PROCESSO-CONSULTA CFM 62/2012 PARECER CFM 47/2017 INTERESSADO:
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1 PROCESSO-CONSULTA CFM nº 62/2012 PARECER CFM nº 47/2017 INTERESSADO: Ministério da Previdência e Assistência Social ASSUNTO: Atuação de médicos peritos na força-tarefa com o Ministério Público Federal e Polícia Federal RELATOR: Cons. José Albertino Souza EMENTA: O médico, no exercício da função pericial, não está sujeito ao sigilo profissional na elaboração do seu parecer, em razão do dever legal, excludente prevista no artigo 73 do Código de Ética Médica. DA CONSULTA O chefe da Assessoria de Pesquisa Estratégica e de Gerenciamento de Riscos (APEGR/SE/MPS) indaga acerca de diversas questões referentes à atuação de médicos peritos nomeados em inquéritos policiais, principalmente quanto ao sigilo médico e como devem proceder quando de sua atuação em estado onde não possuam inscrição no Conselho Regional de Medicina. Esclarece que a APEGR/SE/MPS tem como um de seus objetivos atuar em forma de força-tarefa com o Ministério Público Federal e a Policia Federal, na prevenção, na detecção e no combate aos delitos em desfavor da Previdência Social. Aduz que dentre as análises realizadas pela APEGR inserem-se aquelas que se referem a benefícios previdenciários concedidos em razão de incapacidade laborativa e que, por sua natureza, exigem a realização de perícia médica. Para as análises de eventuais irregularidades com envolvimento de médicos, quer sejam servidores do INSS ou não, essa Assessoria conta com os profissionais peritos médicos de seu próprio quadro ou do quadro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 1
2 Argumenta que tal atividade se trata de trabalho médico-legal pericial, que visa a formação de convicção da autoridade competente solicitante, no caso, o presidente do Inquérito Policial na esfera federal (Delegado da Polícia Federal Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários Deleprev). Para essa atividade, tais peritos são nomeados no bojo do inquérito com base nos artigos 275 e seguintes do Código de Processo Penal. Cita que o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, por meio do Parecer Consulta nº 3546/2008, manifestou-se a respeito da natureza das atividades médicolegais exercidas pelos peritos da APEGR. No entanto, considera ser necessária a uniformização de procedimentos em todos os estados da União, devido a esta Assessoria atuar nacionalmente, sendo necessária a uniformização de procedimentos em todos os estados da União. DO PARECER O médico, investido na função de perito, encontra-se sob a égide do preceituado no Código de Processo Civil e Código de Processo Penal e, em especial, no Código de Ética Médica, além da legislação específica do processo em que atua. A Resolução CFM nº 1.497/1998 determina que o médico nomeado perito execute e cumpra o encargo, no prazo que lhe for determinado, mantendo-se sempre atento às suas responsabilidades ética, administrativa, penal e civil. Com relação às dúvidas do consulente inerentes ao sigilo médico, passamos a expor o que dispõe a legislação. O Código Penal Brasileiro, preconiza em seu art. 154: Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Como se vê, é atípica a conduta quando for justa a causa. 2
3 O perito tem o dever de cumprir o oficio, conforme prescreve o Código de Processo Civil em seu artigo 157, assim, o dever legal autoriza a quebra do sigilo pelo médico perito nomeado. Entre as situações de exceções ao sigilo médico estabelecidas em Lei, tendo em vista um interesse público superior, está o exercício da função pericial. Por estar compromissado e investido do múnus público, o médico perito deve descrever, com a verdade e com todas as circunstâncias, o que encontrar, descobrir e observar. Nesse sentido, assim se manifestou Genival Veloso de França, em Comentários ao capítulo XI da terceira edição do Código de Ética Médica (CEM): fato interessante na atividade pericial é o que diz respeito ao segredo nos exames. Fica claro que a exigência é a do sigilo funcional e não a de deixar de apontar o que apurou durante o exame médico. [ ] Nem comete infração ao Código de Ética Médica, pois está agindo em face do dever legal, na proteção da ordem pública e no interesse social. O dever legal é uma das situações excludentes da quebra de sigilo prevista no artigo 73 do CEM, que veda ao médico: Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente. Com relação à inscrição no Conselho Regional de Medicina, o médico que atuar provisoriamente em outro estado, como perito, deverá atender ao disposto na Resolução CFM nº 1.948/2010 (Modificada pela Resolução. CFM nº 2.011/2013), que estabelece: Art. 2º Aos médicos peritos, auditores, integrantes de equipes de transplante, equipes desportivas, ou aqueles que se deslocam temporariamente acompanhando eventos artísticos e sociais, e integrantes de equipes médicas de ajuda humanitária em caráter beneficente, pertencentes a entes públicos, empresas de âmbito nacional ou ainda aqueles contratados como assistentes técnicos em perícias cíveis 3
4 e criminais, de modo temporário e excepcional, poderá ser concedido o visto provisório de forma fracionada, respeitado o período total de 90 (noventa) dias em um mesmo ano. (modificado pela Resolução CFM nº 2011/2013) 1º No caso do caput deste artigo a comunicação deverá ser feita por escrito (carta ou ofício), fax ou , pelo ente público ou privado, ao Conselho Regional de Medicina da base onde o médico trabalhe. DA CONCLUSÃO Diante do exposto, passo a responder ao perguntado: 1) a) Podem os senhores peritos médicos componentes das forças-tarefa registrar, em seus pareceres médico-legais, fatos, nomes, diagnósticos, documentos médicos, terapêuticas prescritas e similares? b) É licita a juntada deste parecer ao Inquérito Policial, visto tratar-se de pericia médica criminal (exame de corpo delito) em fase de inquérito policial? Respostas: a) Sim, os médicos peritos devem descrever com a verdade e com todas as circunstâncias o que encontrarem, descobrirem e observarem. b) Sim, o parecer médico-legal (exame de corpo de delito) é parte integrante do inquérito policial. 2) Poderão ser nominados os eventuais acompanhantes do paciente objeto do procedimento pericial-médico, bem como os médicos assistentes com os respectivos diagnósticos e as prescrições por eles feitas? Resposta Sim. Vide resposta a) do item 1. 3) Podem os senhores peritos médicos componentes das forças-tarefa emitirem parecer conclusivo a respeito das incongruências encontradas entre os materiais apreendidos em operações policiais com autorização judicial e o que existe consignado nos processos de concessão de benefícios, nos sistemas corporativos e demais documentos em poder da Previdência Social ou do próprio segurado? Resposta Sim. Vide resposta a) do item 1. 4
5 4) Considerando que as operações são realizadas na forma de força-tarefa para cumprimento de mandados judiciais e considerando a necessidade da prática de atos médicos fora da sua unidade federativa de inscrição original, é suficiente que esta Assessoria proceda à comunicação do exercício eventual da profissão ao Conselho Regional de Medicina em que se dará a referida atividade médica? É de se observar que normalmente a fixação das datas das operações ocorre com prazo reduzido (5 a 10 dias de antecedência). Resposta Sim. A comunicação deverá ser feita por escrito (carta ou ofício), fax ou e- mail, ao Conselho Regional de Medicina da base onde o médico trabalhe, conforme estabelece o 1º do artigo 2º da Resolução CFM nº 1.948/2010 (Modificada pela Resolução CFM nº 2.011/2013). 5) a) Podem os senhores peritos médicos componentes das forças-tarefa da APEGR, em face de sua capacitação, periciar documentos médico-legais, tanto em mídia física como eletrônica existente na base de dados da Previdência Social? b) Podem fazer constar suas conclusões em seu parecer médico-legal a ser entregue às autoridades solicitantes? Respostas: a) Sim. b) Sim. Vide resposta a) do item 1). Este é o parecer, SMJ. Brasília, DF, 15 de dezembro de JOSÉ ALBERTINO SOUZA Relator 5
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