Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DO LEITE EM PÓ INTEGRAL PRODUZIDO NUMA INDÚSTRIA DA REGIÃO DO VALE DO TAQUARI - RS EVALUATION OF THE MICROBIOLOGICAL AND PHYSICOCHEMICAL QUALITY OF WHOLE POWDERED MILK PRODUCED IN AN INDUSTRY IN THE REGION OF VALE DO TAQUARI - RS KREY, Tatiana 1 ;; SOUZA, Claucia Fernanda Volken de 2 Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar o leite em pó integral quanto às suas características físico-químicas, durante seis meses de armazenamento, e a qualidade microbiológica do produto recém envasado. Analisaram-se vinte amostras de leite em pó integral produzido em uma indústria da região do Vale do Taquari, RS. Observou-se que a gordura se manteve constante durante todo o período das análises, enquanto a umidade e a acidez aumentaram nesse mesmo período. Essa variação de umidade pode estar relacionada à permeabilidade da embalagem ao vapor d água, e de acidez às reações químicas de oxidação do produto. Quanto à qualidade microbiológica, todas as amostras estavam de acordo com os padrões legais vigentes. Os resultados do presente trabalho em relação aos teores de umidade e acidez mostram a necessidade de modificações na embalagem do produto. Palavras-Chave: Leite em pó; qualidade microbiológica; características físico-químicas; vida-de-prateleira. Abstract The aim of this work was to evaluate the whole powdered milk according to its physicochemical characteristics during six months of storage and the microbiological quality of the product that has just been packed. Twenty samples of whole powdered milk produced in an industry in the region of Vale do Taquari, RS were analyzed in this period. It was possible to notice that the lipid content was kept constant during all the period of the analyses, while the moisture and the acidity increased in this same period. This variation of moisture may be related to packing permeability to the water vapor and the acidity to chemical reactions of oxidation in the product. In relation to the microbiological quality, all the samples were in accordance with the legal standards. The results of this work in relation to moisture and acidity contents indicate the necessity of modifications in the product packing. Key-Words: Powdered milk; microbiological quality; physicochemical characteristics; shelf-life. 1 Especialista em Tecnologia de Alimentos e graduada em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Univates. 2 Doutora em Biotecnologia de Alimentos e Mestre em Microbiologia Agrícola e do Ambiente Ênfase em Microbiologia de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Graduada em Química Industrial e Licenciatura em Química pela UFRGS. Professora Adjunta do Centro de Ciências Tecnológicas e do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Tecnologia de Alimentos no Centro Universitário Univates.
Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 Introdução A composição do leite cru e de seus derivados, rica em nutrientes essenciais para o crescimento, principalmente para crianças e jovens, torna este um dos alimentos mais importantes da dieta humana (CAMPOS et al., 1998). O leite, por ser um alimento muito perecível, necessita de conservação, a qual se dá por diferentes técnicas. Entre as empregadas, destacam-se a de refrigeração e a de secagem (JUNIOR et al., 2005). O leite em pó é um produto lácteo obtido por meio do processo de desidratação do leite de vaca integral, desnatado ou semi-desnatado, sendo a gordura ajustada a cada tipo (BRASIL, 1996; RODAS et al., 1999). O leite em pó apresenta inúmeras vantagens em relação ao leite fluido, por exemplo, maior facilidade de armazenamento e de transporte de grandes quantidades de produto (CAMPOS et al., 1998). Além disso, o leite em pó permite melhor controle da política comercial e do mercado consumidor, principalmente no período de entressafra, quando o volume produzido diminui em até 35%, garantindo assim o suprimento de leite durante o período de seca (LEITE et al., 1999). Durante o processamento do leite em pó, deve-se garantir aspectos de qualidade que o tornem um alimento apto para o consumo humano. Segundo Rückert et al. (2004) e Ardito et al. (1980), as características microbiológicas do leite em pó na etapa de empacotamento influenciam significativamente nos parâmetros microbiológicos do produto final. De acordo com Mettler (1994), apesar do leite em pó ser um produto razoavelmente seguro em relação à saúde pública, qualquer falha durante o processamento pode favorecer a ocorrência de um produto com inadequada qualidade microbiológica na etapa de envase. Porém, conforme Leite et al. (1999) a implantação de métodos de controle de qualidade baseados em Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) evitam essas falhas. Para garantir as características físicoquímicas do leite em pó ao longo de sua vida-de-prateleira, é necessário conhecer a qualidade do produto no momento do envase, bem como assegurar o controle da mesma durante o armazenamento, a fim de evitar alterações que o tornem inadequado ao consumo humano (METTLER, 1994). Vários fatores podem contribuir para causar alterações nas propriedades físicas e químicas do leite em pó integral, reduzindo sua vida-de-prateleira e, então, seu valor comercial. Porém, os principais fatores envolvidos na deterioração da qualidade do produto são a absorção de umidade (REH et al., 2004), resultando na aglomeração do produto, e a oxidação lipídica (NADAL et al., 2007). Tendo em vista a importância do leite em pó como um alimento básico para lactentes, o presente trabalho teve como objetivo verificar as características físicoquímicas do produto lácteo leite em pó integral durante seis meses de armazenamento e a qualidade microbiológica do produto logo após o envase. Materiais e Métodos Foram analisadas amostras de leite em pó integral, de 20 lotes diferentes, sendo coletadas três amostras de cada lote, produzidas em uma indústria da região do Vale do Taquari (RS). O produto foi analisado quanto às características físicoquímicas e microbiológicas logo após o envase. Além disso, embalagens contendo 500 g do produto foram armazenadas sob condições adequadas de temperatura e umidade e submetidas a análises físicoquímicas após 3 e 6 meses de fabricação. No leite em pó integral foram realizadas as análises físico-químicas de umidade, gordura e acidez, conforme metodologias da Instrução Normativa nº 22 (BRASIL, 2003). Foram realizadas as análises microbiológicas de contagem padrão em placa, de coliformes totais e termotolerantes, e bolores e leveduras, conforme
67 metodologias da Instrução Normativa nº 62 (BRASIL, 2003). Para verificar o efeito do tempo de armazenamento do leite em pó sobre os parâmetros físico-químicos estudados, foi realizada a Análise de Variância (ANOVA) dos dados e para a comparação de médias o teste de Tukey, em nível de significância de 5% (P < 0,05), utilizando-se o software STATISTICA 7.0. Resultados e Discussão Nas Tabelas 1, 2 e 3 podem ser observados os resultados das análises físicoquímicas de gordura, acidez e umidade, respectivamente, do leite em pó integral durante seis meses de armazenamento. As características físico-químicas de gordura, acidez e umidade de todas as amostras analisadas logo após o envase estavam em conformidade com a legislação vigente, conforme Portaria nº 146 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 1996), considerando que para o leite em pó integral a gordura deve ser superior a 26%, a acidez no máximo 18 D e a umidade, no máximo, 3,5%. Durante os seis meses de armazenamento do leite em pó integral o teor de gordura se manteve praticamente constante (Tabela 1), não se observando variações significativas em 95% dos lotes analisados. Tabela 1 - Resultados da análise de gordura (%) do leite em pó integral. * Amostras Período de fabricação Envase 3 meses 6 meses 1 28,5 ± 0,2 a 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,1 a 2 28,5 ± 0,1 a 28,5 ± 0,2 a 28,5 ± 0,3 a 3 28,5 ± 0,1 a 27,5 ± 0,2 b 27,5 ± 0,3 b 4 28,5 ± 0,2 a 28,5 ± 0,3 a 28,0 ± 0,2 a 5 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,1 a 6 28,5 ± 0,4 a 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,3 a 7 29,0 ± 0,2 a 29,0 ± 0,3 a 29,0 ± 0,4 a 8 28,0 ± 0,3 a 28,0 ± 0,5 a 28,0 ± 0,2 a 9 29,0 ± 0,3 a 29,0 ± 0,5 a 29,0 ± 0,2 a 10 29,0 ± 0,4 a 29,0 ± 0,4 a 28,5 ± 0,3 a 11 28,5 ± 0,2 a 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,2 a 12 27,5 ± 0,1 a 27,5 ± 0,2 a 27,5 ± 0,3 a 13 29,0 ± 0,3 a 29,0 ± 0,2 a 29,0 ± 0,4 a 14 29,5 ± 0,3 a 29,5 ± 0,3 a 29,0 ± 0,4 a 15 28,5 ± 0,4 a 28,5 ± 0,3 a 28,0 ± 0,2 a 16 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,3 a 28,5 ± 0,4 a 17 29,0 ± 0,2 a 29,0 ± 0,1 a 29,0 ± 0,4 a 18 28,0 ± 0,4 a 28,0 ± 0,4 a 28,0 ± 0,2 a 19 28,0 ± 0,3 a 28,0 ± 0,3 a 28,0 ± 0,2 a 20 28,5 ± 0,4 a 28,5 ± 0,5 a 28,0 ± 0,3 a * Os resultados de cada amostra correspondem a média desvio padrão de 3 coletas. ab Médias com letras sobrescritas iguais, na mesma linha, não apresentam diferença significativa (P > 0,05) entre si, conforme resultado do teste de Tukey. Porém, os níveis de acidez (Tabela 2) e umidade (Tabela 3) aumentaram durante o mesmo período, verificando-se, na maioria dos lotes analisados, aumentos significativos (P < 0,05) em relação ao envase do produto e o leite em pó após seis meses de estocagem, em ambos os parâmetros físicoquímicos.
68 Para o teor de acidez (Tabela 2), observa-se que houve um aumento significativo (P < 0,05) em relação ao envase do produto e o leite em pó com três meses de armazenamento em 95% dos lotes avaliados, sendo que do terceiro para o sexto mês, o aumento de todos os lotes analisados não foi significativo. No terceiro mês, apenas uma amostra estava acima do limite permitido. Já no sexto mês, duas amostras estavam acima do máximo permitido pela legislação. Tabela 2 - Resultados da análise de acidez (ºD) do leite em pó integral. * Amostras Período de fabricação Envase 3 meses 6 meses 1 13,0 ± 0,4 a 16,0 ± 0,1 b 16,0 ± 0,4 b 2 13,5 ± 0,3 a 18,2 ± 0,3 b 18,8 ± 0,4 b 3 12,0 ± 0,1 a 15,6 ± 0,1 b 16,0 ± 0,2 b 4 12,5 ± 0,3 a 15,8 ± 0,3 b 16,6 ± 0,4 b 5 12,0 ± 0,3 a 15,6 ± 0,3 b 16,4 ± 0,3 b 6 12,5 ± 0,5 a 15,2 ± 0,4 b 15,6 ± 0,6 b 7 12,0 ± 0,5 a 17,4 ± 0,3 b 18,2 ± 0,3 b 8 12,5 ± 0,5 a 15,2 ± 0,6 b 15,4 ± 0,5 b 9 12,0 ± 0,2 a 16,0 ± 0,6 b 16,4 ± 0,5 b 10 12,0 ± 0,2 a 16,4 ± 0,4 b 16,8 ± 0,6 b 11 14,0 ± 0,5 a 15,0 ± 0,4 ac 15,8 ± 0,2 bc 12 11,5 ± 0,3 a 17,0 ± 0,2 b 17,2 ± 0,4 b 13 10,4 ± 0,4 a 16,2 ± 0,7 b 16,8 ± 0,6 b 14 11,0 ± 0,4 a 15,4 ± 0,3 b 16,0 ± 0,6 b 15 12,0 ± 0,4 a 17,8 ± 0,4 b 18,0 ± 0,6 b 16 11,0 ± 0,6 a 16,0 ± 0,5 b 16,2 ± 0,7 b 17 11,0 ± 0,5 a 16,0 ± 0,5 b 16,4 ± 0,4 b 18 11,0 ± 0,6 a 16,4 ± 0,4 b 16,8 ± 0,7 b 19 11,0 ± 0,3 a 15,6 ± 0,4 b 16,0 ± 0,6 b 20 12,0 ± 0,6 a 16,0 ± 0,5 b 16,6 ± 0,6 b * Os resultados de cada amostra correspondem a média desvio padrão de 3 coletas. abc Médias com letras sobrescritas iguais, na mesma linha, não apresentam diferença significativa (P > 0,05) entre si, conforme resultado do teste de Tukey. Aumentos no nível de acidez com o tempo de estocagem também foram observados por Madi et al. (1984), Soler et al. (1991) e Campos et al. (1998), os quais podem estar associados a reações químicas de oxidação no produto e à taxa de permeabilidade ao oxigênio pela embalagem. Em relação ao teor de umidade (Tabela 3), observou-se que após três meses de armazenamento do produto, 40% das amostras estavam acima do limite permitido pela legislação vigente. Destas, 40% tiveram um aumento de até 0,5% de umidade; 50% aumentaram entre 0,6% e 1,0%; e 10% apresentaram aumento superior a 1,1% de umidade. Já no produto com seis meses de armazenamento, apenas 20% das amostras estavam dentro do máximo permitido pela legislação vigente: 10% das amostras tiveram uma elevação de até 0,5% de umidade; 45% aumentaram de 0,6% a 1,0%; e 45% apresentaram um aumento superior a 1,1% de umidade. Conforme Madi et al. (1984), a umidade crítica do leite em pó integral é de 5,0%, a partir da qual o produto inicia alterações indesejáveis, como deterioração
69 microbiana e aglomeração. Esses autores observaram que, utilizando embalagem de polietileno (500 g) a umidade crítica do leite em pó integral foi atingida com 150 dias de armazenamento a 30 C/80% UR e com 45 dias a 38 C/90% UR, enquanto que o produto que foi mantido por 180 dias a 23 C/65% UR não atingiu esse nível de umidade. Tabela 3 - Resultados da análise de umidade (%) do leite em pó integral. * Amostras Período de fabricação Envase 3 meses 6 meses 1 3,1 ± 0,3 a 3,1 ± 0,1 a 3,5 ± 0,2 a 2 2,7 ± 0,3 a 3,6 ± 0,2 ab 3,9 ± 0,4 b 3 2,9 ± 0,3 a 3,3 ± 0,2 b 3,5 ± 0,4 b 4 2,7 ± 0,3 a 3,1 ± 0,3 a 3,5 ± 0,4 a 5 3,1 ± 0,3 a 3,2 ± 0,2 a 3,7 ± 0,2 a 6 3,0 ± 0,2 a 4,1 ± 0,2 b 4,1 ± 0,4 b 7 3,1 ± 0,2 a 3,7 ± 0,3 a 3,6 ± 0,1 a 8 2,9 ± 0,2 a 3,7 ± 0,2 b 4,2 ± 0,3 b 9 2,6 ± 0,2 a 3,3 ± 0,2 b 3,6 ± 0,3 b 10 2,8 ± 0,1 a 3,4 ± 0,3 ab 3,9 ± 0,4 b 11 2,4 ± 0,1 a 3,7 ± 0,3 b 4,2 ± 0,3 b 12 2,9 ± 0,1 a 3,8 ± 0,3 b 4,3 ± 0,2 c 13 2,6 ± 0,1 a 3,5 ± 0,1 b 4,1 ± 0,4 b 14 3,0 ± 0,2 a 3,7 ± 0,2 ab 4,1 ± 0,4 b 15 2,8 ± 0,1 a 3,6 ± 0,3 b 4,0 ± 0,4 b 16 2,8 ± 0,1 a 3,3 ± 0,1 b 3,5 ± 0,1 b 17 3,0 ± 0,3 a 3,3 ± 0,1 ab 3,7 ± 0,2 b 18 2,9 ± 0,2 a 3,5 ± 0,1 b 3,8 ± 0,2 b 19 3,0 ± 0,1 a 3,4 ± 0,1 b 3,6 ± 0,1 b 20 3,0 ± 0,2 a 3,4 ± 0,2 ab 3,9 ± 0,3 b * Os resultados de cada amostra correspondem a média desvio padrão de 3 coletas. abc Médias com letras sobrescritas iguais, na mesma linha, não apresentam diferença significativa (P > 0,05) entre si, conforme resultado do teste de Tukey. Os resultados da Tabela 3 mostram que nenhum dos vinte lotes de leite em pó integral analisados, após os seis meses de armazenamento a 25 C/70% UR, atingiu esse nível de umidade crítica de 5,0%. Apenas a amostra 11 (Tabela 3) apresentou umidade inferior a 2,5% no momento do envase. Segundo Madi et al. (1984), o produto deveria apresentar umidade menor que 2,5% no envase, a fim de que durante o armazenamento esta se mantenha de acordo com o limite permitido pela legislação (3,5%). Porém, os resultados obtidos mostram que apenas esse controle não é suficiente, pois a amostra 11 após 3 meses de armazenamento já apresentava umidade de 3,7%, enquanto que as amostras 1, 5 e 17 apresentaram 3,1; 3,1 e 3,0% de umidade, respectivamente, no momento do envase, e após 3 meses de armazenamento estas foram de 3,1; 3,2 e 3,3%, respectivamente. Provavelmente, as variações no aumento da umidade estão relacionadas às diferenças na permeabilidade das embalagens ao vapor d água. Campos et al. (1998), analisaram amostras de leite em pó integral em intervalos regulares de dois meses no período de um ano e também observaram um aumento de umidade e acidez durante o armazenamento. No momento do envase, a umidade estava em 2,08% e, após doze meses, foram encontrados valores de 3,13%
70 e a acidez (% de ácido oléico/gordura) no mesmo período aumentou de 1,12 para 2,34. Segundo Maia e Golgher (1983), a faixa ótima para a umidade do leite em pó integral é entre 2% e 3% e, do desnatado, de 3% a 4%, pois, em valores inferiores, a gordura se torna mais suscetível a reações de oxidação, e acima dos quais são propiciadas reações de cristalização de lactose, desenvolvimento de odores, escurecimento, insolubilização protéica, aumento de acidez, produção de gás carbônico, entre outros. Os resultados das análises microbiológicas dos 20 lotes, coletados na etapa de envase, estão apresentados na Tabela 4. Observa-se que os resultados obtidos estão de acordo com a legislação vigente, segundo a Portaria nº 146 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 1996). Além disso, indicam boa qualidade das condições higiênico-sanitárias durante o processamento do produto, mostrando a importância da manutenção dos Programas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) nessa indústria de leite em pó. Ardito et al. (1980) destacam que, quando o leite em pó apresenta um nível de contaminação microbiana satisfatório, não há influência das condições de estocagem e dos diferentes materiais de embalagem sobre a qualidade microbiológica do produto para um tempo de armazenamento de até 180 dias. Tabela 4 - Resultados das análises microbiológicas após o envase do leite em pó integral. Amostra s Contagem Padrão em Placas (UFC/g) Coliformes Totais (UFC/g) Coliformes Termotolerantes (UFC/g) Bolores e Leveduras (UFC/g) 1 3,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 2 3,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 3 9,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 4 2,5 x 10 3 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 5 4,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 6 1,5 x 10 3 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 7 4,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 8 3,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 9 2,7 x 10 3 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 10 7,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 11 2,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 12 4,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 13 2,7 x 10 3 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 14 1,1 x 10 3 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 15 4,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 16 3,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 17 3,5 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 18 9,0 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 19 1,5 x 10 3 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 20 3,6 x 10 2 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 1 <1,0 x 10 2 Madi et al. (1984), analisaram a qualidade microbiológica de uma amostra de leite em pó integral logo após o envase, e observaram contagem padrão em placa de 2,5 x 10 3 UFC/g, ausência de coliformes totais e fecais e, para bolores e leveduras, a contagem foi de 3,2 x 10 2 UFC/g. Esses resultados diferem parcialmente dos encontrados nas amostras deste trabalho, as quais possuem média da contagem padrão
71 em placa de 9,1 x 10 2 UFC/g, enquanto para coliformes totais e fecais e para bolores e leveduras os resultados foram negativos. Já Leite et al. (1999), em análise de duas marcas de leite em pó, observaram os seguintes resultados para a marca A: contagem padrão em placa de 3,97 x 10 3 UFC/g, coliformes totais de 0,47 NMP/g, coliformes fecais de <3,0 NMP/g e bolores e leveduras de 2,47 x 10 2 UFC/g; enquanto na marca B a contagem padrão em placa foi de <2,5 x 10 2 UFC/g, de coliformes totais e fecais de <3,0 NMP/g, e bolores e leveduras não foram detectados. Dessa forma, os resultados das análises microbiológicas da marca B indicam condições higiênicas adequadas do produto e são semelhantes aos encontrados no presente trabalho. Porém, os resultados em relação à amostra A indicam a possibilidade de ocorrência de falhas higiênico-sanitárias durante o processamento do produto. Os autores destacam que um aspecto importante em relação à qualidade do leite em pó integral é o controle das BPF e da APPCC durante o processamento que permitem a obtenção de um produto com condições higiênicas adequadas. Conclusões Os resultados obtidos mostram que todas as amostras recém envasadas estavam aptas ao consumo humano, em relação às características físico-químicas e microbiológicas. No entanto, após seis meses de armazenamento, 100%, 90% e 20% das amostras estavam de acordo com os parâmetros físico-químicos de gordura, acidez e umidade permitidos pela legislação, respectivamente. Os resultados em relação aos teores de acidez e umidade do leite em pó com 6 meses de armazenamento indicam a necessidade de modificações nas embalagens do produto. Referências Bibliográficas ARDITO, E.F.G. et al. Estudos sobre a estabilidade do leite em pó desnatado. Boletim ITAL, v. 17, n. 2, p. 205-228. 1980. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 146 de 07 de março de 1996. Regulamento técnico de identidade e qualidade de leite em pó. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 11 de março de 1996. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 62 de 26 de agosto de 2003. Métodos analíticos oficiais para análise microbiológica para controle de produtos de origem animal e água. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 18 de setembro de 2003. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 22 de 14 de abril de 2003. Métodos analíticos oficiais físicoquímicos para o controle de leite e produtos lácteos. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 02 de maio 2003. CAMPOS, L.R.; TREPTOW, R.O.; SOARES, G.J.D. Influência da inertização com nitrogênio na vida-deprateleira de leite em pó integral acondicionado em embalagens metalizadas flexíveis. Revista Brasileira de Agrociências, v. 2, n. 2, p. 130-137, 1998. JUNIOR, W.M.A. et al. Secagem de leite em leito de jorro. In: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA QUÍMICA EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 2005, UNICAMP. Campinas, 2005. p. 1-6. LEITE, M.O. et al. Avaliação da qualidade microbiológica de duas marcas de leite em pó, comercializadas em Belo Horizonte (MG), Brasil. Revista Higiene Alimentar, v. 13, n. 65, p. 43-46, 1999. MADI, L.F.C. et al. Estudo da estabilidade e vida-deprateleira do leite em pó integral. Boletim do Instituto de Tecnologia de Alimentos, v. 21, n. 3, p. 381-428, 1984. MAIA, A.B.R.A.; GOLGHER, M. Parâmetros para avaliação da qualidade de reconstituição do leite em pó desidratado em secador de aspersão ( spray drier ). Bol. SBCTA, v. 17, n. 3, p. 235-254, 1983. METTLER, A.E. Present day requirements for effective pathogen control in spray dried milk powder production. Journal of the Society of Dairy Technology, v. 47, n. 3, p. 95-107, 1994. NADAL, M.R. et al. Oxidation stability of the lipid fraction in milk powder formulas. Food Chemistry,
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