Deiscências em anastomoses gastrointestinais

Documentos relacionados
Anastomose pancreática: quando melhor com o estômago e quando melhor com o intestino? Orlando Jorge M. Torres Professor Livre-Docente UFMA

TERAPIA NUTRICIONAL NA CIRURGIA E NO TRAUMA. Neily Rodrigues Romero Ma. em Ciências Fisiológicas Nutricionista do IJF

FISTULAS. Dra Tania Lima

Fístulas Digestivas. Aparece em 5-7 dias no estomago e duodeno, 8-12 no esôfago e reto, 3 no resto (colon, int delgado) 8-12 d. 5-7 d.

Parte I. Temas gerais. Coordenadores: Alessandro Bersch Osvaldt e Leandro Totti Cavazzola

PAULO DE SOUZA FONSECA GUIMARÃES

FUNDAMENTOS DA NUTRIÇÃO CLÍNICA E COLETA FUNDAMENTOS DA NUTRIÇÃO CLÍNICA E COLETIVA

ANTIBIOTICOTERAPIA NO TRAUMA:

Síndrome do Intestino Curto

Parte 1.

BIOQUÍMICA E METABOLISMO DOS MICRONUTRIENTES NA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL

Colangiografia per-operat seletiva ou não?

RESIDÊNCIA em CIRURGIA DIGESTIVA

POPULAÇÃO HUMANA ENGORDANDO

INDICADORES PROGNÓSTICOS DE MORTALIDADE EM FÍSTULAS ENTEROCUTÂNEAS PÓS-OPERATÓRIAS

CHEGOU UMA CRIANÇA NO PLANTÃO

Câncer GástricoG Estado Atual do Tratamento

Acta Gastroenterológica Latinoamericana ISSN: Sociedad Argentina de Gastroenterología Argentina

Estágio - Santa Cassa de Maceió de julho de Domingo Prova de Nutrição Clínica

Hemorragia Digestiva Alta Avaliação Inicial

Doença de Crohn. Grupo: Bruno Melo Eduarda Melo Jéssica Roberta Juliana Jordão Luan França Luiz Bonner Pedro Henrique

Biologia. Identidade dos Seres Vivos. Sistema Digestório Humano Parte 1. Prof.ª Daniele Duó

PLANILHA GERAL - CIRURGIA III 8º Período - 1º 2018

DISCIPLINA: RCG FISIOLOGIA II MÓDULO: FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO

FÍSTULAS ENTEROCUTÂNEAS PÓS-OPERATÓRIAS: ANÁLISE DE 39 PACIENTES

Tratamento Endoscópico de Deiscências de Anastomose Esofágica em Pacientes Oncológicos - Série de Casos

Fístulas Digestivas PACIENTE CIRÚRGICO

Guia Prático da Residência em Cirurgia Geral R1, R2 e R3

NUTRIÇÃO PARENTERAL PROLONGADA (NPP)

ASPECTOS ATUAIS DO TRATAMENTO CIRÚRGICO RGICO DA PANCREATITE CRÔNICA Curso Continuado de Cirurgia CBC

Guia Prático da Residência em Cirurgia Geral R1, R2 e R3

Móds. 48 e 49 Biologia B. Prof. Rafa

Prof a. Ms. Francine Perrone CONDUTA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO

NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL

VII Congresso Norte-Nordeste Nordeste de Gastroenterologia Teresina, 6 a 9 de junho de 2007

SISTEMA DIGESTIVO HUMANO (Parte 4)

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

II WORKSHOP INTERNACIONAL DE ATUALIZAÇÃO EM HEPATOLOGIA

HIPERÊMESE GRAVÍDICA. Msc. Roberpaulo Anacleto

Abscesso abdominal. Colégio Brasileiro de Cirurgiões XXVII Congresso Barasileiro de Cirurgia Belo Horizonte, 08 a 12 de Julho de 2007

Hemangiomas: Quando operar e quando observar Orlando Jorge M.Torres Nucleo de Estudos do Fígado F - UFMA

UNIP Profº Esp. Thomaz Marquez

ESTADO NUTRICIONAL DO PACIENTE EM TERAPIA NUTRICIONAL

PLANILHA GERAL - CIRURGIA III 8º Período 2º 2018

Dr. Fabio Del Claro. Hemorragias Digestivas Alta Parte I INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO. Dr. Fabio Del Claro. Hemorragias digestivas altas (HDA)

Metástase hepática

PLANILHA GERAL - CIRURGIA III 8º Periodo - 2º 2016

Pancreatite Aguda INCA. Antonio Carlos L. Campos. Universidade Federal do Paraná

Terapia Nutricional en Pancreatitis Aguda Qué Dicen las Guias?

Aulas Multimídias Santa Cecília. Profª Ana Gardênia

Móds. 29 ao 34 Setor Prof. Rafa

Características Nutricionais das Dietas Hospitalares. Juliana Aquino

PÂNCREAS ENDÓCRINO. Felipe Santos Passos 2011

Sumário. Anatomia funcional do trato gastrintestinal e dos órgãos que drenam nele 1

Desnutrição na Infância

Terapia Nutricional do Paciente Queimado

Sangramentos em Bypass Gástrico. Dr Roberto Rizzi Clinica Dr Roberto Rizzi Centro de Excelencia em Cirurgia Bariatrica - HMSL

ENFERMAGEM DOENÇAS GASTROINTESTINAIS. Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Organismos autótrofos - produzem o próprio alimento (ex: bactérias, cianobactérias, algas e plantas).

Terapia Nutricional nas Fístulas Digestivas

PROBLEMAS DIGESTÓRIO. Profº. Enfº. Esp. Diógenes Trevizan

Resolução CNRM Nº 11, de 10 de agosto de 2005

Processo Seletivo Unificado de Residência Médica 2017 PADRÃO DE RESPOSTAS ENDOSCOPIA

Terapia Nutricional Parenteral

PATOLOGIAS CIRÚRGICAS NO RECÉM-NASCIDO

Presença de necrose e presença de pus

ENFERMAGEM DOENÇAS GASTROINTESTINAIS. Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Os alimentos representam a fonte de matéria e energia para os seres vivos

10ª edição do Curso Continuado em Cirurgia Geral do CBCSP. Estado Atual do Tratamento da Hemorragia Digestiva Alta devida a Hipertensão Portal

Resultados da Validação do Mapeamento. Administrar medicamentos vasoativos, se adequado.

Adenocarcinoma da cárdia. ELIAS JIRJOSS ILIAS Departamento de Cirurgia Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paul0

Móds. 29 ao 34 Setor Prof. Rafa

MODELOS DE LAUDOS NORMAIS ESÔFAGO, ESTÔMAGO E DUODENO NORMAIS

Uso profilático de Antimicrobianos em Cirurgia. Adilson J. Westheimer Cavalcante Sociedade Paulista de Infectologia

Pré e Pós Operatório em Cirurgia de Cabeça e Pescoço

17/10/2010. Você tem certeza que isso é suficiente? Mirtallo et al., 2004; Sriram & Lonchyna, 2009; Visser, ANVISA, 2005; DRI Otten et al.

Gastrinoma. Departamento de Anatomia da UFPR Professor Adjunto de Anatomia Dr. Eduardo José B. Ramos.

A IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO EM SITUAÇÃO DE CATABOLISMO, STRESS METABÓLICO OU DOENÇA

SUS A causa mais comum de estenose benigna do colédoco e:

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA NO IDOSO

Tratamento das Deiscências (fístulas precoces) e Complicações raras

Sistema Digestório. Prof. MSc. Leandro Felício

Causas mais comuns em 85% dos casos: úlcera péptica varizes esofágicas diverticulose cólica angiodisplasia. Cirurgia necessária em 5-10% dos casos.

SISTEMA DIGESTÓRIO HUMANO

S I T E M A D I G E S T Ó R I O P R O F. ª L E T I C I A P E D R O S O

Sistema Gastrointestinal

Revisão Questões Discursivas. Rodrigo B. Callado

ENTENDA A OBESIDADE. Por Glauco A. Morgenstern CRM/PR 17071

EXAME CONTRASTADO TRÂNSITO INTESTINAL

QUESTÕES COMENTADAS HEMORRAGIAS DIGESTIVAS

Segurança e Manuseio de equipamentos de uso domiciliar

CUIDADOS COM CATETERES E SONDAS

NUTRIÇÃO PERGUNTA 1 JULGAMENTO ANULADA

SISTEMA DIGESTÓRIO HUMANO. Profª.: Jucimara Rodrigues

DIAGNÓSTICO DA ALIMENTAÇÃO HUMANA ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO

Para quê precisamos comer?

Complicações na Doença Inflamatória Intestinal

TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE GRAVEMENTE ENFERMO

RESOLUÇÃO CFM Nº 1.942/2010 (Publicada no D.O.U. de 12 de fevereiro de 2010, Seção I, p. 72)

Transcrição:

Jornada de Cirurgia do Hospital João de Barros Barreto Belém, 13 a 15 de Junho de 2007 Deiscências em anastomoses gastrointestinais Orlando Jorge M. Torres

Afastamento, após terem sido estes unidos artificialmente, dos planos anatômicos atingidos por uma incisão cirúrgica ou uma ferida. AURÉLIO Deiscência Leak Vazamento

Deiscência, vazamento O que vazou? Suco gástrico? Fezes? Quanto vazou? 5 ml 500 ml Para onde vazou? Para um recesso ou inter-al alça, formando uma coleção ão? Para a cavidade abdominal, com peritonite generalizada? Para a pele ou outros órgãos, formando fístula?

Importância Mortalidade Fístula enterocutânea 20% Berry et al, Surg Clin North Am, 1996, 76:1009-1018 1018 Peritonite pós-operatóriaria 50% Nathens et al, Surg Clin North Am, 1994, 74:677-692 Wittmann et al, Ann Surg, 1996, 2224:10-18 18

Fístula digestiva É a comunicação anormal entre o epitélio intestinal e a pele (fístula externa) ou em outro epitélio (fístula interna).

Fístula Pós-operatP operatóriaria Representa 75% a 85% das fístulasf Riscos específicos para o paciente Radioterapia prévia Desnutrição (peso; albumina <3,0g-dl;transferrina<200mg dl;transferrina<200mg-dl) dl) Infecção ou sepse Operação de emergência (hipotensão, hipotermia, anemia) Evenson AR, Fischer JE J Gastrointest Surg, 10:455-464, 464, 2006

Fases do manuseio Fase Objetivo Momento Reconhecimento e Ressuscitação (colóide ide-cristalóide-sangue) 24-48hs 48hs Estabilização Controle da sepse (drenagem-antibi antibiótico) tico) Reposição eletrolítica, tica, promover nutrição Proteção da pele Investigação Decisão Fistulograma (caracterizar a fístula) f 7-10 dias Avaliar fechamento espontâneo, etiologia, anatomia,débito da drenagem e tempo de tratamento conservador 10dias-6semanas Planejar abordagem operatória ria 4-66 semanas Refuncionalizar o intestino Ressecar e anastomosar fístulaf Fechamento abdominal Gastrostomia-jejunostomia ão Suporte nutricional contínuo nuo 5-10dias pós p s fechar Terapia definitiva Planejar abordagem operat Cicatrização Suplementação de zinco Evenson AR, Fischer JE. J Gastrointest Surg 10:455-464, 464, 2006

Fatores preditivos para fechamento espontâneo e mortalidade Fator Favorável vel Desfavorável vel Órgão de origem Esôfago, coto duodenal Estômago, Duodenal lateral pâncreas,v.biliar,jejuno,cólon lon Ligamento Treitz, Ileo Etiologia Débito Estado nutricional Bem nutrido (transf >200mg Sepse Estado do intestino Continuidade Doen pós-op,apendicite,diverticulite Neoplasia, D.inflamat.intest. Baixo débito d (<200-500ml 500ml-dia) Alto (>500ml-dia) Bem nutrido (transf >200mg-dl) Desnutrido (transf<200) Sepse Ausente Presente Continuidade Doença a intestinal Ausência de obstrução Obstrução distal,abscesso Intestino irradiado Alt. funcionamento intestinal stula Trajeto> 2cm Trajeto<1cm Fístula Miscelânea Operação na mesma instituição outra instituição corpo estranho Evenson AR, Fischer JE. J Gastrointest Surg 10:455-464, 464, 2006

Esôfago-gástrica cervical

Esôfago Alanezi K, et al. Ann Thorac Cardiovasc Surg 10:71-75,2004 75,2004

ANASTOMOSE ESÔFAGO-GÁSTRICA STRICA Relatos de séries INTRATORÁCICA LEAK (Sutura mecânica) Autor Ano % Vazamentos Kaplan 1988 03% Griffin 1995 1,4% Mueherke 1989 2,1%

ANASTOMOSE ESÔFAGO-GÁSTRICA STRICA INTRATORÁCICA LEAK Estudos não-randomizados comparativos Autor Ano N Mec. Man. Fok 1991 580 3,8% 05% Lee 1994 352 13% 33% McManus 1989 221 7,1% 17,2% Wong 1987 174 3,5% 3%

Esôfago Blewett CJ, et al. Ann Thorac Cardiovasc Surg 7:75-78,2001 78,2001

ANASTOMOSE ESÔFAGO-JEJUNAL GASTRECTOMIA TOTAL

ANASTOMOSE ESÔFAGO-JEJUNAL GASTRECTOMIA TOTAL Estudos não Randomizados LEAK Autor Ano N Mec. Man. Fujimoto 1991 379 03% 03% Celis 2001 367 4.1% NS 2.4%

Estabilização Ressuscitação Colóide, cristalóide, ide, sangue Controle da sepse Drenagem (percutânea, cirúrgica) rgica) Antibiótico tico Repouso intestinal Reposição hidroeletrolítica tica Promover nutrição Proteção da pele Suporte emocional Evenson AR, Fischer JE J Gastrointest Surg, 10:455-464, 464, 2006

Investigação Clínica História Exame físicof débito característica da secreção lesão da pele Endoscopia /colonoscopia

Investigação Imagem Azul de metileno via enteral Fistulografia fluoroscópica (origem, natureza, trajeto, continuidade intestinal, obstáculo distal, estenose, abscesso) Trânsito de delgado Clister opaco Ultrassonografia Tomografia computadorizada

Seriografia EGD Trânsito de delgado Clister opaco

Duodenopancreatectomia Aranha GV, et al. Surgery 2006;140:561-569 569

Duodenopancreatectomia Kazanjian KK, et al. Arch Surg 140: 849-855,2005 855,2005

Controle da sepse Primeiro objetivo (com ressuscitação) Tomografia computadorizada Derivações proximais (ostomias) Drenar abscessos Material para microbiologia Antibioticoterapia empírica Tratar infecções fúngicasf

Sepse Mortalidade N Mortalidade % Sepse 13 8 61,56 Sem sepse 26 1 3,8 8 < 0,05 p Torres OJM, et al Rev Col Bras Cir 29:359-363, 363, 2002

Controle da sepse Sriussadaporn S, et al Asian J Surg 2006;29:1-7

Suporte nutricional Desnutrido Falta de ingesta alimentar Hipercatabolismo da sepse Perda de conteúdo entérico rico em proteinas Avaliação do estado nutricional Avaliação subjetiva global à beira do leito Exames laboratoriais Análise antropométrica trica Análise de impedância bioelétrica de múltipla m frequência Evenson AR, Fischer JE J Gastrointest Surg, 10:455-464, 464, 2006

Suporte nutricional Tipo de nutrição Parenteral como parte integrante do manuseio Enteral primária ria isolada ou em combinação 20% do total de calorias via enteral mantém m integridade da barreira mucosa, bem como a função imunológica e humoral do intestino Demora em alcançar ar o objetivo de calorias por via enteral Prudente iniciar com parenteral e enteral Novas fórmulas:glutamina, f arginina, ácidos graxos ômega-3, nucleotídeos podem melhorar resposta imune Vitaminas e minerais (vitamina C e zinco;ácido cido fólico f e B12) Evenson AR, Fischer JE J Gastrointest Surg, 10:455-464, 464, 2006

Exames laboratoriais nos ratos do estudo Exame Grupo I Grupo C Grupo D Albumina (g/dl) 3,01 (0,26) 2,56 (0,50) 2,08(0,34) Glicemia (mg/dl) 102,85 (5,38) 133,62 (2,28) 50,12 (3,70) Leucócitos citos (N/dl) 17174 (917) 14309 (458) 12263 (616) Linfócitos (N/dl) 8651 (356) 6091 (579) 4685 (494) Hemoglobina (g/dl) 13,92 (0,83) 15,97 (0,91) 13,52 (1,07) Torres OJM, Campos AC, et al Rev Col Bras Cir 26:1-6, 6, 1999

Controle da drenagem Sonda nasogástrica strica Supressão ácida (Bloqueador H2 ou protônico) Octreotide Inibe secreção exócrina e endócrina de hormôios gastrointestinais (gastrina, secretina, colecistocinina, insulina, glucagon e VIP) Inibe secreção ácida gástrica, g pancreática exócrina, intestinal, motilidade e contratilidade da vesícula biliar Efeito rebote quando descontinuado, hiperglicemia, infusão venosa contínua nua Evenson AR, Fischer JE J Gastrointest Surg, 10:455-464, 464, 2006

Pacientes de risco elevado Perda de peso > 10% em pouco tempo (3-4 meses) Albumina sérica < 3g/dl Transferrina sérica < 220 mg/dl Fischer et al. Curr Probl Surg, 1994.

Obesidade Csendes A, et al. Rev Méd M d Chile 2006;134:849-854 854

Tratamentos atuais Draus JM, et al. Surgery 140:570-578,2006 578,2006

Princípios técnicos t para evitar fístulas f Intestino sadio Suprimento vascular adequado Preparo intestinal mecânico Antibiótico tico Anastomose sem tensão Drenos longe da anastomose Evitar hipotensão Preparo nutricional pré-operat operatóriorio

Obrigado!