APTE : ANGELO OLIVEIRA DA SILVA REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM:1ª VARA FEDERAL DE ALAGOAS RELATOR : DES. FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 304, CP). TIPICIDADE. CULPABILIDADE. CORRETA CAPITULAÇÃO DA CONDUTA. IMPROVIMENTO DO APELO. 1. Narrou a denúncia que o réu, ANGELO OLIVEIRA DA SILVA, em 27/02/2013, protocolizou requerimento de registro junto ao Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 22ª Região/AL - CRECI, instruindo o pedido com histórico escolar falso, cometendo em tese o crime previsto no art. 304 do Código Penal; 2. O argumento de que o documento apresentado não daria ensejo ao registro já que o conselho tem como praxe oficiar previamente para verificar a autenticidade dos históricos escolares não afasta a tipicidade da conduta. Não é o caso, como pretende a defesa, de documento obrigatoriamente sujeito a verificação. Apenas por excesso de zelo, ante a recorrente apresentação de históricos escolares falsos naquela repartição (conforme denúncia), a rotina administrativa era solicitar à Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas- SEEE/AL informações acerca da autenticidade. Ainda que compulsória a checagem, tal fato não afastaria a tipicidade da conduta, visto que o tipo penal em comento é delito formal, não havendo a necessidade de qualquer resultado naturalístico; 3. Implausível também é a alegação de inexigibilidade de conduta diversa, pois o argumento de que estava em condições financeiras difíceis e utilizou-se do documento com intuito de trabalhar e sustentar família não serve de escusa ao cumprimento da lei. Se não preenchia os requisitos previstos para registro no CRECI, a alternativa seria arrumar outra ocupação. Por outro lado, a alegada situação de miserabilidade não foi comprovada nos autos, pelo contrário: o próprio agente confessou ter pago um salário mínimo para obter o falso documento; 4. Não há que se falar em desclassificação para o crime previsto no art. 301 do Código Penal, eis que as condutas núcleo desse tipo (atestar/falsificar) não foram praticadas pelo réu, que apenas fez uso do contrafeito; 5. Não provimento do apelo. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que figuram como partes as acima indicadas.
DECIDE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas, que passam a integrar o presente julgado. Recife, 24 de março de 2015. PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA Desembargador Federal Relator 2
RELATÓRIO O SR. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA (RELATOR): Trata-se de apelação interposta por ANGELO OLIVEIRA DA SILVA contra sentença que, julgando procedente a denúncia, o condenou como incurso no art. 304 do Código Penal, aplicando-lhe a pena de 02 (dois) anos de reclusão, substituída pela prestação de serviços à comunidade, mais 10 dias-multa, à razão de 1/10 do salário mínimo vigente à época dos fatos. Em suas razões, o apelante pugna por sua absolvição, seja por alegada atipicidade dos fatos narrados na inicial, seja pela pretendida inexigibilidade de conduta diversa. Subsidiariamente, aponta a incorreta capitulação na exordial acusatória, requerendo a desclassificação para o delito previsto no art. 301, 1º, do Código Penal. Contrarrazões apresentadas (fls. 88/96). Nesta instância, remetidos os autos à Procuradoria Regional da República, opinou o ilustre representante do Parquet pela manutenção da sentença. É o que importa relatar. Sigam os autos ao Exmo. Sr. Desembargador Federal Revisor, posto que o caso diz com hipótese onde o Regimento Interno da Casa impõe a providência. 3
VOTO O SR. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA (RELATOR): Narrou a denúncia que o réu, ANGELO OLIVEIRA DA SILVA, em 27/02/2013, protocolizou requerimento de registro junto ao Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 22ª Região/AL - CRECI, instruindo o pedido com histórico escolar falso, cometendo em tese o crime previsto no art. 304 do Código Penal. Condenado pelo juízo a quo a pena de 02 (dois) anos de reclusão, apela o réu pugnando por sua absolvição, seja por alegada atipicidade dos fatos narrados na inicial, seja pela pretendida inexigibilidade de conduta diversa. Subsidiariamente, aponta a incorreta capitulação na exordial acusatória, requerendo a desclassificação para o delito previsto no art. 301, 1º, do Código Penal. Nenhuma das teses merece prosperar. O argumento de que o documento apresentado não daria ensejo ao registro já que o conselho tem como praxe oficiar previamente para verificar a autenticidade dos históricos escolares não afasta a tipicidade da conduta. Não é o caso, como pretende a defesa, de documento obrigatoriamente sujeito a verificação. Apenas por excesso de zelo, ante a recorrente apresentação de históricos escolares falsos naquela repartição (conforme denúncia), a rotina administrativa era solicitar à Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas- SEEE/AL informações acerca da autenticidade. Ainda que compulsória a checagem, tal fato não afastaria a tipicidade da conduta, visto que o tipo penal em comento é delito formal, não havendo a necessidade de qualquer resultado naturalístico. Implausível também é a alegação de inexigibilidade de conduta diversa pois o argumento de que estava em condições financeiras difíceis e utilizou-se do documento com intuito de trabalhar e sustentar família não serve de escusa ao cumprimento da lei. Se não preenchia os requisitos previstos para registro no CRECI, a alternativa seria arrumar outra ocupação. Por outro lado, a alegada situação de miserabilidade não foi comprovada nos autos, pelo contrário: o próprio agente confessou ter pago um salário mínimo para obter o falso documento. 4
Por fim, não há que se falar em desclassificação para o crime previsto no art. 301 do Código Penal, eis que as condutas núcleo desse tipo (atestar/falsificar) não foram praticadas pelo réu, que apenas fez uso do contrafeito. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO APELO. É como voto. PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA Desembargador Federal 5