CURSO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA LICENCIATURA EM BIOLOGIA KARINE BARROS DE ANDRADE DE AZEREDO BULIMIA E ANOREXIA FUNDAMENTOS BIOQUÍMICOS E CONSEQUÊNCIAS

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Transcrição:

CURSO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA LICENCIATURA EM BIOLOGIA KARINE BARROS DE ANDRADE DE AZEREDO BULIMIA E ANOREXIA FUNDAMENTOS BIOQUÍMICOS E CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES Campos dos Goytacazes/RJ 2013

KARINE BARROS DE ANDRADE DE AZEREDO BULIMIA E ANOREXIA FUNDAMENTOS BIOQUÍMICOS E CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos-Centro, como requisito parcial para conclusão do Curso de Ciências da Natureza, Licenciatura em Biologia. Orientadora: Dr Desiely Silva Gusmão Campos dos Goytacazes/RJ 2013

KARINE BARROS DE ANDRADE DE AZEREDO BULIMIA E ANOREXIA FUNDAMENTOS BIOQUÍMICOS E CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos-Centro, como requisito parcial para conclusão do Curso de Ciências da Natureza, Licenciatura em Biologia. Aprovada em 19 de setembro de 2013. Banca avaliadora:... Dr Desiely Silva Gusmão Doutora em Biociências e Biotecnologia/UENF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense/Campos-Centro... Natália Deus de Oliveira Crespo Doutora em Biociências e Biotecnologia/UENF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense/Campos-Centro... Esp. Salomão Brandi da Silva Especialização em Geografia e Educação Ambiental/Faculdade Filosofia Ciências e Letras Santa Marcelina Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense/Campos-Centro

Dedico a Deus, à minha família e ao meu namorado Elmo pela compreensão, carinho e paciência durante o desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço à Desiely Silva Gusmão e a Maria Amelia Ayd Corrêa por toda atenção, dedicação, paciência e ajuda na construção deste trabalho.

E fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade. Carlos Drummond de Andrade

RESUMO O padrão de corpo perfeito veiculado pela mídia e valorizado em demasia pela sociedade contemporânea gera exclusão dos que não se inserem em tais características. Muitos adolescentes buscam incessantemente alcançar esses padrões por meio de práticas muitas vezes inadequadas, como dietas restritivas ou medidas compensatórias, que acarretam transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia nervosas. O trabalho fez um levantamento de informações sobre os transtornos alimentares de uma maneira geral, aspectos nutricionais e incidência dos transtornos em adolescentes. Além disso, uma pesquisa foi realizada com alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Coronel João Batista de Paula Barroso, em Campos dos Goytacazes, através de um questionário, buscando acessar o conhecimento dos mesmos a respeito dos transtornos. Com base nas informações obtidas e levando em conta que a escola é o local ideal para a abordagem de um tema complexo como este, um plano de aula foi elaborado com a função de propiciar ao aluno o entendimento sobre a relação entre alimentação adequada e funções fisiológicas normais. A aula, além de permitir a integração de conteúdos de biologia, também tem a função de orientar os adolescentes para prevenção contra os transtornos. Palavras-chave: Transtornos Alimentares. Adolescentes. Saúde. Nutrição. Mídia.

LISTA DE QUADROS Quadro1: Fatores predisponentes de transtornos alimentares... 17 Quadro 2: Critérios para diagnóstico de anorexia nervosa e bulimia nervosa segundo o DSM IV... 20 Quadro 3: Diferenças clínicas entre anorexia e bulimia nervosas... 22 Quadro 4: Vitaminas, suas respectivas funções e fontes... 26 Quadro 5: Sais minerais e suas respectivas funções e fontes... 27 Quadro 6: Exemplo de cardápio de dieta dos líquidos... 32 Quadro 7: Neurotransmissores e hormônios que influenciam os centros da fome e da saciedade no hipotálamo... 37 Quadro 8: Complicações clínicas da Anorexia e Bulimia... 58

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Período para perda de peso estipulado por revistas não científicas... 29 Tabela 2: Análise de macronutrientes em dietas de revistas não científicas... 30 Tabela 3: Tipos de dietas da moda realizadas por pacientes do ambulatório de especialidade em nutrição no RS... 33 Tabela 4: Conhecimento dos jovens acerca do conceito de NA... 51 Tabela 5: Conhecimento dos jovens acerca do conceito de BN... 51 Tabela 6: Resultados do cálculo do IMC... 54

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Conhecimentos dos jovens sobre as consequências dos transtornos alimentares AN e BN... 52

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Centros de controle autonômico no encéfalo... 35 Figura 2: Resposta endócrina à hipoglicemia... 39 Figura 3: O metabolismo no estado de jejum... 48 Figura 4: Fórmula para calcular o IMC... 53 Figura 5: Site Só nutrição para cálculo do IMC... 53 Figura 6: Demonstração do cálculo de IMC, assim como classificação do estado nutricional de acordo com o site Só nutrição... 54

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 12 1 TRANSTORNOS ALIMENTARES: BULIMIA E ANOREXIA... 15 2 NUTRIÇÃO... 2.1 Alimentos calóricos e nutritivos... 2.2 Sinais que determinam a necessidade de ingestão de alimentos... 2.3 Quando o organismo não obtém os nutrientes necessários... 2.3.1 Efeito diário curto prazo... 2.3.2 Efeito no desenvolvimento longo prazo... 24 24 34 41 43 45 3 CONHECIMENTO DOS JOVENS SOBRE BULIMIA E ANOREXIA... 3.1 Conhecimento dos jovens sobre Bulimia e Anorexia... 3.2 Consequências desses transtornos para o adolescente... 49 49 55 4 AULA SOBRE TRANSTORNOS ALIMENTARES... 4.1 Construção do plano de aula... 61 64 CONCLUSÃO... 65 REFERÊNCIAS... 66 APÊNDICE... Plano de aula: transtornos alimentares... 72 72 ANEXO... Questionário para alunos... 74 74

INTRODUÇÃO O culto ao corpo é uma das características mais marcantes da sociedade contemporânea. Cresce dia a dia o número de cirurgias estéticas; as academias de ginástica são cada vez mais frequentadas por pessoas de todas as idades; o corpo torna-se objeto de consumo e substanciosos investimentos fazem as pessoas estarem em constante busca da imagem ideal. Ribeiro e Oliveira (2011, p. 64) abordam que É imperativo ser bonito, musculoso, magro e saudável como resultado do grande consumo da imagem. Jovens e adultos lançam mão de práticas agressivas consigo mesmos, sem conhecer seus malefícios, muitas vezes acarretando em transtornos alimentares (TAs). As mulheres, no decorrer da história, são apontadas como mais suscetíveis à imposição social pelo padrão ideal de beleza. Em relação a essa constante busca pela beleza Ribeiro e Oliveira destacam que Adolescentes, adultos jovens e idosos buscam uma imagem perfeita, não medindo consequências para o alcance dos seus objetivos. Tornam-se criaturas servis desse mundo de poder da imagem, e todos querem a melhor academia, a melhor roupa esportiva ou social, o perfume mais caro e importado, as grifes, o melhor carro e o melhor corpo; um corpo musculoso adquirido com o consumo de substâncias, sem gordura, com pele lisa, sem espinhas, sem estrias, sem rugas e até sem pelos. Essa é a chamada era da estética, muitas vezes com procedimentos sem nenhuma ética. (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2011, p. 64). Os principais tipos de transtorno são: anorexia nervosa (AN) e bulimia nervosa (BN). A primeira se relaciona à recusa da alimentação tendo como consequência perda de peso. A bulimia é caracterizada pela ingestão constante de grande quantidade de alimento seguido por um mecanismo compensatório que permite a eliminação do que foi ingerido, buscando-se assim o emagrecimento. Essa eliminação após a ingestão pode ocorrer por meio de vômito ou uso de laxantes, sendo o primeiro o mais comum (BORGES et al., 2006, p. 340). A ocorrência desses transtornos em adolescentes gera grandes prejuízos aos mesmos, já que muitas alterações ocorrem em nível de funcionamento do organismo. Portanto, esses desvios na conduta alimentar ocasionam danos no desenvolvimento dos jovens. A puberdade é um período de grandes modificações biológicas, e essas requerem nutrientes para sua ocorrência, portanto, restrições alimentares inadequadas resultam em processos graves. Muitas informações distorcidas são veiculadas pelos meios de comunicação e chegam aos adolescentes, que sem conhecimento, se deixam persuadir pelas mesmas. Muitos acreditam que a saúde se relaciona à magreza; ter o corpo saudável é estar

13 extremamente magro, mas este conceito de saúde é incorreto. Para ser saudável, do ponto de vista nutricional, é necessário fornecer ao organismo nutrientes que o permitam realizar suas funções biológicas. Logo, informação adequada se faz necessária para o correto entendimento do assunto pelos jovens. Mostrar a importância de manter um corpo saudável, os prejuízos de certas práticas inconsequentes, discutir e informar para prevenir doenças como AN e BN é fundamental. A escola tem importante papel no que diz respeito à informação dos jovens, a construção do conhecimento e a aprendizagem, além do exercício do pensamento crítico. É aconselhável que a escola aborde temas cotidianos relevantes, que o auxiliem na definição de uma postura consciente e responsável diante de situações diversas. Para a abordagem de qualquer tema é esperado que o professor tenha domínio do assunto, a fim de atender a maioria das questões levantadas pelos alunos. Os temas AN e BN são abordados amplamente em artigos e livros especializados. Em alguns livros de Ensino Médio, os temas não são abordados, cabendo ao professor providenciar material auxiliar contendo quais informações. O tema em questão, quando abordado nas aulas de Biologia, é transmitido de forma breve, sendo insuficiente para gerar conhecimento. Esta realidade não está de acordo com a natureza do tema que, além de ser de extrema importância é um assunto contextualizador que pode promover a integração de conteúdos da biologia. Além de abordar comportamento alimentar, que associa nutrição e metabolismo, também evoca suas consequências na fisiologia humana. Rodrigues e Roncada, acerca do conhecimento sobre nutrição adequada e conscientização da importância da nutrição correta, afirmam que. A educação nutricional é um dos caminhos existentes para a promoção da saúde, que leva a população a refletir sobre o seu comportamento alimentar a partir da conscientização sobre a importância da alimentação para a saúde, permitindo a transformação e o resgate dos hábitos alimentares tradicionais (RODRIGUES; RONCADA, 2008, p. 317). Os TAs como a AN e BN, aqui trabalhados, representam condição oposta ao bom funcionamento do organismo, já que, por meio deles os jovens eliminam as práticas de alimentação saudável e passam a vivenciar uma deficiência de nutrientes, fator que, por sua vez, condiciona graves efeitos ao organismo. Alterações diversas aparecem em vários sistemas, como o cardiovascular e o endócrino, dentre muitos outros. Jovens que estão informados e possuem conhecimento em relação aos transtornos bulimia e anorexia nervosa apresentam menores chances de se envolver nessas práticas já que,

14 percebendo as graves consequências desses transtornos ao seu organismo podem evitá-los. A escola, então, pode auxiliar nesta perspectiva. Zancul e Oliveira destacam a importância da escola nesse contexto quando mencionam que A escola, local onde muitas pessoas vivem, aprendem e trabalham, é um espaço no qual programas de educação e saúde podem ter grande repercussão, atingindo os estudantes nas etapas influenciáveis de sua vida, quais sejam, a infância e adolescência. Na escola, onde crianças e jovens passam grande parte de seu dia, as ações de orientação de promoção da saúde são importantes meios de informação. (ZANCUL; OLIVEIRA, 2007, p. 224). Neste trabalho objetivou-se fazer um levantamento bibliográfico sobre anorexia e bulimia, levando-se em conta as definições desses transtornos, causas e consequências em relação à ocorrência em jovens, além dos aspectos bioquímicos das mesmas. A pesquisa também trouxe uma investigação de conhecimento sobre o tema, baseada num conciso grupo de estudantes de nível médio do Colégio Estadual Cel. João Batista de Paula Barroso. Com base nas informações levantadas, um plano de aula foi construído e disponibilizado.

15 1 TRANSTORNOS ALIMENTARES: Bulimia e anorexia O culto ao corpo é uma característica comportamental humana cada vez mais proeminente na sociedade contemporânea. Os procedimentos estéticos, assim como os estabelecimentos para atenderem essa busca incessante pela aparência desejada, como academias e clínicas, estão se expandindo intensamente; o corpo tornou-se objeto de investimento, e todo meio que direcione ao corpo idealizado passa a ser utilizado. Na maioria das vezes, as formas de atingir a aparência imposta socialmente podem resultar em sérios prejuízos à saúde. Conforme afirmam Ribeiro e Oliveira (2011, p. 64) Hoje, vive-se um momento do culto exagerado ao corpo e à estética: as cirurgias plásticas triplicaram no país; observa-se um aumento dos frequentadores de academias físicas; e nunca venderam tanto cosméticos e produtos para emagrecer, apesar da crise econômica. As mulheres, no decorrer da história, são apontadas como mais suscetíveis em relação às imposições estéticas como a busca pelo corpo belo, sendo este, na atualidade, sinônimo de magro. Jovens e adultos utilizam formas insalubres para atingir este objetivo, estando muitas vezes associadas ao desenvolvimento do quadro de distorção da imagem corporal. Essa distorção pode culminar na ocorrência de TAs. De acordo com Flor (2009, p. 268), A mídia apresenta grande influência sobre adolescentes que são os principais consumidores de suas propagandas. Por meio dela são veiculados estereótipos e os mesmos devem ser alcançados para que o sujeito sinta-se inserido na sociedade. Consequentemente, a mídia interfere na formação da identidade dos adolescentes já que, segundo Del Ciampo e Del Ciampo (2010, p. 56) produz modelos de vida, de consumo e de comportamento, divulga informações e debate temas que certamente influenciam a vida de todos. Hercules e Dinis, em seus estudos sobre a influência da mídia na construção do corpo das adolescentes, afirmam: Os discursos produzidos pela mídia sobre a estética dos corpos, bem como sobre as representações sociais do masculino e do feminino, que produzem nossas identidades de gênero, são consumidos com velocidade, pois existe uma necessidade de sentir-se parte de uma sociedade, de fazer-se presente e integrado. Pode-se perceber que tudo o que é veiculado pela mídia passa a ser também tema de discussão no ambiente escolar, sendo que a adolescência torna-se um dos principais públicos alvo das vendas mercadológicas, afinal a sociedade está pautada em uma relação de produtos e consumo que enfatiza a exploração do corpo eternamente jovem. (HERCULES; DINIS, 2011, p. 81).

16 Ainda, para Hercules e Dinis (2011, p. 81), a mídia torna-se um elemento de formação cultural com igual ou maior presença do que a formação escolar em alguns aspectos, pois é por meio desta, por exemplo, que novos discursos sobre nossa relação com o corpo são produzidos. A propagação do ideal de corpo magro conduz a baixa autoestima em indivíduos que se sentem excluídos deste padrão. Conforme ressaltam Jorge e Vitalle (2008, p. 58), A sociedade atual, com a valorização e o culto à magreza, faz da obesidade condição altamente estigmatizada e rejeitada, levando grande parte das pessoas à busca frenética do corpo ideal. Ainda sobre a supervalorização do magro, Del Ciampo e Del Ciampo (2010, p. 56) dizem que a adolescência atual é marcada pela insatisfação com o próprio corpo e ainda que A sociedade transformou o corpo em objeto de manipulação e de desejos, valorizando a magreza entre as mulheres e a força entre os homens. Em consequência, alguns jovens, principalmente, buscam inconsequentemente esses estereótipos. Hercules e Dinis (2011, p. 82) mencionam que a incapacidade de adquirir o corpo ideal veiculado pela mídia gera patologias. Os TAs, de acordo com suas características diagnósticas, podem ser separados em três classes: anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN) e transtornos alimentares sem outra especificação (TASOE) (LOFRANO-PRADO et al., 2011, p. 580). Apenas anorexia nervosa e a bulimia nervosa serão abordadas neste trabalho. Cordás, Salzano e Rios (2004, p. 50) destacam que o termo bulimia é proveniente do grego, bous (boi), bou (grande quantidade) e ainda o termo limo (fome), ou seja, uma fome exagerada capaz de levar o indivíduo a comer um boi. Jorge e Vitalle (2008, p. 59) abordam que, etimologicamente, o termo anorexia deriva do grego an-, deficiência ou ausência de, e orexis, apetite. A AN se relaciona à distorção da imagem corporal, ou seja, há diferença entre o que o indivíduo vê e o que é real, e então há recusa da alimentação tendo como consequência perda de peso (BORGES et al., 2006, p. 341). Ribeiro e Oliveira (2011, p. 65) ressaltam que a AN é um TA perigoso, o qual a mortalidade é de aproximadamente 15%. O começo ocorre entre 13 e 17 anos, sendo nove vezes mais frequente em meninas. Em relação à distorção corporal presente na anorexia Lofrano-Prado et al. ressaltam que A distorção está presente no transtorno dismórfico corporal, pois há exagerada preocupação com uma determinada parte do corpo; e nos transtornos alimentares, sendo a forma e o tamanho corporal grandes focos de conflito. (LOFRANO-PRADO et al., 2011, p. 580). AN e BN são caracterizadas, segundo Borges et al., da seguinte maneira:

17 Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas caracterizadas por graves alterações do comportamento alimentar e que afetam, na sua maioria, adolescentes e adultos jovens do sexo feminino, podendo originar prejuízos biológicos, psicológicos e aumento da morbidade e mortalidade. (BORGES et al., 2006, p. 340). Para Jorge e Vitalle (2008) a etiologia desse tipo de transtorno é multifatorial, ou seja, diversos fatores associados interagem, como biológicos, socioculturais, psicológicos, familiares e individuais podendo ocasionar TAs. Em relação a esses fatores Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002) apontam que: Classicamente, distinguem-se os fatores predisponentes, precipitantes e os mantenedores dos TA. Os fatores predisponentes são aqueles que aumentam a chance de aparecimento do TA, mas não o tornam inevitável. Os fatores que precipitam a doença marcam o aparecimento dos sintomas dos TA. Finalmente, os fatores mantenedores determinam se o transtorno vai ser perpetuado ou não. (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002, p. 18). Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002, p. 19) destacam que dentre os fatores predisponentes estão os individuais que incluem, por exemplo, tipos de personalidade. Destacam ainda, os familiares, como a hereditariedade, e socioculturais, englobando a cultura do corpo magro (Quadro 1). Quadro 1: Fatores predisponentes dos transtornos alimentares, bulimia nervosa e anorexia nervosa FATORES PREDISPONENTES Baixa auto-estima Traços de Personalidade Traços obsessivos e perfeccionistas (AN) Impulsividade instabilidade (BN) e afetiva INDIVIDUAIS Depressão História de Transtornos Psiquiátricos Transtornos da ansiedade (AN) Dependência substâncias (BN) de

18 Tendência à Obesidade- Alterações da Neurotransmissão Eventos Adversos Vias noradrenérgicas Vias serotoninérgicas Abuso sexual FAMILIARES SÓCIO-CULTURAIS Agregação Familiar Hereditariedade Padrões de Interação Familiar Ideal Cultural de Magreza Rigidez, intrusividade e evitação de conflitos (AN) Desorganização e falta de cuidados (BN) Fonte: Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002, p. 19). AN, fatores apenas relacionados a anorexia nervosa; BN, fatores apenas relacionados a bulimia nervosa. Dentre os fatores precipitantes, podem ser mencionados dietas e eventos estressores. Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002, p. 21) relatam que a dieta isoladamente não é capaz de levar a transtornos alimentares. Ela precisa se associar a outros fatores de risco como os mencionados no Quadro 1 para desenvolver o transtorno. Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002, p. 21) ainda abordam que a restrição alimentar favorece a ocorrência de compulsões alimentares caracterizando a bulimia nervosa. Apesar disso algumas pessoas aumentam a restrição sem desenvolver a compulsão e desenvolvem um quadro de desnutrição. A relação entre situações de estresse e a ocorrência dos TAs varia de acordo com a reação de cada indivíduo a tais situações. (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002, p. 21). Yarzón e Giannini (2010, p. 40) relataram, em seu estudo de caso sobre a abordagem clínica e nutricional da AN, que, na maioria dos casos, os pacientes relatam que o início do quadro se desenvolveu após um evento estressante, como algum comentário sobre seu peso, o término de um relacionamento, ou ainda a perda de ente querido. Em relação a fatores que atuam na manutenção da doença pode-se associá-los às alterações fisiológicas e psicológicas que surgem em decorrência dos transtornos em questão. Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002, p. 21) mencionam como fatores mantenedores de caráter fisiológico, o papel da restrição alimentar no desencadeamento de episódios de compulsão alimentar e o impacto adverso de episódios bulímicos sobre o metabolismo da glicose e insulina. Algumas alterações fisiológicas aparecem em função do desenvolvimento dos transtornos. Confirmando esta abordagem Morgan, Vecchiatti e Negrão relatam:

19 Observou-se um aumento significativo da glicemia de jejum no dia seguinte a um episódio bulímico experimental, além de um aumento ainda maior da resposta de insulina durante o teste bulímico quando comparados aos valores obtidos durante três dias de refeições normais. (MORGAN; VECCHIATTI, NEGRÃO, 2002, p. 21). Como fator mantenedor de natureza psicológica Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002, p. 21) destacam a ocorrência de pensamentos obsessivos sobre comida, que reforçam a necessidade inicial de controle. Ribeiro e Oliveira (2011, p. 65) ainda relatam que a AN atinge mulheres, pré-púberes, adolescentes e adultas, e também homens, mas com menor frequência. Cordás, Salzano e Rios (2004) relatam que a anorexia tem início, de forma geral, a partir de uma dieta realizada pela insatisfação com peso e imagem corporal. Caracterizando a distorção da imagem corporal, Cordás, Salzano e Rios (2004) destacam que frequentes consultas ao espelho mostram ao paciente um corpo gordo e alguns locais mais acentuados apesar da perda de peso. Como estratégia de disfarçar essa falsa percepção de gordura os pacientes utilizam roupas largas. Há um manual que lista critérios para o diagnóstico da AN e BN, baseado na Associação Americana de Psiquiatria, o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM IV). Tais critérios podem ser observados no Quadro 2. Esse manual distingue dois subtipos de AN como apontam Yarzón e Giannini (2010) O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV descreve dois subtipos de AN para distinguir a presença ou ausência de compulsões periódicas ou purgações regulares durante o episódio atual de anorexia. O tipo restritivo é quando o emagrecimento ocorre em virtude de dietas, jejuns ou exercícios em excesso. O tipo compulsão periódica purgativa ou bulímica ocorre quando o indivíduo recorre regularmente a purgações que incluem vômitos autoinduzidos e abuso de laxantes ou de diuréticos. (YARZÓN; GIANNINI, 2010, p. 40). Acerca do diagnóstico da AN, Yarzón e Giannini (2010, p. 40) relatam que antes desta etapa é necessário averiguar se o quadro observado não se trata, por exemplo, de doenças gastrointestinais (síndrome da artéria mesentérica superior) e consumptivas (AIDS, câncer), depressão e esquizofrenia.

20 Quadro 2: Critérios para diagnóstico da anorexia nervosa e bulimia nervosa segundo o DSM IV Anorexia nervosa Bulimia nervosa 1. Recusa em manter o peso corporal dentro ou acima do mínimo adequado a idade e a altura: perda ponderal que induz a manutenção do peso corporal inferior a 85% do esperado, ou índice de massa corporal (IMC) menor ou; igual a 17,5 kg/m². 2. Medo intenso de ganhar peso ou tornar-se obeso, mesmo se abaixo do normal 1. Episódios recorrentes de compulsão alimentar que pode ser caracterizada por: a) comer, em um período de duas horas, grande quantidade de alimentos; b) sentimento de perda de controle alimentar durante o episódio 2. Comportamento compensatório para prevenir o ganho de peso: vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes, diuréticos, enemas ou outras drogas (cafeína; cocaína), jejum ou exercícios excessivos. 3. Distúrbio da imagem corporal 3. A compulsão alimentar e comportamentos compensatórios ocorrem duas vezes/ semana, por, pelo menos, três meses 4. Amenorréia em mulheres pós menarca (ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos) Subtipos: Restritivo: restrição dietética Compulsivo/ Purgativo: ingestão excessiva/ vômitos, laxativos, diuréticos. Fonte: Adaptado Borges et al. (2006, p. 343). 4. Preocupação excessiva com a forma corporal e o peso 5. O distúrbio não ocorre durante os episódios de anorexia nervosa Subtipos: Purgativo: vômitos ou abuso de laxativos, diuréticos e enemas Não purgativo: jejum ou exercícios excessivos Apollinário e Claudino explicitam que: O vômito auto-induzido ocorre em cerca de 90% dos casos, sendo portanto, o principal método compensatório utilizado. O efeito imediato provocado pelo vômito é o alívio do desconforto físico secundário à hiperalimentação e principalmente a redução do medo de ganhar peso. A sua frequência é variável, podendo ser de um até 10 ou mais episódios por dia, nos casos mais graves (APOLLINÁRIO; CLAUDINO, 2000, p. 30). De acordo com Borges et al. (2006), a compulsão seguida dos métodos compensatórios traz satisfação e alívio momentâneos. Cordás, Salzano e Rios (2004) declaram que o indivíduo com BN acredita ter encontrado a maneira correta de manter o peso sem haver a necessidade de evitar os alimentos considerados proibidos. Além disso, pode estar relacionada à ocorrência de dietas para emagrecer conforme esclarece Apollinário e Claudino quando citam que:

21 O episódio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no decorrer de uma dieta para emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando o ciclo compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre em todo tipo de situação que gera sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio, solidão) (APOLLINÁRIO; CLAUDINO, 2000, p. 29). Alvarenga e Scagliusi (2010, p. 908) caracterizam a BN por um ciclo constituído por dieta, compulsão e purgação, com padrão alimentar descrito como caótico e bizarro. Pacientes com BN apresentam uma visão distorcida sobre o que seria uma alimentação saudável, associando essa alimentação à restrições. Esse é um dos motivos responsáveis pelos episódios de compulsão. Segundo Alvarenga e Scagliusi (2010, p. 910) para os pacientes a restrição alimentar é vista como única condição saudável, assim eles não se permitem ingerir alimentos demasiadamente calóricos, mas que proporcionam muito prazer, como o chocolate. Em relação aos aspectos clínicos possuem significativa diferença apesar de a BN se confundir com a AN do tipo purgativo. A diferença está no peso corporal, na AN ele é abaixo do normal e na BN é normal ou acima do normal. O Quadro 3 traz um paralelo entre as diferenças nos quadros clínicos de AN e BN. De acordo com Assumpção e Cabral (2002, p. 32), as complicações clínicas da AN e BN são variadas e estão relacionadas, principalmente, com o grau de perda de peso corporal e com os métodos compensatórios utilizados pelos pacientes. Borges et al. (2006, p. 343) distinguem que as complicações clínicas relacionadas à AN acontecem em função da carência de nutrientes disponíveis. Já na BN as complicações clínicas aparecem mais frequentemente e apresentam relação com o distúrbio hidroeletrolítico. Nutrição, crescimento e desenvolvimento são fenômenos que estão interligados e essa conexão é fundamental para crianças e adolescentes. Eisenstein et al. afirmam que: As relações entre nutrição, crescimento e desenvolvimento são essenciais na vida de todas crianças e adolescentes, pois comer, crescer e desenvolver são fenômenos diferentes em sua concepção fisiológica, mas totalmente interativos, interdependentes e inseparáveis, expressando a potencialidade do ser humano. (EISENSTEIN et al., 2000, p. 264).

22 Quadro 3: Diferenças clínicas entre anorexia e bulimia nervosas Diferenças clínicas entre anorexia e bulimia Anorexia nervosa Bulimia nervosa Vômitos auto-induzidos no subtipo purgativo ou bulímico Vômitos auto-induzidos no subtipo purgativo ou bulímico Abuso de diuréticos ou laxantes no subtipo purgativo ou bulímico Abuso de diuréticos ou laxantes no subtipo purgativo Perda de peso grave Menor perda de peso, peso normal ou acima do normal Grave distorção da imagem corporal Quando existe é menos acentuada Maior incidência aos 16 anos Maior incidência aos 20 anos Mais introvertidas Mais extrovertidas Negam fome Referem fome O comportamento alimentar é considerado normal pelo paciente e o desejo de controle de peso, justo e adequado Sexualmente inativas O comportamento é motivo de vergonha, culpa, e há desejo de ocultá-lo Mais ativas sexualmente Amenorréia Menstruação variando de irregular à normalidade Traços obsessivos de personalidade podem estar presentes Traços histriônicos e borderline podem estar presentes Comorbidade com doenças afetivas Comorbidade com doenças afetivas e abuso de álcool e drogas Transtornos ansiosos Impulsividade Impulsividade no subtipo purgativo Fonte: Borges et al. (2006, p. 344) Adaptado: Philippi, S.T. et al., 2004. Assumpção e Cabral (2002) realizaram estudos acerca das complicações clínicas da anorexia nervosa e bulimia nervosa e destacaram diversas alterações que ocorrem no organismo em decorrência de tais doenças, por exemplo, metabólicas, endócrinas, ósseas de crescimento, hematológicas, hidroeletrolíticas, cardiovasculares. De acordo com Appolinário e Claudino (2000, p. 29), por sua etiologia multifatorial, a AN é apresenta difícil tratamento. O tratamento se baseia na integração das várias áreas médicas, psicológica e nutricional. Alvarenga e Scagliusi (2010, p. 908) mencionam, em seus estudos sobre o tratamento nutricional da bulimia nervosa, que a American Dietetic Association estabeleceu diretrizes básicas para o tratamento nutricional dos transtornos alimentares, contendo uma fase inicial

23 de educação nutricional e uma fase seguinte de aconselhamento objetivando modificar comportamentos e atitudes alimentares. Sobre essas etapas do tratamento nutricional dos transtornos Alvarenga e Scagliusi destacam que A educação nutricional proposta para esses pacientes englobará tópicos presentes em programas de nutrição clássicos, como alimentação balanceada, pirâmide dos alimentos, necessidades nutricionais. Já o aconselhamento nutricional é uma abordagem muito específica, na qual técnicas cognitivo-comportamentais, interacionais, relacionais, educacionais e de entrevista motivacional são utilizadas para acessar crenças, sentimentos e comportamentos disfuncionais dos pacientes e para ajudá-los numa jornada de mudanças (ALVARENGA; SCAGLIUSI, 2010, p. 912).

24 2 NUTRIÇÃO 2.1 Alimentos calóricos e nutritivos Alimentos são definidos, segundo Sizer e Whitney (2003, p. 2), de acordo com uma perspectiva clínica, como qualquer substância que o corpo ingere e absorve e que o manterá vivo e em crescimento. De acordo com Tortora (2004, p. 463), os nutrientes podem ser definidos como compostos químicos que ocorrem nos alimentos e são utilizados pelo organismo para o funcionamento corporal. Alimentação é a maneira pela qual se adquiri nutrientes e energia para que o organismo possa desempenhar com eficácia suas funções. Portanto, uma alimentação adequada, ou seja, que esteja equilibrada e direcionada às necessidades do organismo é fundamental, já que dessa forma haverá promoção da saúde evitando a ocorrência de algumas doenças. Como afirmam Lobo et al. (2005, p. 110), a nutrição é considerada um aspecto importante na vida do indivíduo, pois bons hábitos alimentares como ingestão de quantidades ideais de alimentos podem significar corpo e mente saudáveis. Dutra et al. (2007, p. 18) destacam que os nutrientes que fornecem energia são denominados macronutrientes, e existem os micronutrientes que não são fonte de energia, mas são importantes em todos os processos biológicos. As vitaminas e minerais como ferro e cálcio são exemplos desses micronutrientes e podem ser encontrados em diferentes alimentos de origem animal e vegetal. Os nutrientes podem ser essenciais e não-essenciais. Segundo Dutra et al. (2007, p. 18), os nutrientes não-essenciais são aqueles sintetizados pelo organismo, diferentemente dos essenciais que precisam ser adquiridos por meio da alimentação. Os nutrientes são incorporados ao organismo a partir de um processo biológico denominado digestão. Este processo consiste na degradação de macromoléculas contidas nos alimentos, para liberação e absorção dos seus constituintes. Dutra et al. complementam que O organismo humano se encarrega de transformar os alimentos ingeridos em nutrientes pelo processo conhecido como digestão. Esse processo se inicia a partir do momento em que o alimento é colocado na boca e vai até a eliminação de partes não aproveitáveis pelo organismo. (DUTRA et al., 2007, p.18).

25 A unidade de medição de energia dos alimentos é a Kilocaloria (Kcal) ou Caloria (Cal), portanto, a carga energética do alimento é quantificada em kilocalorias. O conhecimento acerca desses valores permite equilibrar a ingestão alimentar ao gasto energético, ingerindo assim a quantidade de energia necessária ao bom desempenho fisiológico do organismo (TORTORA, 2004, p. 473). Os nutrientes se subdividem em seis classes da seguinte maneira: água, carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas e minerais. Os carboidratos da mesma forma que os lipídeos são responsáveis por fornecer energia ao organismo, entre outras funções. As proteínas, quando necessário, também o fazem. Em relação aos fornecedores de energia Seyffarth afirma que: Os principais grupos fornecedores de calorias são os macronutrientes: carboidratos, proteínas e gorduras. Os carboidratos e as proteínas, quando totalmente metabolizados no organismo, geram 4kcal de energia por grama, enquanto as gorduras, 9 kcal. (SEYFFARTH, 2006, p. 5). A água não gera energia, mas é componente essencial para a manutenção do organismo, já que constitui a maior parte do mesmo e apresenta funções fundamentais exemplificadas por Tortora (2004), como: funcionar como solvente, atuar em reações de hidrólise, ser um lubrificante, possuir capacidade de resfriamento e auxiliar na constância da temperatura corporal. Além desta existem outros nutrientes importantes para o organismo conforme destaca Seyffarth: [...] outros nutrientes, como vitaminas e minerais não geram energia, ocorrem em quantidades diminutas nos alimentos, mas são de extrema importância para o organismo, pois têm funções específicas e vitais nas células e nos tecidos do corpo humano. ( SEYFFARTH, 2006, p. 5). Segundo Seyffarth (2006, p. 5), recomenda-se a ingestão diária de carboidratos de 50% a 60% do valor calórico total. Eles são de origem vegetal e podem ser encontrados nos amidos e açúcares com exceção da lactose do leite e do glicogênio do tecido animal. Ao ingerir uma quantidade excessiva desses macronutrientes o organismo os transformam em substâncias que possam ser armazenadas pelo corpo para uso futuro. Assim como destacam Dutra et al. (2007), o excesso de carboidratos é transformado em lipídeos, a fim de armazenar energia para posteriores necessidades. Como é ressaltado por Nelson e Cox (2002, p. 280), os lipídeos são biomoléculas que possuem como característica a insolubilidade em água e, portanto, são compostos

26 hidrofóbicos. Dentre suas funções pode-se mencionar, o armazenamento de energia, a estruturação de membranas biológicas, atuam ainda como co-fatores, hormônios, agentes emulsificantes e mensageiros intracelulares. As proteínas são caracterizadas Eisenstein e Coelho (2004) como moléculas de função plástica, que possibilitam o crescimento e o desenvolvimento essencial do organismo, incluindo a regeneração dos tecidos. De acordo com Dutra et al. (2007), as proteínas também tem função de defesa, hormonal, enzimática, dentre outras;, e estão presentes nos músculos, ossos, cabelos, sangue, pele, entre outros. Essas biomoléculas são compostas por aminoácidos, monômeros constituídos por uma parte comum a todos eles e uma parte variável, os radicais, que diferenciam um aminoácido do outro. Existem vinte aminoácidos distintos que se combinam para formar a enorme variedade de proteínas. Os alimentos ricos em proteínas podem ser disponibilizados em diversas fontes. Sobre essas é pertinente dizer que as principais fontes de proteínas animais e vegetais, como carnes, aves, peixes, leite, soja, grãos e sementes, leguminosas e cereais, fornecem 20% a 25% das calorias totais e devem ser consumidas em duas a três porções ao dia (EISENSTEIN; COELHO, 2004, p. 20). As vitaminas desempenham importante papel nas funções de crescimento, de defesa do organismo, bem como, regulação das funções celulares. Dutra et al. (2007) mencionam que a falta e o excesso de vitaminas podem causar distúrbios nutricionais e problemas de saúde decorrentes da má nutrição. Existe uma variedade de vitaminas com funções diversas. O Quadro 4 apresenta algumas vitaminas e algumas de suas funções. Quadro 4: Vitaminas, suas respectivas funções e fontes VITAMINA Vitamina A Vitaminas do Complexo B EXEMPLO DE FUNÇÃO Bom funcionamento da visão. Funcionamento do sistema nervoso, metabolismo dos nutrientes e produção de células do sangue (hemácias). FONTE Gema de ovo, fígado Carnes em geral, cereais integrais, fígado, brócolis, couve, espinafre, batatas, banana, abacate e outras hortaliças e frutas. Vitamina C Proteção e resistência a Laranja, limão, acerola,

27 Vitamina D Vitamina E Vitamina K Fonte: Dutra et al. (2007, p. 23). doenças. Formação e desenvolvimento de ossos e dentes. Proteção e formação de células. Possibilita a cicatrização de ferimentos. caju. Leite integral, manteiga, gema de ovo. Carnes, amendoim, nozes. Fígado, brócolis, couve, espinafre, ovos. Os sais minerais, da mesma forma que as vitaminas, possuem funções importantes e variadas. O Quadro 5 apresenta alguns sais minerais que devem ser obtidos através da alimentação. Segundo Seyffarth (2006), os sais minerais são necessários para o crescimento, reprodução e manutenção do equilíbrio entre as células; fazem parte de tecidos e estão envolvidos na contração muscular e na transmissão dos impulsos nervosos. A quantidade de ingestão dos minerais varia de acordo com características individuais como afirma Dutra et al. a seguir A necessidade de minerais pode variar de acordo com o indivíduo: pessoas que praticam atividade física intensa podem eliminar grandes quantidades de minerais pelo suor e/ou pela urina, aumentando suas necessidades diárias; pessoas com problemas nos rins podem ter dificuldades para excretar alguns minerais, o que requer uma redução na ingestão destes. (DUTRA et al., 2007, p. 24). Quadro 5: Exemplos de sais minerais e algumas funções e fontes MINERAIS Ferro Cálcio Sódio EXEMPLO DE FUNÇÃO Transporte do oxigênio que respiramos e formação de células do sangue. Movimento (contração) de músculos e formação e manutenção de ossos e dentes. Controle da quantidade de líquidos no corpo. FONTE Carnes bovina, suína, frango, peixes, miúdos, leguminosas, como feijão e soja, e algumas hortaliças: couve, espinafre, brócolis. Leite e derivados, couve, brócolis, salsa. Carnes em geral, sal de cozinha, temperos e sopas industrializados.

28 Potássio Transmissão de mensagens pelo sistema nervoso. Banana, melão, laranja, maçã, tomate, agrião e outras frutas e hortaliças. Iodo Formação de hormônios. Frutos do mar (camarão, mexilhão etc.), sal iodado de cozinha Fonte: Dutra et al. (2007, p. 24). A alimentação é um fenômeno que envolve diversos aspectos como fatores emocionais, socioculturais, econômicos e, portanto, sofre tais influências, portanto Einstein e Coelho afirmam que Crescer e se alimentar implica estabelecer relações, fazer escolhas, identificar-se ou não com modelos e valores familiares ou de outras pessoas, adaptar-se bem ou mal aos padrões estabelecidos e conviver com hábitos, horários e diversos estilos de vida. (EISENSTEIN; COELHO, 2004, p. 18). Uma alimentação de qualidade se relaciona à manutenção de um equilíbrio na ingestão dos diversos nutrientes. Se alimentar bem, não possui vínculo com o fato de ingerir grande ou pouca quantidade de alimento, mas de ingerir a quantidade adequada dos alimentos adequados. Essa constitui uma atitude fundamental para a manutenção da saúde, principalmente nas fases de crescimento. Eisenstein e Coelho (2004, p. 18) destacam que cuidar do corpo que cresce é aprender a escolher melhor os alimentos para manter um equilíbrio nutricional entre ganhos e perdas calóricas. Eisenstein e Coelho (2004, p. 18) ainda ressaltam que desequilíbrio na ingestão e no gasto de energia provoca alterações na saúde dos adolescentes e problemas como excesso ou perda de peso, desnutrição aguda e crônica, AN dentre outros. A adolescência é um período caracterizado por intensas modificações físicas, que permitem o amadurecimento do corpo e para que tais alterações ocorram de maneira eficaz é preciso fornecer ao organismo os nutrientes de forma equilibrada. Como afirmam Jacobson, Eisenstein e Coelho (1998), a adolescência é um tempo de rápido e intenso crescimento e desenvolvimento físico, psíquico e social, demandando um aumento das necessidades nutricionais. Caram e Lomazi (2012, p. 22) destacam na adolescência que o hábito alimentar reflete valores da família, amigos e mídia. A mídia apresenta importante papel no que diz respeito a conduta alimentar, já que induz a busca pelo corpo ideal, pela magreza por meio de dietas que muitas vezes não são adequadas. Desta forma, a mídia pode contribuir aumentando

29 índices de doenças como os transtornos alimentares, por exemplo. Andrade e Bosi se posicionam em relação a esta influência exercida pela mídia mencionando que O ideal de corpo perfeito preconizado pela nossa sociedade e veiculado pela mídia leva as mulheres, sobretudo na faixa adolescente, a uma insatisfação crônica com seus corpos, ora se odiando por alguns quilos a mais, ora adotando dietas altamente restritivas e exercícios físicos extenuantes como forma de compensar as calorias ingeridas a mais, na tentativa de corresponder ao modelo cultural vigente. (ANDRADE; BOSI, 2003, p. 120). Eisenstein e Coelho (2004) ressaltam que as necessidades calóricas na adolescência variam de acordo com idade, sexo, maturação sexual e podem ser estimadas em Kcal/cm de altura. Em relação aos valores diários de calorias ingeridas Einstein e Coelho destacam que O consumo máximo para o sexo feminino deve ser estimado em torno de 2.500kcal na época da menarca, o que ocorre, em média, entre 12 e 12,6 anos de idade, diminuindo após, progressivamente, para 2.200kcal. Para o sexo masculino, as necessidades de ingestão calórica aumentam com o estirão puberal até cerca de 3.400kcal em torno dos 15-16 anos, diminuindo depois para 2.800kcal até o final do crescimento. (EISENSTEIN; COELHO, 2004, p. 21). As medidas que conduzem a perda de peso em curto período de tempo são consideradas inadequadas e ineficazes, pois podem não garantir eficiência na manutenção do peso. Somente a perda de peso baseada em reeducação alimentar, pode diminuir a gordura corporal, com perda mínima de massa magra, levando ao sucesso do tratamento. Klack e Carvalho (2008, p. 135) verificaram que perda de peso por dietas muito restritivas são inadequadas do ponto de vista científico, já que geram menor perda de tecido adiposo e maior perda de massa muscular, água e eletrólitos. Pacheco et al. (2009, p. 351) realizaram uma análise nutricional de dietas publicadas em revistas não científicas destinadas ao público feminino e foi mencionado nos resultados desse estudo que essas revistas estipulavam prazos para as perdas de peso, entretanto sabe-se que a perda de peso em curto período de tempo, não se dá de maneira saudável podendo causar consequências maléficas à saúde (Tabela 1). Tabela 1: Prazos para perda de peso estipulado por revistas não científicas. Período para perda de peso 7dias 15 dias 30 dias Acima de 30 dias Prazo não determinado Quantidade de revistas / percentual 6 / 20% 2 / 7% 11 / 37% 2 / 7% 9 / 30% Fonte: Adaptado de Pacheco et al. (2009, p. 351). Total de revistas analisadas: 30 revistas

30 Pacheco et al. (2009, p. 351) acerca da composição de macronutrientes dos cardápios, informa que as dietas demonstraram não conformidade quanto à distribuição de proteínas, carboidratos, lipídeos e fibras. A maioria das dietas apresentaram valores adequados de carboidratos, no entanto uma significativa quantidade de dietas mostraram valores de carboidratos abaixo do recomendado. Esses resultados podem ser verificados na Tabela 2. Tabela 2: Análise de macronutrientes em dietas de revistas não científicas. Valores propostos pela IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (2007) Macronutrientes / Valores adequados Carboidratos / (50% - 60%) Proteínas/ (10% - 15%) Lípideos/ (25% - 35%) Fibras/ Adequado Insuficiente (Abaixo do adequado) Excessivo (acima do adequado) 16 10 04 02 00 28 11 15 04 01 29 00 (25gr 30gr) Total de revistas analisadas: 30 revistas. Fonte:Adaptado de Pacheco et al. (2009, p. 352). Total de revistas analisadas: 30 revistas. As dietas que induzem a perda rápida de peso podem ser chamadas de dietas da moda e são veiculadas constantemente pelos meios de comunicação de massa induzindo o público a segui-las. Betoni et al. (2010, p.432) destacam que a preocupação da sociedade atual pela perda e controle de peso leva a busca de dietas por meio da imprensa popular. Entretanto, muitas das dietas da moda podem trazer consequências prejudiciais ao organismo humano. Betoni et al. (2010) realizaram estudos da utilização de dietas da moda por pacientes atendidos em um ambulatório de especialidades em nutrição, localizado ao Norte do Rio Grande do Sul e destacaram que dentre 29 pacientes estudados, 11 já haviam realizado algum tipo de dieta veiculada pela mídia. A Tabela 3 mostra as dietas mencionadas e a porcentagem de pessoas que praticaram cada uma delas.

31 Tabela 3: Tipos de dietas da moda realizadas por pacientes do ambulatório de especialidade em nutrição no RS TIPO DE DIETA DA MODA NÚMERO DE PACIENTES (%) Dieta da sopa 36,4 Dietas de revista 27,3 Dieta do Dr. Atkins 18,2 Dieta sem gordura 18,2 Dieta da lua 9,1 Dieta do tipo sanguíneo 9,1 Outras 72,7 Fonte: Betoni et al. (2010, p. 433). A prática indiscriminada de tais dietas em muitos casos demasiadamente restritivas, em busca da magreza e consequentemente do peso ideal, pode desenvolver distúrbios alimentares como a AN e a BN. Souto e Ferro-Bucher confirmam esta proposição citando que Decorrente de uma insatisfação com o peso, dá-se início à prática de dietas restritivas. Percebe-se que a dieta surge com objetivo de redução de peso, posteriormente ocorre uma restrição alimentar rígida e o TA é desencadeado, podendo resultar na drástica restrição (anoréticas) ou em episódios compulsivos, seguidos de práticas compensatório-purgativas (bulímicas) ou não (comedoras compulsivas). (SOUTO; FERRO-BUCHER, 2006, p. 698). Betoni et al. (2010, p. 434) ainda ressaltaram em seus estudos que de 71 pacientes que utilizaram as dietas da moda, apenas 1 afirmou ter emagrecido e ter permanecido com o peso reduzido após a dieta. Isso demonstra que há perda de peso a curto prazo, no entanto a manutenção dessa redução de peso a longo-prazo na maioria dos casos não ocorre, pois o organismo tende a recuperar o que foi perdido causando o efeito sanfona. Portanto, deve-se refletir sobre a eficácia real de tais dietas. A perda de peso está relacionada à baixa quantidade calórica fornecida que incentiva o organismo a mobilizar gordura corporal para obter energia (BETONI et al., 2010, p. 435). A prática de tais dietas pode resultar em diversas consequências maléficas ao organismo, dentre elas a perda de água e eletrólitos associada à perda de peso. Confirmando esta ideia Betoni et al. (2010, p. 435) destacam que a perda de água pode ser verificada nas duas primeiras semanas da dieta, provocando retenção de sódio pelos rins. Além destas, várias outras consequências negativas podem ser verificadas em períodos de restrição alimentar. Apetito et al. (2010, p. 332) mencionam os sintomas mais

32 frequentemente indicados como de ocorrência comum durante a realização das dietas restritivas com a finalidade de redução de peso foram unhas quebradiças, fadiga, fraqueza e tontura. Apetito et al. (2010, p. 330) realizaram um estudo buscando identificar a frequência de práticas de dietas de emagrecimento em adolescentes de uma escola privada da cidade de Bauru, Estado de São Paulo e demonstraram que em relação a satisfação com o peso atual, 49% dos respondentes disseram estar satisfeitos. Entretanto 32% dos adolescentes informaram se sentir acima ou muito acima do peso considerando os padrões de beleza atual. Sobre a percepção corporal das mulheres analisadas menciona-se que dentre as respondentes do sexo feminino que informaram se achar acima ou muito acima do peso (31%), 51,2% apresentava eutrofia para o indicador IMC para idade, caracterizando uma distorção da imagem corporal (APETITO et al., 2010, p. 330). Ainda, segundo Betoni et al. (2010, p. 435), além desses, muitas outras reações prejudiciais podem aparecer em decorrência do valor calórico muito baixo, como por exemplo, diminuição do débito cardíaco, frequência cardíaca e pressão arterial. Santana, Mayer e Camargo (2003, p.103) avaliaram o conteúdo das dietas veiculado pela internet e dentre as dietas analisadas, tais como, dietas dos pontos, do atum, dos líquidos e da Universidade de São Paulo, concluindo que todas as dietas apresentam teores inadequados de macronutrientes e, no quesito energia, encontram-se abaixo do recomendado. O Quadro 6 mostra um exemplo de cardápio da dieta dos líquidos e, segundo Santana, Mayer e Camargo (2003), apresenta-se pobre quanto a quantidade de fibras, cálcio e ferro, não devendo ser seguida por longos períodos. Quadro 6: Exemplo de cardápio de dieta dos líquidos REFEIÇÃO ALIMENTO PORÇÃO Desjejum Laranja pera Ovo cru Mel Amêndoas Leite desnatado 1 unidade 1 unidade 1 colher das de chá 6 unidades 1 copo Colação Salsinha Suco de cenoura 3 galhos 1 copo pequeno Almoço Sopa de legumes 1 prato fundo