CONSULTA Nº /2014

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1 Autarquia Federal Lei nº 3.268/57 CONSULTA Nº /2014 Assunto: Ofício nº 177/2014 CMS/Disque Saúde Preenchimento de relatório para análise de pedido de liminar. Relatora: Dra. Camila Kitazawa Cortez, Advogada do. Parecer subscrito pelo Conselheiro Renato Azevedo Júnior Diretor Secretário. Ementa: Elaboração de atestado médico. Elaboração de atestado para fins de perícia médica. Atos diversos. Requisitos diversos. Impossibilidade de o médico assistente atuar como médico perito. Conduta correta do médico que se negou a preencher formulário. Leitura da Resolução CFM 1.658/2002, dos arts. 93 e 98 do Código de Ética Médica e da Resolução CFM 2.003/2012. Pedido de nomeação de perito médico nos autos da ação judicial. Fatos: O Conselheiro do CREMESP, Dr. Renato Azevedo Junior, solicita parecer deste com relação ao ofício enviado por determinada Prefeitura do interior de São Paulo (Conselho Municipal de Saúde Disque Saúde) questionando se profissional médico, após atestar incapacidade do paciente para atos da vida diária, pode se recusar a preencher relatório médico para análise de pedido liminar que garanta ao paciente o fornecimento de serviço de home care via SUS. Parecer: Depreende-se dos autos da Consulta em tela que o médico responsável pelo atendimento atestou a incapacidade do paciente para atos da vida diária como locomoção, alimentação e higiene. Posteriormente, o Grupo de Amparo ao Doente de AIDS solicitou o preenchimento de formulário médico para fins de instrução de ação judicial.

2 De acordo com as informações prestadas, o médico se negou a preencher referido formulário. Entendemos, s.m.j., que a conduta do médico em se negar a preencher formulário está amparada pelo Código de Ética Médica e demais normas sobre o assunto, senão vejamos: A Resolução CFM nº 1.658/2002 a qual normatiza a emissão de atestados médicos e dá outras providências, prevê em seus artigos 1º, 2º e 3º, in verbis: Art. 1º O atestado médico é parte integrante do ato médico, sendo seu fornecimento direito inalienável do paciente, não podendo importar em qualquer majoração de honorários. Art. 2º Ao fornecer o atestado, deverá o médico registrar em ficha própria e/ou prontuário médico os dados dos exames e tratamentos realizados, de maneira que possa atender às pesquisas de informações dos médicos peritos das empresas ou dos órgãos públicos da Previdência Social e da Justiça. Art. 3º Na elaboração do atestado médico, o médico assistente observará os seguintes procedimentos: I - especificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário para a recuperação do paciente; II - estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo paciente; III - registrar os dados de maneira legível; IV - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro no Conselho Regional de Medicina. Parágrafo único. Quando o atestado for solicitado pelo paciente ou seu representante legal para fins de perícia médica deverá observar: I - o diagnóstico; II - os resultados dos exames complementares;.2.

3 III - a conduta terapêutica; IV - o prognóstico; V - as conseqüências à saúde do paciente; VI - o provável tempo de repouso estimado necessário para a sua recuperação, que complementará o parecer fundamentado do médico perito, a quem cabe legalmente a decisão do benefício previdenciário, tais como: aposentadoria, invalidez definitiva, readaptação; VII - registrar os dados de maneira legível; VIII - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro no Conselho Regional de Medicina. (sem grifos no original) Num primeiro momento, importante deixar aqui destacado que, conforme previsão da referida Resolução, o atestado médico é um ato diverso do atestado para fins de perícia médica. Tanto são atos diferentes que cada um deles possui requisitos próprios a serem observados. de Ética Médica, a saber: Corroborando este raciocínio, prevê o art. 93 do Código É vedado ao médico: Art. 93. Ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família ou de qualquer outra com a qual tenha relações capazes de influir em seu trabalho ou de empresa em que atue ou tenha atuado. Mais uma vez, o Código de Ética Médica manifesta o entendimento de que médico assistente e médico perito não podem ser confundidos na mesma pessoa, ou seja, o médico que assistiu o paciente não pode ser perito deste mesmo paciente..3.

4 O pressuposto básico do trabalho do perito é a imparcialidade a qual pode ser afetada caso o paciente já tenha tido relações com este médico em outro momento. Esta também é uma determinação expressa do Código de Ética Médica: É vedado ao médico: Art. 98. Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua competência. Com base nesta argumentação de que o médico assistente não pode atuar como médico perito do mesmo paciente, foi editada a Resolução CFM nº 2.003/2012 que, em que pese tratar especificamente do preenchimento de formulários elaborados por empresas seguradoras, entendemos que pode ser aplicada analogicamente ao presente caso, a saber: Art. 1º É vedado ao médico assistente o preenchimento de formulários elaborados por empresas seguradoras com informações acerca da assistência prestada a pacientes sob seus cuidados. Neste diapasão, correta a conduta do médico que se negou a preencher o formulário emitido por instituição a qual não é pertencente, sendo que a prestação do seu serviço esgotou-se com a elaboração do atestado médico. Genival Veloso França, em Comentários ao Código de Ética Médica, 6ª ed., argumenta que o ato médico assistencial, no seu conjunto, se completa quando é constituído de todas as suas partes: o exame propedêutico, o diagnóstico, o prognóstico, a prescrição e a emissão de atestado, podendo ainda ser acrescido de solicitação dos exames complementares. Nada mais. Cita ainda que não pode o médico ser constrangido a usar o papel timbrado de uma entidade comercial com quem não tem qualquer vinculação profissional ou empregatícia. Assim, considerando que a intenção do paciente é ingressar com uma ação judicial, entendemos que deverá ser nomeado um médico perito nos autos da ação o qual fornecerá as informações necessárias para compor a demanda..4.

5 Conclusão Opinio Juris: Autarquia Federal Lei º 3.268/57 Pelo exposto, este Departamento entende correta a conduta do médico em se negar a preencher formulário fornecido por instituição a qual não pertence, devendo ocorrer a nomeação de perito médico nos autos da ação judicial a fim de realizar as provas necessárias para o deslinde do feito. Assim, esperando ter atingido os objetivos propostos, apresentamos nosso parecer, colocando-nos à inteira disposição para eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários. Atenciosamente, São Paulo, 11 de agosto de Camila Kitazawa Cortez OAB/SP CREMESP PARECER SUBSCRITO PELO CONSELHEIRO RENATO AZEVEDO JÚNIOR. APROVADO NA REUNIÃO DA CÂMARA DE CONSULTAS, REALIZADA EM HOMOLOGADO NA 4.660ª REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM