SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS E AUTÁRQUICOS EM SÃO CAETANO DO SUL
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- Leila Faria Castilho
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1 SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS E AUTÁRQUICOS EM SÃO CAETANO DO SUL Rua Engenheiro Rebouças, 74 - Seio Caetano do Sul - SP Telefax: (11) sindserv.scseterra.com.br NOTA DO DEPTO. JURÍDICO SINDSERV-SCS: INTERESSADOS: Empregados Públicos da Administração Direta e Indireta da Municipalidade de São Caetano do Sul ASSUNTO: Consulta sobre a legalidade de exigência de indicação de "CID Classificação ou Código Internacional de Doenças" em atestados médicos e odontológicos, a fim de que sejam aceitos para justificativa de falta ao trabalho. EMENTA: Recentemente o Colendo Tribunal Superior do Trabalho, nos autos do Processo n TST-RO , cuja Relatoria coube à Eminente Ministra MARIA DE ASSIS CALSING, assentou o entendimento de que é extremamente abusiva a cláusula de convenção coletiva que exige a indicação do CID em atestado, entendimento com o qual comungamos e, entendemos, plenamente cabível em causas que envolvam direitos individuais, em razão do princípio constitucional da inviolabilidade à intimidade e à vida das pessoas. Naqueles autos, assim restou justificado: 1
2 A Constituição Federal elegeu a intimidade e a vida privada como bens invioláveis. Trata-se, pois, de direito fundamental albergado no art. 5, X, da Constituição Federal. A exigência de indicação expressa do CID nos atestados médicos vai de encontro à referida diretriz constitucional, por se tratar de ingerência na vida privada do cidadão. Nessa perspectiva, o médico não pode ser obrigado a colocar o diagnóstico ou CID nos atestados médicos, porquanto tal decisão cabe ao paciente e não ao profissional de saúde, conforme se depreende da legislação aplicável à espécie (Código de Ética Médica e as Resoluções do Conselho Federal de Medicina). Pode o médico, inclusive, responder por crime de violação de segredo profissional, capitulado no art..154 do Código Penal. Se ao médico não é dado colocar o diagnóstico ou o CID nos atestados que firmam, salvo em situações excepcionais, não se afigura possível tal exigência por parte da empresa, para fins de validar os atestados médicos a ela apresentados. Aliás, ressalte-se que o Ministério Público do Trabalho, nos autos em comento, assevera ser inadmissível a obrigação de identificação do CID para validade dos atestados médicos e odontológicos a ser entregues pelos trabalhadores ao empregador. Os argumentos do Ministério Público do Trabalho foram plenamente acolhidos pela Alta Corte de Justiça Trabalhista:...
3 Sustenta o Recorrente (Ministério Público do Trabalho) que a exigência do preenchimento do Código Internacional de Doenças - CID vai de encontro à garantia de inviolabilidade da intimidade e da vida privada das pessoas, prevista no art. S.'', X, da Constituição Federal, além do que dispõe o art. 483, "c", 'V" e "e", da CL T. Alega que tal procedimento representa conduta ilícita, discriminatória e abusiva, capaz de gerar situações humilhantes ou constrangedoras aos trabalhadores. Traz, para corroborar, Resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), nas quais está prescrita a necessidade de observância ao sigilo médico. Sustenta que os direitos e garantias ali previstos são assegurados a todos os cidadãos, o que compreende, portanto, os trabalhadores, sob pena de ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana do empregado. A rigor da RESOLUÇÃO N 1.605/2000, do CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, Publicada no D.O.U. 29/09/2000, Seção I, página 30, Retificação publicada no D.O.U. 31/01/2002, Seção I, página 103, temos: O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei n 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n , de 19 de julho de 1958, e CONSIDERANDO o disposto no art. 154 do Código Penal Brasileiro e no art. 66 da Lei das Contravenções Penais; CONSIDERANDO a força de lei que possuem os artigos 11 e 102 do Código de Ética Médica, que vedam ao médico a
4 revelação de fato de que venha a ter conhecimento em virtude da profissão, salvo justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente, CONSIDERANDO que o sigilo médico é instituído em favor do paciente, o que encontra suporte na garantia insculpida no art. 5, inciso X, da Constituição Federal, CONSIDERANDO que o "dever legal" se restringe à ocorrência de doenças de comunicação obrigatória, de acordo com o disposto no art. 269 do Código Penal, ou à ocorrência de crime de ação penal pública incondicionada, cuja comunicaçõo não exponha o paciente a procedimento criminal conforme os incisos I e II do art. 66 da Lei de Contravenções Penais, CONSIDERANDO que a lei penal só obriga a "comunicação'; o que mio implica a remessa da ficha ou CONSIDERANDO que a ficha ou prontuário médico não inclui apenas o atendimento específico, mas toda a situação médica do paciente, cuja revelação poderia fazer com que o mesmo sonegasse informações, prejudicando seu tratamento; CONSIDERANDO a freqáente ocorrência de requisições de autoridades judiciais, policiais e do Ministério Público relativamente a prontuários médicos e fichas médicas; CONSIDERANDO que é ilegal a requisição judicial de documentos médicos quando há outros meios de obtenção da informação necessária como prova CONSIDERANDO o parecer CFM n 22/2000; 4
5 CONSIDERANDO o decidido em Sessifo Plenária de , RESOLVE: Art. 1 - O médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica. (GRIFAMOS). Art. 2 - Nos casos do art. 269 do Código Penal, onde a comunicaçâ'o de doença é compulsória, o dever do médico restringe-se exclusivamente a comunicar tal fato à autoridade competente, sendo proibida a remessa do prontuário médico do paciente. (GRIFAMOS). Art. 3 - Na investigaçâ'o da hipótese de cometimento de crime o médico está impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo criminal Art. 4 - Se na instruçâo de processo criminal for requisitada, por autoridade judiciária competente, a apresentaçõo do conteúdo do prontuário ou da ficha médica, o médico disponibilizard os documentos ao perito nomeado pelo juiz, para que neles seja realizada perícia restrita aos fatos em questionamen to. Art. 5 - Se houver autorizaçáo expressa do paciente, tanto na solicitaçifo como em documento diverso, o médico poderá encaminhar a ficha ou prontuário médico diretamente à autoridade requisitante. 5
6 Art. 6 - O médico deverá fornecer cópia da ficha ou do prontuário médico desde que solicitado pelo paciente ou requisitado pelos Cansemos Federal ou Regional de Medicina. Art. 7 - Para sua defesa judicial, o médico poderá apresentar a ficha ou prontuário médico à autoridade competente, solicitando que a matéria seja mantida em segredo de justiça. Art. 8 - Nos casos mio previstos nesta resolução e sempre que houver conflito no tocante à remessa ou não dos documentos à autoridade requisitante, o médico deverá consultar o Conselho de Medicina, onde mantém sua inscrição, quanto ao procedimento a ser adotado. Art. 9 - Ficam revogadas as disposiçdes em contrário, em especial a Resolução CFM n 999/80. Brasília-1)F, 15 de setembro de EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE (Presidente) RUBENS DOS SANTOS SILVA (Secretário-bera/) Outras Resoluções pertinentes, tais como a RESOLUÇÃO N 1.658/2000; a RESOLUÇÃO N 1.665/2003; a RESOLUÇÃO N 1.715/2004, mais as recentes alterações trazidas na RESOLUÇÃO N 1.851/2008, publicada no D.O.U. de 18/08/2008, Seção 1, página 256, todas do CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, são taxativas no sentido de que o médico somente poderá estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo paciente. Veja abaixo a reprodução da Resolução supramencionada, n 1.851/2008, atentando-se ao que prevê, expressamente, o inciso II, do atrigo 3 : 6
7 RESOLUÇÃO CFM n 1.851/2008: Altera o art. 3 da Resoluccio CFM n 1.658, de 13 de fevereiro de 2002, que normatiza a emissão de atestados médicos e dá outras providências. O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuiçôés conferidas pela Lei n 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n , de 19 de julho de 1958, e a Lei n , de 15 de dezembro de 2004, que altera a Lei n 3.268/57 e CONSIDERANDO que o médico assistente é o profissional que acompanha o paciente em sua doença e evoluçâo e, quando necessário, emite o devido atestado ou relatório médicos e, a princípio, existem condicionantes a limitar a sua conduta quando o paciente necessita buscar benefícios, em especial, previdenciários; CONSIDERANDO que o médico perito é o profissional incumbido, por lei, de avaliar a condiçâo laborativa do examinado, para fins de enquadramento na situação legal pertinente, sendo que o motivo mais freqüente é a habilitaçõo a um benefício por incapacidade; abril de 2008; CONSIDERANDO o Parecer CFM n 5/08, de 18 de CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na Sessiio Plenária realizada em 14 de agosto de 2008, RESOLVE:
8 . Art. 1 O artigo 3 da Resolução CFM n 1.658, de 13 de dezembro de 2002, passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 3 Na elaboração do atestado médico, o médico assistente observará os seguintes procedimentos: I - especificar o tempo concedido de dispensa à atividade, necessário para a recuperação do paciente; II - estabelecer o diagnóstico, quando expressamente autorizado pelo paciente; (6RIFAM05). III - registrar os dados de maneira legível; IV - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro no Conselho Regional de Medicina. Parágrafo único. Quando o atestado for solicitado pelo paciente ou seu representante legal para fins de perícia médica deverá observar: I - o diagnóstico; II - os resultados dos exames complementares; III - a conduta terapêutica; IV - o prognóstico; V - as conseqüências à saúde do paciente; VI - o provável tempo de repouso estimado necessário para a sua recuperação, que complementarei o parecer fundamentado do médico perito, a quem cabe legalmente a decisão do benefício previdenciário, tais como: aposentadoria, invalidez definitiva, readaptaçdo; 8
9 VII - registrar os dados de maneira legível; VIII - identificar-se como emissor, mediante assinatura e carimbo ou número de registro no Conselho Regional de Medicina." publicaçâ'o. Art, 2 Esta resoluçffo entra em vigor na data de sua Brasília-DF, 14 de agosto de 2008 EDSON DE OLIVIERA ANDRADE (Presidente) LIVIA BARROS GARÇA-0 (Secretcíria-Geral) CONCLUSÃO: A exigência de apresentação de atestado médico constando o CID fere preceito constitucional que visa à inviolabilidade da honra e vida privada das pessoas, mais a ditames regidos por Resoluções da Ética Profissional-Médica. Esta é a opinião conclusiva do Departamento Jurídico do Sindicato dos Servidores Públicos e Autárquicos em São Caetano do Sul SINDSERV-SCS, representado pelos advogados que abaixo subscrevem, atenciosamente, São Caetano do Sul, 11 de novembro de JOÃO FLAV O FONTANA OAB/SP
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