Sandra Freitas Santos - Universidade Estadual de Feira de Santana, Joselisa Maria Chaves - Universidade Estadual de Feira de Santana, Karla Christiane Ribeiro Tanan - Universidade Estadual de Feira de Santana Sandra.estroges@gmail.com, josimariachaves@gmail.com, karla.tanangeo@gmail.com. PERCEPÇÃO GEOAMBIENTAL NA ESCOLA AGRÍCOLA DA APA DO PRATIGI: FORTALECENDO A CIDADANIA E A SUSTENTABILIDADE. RESUMO Este artigo relata parte de um projeto maior de iniciação científica que está em fase inicial, o qual é intitulado Percepção Geoambiental na Escola Agrícola da APA do Pratigi: fortalecendo a cidadania e a sustentabilidade, mas já vem obtendo resultados preliminares, os quais possibilitam uma discussão mais ampla sobre questões como: educação ambiental, geociências e educação no campo. Nesta perspectiva, o artigo visa discutir sobreaimportância do ensino de geociências para as escolas no campo, sobretudo, pelo significado que a terra representa para aqueles que residem e dependem dela para sobreviver.os estudos das dinâmicas terrestres contribuem para a análise ambiental docampo, já que o estudo de geociências é responsável por apresentar a Terra como um sistema, de forma integrada. Sendo assim, a compreensão da geomorfologia, pedologia, climatologia e biogeografia propiciará ao camponês o conhecimento da sua propriedade, dos recursos que possui e douso da terra, considerando sempre os saberes construídos e utilizados no campo por seus ancestrais. Nesta perspectiva, foi escolhida a escola Casa Jovem situada na APA do Pratigi no Baixo Sul da Bahia, esta escola localiza-se dentro de uma reserva de preservação permanente. INTRODUÇÃO
Quando se aborda o estudo de Geociências nota-se que este campo da ciência parte como uma nova alternativa de transformação da realidade e das condições de qualidade de vida. Baseada em teorias, o estudo da Ciência da Terra visa a sua aplicabilidade por meio da conscientização oriunda da prática social reflexiva. Nesse contexto, Loureiro (2006) afirma que, a conscientização é obtida com a capacidade crítica permanente de reflexão, diálogo e apropriação de diversos conhecimentos. Esse processo torna-se fundamental para se formar sociedades sustentáveis, ou seja, orientadas para enfrentar os desafios da contemporaneidade, garantindo qualidade socioeconômica para esta e futuras gerações. Na atualidade, a escola tem um papel fundamental para o desenvolvimento reflexivo e crítico do meio ambiente. Em especial, as escolas do campo são exemplos desses espaços que valorizam o estudo de Geociências, apesar das inúmeras limitações e contradições que as envolvem. No entanto, para um maior conhecimento do espaço onde localiza essa escola é necessário um estudo dos elementos geoambientais pelo camponês, que deve ser feito de forma mais complexa e crítica, pois de acordo com Arroyo (2005) a terra para o camponês é a fonte de trabalho, luta e vida. Dessa forma, desenvolver uma pesquisa que considere importante dinamizar o estudo do meio ambiente, em uma região de preservação permanente dos recursos naturais unindo saberes que auxiliem em maior conscientização dos atores envolvidos na dinâmica da área. Nesta perspectiva, a APA do Pratigi, situada no Baixo Sul da Bahia, oferece uma realidade de reflexão e percepção sobre a necessidade de mudança da relação sociedadenatureza, por incluir entre outros aspectos a Escola Agrícola. A APA do Pratigi apresenta-se como um local ímpar para o desenvolvimento de diversos estudos ambientais, não apenas por sua riqueza em biodiversidade, mas também pela necessidade de monitoramento para sua preservação, conservação e melhor uso dos seus recursos naturais. Com base no projeto de pesquisa Biodiversidade e Modelagem Ambiental na APA do Pratigi, Baixo Sul, Bahia (Silva, 2012), este artigo visa apresentar a discussão
entre o ensino de Geociências no Campo através da atuação na escola agrícola da APA de Pratigi com o objetivo de articular o conhecimento científico oriundo da universidade com o saber das comunidades do campo através de uma aprendizagem participativa dos elementos e dinâmicas geoambientais, já que a escola está situada em uma área de preservação permanente com grande riqueza e diversidade de fauna e flora. Através dessa troca de conhecimento, pretende-se nesse trabalho desenvolver uma oficina sobre o Cuidado com o Solo para a contextualização dos conteúdos relacionados a Geociências da localidade. A confecção deste material será feita de modo participativo e coletivo considerando os fatores relevantes da cultura dos camponeses. OBJETIVOS Buscando o melhor desenvolvimento desteartigo, a pesquisa foi sendo desenvolvida tendo como objetivo principal: fomentar a construção de um conhecimento participativo a partir do estudo das Geociências na escola familiar agrícola, de modo a considerara percepção de vivência dos alunos. Nesta perspectiva outros objetivos foram elencados para nortear a pesquisa, de modo que são: Buscar referências sobre os temas que serão trabalhados nesta pesquisa como percepção Geociências e educação ambiental; Levantar o estudo dos elementos geoambientais na área da APA do Pratigi; Discutir técnicas de educação ambiental para os estudantes da escola; Identificar os valores culturais que caracterizam as comunidades que vivem na APA e que consideramos essenciais para o desenvolvimento da cidadania. METODOLOGIA O artigo foi sendo desenvolvida da seguinte forma: num primeiro momento, os esforços foram concentrados para uma revisão bibliográfica, analisando a literatura que discute a temática em questão. A segunda etapa foi iniciada, com a ida a campo, ou seja,
para escola familiar onde pudemos discutir como os professores a aplicabilidade da oficina. A terceira etapa foi iniciada com a aplicação de questionário para a mensuração da compreensão sobre os conteúdos de Geociências pelos camponeses. No quarto momento, foi aplicado uma oficina sobre solos, especificamente erosão eólica e hídrica do solo. Assim, os alunos da APA poderão compreender o impacto causado no solo pela a dinâmica natural e antrópica na sua localidade e aprender métodos para melhor preserva-lo. E em seguida serão analisados os dados produzidos nesse período da pesquisa, pois se busca elencar os benefícios produzidos pelo aprendizado de Geociências na vida dos camponeses da APA de Pratigi. Dessa forma, este trabalho visa contribuir para o ensino de Geociências para o camponês, pois é preciso educar para um modelo de agricultura que inclui os excluídos, que amplia os postos de trabalho, que aumenta as oportunidades do desenvolvimento das pessoas e das comunidades e que avança na produção e na produtividade centradas em uma vida mais digna para todos e respeitadora dos limites da natureza. Procedimento de aplicação da oficina Tema: Cuidando do solo Serié: 1º ano do ensino médio Escola Familiar Rural de Igrapíuna Objetivos: - Diagnosticar o que os alunos entendem por solo; - Conceituar o que é solo a partir das experiências trazidas em sala de aula pelos alunos; - Abordar a erosão do solo como um dos efeitos do mau uso do solo. Procedimentos: No primeiro momento será realizada uma breve aula expositiva sobre o que os alunos compreendem sobre solo; Discutiremos o conceito de solo a partir da vivência destes alunos por lidarem diretamente com o mesmo;
Posteriormente será abordado um dos efeitos que ocorrem no solo pelo mau uso que é a erosão; A partir destas discussões serão apresentadas algumas práticas que podem amenizar o risco no combate e controle da erosão; Para alcançarmos este ultimo ponto será necessária uma aula prática que foi escolhida a partir das oficinas do Projeto Solos na Escola do Departamento de solos e engenharia agrícola da UFPR que tem o título Experimentotecasolos- Erosão eólica e Hídrica do solo. Que está disponível na internet para o uso para professores e alunos. (segue em anexo I) Recursos Didáticos/ materiais: Piloto; Quadro; Hidrocor; Lápis de cor; Giz de cera; 01 pacote de papel ofício (A4). Materiais para a experiência: 02 bandejas Canudo Regador Grama em placa Solo em torrões Papel Oficio Atividade: A atividade proposta para os alunos é a partir da percepção de vivência.
A partir das discussões que foram realizadas e da experiência prática, agora chegou a sua hora de demonstrar através do desenho um pouco como é utilizado o solo em sua comunidade ou propriedade. Preste atenção, o seu desenho deve conter alguns elementos como: 1. Com relação ao solo da sua propriedade quais são os aspectos que você identifica que contribuem ou dificultam a utilização deste solo, utilize cores, formas geométricas para representá-lo. 2. O tipo de plantio; 3. Características da sua propriedade como área com mata, área desmatada; 4. Com respeito à hidrografia da sua propriedade como é representado o seu abastecimento de água através de: rios, lagos, poços; O PAPEL DAS GEOCIÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO NO CAMPO Ao longo da história, o conhecimento dos recursos naturais tem sido utilizado de modo que atendesse as necessidades básicas em termos de recursos minerais (pesquisa e prospecção mineral), exploração de materiais energéticos (combustíveis fosseis), na construção de obras civis (habitação, barragens, rodovias, tuneis) e na descoberta de novos bens minerais. Mais recentemente o papel das Geociências visa atender às demandas por soluções aos problemas ambientais, voltado às áreas de risco, desertificação, geoflutuações e mudanças globais. Esses aspectos, de acordo com Bacci (2009) relacionam-se à Educação Ambiental à medida que se faz necessária a compreensão do papel do individuo perante as mudanças que estão ocorrendo hoje no planeta e da responsabilidade diante dessas transformações. Neste sentido, entender a natureza, contribui para uma reflexão mais critica e complexa do papel social do homem na manutenção e preservação dos recursos naturais para o seu melhor aproveitamento. Segundo Bacci (2009) o termo Geociências abrange as diversas Ciências da Terra, englobando os estudos sobre as quatro esferas (hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera) e suas interrelações. Já com relação à Educação Ambiental (EA)Bacci afirma:
É uma vertente da educação que agrega as diversas áreas do conhecimento e seus respectivos conteúdos (científico, metodológico, atitudinais) na construção de um saber integrado para a compreensão das questões ambientais nos diversos aspectos: econômicos, sociais, culturais, cinetificotecnológicos e políticos, de forma a repensar nossa atuação no mundo, a despertar uma consciência planetária e formar um cidadão atuante na sociedade. (BACCI, 2009, p.09) Todos esses aspectos fortalecem a compreensão do papel do indivíduo perante as mudanças que estão ocorrendo hoje no planeta e da sua responsabilidade diante dessas transformações. Neste sentido, na atualidade, a escola tem um papel fundamental para o desenvolvimento reflexivo e crítico do meio ambiente. Em especial, as escolas do campo são exemplos desses espaços que valorizam o estudo da educação ambiental, apesar das inúmeras limitações e contradições que as envolvem. No entanto, para um maior conhecimento do espaço onde se localizam é necessário um estudo dos elementos geoambientais pelo camponês, que deve ser feito de forma mais complexa e crítica, pois de acordo com Arroyo (2005) a terra para o camponês é a fonte de trabalho, luta e vida. Assim, a compreensão das Geociências proporcionará um aumento da qualidade de vida no campo, pois o educador em Geociências segundo a proposta de (Toledo et al., 2003)tem como objetivo levar os alunos, em todos os níveis de ensino que atue, o conhecimento do funcionamento do meio físico dentro de uma perspectiva de evolução dinâmica e histórica da natureza ao longo do tempo geológico, com abordagens interdisciplinar, despertando os estudantes para o significado das múltiplas atividades humanas de utilização racional dos materiais geológicos e de ocupação e interferência no meio físico. Este estudo promove uma melhor relação do ser humano com a Natureza, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e responsáveis com relação à ocupação do planeta, utilização dos recursos naturais e com o campo. Criando meios de amenizar os danos ambientais causados pelas atividades econômicas. Por isso, que as discussões sobre Geociências transformaram a visão de mundo, tornando-a significativa, não fragmentada, não linear, para assim estabelecer relações que podem ser expressas a partir de características criativas, sem mecanismos repetitivos e descontextualizados propiciando o conhecimento em uma rede de relações com significado.
Imagem I- Escola Familiar Rural de Igrapíuna, APA do Pratigi. Fonte: A autora. RESSULTADOS PRELIMINARES Baseado nos autores lidos e na realidade da Escola Familiar Rural de Igrapíuna pode-se afirmar que ainda a muito há se discutir sobre a inserção do ensino de Geociências nas escolas do campo, devido as diversas aplicabilidades de tal estudo. Alguns pontos foram elencados para facilitar a compreensão das dificuldades apresentadas em decorrência do início da pesquisa, porém muito relevantes para a aprendizagem de futuros educadores, que são: Educação do campo é diferente da educação do rural; A introdução do modelo de ensino urbano no campo; A educação no Brasil continua privilegiando os cidadãos do perímetro urbano, qualificando a mão de obra para o mercado de trabalho;
Apesar dessas considerações, notamos que a educação do campo, diferente do modelo neoliberal de educação, contribui com a construção de uma memória coletiva, do resgate da identidade do homem com o campo por meio da educação junto ascrianças, jovens e adultos, criando o sentimento de pertença ao grupo social ao qual a educação no/do campo está inserida, seja nas escolas dos assentados, acampamentos ou nas escolas de distritos. Assim, torna-se ainda mais importante o estudo de Geociências no Campo, o qual também contribuirá para o fortalecimento da identidade cultural do camponês. Nesta perspectiva, Carneiro et al (2004), no artigo Dez motivos para a inclusão de temas na educação básica os autores ajudam na compreensão da eficácia da inserção do ensino de geociências nas escolas atuais. Dessa forma, os autores defendem que o estudo de Geociências pode contribuir para formação de indivíduos críticos, questionador da aplicação racional das tecnologias cientifica e, neste sentido, criticam a superficialidade do ensino, em decorrência de sua fragmentação. Outro ponto relevanteé a possibilidade de se trabalhar temas de Geociências nas escolas do campo questões extremamente atuais e relevantes, ligadas à sustentabilidade do meio ambiente. Sendo assim, os educadores devem ter cuidado quando aplicar tal estudo, pois, os alunosdevem se identificar com os conteúdos abordados. Estudo de Geociências para o camponês deve fazê-lo compreender o espaço geográfico é também colocar-se como sujeito integrante e articulador do espaço. É perceber que as dinâmicas ecológicas e biológicas fazem parte da dinâmica e das transformações do espaço geográfico, embora alguns teóricos defendam a ideia de uma natureza intocável, mesmo considerando a expansão do sistema capitalista e o processo de globalização, que através das redes, dos fluxos e dos fixos vêm interagindo, influenciando e fragmentando os espaços. É notória a necessidade do estudo da natureza, de forma a contemplar a visão da ciência e do ensino de Geociências. O ensino da Geociências deve prever a construção da cidadania. Deve conter em si reflexão constante de uma consciência construída sobre o ambiente vivido. Neste contexto, os professores do campo devem buscar conhecer ou estimular a compreensão
do ambiente dos alunos, possibilitando a reflexão e a inserção deles numa sociedade que se faz pautada por direitos e deveres. Assim, a proposta deste artigo é contribuir para a superação das dificuldades no ensino de uma Geociências em constante movimento que possibilite o entendimento mais crítico do espaço, das sociedades e do ambiente, reconhecendo e compreendendo o papel da dinâmica da natureza através do conceito e categorias do campo. Essa perspectiva possibilita a aproximação dos educandos à realidade vivenciada, sua compreensão e diferentes formas de intervenção no espaço em que são sujeitos atuantes e integrados. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel Gonzalez; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castagna. Por uma Educação no Campo. Editora Vozes- Petrópolis- RJ, 2005. BACCI, Denise de La Corte. A contribuição do conhecimento geológico para a educação ambiental. Pesquisa em Debate, edição 11, v.6, 2009. CARNEIRO, C.DEL RÉ; TOLEDO. M.C.M, ALMEIDA, F.F.M. Dez motivos para a inclusão de temas de Geologia na Educação Básica. Revista Brasileirade Geologia, 2004. LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Complexidade e dialética: contribuições à práxis e emancipatória em educação ambiental. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 131-152, jan./abr. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a07v27n94.pdf Acessado em: 30/04/2013. SATO, Michéle. Carvalho, Isabel. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Editora: Artmed. Porto Alegre- RS, 2005. SOARES, Ana Maria Dantas, et al. Educação Ambiental: Construindo Metodologias e Práticas Participativas. Disponível em: http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/gt/gt10/ana_maria_dantas.pdfa cessado em: 03/05/2013.