. Não apanhei nada de grave, nenhuma paragem não apanhei ninguém num estado muito mau. Depois já tive uma hospitalização, mas era muito bébé, já tenho ido com familiares mas nunca fui muito ao hospital e uma ou outra vez fui com a minha irmã ou a minha prima. Mas a ideia que tive do que me disseram e do que eu vi... Quando uma delas lá esteve internada três dias, a ideia com que fiquei é que aquilo varia muito. Os critérios variam muito quando mudam de turno de pessoa para pessoa, de enfermeiro para enfermeiro. I. - O que varia? C. - Lembro-me de uma situação que era ao nível do oxigénio, a percentagem era de 89 ou de 90 uma coisa assim: Ah! É normal, é normal!. Mudou de turno: Ah! Não! Isto não pode estar assim! Isto era com os enfermeiros. Diferentes pessoas trabalhavam de forma diferentes, depende muito dos enfermeiros se calhar não devia variar, e ao nível dos médicos julgo que é a mesma coisa. I. - O que acha que diferencia os enfermeiros de outros profissionais na área da saúde? C. - Eu acho que os enfermeiros têm a componente mais do lado humano e das relações, mais desenvolvidos e habituados a lidar do que o médico, até ao nível do curso por causa das cadeiras que há. É mais ao nível da psicologia e há vários estágios ao longo do curso, enquanto que nos médicos é mais só no final do curso. Os primeiros anos são sempre teóricos e, portanto, estão acho que desde mais cedo habituados lidar com os doentes e acho que isso é importante. Saber lidar com as pessoas saber

4 conversar com as pessoas. Saber conversar com o doente e transmitir-lhe as coisas claras. I. - Quais são as suas expectativas sobre o que vai acontecer aqui neste curso? Que experiências? C. - Estágios. O que eu percebi é que há um estágio de comunitária, depois, no Centro de saúde e depois no hospital. Logo aí há um maior contacto com o doente, e com o próprio ambiente, no centro de saúde ou num hospital e isso atrai-me. Aquilo que me disseram é que o no segundo ano é que se aprende mesmo, mais de facto, porque o primeiro ano é muito mais superficial, é só umas noções mais gerais. No segundo os estágios são mais difíceis. I. - O que acha que é a imagem social sobre a enfermagem e os enfermeiros? C. - Quem teve contacto com o hospital ou esteve internado, normalmente fala muito bem dos enfermeiros, fala bem da equipa, e em relação à equipa, dizem que os enfermeiros é que estão lá, ou mesmo em relação aos médicos dizem que os enfermeiros é que estão lá eles dizem que os médicos só vão lá mesmo para ver os relatórios, receitas e os relatórios do enfermeiros. Se calhar quem não conhece tão bem este ambiente... não sei bem acho que, depois diz-se ah! Enfermeiros enfermagem não... quando vim disseram-me também enfermagem? mas tu queres ser mesmo enfermeira? I. - O enfermeiro trabalha com outros profissionais? Com quem trabalha? E que relações tem de equipa com os outros? C. - Lida com os auxiliares e com os médicos, fundamentalmente com outros técnicos de saúde. I. - O que caracteriza essas relações? C. - Não sei... (pausa) para além de ter que transmitir as informações necessárias ao médico... não é? Não sei muito mais para além disso. I. - Porquê a pediatria? Relembre-me. C. - Crianças, gosto muito de estar com crianças apesar de as crianças tem aquela fobia aos médicos... e às batas brancas, mas acho que há maneiras de dar a volta a isso. Pensei também em psicologia, mas em termos de saídas profissionais era difícil. Gosto mesmo é mais da área da saúde. I. - E do ponto de vista da empregabilidade na área da saúde para os enfermeiros? Que ideia é que tem?

5 C. - Acho que agora está um bocado complicado. Pelo menos as pessoas que estão agora a acabar o curso e que eu conheço, dizem bem faltam-me três meses para acabar o curso... e... acho que vou para o desemprego, acho que estão a formar muitos enfermeiros I. - Pensa mudar de curso? Se isso for possível? C. - Sim, penso mudar para medicina. Porque é aquilo que sempre quis.

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