EMEF SETE DE SETEMBRO ETIQUETA NA ESCOLA. WICHRUK, Ivone 1. SOARES, Mara Rosane Souza 2. ALVES, Márcia Lappe 3 RESUMO

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Transcrição:

EMEF SETE DE SETEMBRO ETIQUETA NA ESCOLA WICHRUK, Ivone 1 SOARES, Mara Rosane Souza 2 ALVES, Márcia Lappe 3 RESUMO O homem é um ser de relações e só se faz homem no social, na relação com outro ser humano. É através da convivência que crescemos enquanto indivíduos, é no coletivo que construímos e ressignificamos aprendizados e é na escola que teremos as primeiras interações sociais com nossos pares, fora do ambiente familiar. A escola tem o compromisso primordial de introduzir o sujeito no mundo social, cultural e científico e todo cidadão, com suas diferenças, singularidades, necessidades e possibilidades tem direito a essa introdução. Mas acima de tudo, a escola tem a tarefa de proporcionar as crianças e jovens o viver, conviver e aprender com as diferenças, pois diferentes somos todos. A Constituição Federal determina que deve ser garantido a todos os educandos o direito de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, de acordo com a capacidade de cada um (art. 208, V) e que o Ensino fundamental completo é obrigatório. Por isso, é inegável que as práticas de ensino devem acolher as peculiaridades de cada aluno. Para atender esta demanda a escola deve promover mudanças de modo que consiga possibilitar a todos, sem exceção, um ensino de qualidade que respeite as diferenças e especificidades do 1 Professora da EMEF Sete de Setembro. E-mail: ivone_graci@hotmail.com 2 Professora da EMEF Sete de Setembro. E-mail: szs.mara@gmail.com 3 Professora da EMEF Sete de Setembro. E-mail: marcialappe@gmail.com

ser humano, ou seja, não é o aluno que se adapta ao ensino e sim a escola que deve promover meios para que este aluno tenha acesso ao conhecimento. Desta forma, baseado em uma perspectiva de uma escola para todos, o professor deverá encontrar meios para construir o aprendizado com todos os alunos, independente de suas necessidades físicas, mentais, psicológicas e sociais, afinal, a educação é um direito de todos. O Projeto Etiqueta na Escola está em sua segunda edição. Surgiu como uma ideia para dinamizar as aulas de Língua Portuguesa sobre texto argumentativo dissertativo do oitavo ano do Ensino Fundamental. Após debates, entrevistas e levantamento de dados, os alunos deveriam criar uma campanha publicitária em cartazes, trabalhando questões importantes para toda a escola. Foram selecionadas questões comportamentais, consideradas prejudiciais à convivência respeitosa diária do coletivo escolar. Com seus cartazes, os alunos em grupos, defenderam suas campanhas, visitando todas as turmas da escola. Aliados à produção textual estão as técnicas de oratória e de expressão em geral. ETIQUETA NA ESCOLA DISCUSSÕES E EXECUÇÃO A entrada do aluno na escola regular, numa perspectiva inovadora, proporciona um momento diferenciado para a educação, na medida em que possibilita um processo de criação pedagógica, na busca de novos procedimentos de ensino, novas estratégias metodológicas capazes de atingir o potencial de cada um dos alunos, respeitando suas diferenças e levando-os à inserção no mundo cultural e na vivência histórica enquanto ser humano presente e atuante em seu tempo, seu espaço social e de convivência diária. De fato, as práticas escolares convencionais não dão conta de atender à singularidade intelectual e social, em todas as suas manifestações. Essas práticas precisam ser urgentemente revistas porque, no geral, elas são marcadas pelo conservadorismo, são excludentes e, conforme visto, inviáveis para os alunos que temos hoje nas escolas, em todos os seus níveis. Assim, de acordo com a proposta de uma educação inovadora, pode caracterizar- se como uma nova possibilidade de reorganização dos elementos constituintes do cotidiano escolar, uma vez que, para tornar-se inovadora e atender as diferenças de seus alunos, há de se pensar num

novo projeto pedagógico: flexível, aberto e dinâmico. Projeto capaz de envolver toda a comunidade escolar e ousar na busca de novas relações educativas, repensando o papel da escola e seus objetivos educacionais (OLIVEIRA, 2004). Segundo Cosenza e Guerra (2011, p.49), o cérebro é um dispositivo criado ao longo da evolução para observar o ambiente e aprender o que for importante para a sobrevivência do indivíduo ou da espécie. Ele prestará atenção no que for julgado relevante ou com significância. Terá mais chance de ser considerado como significante e, portanto, alvo de atenção, aquilo que faça sentido no contexto em que vive o indivíduo, que tenha ligações com o que já é conhecido, que atenda a experiência ou que seja estimulante e agradável (Cosenza e Guerra, 2011, p.49). É nesse sentido que a interação na escola constitui fator essencial para o desenvolvimento dos alunos. Para isso os professores devem conhecer os alunos, observando o que os leva a agir de uma ou de outra maneira, a fim de compreender como esses alunos utilizam estratégias na solução dos problemas que lhe são apresentados. Segundo Pereira et al (2011, p.13), [...] nas comunidades existem estruturas simbólicas e práticas que valorizam a singularidade e também valorizam a convivência coletiva. O estudo sobre interação constitui o núcleo dos estudos da teoria histórico cultural de Vygotsky, visto que o próprio conceito de zona de desenvolvimento potencial ou proximal diz respeito ao nível de desenvolvimento que os educandos conseguem alcançar quando realizam atividades com a ajuda de adultos ou outros indivíduos mais experientes. A interação professor-aluno ou entre os próprios alunos demonstra o quanto o desenvolvimento dos educandos depende de uma base social, ou seja, o sujeito desenvolve-se primeiramente a partir de um contexto interpsicológico (social), passando a um contexto intrapsicológico, de auto-regulação que depende exclusivamente das interações realizadas (VYGOTSKY, 2007). Desse modo, compreendemos que o desenvolvimento humano é produzido pelo processo de internalização, que se dá a partir das interações sociais, sendo as interações entre professor e alunos essenciais para o desenvolvimento destes. Autores como Bruner (apud ECHEITA; MARTIN, 1995, p.39) destacam a interação professor-aluno, fazendo uma analogia com o andaime, pois consideram que este processo ocorre com o adulto auxiliando a criança, indo à sua frente e suprindo em um primeiro

momento sua falta de competência, evitando os possíveis erros, possibilitando que as crianças realizem tarefas em processo de interação. O momento de maior significado no curso de desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, duas linhas completamente interdependentes de desenvolvimento, convergem (VYGOTSKY, 2007, 2014). No que diz respeito às atividades práticas, o instrumento é o elemento entre o sujeito e o objeto que amplia as possibilidades de transformação do meio social, funcionando como um mediador entre o sujeito e o mundo. O que diferencia os seres humanos dos outros animais é, pois, a capacidade que as pessoas têm de criar, generalizar e abstrair, ou seja, a criança usa como instrumentos não somente objetos que estão ao seu alcance, mas também outros estímulos que não estão contidos no seu campo visual imediato (signos). Enquanto os instrumentos são externos ao sujeito, os signos são orientados para o próprio sujeito, ou seja, são instrumentos da atividade psicológica. Como exemplos de signos, têm-se os desenhos, a escrita, a leitura, etc. Os signos e as palavras constituem-se em um meio de contato social (interpsicológico), a partir do qual há o desenvolvimento de novas relações que passam a ser internalizadas (intrapsicológico). De acordo com Vygotsky (2007, 2014), o processo de internalização consiste em uma série de transformações. Assim, uma operação que inicialmente constitui uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente, ou seja, todas as funções do desenvolvimento do sujeito aparecem primeiro no nível social e, depois, no nível individual. A internalização de formas culturais de comportamento envolve a reconstrução da atividade psicológica, tendo como base as operações com signos. Entende-se que a interação professor-aluno é considerada a partir da experiência relacional com a utilização de instrumentos e signos que propiciem a maior participação e envolvimento do aluno nas situações de aprendizagem, levando-se em consideração, sobretudo, o contexto de intersubjetividade construída no coletivo (CARNEIRO, 2006). Assim, o Projeto Etiqueta na Escola, através das interações professor, alunos e comunidade escolar, desenvolveu-se nas seguintes etapas: - Debate sobre questões comportamentais, consideradas prejudiciais à convivência respeitosa diária do coletivo escolar - Oralidade;

- Divisão da turma em grupos de até seis alunos (elaboração de questionário para entrevistar professores, alunos e funcionários sobre o que atrapalha o bom andamento diário escolar); - Saída dos grupos pela escola realizando as entrevistas; - Em sala de aula, listagem das questões que foram citadas nas entrevistas: palavrões, correria, agressões, desperdício de comida, falta de respeito e vandalismo. - Sorteio dos temas pelos grupos; - Produção Textual: texto dissertativo argumentativo sobre os temas abordados; - Reescrita dos textos após correção; - Confecção dos cartazes com estudo do texto publicitário; - Ensaio para apresentação (momento para fazer e receber críticas e dicas dos colegas para aprimoramento técnicas para apresentação); - Visita às turmas da escola a partir do 4º ano; - Adaptação para os anos iniciais reescrita do texto apresentado; - Elaboração de texto (roteiro) para teatro de bonecos O CERTO E O ERRADO; - Confecção de bonecos com meias (fantoches); - Ensaio para apresentações; - Visita aos anos iniciais; - Produção de cartazes no laboratório de informática; - Uso positivo da linguagem Uma Abordagem Neurocientífica prof.ª Mara SRM; - Realização da segunda versão dos cartazes; - Exposição dos cartazes na escola; - Seminário com as turmas sobre os resultados.

Mudanças atitudinais frente ao cenário educacional que se apresenta, conhecimento sobre processos de construção da aprendizagem, processo de construção das funções psicológicas humanas, indagações sobre o que se entende por saber, o que é um saber, sobre currículo e suas adaptações, são alguns dos temas que devem ser discutidos por todos os professores na construção do fazer pedagógico inovador. Segundo Piaget, em entrevista concedida ao New York Times e publicada no Correio do Povo, o desenvolvimento da inteligência infantil implica num constante intercâmbio com o ambiente social. Obviamente, o progresso é lento ou rápido, de acordo com o ambiente. (Piaget, Correio do Povo - 1972) Vygotsky (2007), salienta a importância das relações para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. O homem é um ser de relações e só se faz homem no social, na relação com outro ser humano. O ser humano nasce apenas com recursos biológicos, mas que com a convivência social, com seus valores e sua cultura, estes recursos concretizam o processo de humanização (de desenvolvimento humano) essencialmente possível por meio do processo ensino aprendizagem. A partir da interação do sujeito em atividades sociais, formam-se os processos psicológicos que serão influenciados por um conjunto de fatores sociais, mediados pela própria cultura do sujeito e que aumentam a capacidade de domínio e de apropriação da criança (Vygotsky, 2014). Para Vygotsky (2014), ao longo do processo de desenvolvimento, a criança acumula variadas ferramentas que possuem uma natureza social. No momento em que se apropria e manipula esses instrumentos culturais, ela os interioriza, tendo domínio da atividade instrumental, das emoções e da linguagem. Portanto, o estudo, a pesquisa e a problematização da realidade que temos, são os meios para ampliar nosso conhecimento na construção de novas alternativas pedagógicas no trabalho com nossos alunos. A certeza de que toda pessoa pode aprender -- independente de suas dificuldades e que na diferença há diferentes -- é imperiosa no trabalho comprometido com a proposta de uma educação que possibilite ao indivíduo seu crescimento enquanto ser único e singular. Segundo Laranjeira (1995) Precisamos poder hipotetizar sobre o que o sujeito já pode fazer

sozinho, o que pode fazer com nossa ajuda e o que não pode fazer ainda, sequer com a nossa ajuda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARNEIRO, M. S. C. A Deficiência mental como produção social: De Itard à abordagem histórico-social. In: BAPTISTA, Cláudio Roberto; BEYER, Hugo Otto. et al. Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006. CORREIO DO POVO, A Aprendizagem Segundo Jean Piaget. Tradução da entrevista concedida por Jean Piaget ao New Tork Times, edição de 12/11/1972. COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação Como o Cérebro Aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. Diretrizes Nacionais para a Educação Básica. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Ensino Básico, Brasília, 2001. ECHEITA, G.; MARTÍN, E. Interação Social e Aprendizagem. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (orgs.). Desenvolvimento Psicológico e Educação - Necessidades Educativas Especiais e Aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, v.3, p. 36-53, 1995. LARANJEIRA, M.I. Da Arte de Aprender ao Oficio de Ensinar - Relato, em reflexão, de uma trajetória. Bauru: EDUSC, pp. 89-90, 1995. LDB nº 9394/96. OLIVEIRA, A. A. S. Formas de organização escolar: desafios na construção de uma escola inclusiva. In: OMOTE, S. Inclusão: intenção e realidade. Marília: FUNDEPE publicações, p. 77-112, 2004. PEREIRA, M. R.; PAULINO, B. O.; FRANCO, R. B. Acabou a Autoridade? professor, subjetividade e sintoma. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011. VYGOTSKY, L. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. VYGOTSKY, L.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 13. ed. São Paulo: Ícone, 2014.