A vigência da centralidade da categoria trabalho: uma oposição às teorias do fim do trabalho vivo e do fim de sua centralidade

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Transcrição:

A vigência da centralidade da categoria trabalho: uma oposição às teorias do fim do trabalho vivo e do fim de sua centralidade Vinícius Oliveira Santos * Resumo: Mediante as configurações do capitalismo contemporâneo, alguns autores, como André Gorz, não hesitaram em afirmar que a sociedade do trabalho está em crise e que o trabalho perderia, portanto, o status de conceito sociológico chave. A questão que se coloca é a seguinte: a constante inserção de tecnologia nos processos produtivos pode excluir o trabalho vivo? E mais: o trabalho continua a ser a atividade central na sociabilidade? É no seio deste debate que se encontra o presente artigo, que tem como objetivo elucidar e criticar a visão de que o trabalho e/ou sua centralidade analítica estão em vias de desaparecer ou não têm mais pertinência. Em vez disso, este artigo propõe a ampliação do trabalho, uma vez que este se encontra cada vez mais complexificado e diverso e, em proporção crescente, o capitalismo necessita de trabalho precarizado que tem diversificado a classe-que-vive-dotrabalho. Palavras-chave: Trabalho, trabalho no capitalismo, capitalismo contemporâneo, ontologia. Abstract: Due to configurations of contemporary capitalism, some authors, like André Gorz, did not hesitate to affirm the society of work crisis and, consequently, supposed that work lost the sociological concept-key status. The question imposed is: the constant insertion of technology in productive processes will exclude living labor? And more: the labor are the central activity in sociability yet? This article is including in this debate, and seeks to elucidate and criticize the motion that the labor and/or the analytical centrality of work are in the way of disappear or are not pertinent. Instead of this, this paper propose the amplification, for the reason that labor is more and more complex and diversified and, on crescent proportion, the capitalism requests precarious labor, one of causes of working class diversification. Key words: Work, work in capitalism, contemporary capitalism, ontology. * Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Uberlândia. É membro do Grupo de Pesquisa Trabalhadores, Sindicalismo e Política. Pesquisa a temática trabalho material e trabalho imaterial sob a orientação do Prof. Edilson José Graciolli. 167

1. Introdução Na perspectiva do materialismo históricodialético, a apreensão da categoria trabalho nos conduz a uma percepção ampliada do fenômeno, que da conta e supera a visão negativa e historicamente corrente, tal como a etimologia da palavra supõe do latim tripalium instrumento usado em tortura e compreende o fenômeno trabalho em seu sentido ontológico, isto é, com importância central para a formação da essência do ser social. Ainda de acordo com o materialismo histórico-dialético, o trabalho é a única atividade com um caráter evidentemente transitório, marcando a passagem do ser orgânico e puramente biológico para o ser social. Nestes termos, o trabalho é o primeiro ato histórico pelo qual o homem se diferencia dos outros animais, é o salto qualitativo a partir do qual o homem passa a produzir seus meios de vida. Contudo, na sociedade dividida em classes, o trabalho assume a dimensão de estranhamento, de tripalium, pois a exploração do trabalho assalariado faz com que a riqueza produzida por ele gere, contraditoriamente no mesmo processo, a pobreza daqueles que vendem sua força de trabalho para ter suas necessidades elementares de sobrevivência supridas. Como é evidente, o trabalho assalariado é vital para o capitalismo. A análise da categoria trabalho assumiu grande importância nos estudos marxistas. O trabalho, por ser a atividade central tanto para a sociabilidade humana quanto para sua emancipação, ostentou o status de conceito sociológico chave. No entanto, este status da categoria trabalho tem sido posto em contestação por vários autores. Alguns deles propõem a negação da centralidade do trabalho e outros, mais afoitos, sugerem que o desaparecimento do trabalho está em vias de se estabelecer. Ao seu modo, cada autor desenvolve sua crítica à valorização analítica e empírica da esfera do trabalho, argumentando, uns mais criticamente que outros, os motivos de tal posição teórico-metodológica. Assim sendo, autores marxistas têm se empenhado em desconstruir a idéia de descentralização do trabalho, bem como a declaração apocalíptica de seu fim. Tais autores situam suas críticas no âmbito do capitalismo contemporâneo e a conseqüente multiplicidade dos trabalhadores assalariados. Aqui, o pensamento de Ricardo Antunes assumirá papel balizador no movimento de desconstrução da idéia de crise da sociedade do trabalho tomada nas formas de fim do trabalho ou de proclamação gnosiológica 1 de fim da centralidade da categoria. É no seio deste debate que se situa o presente trabalho. Assim, procurei analisar sob qual perspectiva pode-se negar as formulações do fim da sociedade do trabalho e/ou, fim da centralidade em questão. Os esforços ainda se canalizaram em apreender quais caracteres do capitalismo permitem assegurar que o trabalho, ao contrário que dizem determinados teóricos, não perdeu centralidade na sociabilidade humana, mesmo quando analisado à luz das reestruturações produtivas. Foi considerando também os aspectos de pluralidade e heterogeneidade da classeque-vive-do-trabalho. Como delineamento metodológico, parto dos pressupostos do marxismo ontológico nos quais o empírico é tratado apenas como ponto de partida na análise e corresponde a apenas uma parcela do real. Os nexos determinantes não são tão 1 Por gnosiológico entende-se aquilo que é relativo à natureza e validade do conhecimento em relação ao sujeito cognoscente. O sujeito cognoscente, por sua vez, é aquele que apreende o objeto passível de entendimento. No nosso caso, a proclamação gnosiológica de fim da centralidade da categoria trabalho quer dizer a afiliação e produção teórica de certos autores na vertente que divulga a não validade do pensamento e das condições de objeto que tomam o trabalho como conceito chave. 168

facilmente perceptíveis, não são imediatos. Por isso, neste trabalho, procurou-se analisar a problemática na sua essência e não na sua aparência. E em essência, o capital necessita de trabalho assalariado para continuar a se reproduzir. Há neste artigo a pretensão de explicitar os limites teóricos de certos autores que apregoam o fim da sociedade do trabalho e fim da sua centralidade. 2. O trabalho e seus pressupostos ontológicos Karl Marx retrata em O Capital que o processo de trabalho é, primordialmente, o processo de produção de coisas úteis, de valores-de-uso voltados para o suprimento das necessidades humanas, sejam necessidades do estômago ou da fantasia. Assim entendido, o processo de trabalho está sendo considerado à parte de qualquer estrutura social determinada (MARX, 2006, p.211). Destas características do trabalho propostas por Marx, decorre o que István Mészáros (2002) chama de condicionantes de primeira ordem (todo trabalho exige uma forma de apropriação, mesmo que coletiva) em contraposição aos condicionantes de segunda ordem (no capitalismo, a apropriação é privada e restrita ao burguês). Segundo Marx, neste processo de produção de utilidade, participam homem e natureza 2 num intercâmbio material regulado pelo ser humano, em que há um dispêndio de movimento físico e mental visando suprir alguma necessidade, substituindo assim a espontaneidade instintiva, intrínseca aos animais, pela capacidade reflexiva: tal capacidade é peculiar ao homem. Ao transformar a natureza, o homem transforma a si mesmo desenvolvendo suas potencialidades. O trabalho, na perspectiva 2 Com isto, não pretendo afirmar que, segundo Marx, o processo de trabalho diz respeito exclusivamente à transformação da natureza. marxiana 3, é dotado de uma dimensão teleológica, ou seja, há um planejamento racional à finalidade para onde se direcionará o trabalho, em outros termos, o trabalhador previamente figura em sua mente o resultado. A partir daqui, torna-se evidente, conforme explicita Lukács (1981), que a práxis do ser social possui como elemento específico o agir/ser consciente: o trabalho é a primeira atividade que distingue o homem dos demais animais, e, além disso, é a atividade que efetiva a transição, o salto qualitativo do ser orgânico para o ser social: As formas de objetividade do ser social se desenvolvem, à medida que surge e se explicita a práxis social, a partir do ser natural, para depois se tornarem cada vez mais declaradamente sociais. Esse desenvolvimento, porém, é um processo dialético, que começa com um salto, com a posição teleológica do trabalho, algo que não pode ter analogias com a natureza. (LUKACS, 1981, p. 93). Desde A Ideologia Alemã, Marx e Engels (1991) apontam que o ato fundante do ser social é aquele que produz e reproduz as suas condições materiais de existência: o primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades. (MARX & ENGELS, 1991, p. 39). Por isso, noutras palavras, o trabalho é a protoforma da atividade humana, isto é, o primeiro ato evidentemente humano por onde se desenvolveu os demais, o ato originário do ser social: primeiramente, por ser o primeiro ato que produz e reproduz as condições materiais de existência; e em segundo lugar, neste primeiro ato está 3 O termo marxiano diz respeito à produção intelectual oriunda diretamente de Karl Marx, o que é diferente do termo marxista que diz respeito às produções posteriores à Marx, mas que se baseiam em suas contribuições. 169

posto o elemento de distinção das atividades humanas: é uma atividade teleológica, ou seja, adequada a um fim planejado, abstraído e previamente estabelecido na consciência. O trabalho, para Marx, é condição natural, necessária e eterna da vida humana. E mais que isso, o trabalho é a atividade que tem por função ser a base ontológica do ser social, e por ele foram se desenvolvendo outras dimensões da vida humana. Georg Lukács (1981) tem importância acentuada por esclarecer a centralidade ontológica do trabalho, nestes termos 4. Um desdobramento desta análise é que a mudança no ser social só pode ser expressiva e decisiva se, e somente se, atingir e alterar o modo de trabalhar. O que pode contribuir para a superação e emancipação, contraditoriamente, pode ressignificar o trabalho sob a forma de estranhamento, como tripalium, tal qual acontece no modo de produção capitalista. Lukács (1981) entende que o ser social é composto, pelo menos, por três características primordiais: sociabilidades, linguagem e trabalho. Dentre estas, cabe ao trabalho o papel fundante das demais dimensões, justamente por ser a categoria que media o salto ontológico das demais formas de ser orgânico para o ser social. É neste sentido que o trabalho humaniza o homem. Ricardo Antunes, ao analisar a obra Lukács, comenta permeando com citações deste autor: Deste modo, quando comparado com as formas precedentes do ser, orgânicas e inorgânicas, tem-se o trabalho, na ontologia do ser social, 4 Georg Lukács tem papel central na ressignificação do marxismo. Ele mostrou como as formulações analíticas em Marx aparecem como categorias de produção e reprodução do ser social. Em outros termos, ele mostra como Marx dá bases para uma ontologia do ser social com bases materialistas sem cair em um economicismo que estava em plena moda na época. como uma categoria qualitativamente nova. O ato teleológico é seu elemento constitutivo central, que funda pela primeira vez a contínua realização das necessidades, da busca da produção e reprodução da vida societal, a consciência do ser social deixa de ser um epifenômeno, como a consciência animal que [...] permanece no universo da reprodução biológica. [...] O lado ativo e produtivo do ser social tornase pela primeira vez ele mesmo visível através do pôr teleológico presente no processo de trabalho (e da práxis social). (ANTUNES, 2006, p. 138) Assim, Antunes mostra em poucas palavras a importância da centralidade da teleologia do trabalho, fundante do ser social. Ele avança na análise da obra lukacsiana na qual explana, posteriormente, que foram se desenvolvendo novas formas de relações entre seres sociais, brotando a práxis social interativa que visa convencer outros seres sociais a executar certos atos teleológicos. Estas são formas teleológicas secundárias que foram se distanciando, em relação ao trabalho, das posições teleológicas primárias que possui um estatuto ontológico fundante. São elas: a política, a religião, a filosofia, etc. Porém, o grau de autonomia das posições teleológicas secundárias em relação às primárias é relativo: elas não podem adquirir completa autonomia mediante sua base originária e encontram seu fundamento a partir da esfera do trabalho, não importando se o fim é a produção de valor de uso ou valor de troca. Transcorre que, para Karl Marx, Georg Lukács, Ricardo Antunes e inúmeros pensadores que se apóiam na obra marxiana para a análise da esfera do trabalho, o trabalho humano não pode ser removido da sociedade, e sua importância é central para a análise dos processos sociais, uma vez que funda o ser social. Isto posto, convém mencionar a peculiaridade do processo de trabalho nas 170

formações sociais capitalistas, levando em conta as mutabilidades nas formas de trabalho, ou seja, os quadros de reestruturação produtiva, os motivos de suas aparições e suas implicações, com fins de situar o contexto do debate. 3. O processo de trabalho na ordem do capital Karl Marx apontou que a riqueza das sociedades capitalistas configura-se em imensa acumulação de mercadorias. Estas últimas possuem um duplo caráter: possuem uma utilidade que se realiza com o consumo, ou seja, valor de uso, que é resultado do trabalho em qualquer formação social, e possuem valor de troca que se realiza na venda. Assim sendo, há um duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria: o trabalho concreto enquanto produção de coisas úteis e o trabalho abstrato produtor de valor de troca. O capitalista, dono dos meios de produção e comprador da força de trabalho do assalariado, não é movido a produzir pela produção de utilidade. Na produção de mercadorias, o burguês pretende gerar valor excedente, ou seja, mais-valia, que é a exploração da força de trabalho. Para tanto, o processo de trabalho no capitalismo deve assumir forma peculiar de, em primeiro lugar, o trabalhador estar sob o controle do capitalista por normas criadas externamente àquele que produz: aquele que trabalha não possui autonomia no processo produtivo. Em segundo lugar, o produto do trabalho não é propriedade de quem produz, mas pertence ao capital. Estes dois aspectos, com vistas à produção de mais-valia, são características de todo processo capitalista. Em outras palavras, o processo de trabalho no capitalismo é o processo de produzir mais-valia ao capitalista, ou seja, de valorização do capital. Isto acontece de modo que o produto final seja vendido por um preço mais elevado do que foi gasto para produzi-lo. Assim, há a produção de um excedente que é apropriado pelo capitalista e que volta ao processo de produção a fim de gerar mais excedente. Só se torna possível este feito devido a apropriação capitalista do tempo de trabalho excedente, gerado pelo trabalhador, que é a maior parte da jornada de trabalho dos trabalhadores assalariados. O restante é o tempo de trabalho necessário, que se refere ao tempo que o trabalhador produz o equivalente ao valor de troca da sua força de trabalho, ou seja, sua remuneração. Para maior extração de mais-valia, o capital procura aumentar o tempo de trabalho excedente e diminuir o tempo de trabalho necessário. Para maior extração de mais-valia e controle sobre os trabalhadores, uma tendência histórica do modo de produção capitalista é a diminuição dos gastos com capital variável (força de trabalho), mas, para tanto, ele precisa aumentar os gastos com capital constante (maquinário). Marx assim distinguiu esses tipos de capital: A parte do capital, portanto, que se converte em meios de produção, isto é, em matéria prima, materiais acessórios e meios de trabalho não muda a magnitude de seu valor no processo de produção. Chamo-a, por isso, parte constante do capital, ou simplesmente capital constante. A parte do capital convertida em força de trabalho, ao contrário, muda de valor no processo de produção. Reproduz o próprio equivalente e, além disso, proporciona um excedente, a mais-valia, que pode variar, ser maior ou menor. Esta parte do capital transforma-se continuamente de magnitude constante em magnitude variável. Por isso, chamo-a parte variável do capital, ou simplesmente capital variável. (MARX, 2006, p. 244) Assim, o capital se vale de reestruturações no processo de trabalho para cada vez mais controlar este processo, e tornar mais 171

eficaz a extração de mais-valia 5. A inserção da robótica, de softwares na produção diminuiu a quantidade de força de trabalho a ser comprada, gerou índices elevadíssimos de desemprego. Funções ditas como essenciais passam a ser realizadas por máquinas. Por conseguinte, isso levou vários teóricos a apregoarem a crise da sociedade do trabalho e/ou o fim da centralidade do trabalho, devido às novas configurações que o capitalismo assumiu mediante o processo de produção de mercadorias. As reestruturações produtivas do capital geraram em larga medida, segundo esses autores, a necessidade de repensar a posição de Marx e Lukács, assunto a ser tratado na próxima seção. 4. A crise da sociedade do trabalho e o suposto fim da centralidade Antes de avançar, é necessário compreender a distinção entre: a) Apregoar o fim do trabalho: em suma, os defensores desta tese afirmam que o capital não terá, futuramente, a necessidade de utilização da força de trabalho assalariada, devido ao acentuado grau de desenvolvimento do maquinário capitalista; b) A negação da centralidade analítica do trabalho: os autores que assim se pautam, dão primazia a outras categorias de análise; no caso de Jürgen Habermas, a linguagem assume tal papel. Conforme apontado anteriormente, as configurações e abrangências percebidas no processo de trabalho foram interpretadas por diversos pensadores (entre eles, André Gorz, Claus Offe, Jürgen Habermas, Dominique Média, Jeremy Rifkin, Robert Kurz, Robert Castel) 6 como 5 Não apenas para isto. As reestruturações produtivas, além de elevar o montante de maisvalia, também têm a função de reduzir o potencial reivindicatório dos trabalhadores. 6 Antunes, no livro O caracol e sua concha, faz um breve mapeamento das idéias destes autores, texto que me basearei para a exposição da teoria dos mesmos. prova circunstancial de que o ato de trabalhar perdeu o status de centralidade na sociabilidade contemporânea e/ou esvaziou sua centralidade analítica. As mutabilidades no processo produtivo têm relação com o fato do capital tender a reduzir ao máximo possível os gastos com capital variável, investindo, assim, nos gastos com capital constante. Deste modo, o controle sobre o trabalho e sobre o trabalhador incide em grau mais elevado. Situando a questão no contexto da automação flexível, também conhecida como pós-fordismo, e colocando o pensamento de acordo com a vertente teórica que está recebendo atenção especial no presente capítulo, algumas mudanças no processo de trabalho merecem ser explicitadas. Primeiramente, o aumento sistemático de tecnologia na produção e, conseqüentemente, o aumento da massa de desempregados, ou seja, a diminuição quantitativa dos assalariados. Em outras palavras, com a inserção acentuada de novas tecnologias nos processos laborais, foram reduzidas de maneira também acentuada os postos de trabalho, resultando no desemprego estrutural, na precarização do trabalho (que aparece sob a forma de trabalho informal) etc. Nesta linha de pensamento, a tecnologia de ponta estaria tornando o homem cada vez mais desnecessário nos processos de trabalho. Deste modo, o trabalho vivo (realizado por trabalhadores e trabalhadoras) estaria cada vez mais sendo substituído pelo trabalho morto (realizado por máquinas). O que decorre na análise destes pensadores é a apreensão de que a sociedade do trabalho estaria em crise, e que a categoria trabalho, não deveria ocupar a posição de conceito sociológico chave. André Gorz (1987) prega o fim do trabalho. O trabalho assalariado, segundo ele, está nos trilhos do desaparecimento. Ele faz a distinção ente trabalho [Arbeit] e 172

trabalho ganha-pão [Erwerbsarbeit]. O primeiro, segundo o autor, nunca desaparecerá, pois faz parte de uma tendência natural humana e não diz respeito a relações sociais. O segundo (Erwerbsarbeit) é um trabalho com mediações sociais, repleto de relações e organizações (o trabalho assalariado, portanto); este tipo de trabalho desaparecerá sob a ótica de Gorz. Habermas, ao contrário, prega a não centralidade da categoria trabalho. Na sua teoria do agir comunicativo, supõe uma superação da compreensão do trabalho tomado em dimensão concreta. Segundo ele, o trabalho pressupõe um processo de simbolização que, por sua vez, necessita da linguagem para se efetivar. Desta forma, o trabalho não seria responsável pelo processo de interação mais importante e, conseqüentemente, não ocuparia a centralidade. O autor diz que os processos de trabalho, mesmo individuais, exigem a linguagem para que possa vir a acontecer. Há aqui a submissão do trabalho à linguagem, e que esta ultima, seria a forma mais importante de interação. Este autor faz a divisão entre mundo sistêmico (onde se localizaria a economia e o Estado; esfera do trabalho e da razão instrumental) e mundo da vida (onde se localizaria a esfera intersubjetiva, comunicacional). Segundo ele, as possibilidades emancipatórias estariam no segundo plano, e não no plano do trabalho. Tais autores promulgam, cada um à sua maneira, uma crítica às teorias que atribuem centralidade à categoria trabalho. Gnosiologicamente falando, e, conforme visto, alguns chegam a clamar o fim do trabalho vivo, que seria substituído pelo trabalho morto. Estes autores diferem tanto de Marx quanto de Lukács, que vêem o trabalho como uma atividade central, e ainda, teorizam sobre a impossibilidade do capital liquidar, no processo de produção de mercadorias, o trabalho humano. Portanto, o próximo item deste artigo explicitará a crítica aos autores precursores da crise da sociedade do trabalho. 5. A atualidade da centralidade do trabalho frente o capitalismo contemporâneo Ricardo Antunes (2006) demonstra que o trabalho não perdeu centralidade na contemporaneidade. Antunes tem como pano de fundo o trabalho complexificado e heterogêneo do capitalismo atual. Ele defende a tese de que, mesmo com profundas reestruturações produtivas, que têm inserido tecnologia de ponta no processo de trabalho, não é possível excluir o trabalho da sociedade, e que ele ainda assume centralidade na sociabilidade. Para Antunes, partir do pressuposto de que o trabalho social se encontra hoje em dia mais complexificado e heterogêneo, implica necessariamente na discordância analítica com a posição que teoriza a respeito do fim da interação entre trabalho vivo e trabalho morto. Nas configurações atuais, o capital precisa cada vez mais de trabalho precarizado. Decorre que a classe trabalhadora se diversificou em grau muito acentuado: terceirizados, trabalhadores em domicílio, trabalhadores informais, trabalhadores do chamado Terceiro Setor, trabalhadores qualificados em alguns setores, trabalhadores desqualificados em diversos outros, a inserção crescente do trabalho feminino no mercado de trabalho etc. Isto coloca em cheque os discursos acerca do fim da centralidade do trabalho e sugere uma articulação cada vez mais ampla de categorias como: materialidade e imaterialidade, produtividade e improdutividade, atividades fabris e de serviços, dando atualidade às teses da centralidade do trabalho. Diz o autor: Quando concebemos a forma contemporânea do trabalho como expressão do trabalho social, que é mais complexificado, socialmente combinado e ainda mais heterogêneo e intensificado nos seus ritmos e processos, não podemos concordar 173

com as teses que desconsideram o processo de criação de valores de troca. (ANTUNES, 2006, p.35) O autor quer ir em direção diversa e demonstrar que o capital necessita cada vez menos de trabalho estável e cada vez mais de trabalho parcial, terceirizado. A partir das formas contemporâneas de trabalho e suas configurações, Antunes critica os autores em questão. Conforme dito anteriormente, o capital tende a reduzir o montante de capital variável no processo de trabalho, mas nunca zerá-lo. Se eliminar o trabalho humano deste processo é impossível o capital continuar se reproduzindo. Por isso, a concepção que prega a substituição do homem pela máquina cai por terra. Além de não ser possível excluir o trabalho humano, estas teorias pecam no seu desprezo ao fato de que a própria ciência avança mediante interação entre trabalho vivo e tecnologia. Esta seria uma restrição estrutural e a ciência não pode ser a principal força produtiva, portanto. As máquinas inteligentes também não podem extinguir o trabalho humano. A inserção delas no processo ocorreu graças à transferência de inteligência do operário para ela. O homem transfere suas capacidades intelectuais para o maquinário num processo de objetivação das atividades cerebrais. Só assim a máquina se efetiva concretamente. Compendiando a crítica em linhas gerais, o trabalho vivo não pode ser extinto no capitalismo. Há no mínimo três razões para isto, e elas podem ser confirmadas mediante qualquer análise empírica, inclusive as menos críticas: 1 - A própria existência das máquinas é fruto do trabalho humano, portanto, eliminar o trabalho humano da face do globo não passa de uma abstração rasteira, leviana e superficial; 2 - Se o trabalho assalariado for extinto não haverá consumidores em massa de mercadorias; 3 - Se houvesse a eliminação do trabalho assalariado, não seria mais possível a extração da mais-valia, sucumbindo-se o capitalismo. As questões a respeito da crise da sociedade do trabalho são superadas, assim, pelos motivos acima expostos. 6. Considerações finais Com o advento do capitalismo contemporâneo, sobressai sob nossos olhos a intensificação da inserção do maquinário, da robótica e da informática nos processos de produção de mercadorias. Esta é uma tendência histórica do capital: ele se inclina a reduzir o máximo possível os gastos com capital variável (força de trabalho) e para isto, precisa aumentar os gastos com capital constante (maquinário). A decorrência desta tese que Karl Marx elucidou é o elevado número de trabalhadores desempregados e precarizados. Mediante o exposto, o que podemos perceber é a maior interação entre atividades produtivas e improdutivas, fabris e serviços, materiais e imateriais. Portanto, isso remete a uma concepção ampliada para a apreensão do trabalho na sociedade contemporânea, ao invés de sua negação. Por meio da reestruturação produtiva, o capital faz com que o trabalho assuma formas diversas das tradicionais, tais como o trabalho parcial, e não a aparente negação do trabalho humano. O desemprego faz com que a classe-quevive-do-trabalho se concentre na informalidade e na precariedade. É necessário ir além das aparências e perceber que as mudanças no processo de trabalho não remetem à crise da sociedade do trabalho, nem da centralidade do trabalho; muito pelo contrário, possibilitam sua ampliação e conseqüentemente seu campo de abrangência. Referências ANTUNES, R. O caracol e sua concha. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006. 174

. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. GORZ, A. Adeus ao proletariado: para além do socialismo. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1987. LUKÁCS, G. A ontologia de Marx: questões metodológicas preliminares. In: FERNANDES, Florestan (Org.). Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Editora Ática, 1981, p.59-86. MARX, K. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, v.1. MARX, K. & ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Editora Hucitec, 1991. MÉSZÁROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo, 2002. 175