1 CONSULTA Nº 25.711/2013 Assunto: Perícia. Sobre a falta de condições para realizar exames diretos em feridas/ferimentos, haja vista que a instituição não dispõe de pessoal e de ambientes específicos para tais atos. Relator: Conselheiro Renato Françoso Filho. Ementa: Quando o perito entender essencial para sua convicção, é necessária a verificação direta da ferida/ferimento/lesão para constatação da doença alegada pelo requerente, bem como a verificação direta da ferida/ferimento/lesão para descrevê-la no laudo médico pericial; e é necessária a existência de estrutura física e pessoal habilitado no INSS para fazer a remoção e reconstituição do curativo removido, se for necessária a remoção. O consulente Dr. F.E.C.A., Presidente de Comissão de Ética Médica de hospital na cidade de São Paulo, solicita ao parecer do CREMESP sobre a falta de condições para realizar exames diretos em feridas/ferimentos/lesão, haja vista que a instituição não dispõe de pessoal e de ambientes específicos para tais atos. Essa questão tem sido motivo de questionamento na Previdência e nas esferas policial e judicial, citando para tanto: a) Necessidade de exposição da ferida/ferimento/lesão para constatação da doença alegada para fins de conclusão pericial. b) Elaboração de laudo médico pericial. c) Da forma e meios para remover curativos. d) Do descarte do curativo removido. e) Da forma e meios de reconstituição do curativo no segurado. f) Da probidade técnica e ética de eventualmente o segurado sair da perícia com a ferida descoberta sem a reconstituição do curativo. g) Da probidade técnica e ética de julgar a incapacidade sem ectoscopia direta da lesão.
2 h) Da possibilidade da constatação da ferida ser realizada através apenas do laudo médico emitido pelo médico assistente externo ao INSS dispensando a avaliação direta do médico perito institucional. Informa, ainda, que em questionamento à Diretoria Técnica Médica do INSS obteve a seguinte resposta: (...) considerando a dificuldade de reposição dos curativos nos exames médicos periciais, reitero a solicitação aos Peritos Médicos Previdenciários da GEx SP que, quando tratarem-se de curativos oclusivos, talas gessadas, gessos circulares e afins, a análise pericial seja sustentada mediante os relatórios médicos, exames complementares e demais documentos probatórios apresentados pelos segurados (...). Sendo assim, apresenta as seguintes dúvidas: 1 É necessária a verificação direta da ferida/ferimento/lesão para constatação da doença alegada pelo requerente? 2 É necessária a verificação direta da ferida/ferimento/lesão para descrevê-la no laudo médico pericial? 3 É necessária a existência de estrutura física e pessoal habilitado no INSS para fazer a remoção e reconstituição do curativo removido? 4 É necessária a presença de fluxo de lixo biológico seguindo as Resoluções da ANVISA, para fazer o descarte do curativo removido e eventual material contaminado? 5 Considerando que o INSS não dispõe atualmente de estrutura para cuidados com curativo, pode o médico perito fundamentar sua avaliação apenas em laudo médico expedido por assistente médico externo à instituição? 6 Em caso de retirada do curativo sem a estrutura acima citada, pode o médico perito ser responsabilizado por descarte de material biológico em lixo comum e por eventual não reconstituição do curativo no segurado? 7 A realização de uma perícia indireta em feridas ocluídas por curativos pode ser feita quando o cidadão está presente na avaliação pericial?
3 8 O INSS pode exigir que o perito médico realize o ato médico pericial sem dar a estrutura necessária para tal? 9 Em caso de conclusão errônea pericial cuja perícia da ferida foi feita baseada na orientação técnica dada pelo INSS, o perito que assinou o laudo pode ser responsabilizado pelo erro? 10 Pode o perito médico se recusar a realizar a perícia nos casos em que o mesmo considere imprescindível a remoção do curativo? PARECER DOS QUESITOS: Pergunta nº 1 É necessária a verificação direta da ferida/ferimento/lesão para constatação da doença alegada pelo requerente? essencial para sua convicção. Resposta nº 1 Sim, quando o perito entender Pergunta nº 2 É necessária a verificação direta da ferida/ferimento/lesão para descrevê-la no laudo médico pericial? essencial para sua convicção. Resposta nº 2 Sim, quando o perito entender Pergunta nº 3 É necessária a existência de estrutura física e pessoal habilitado no INSS para fazer a remoção e reconstituição do curativo removido? remoção. Resposta nº 3 Sim, se for necessária a Pergunta nº 4 É necessária a presença de fluxo de lixo biológico seguindo as Resoluções da ANVISA, para fazer o descarte do curativo removido e eventual material contaminado? institucional. Resposta nº 4 Sim, mas a responsabilidade é
4 Pergunta nº 5 Considerando que o INSS não dispõe atualmente de estrutura para cuidados com curativo, pode o médico perito fundamentar sua avaliação apenas em laudo médico expedido por assistente médico externo à instituição? Resposta nº 5 Quando não houver convicção do perito e inviabilidade da retirada do curativo, a perícia deverá ser concluída em data oportuna quando for possível avaliar diretamente a lesão. Pergunta nº 6 Em caso de retirada do curativo sem a estrutura acima citada, pode o médico perito ser responsabilizado por descarte de material biológico em lixo comum e por eventual não reconstituição do curativo no segurado? Resposta nº 6 A responsabilidade pelo descarte do material e dos meios para a reconstituição do curativo é da instituição. Pergunta nº 7 A realização de uma perícia indireta em feridas ocluídas por curativos pode ser feita quando o cidadão está presente na avaliação pericial? Resposta nº 7 Vide a resposta ao quesito 5. Pergunta nº 8 O INSS pode exigir que o perito médico realize o ato médico pericial sem dar a estrutura necessária para tal? Resposta nº 8 Não. Pergunta nº 9 Em caso de conclusão errônea pericial cuja pericia da ferida foi feita baseada na orientação técnica dada pelo INSS, o perito que assinou o laudo pode ser responsabilizado pelo erro? Resposta nº 9 Não pode ser responsabilizado dentro da instituição, na qual existe previsão para tal conduta. Pergunta nº 10 Pode o perito médico se recusar a realizar a perícia nos casos em que o mesmo considere imprescindível a remoção do curativo? Resposta nº 10 Quando não houver convicção do perito e inviabilidade da retirada do curativo, a perícia deverá ser concluída em data oportuna quando for possível avaliar diretamente a lesão.
5 CONCLUSÃO: CAPÍTULO II DIREITOS DOS MÉDICOS É direito do médico: III Apontar falhas em normas, contratos e práticas internas de instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo dirigir-se, nesses caos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente, à comissão de ética e ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição. V Suspender suas atividades, individualmente ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições adequadas para o exercício profissional ou não remunerar digna e justamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente sua decisão ao Conselho Regional de Medicina. CAPÍTULO III RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. CAPÍTULO IV DIREITOS HUMANOS Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto.
6 CAPÍTULO V RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. CAPÍTULO X DOCUMENTOS MÉDICOS Art. 80. Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade. CAPÍTULO XI AUDITORIA E PERÍCIA MÉDICA Art. 98. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua competência. Este é o nosso parecer, s.m.j. Conselheiro Renato Françoso Filho PARECER APROVADO NA REUNIÃO DA CÂMARA TÉCNICA DE MEDICINA DO TRABALHO, REALIZADA EM 11/11/2014. APROVADO NA REUNIÃO DA CÂMARA DE CONSULTAS, REALIZADA EM 28.11.2014. HOMOLOGADO NA 4.635ª REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM 02.12.2014.