PESQUISA E FORMAÇÃO: APROXIMAÇÕES NO CONTEXTO EDUCACIONAL Carla Helena FERNANDES UNIVÁS Susana Gakyia CALIATTO UNIVÁS

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Transcrição:

PESQUISA E FORMAÇÃO: APROXIMAÇÕES NO CONTEXTO EDUCACIONAL Carla Helena FERNANDES UNIVÁS Susana Gakyia CALIATTO UNIVÁS Resumo A pesquisa, em desenvolvimento em uma instituição de educação não formal, objetiva investigar o caráter formativo de um espaço coletivo constituído entre educadores e pesquisadoras de uma universidade local. O encaminhamento metodológico, na perspectiva da pesquisa qualitativa, se dirige tanto à investigação como a processo de formação profissional que tem referência na demanda apresentada pelos educadores acerca de seu fazer. Neste trabalho, que apresenta um recorte da referida pesquisa, o foco da discussão é a atuação das pesquisadoras nesse processo. Os primeiros resultados apontam a ampliação da perspectiva que os educadores tinham acerca da sua própria atuação, o que indica considerar como formativo o coletivo e as interlocuções que ali são promovidas. Apontam também para o entrelaçamento das dimensões pesquisa e formação, o que se deu no emprego dos procedimentos de investigação, no encaminhamento dado ao grupo e no assumir, pelas pesquisadoras, do lugar de pesquisadoras/formadoras. A participação das pesquisadoras no grupo e a proximidade estabelecida com os educadores criaram possibilidades de (in)formação, o que foi fundamental para o processo realizado. Palavras-chave: Pesquisa; Formação Profissional; Grupo. PESQUISA E FORMAÇÃO: APROXIMAÇÕES NO CONTEXTO EDUCACIONAL Introdução No contexto social e educacional atual em que a diversidade constitutiva de todos os grupos sociais, também dos grupos de escolares, tem sido gradativamente considerada, os educadores têm buscado construir práticas educacionais mais

adequadas, o que solicita mudanças nas concepções que estão na base da atuação profissional a partir da reflexão e de processos de formação profissional. A pesquisa a que este texto se refere é realizada em uma instituição de educação não formal de um município do sul do Estado de Minas Gerais e objetivou investigar o caráter formativo da participação dos educadores em um grupo constituído nessa instituição. O encaminhamento metodológico da investigação, cujo desenho se construiu a partir da necessidade dos próprios educadores 1 e contou com a participação de pesquisadoras de uma universidade local, tem em perspectiva tanto um processo de formação como de investigação (LONGARESI, SILVA, 2008; PRADA, 2012). O que se apresenta, um recorte da referida pesquisa, busca evidenciar a articulação, na prática, dos lugares assumidos pelas profissionais da universidade no desenvolvimento da pesquisa - de pesquisadoras e formadoras refletindo como essa atuação incidiu sobre a participação dos educadores. Pesquisa e formação: referenciais teóricos Nas últimas décadas muito se tem falado da necessária universalização do direito à educação para todas as crianças e jovens fazendo-se necessário que os sistemas, escolas e demais instituições envolvidas se organizem para receberem a todos, atendendo os princípios da educação inclusiva (UNESCO, 1994). Em relação às instituições de educação não formal quanto à construção de atendimento educacional adequado para crianças e jovens que apresentam dificuldade de aprendizagem ou algum tipo de deficiência, dois aspectos histórico vêm agregar outros aspectos a esse desafio. Um deles é a substituição do caráter assistencialista pelo educacional, o que está implicado na reorganização dessas instituições; outro aspecto, e que também se relaciona ao primeiro, se refere à necessidade de transformar concepções e práticas construídas, uma vez que havia, e ainda há uma representação social de que o público atendido por essas instituições é constituído de desajustados e/ou desfavorecidos. No que toca ao atendimento de crianças e jovens que apresentam modos diferenciados de interagir e aprender, essa representação social pode interferir no olhar que se tem para eles e na organização de práticas educacionais. O desafio que se 1 Por tratar-se de instituição de educação não formal e, portanto, não escolar, fazemos uso neste texto dos termos educador/res e educando/s.

coloca à essas instituições é mudar visando colaborar no desenvolvimento desses educandos (PEREIRA, 2011). Para tal, pensar em ações de formação profissional continuada é um dos caminhos possíveis às mudanças necessárias. Porém, a formação de que se necessita é a que se apoia na reflexão sobre a prática educacional (NÓVOA, 1995) e no reconhecimento do contexto educacional como lugar privilegiado para a formação (CANÁRIO, 1997). As ideias de professor reflexivo, de D. Schön (1995) e de professor-pesquisador (ZEICHNER, 1998) se colocam como profícuas visando essa formação e, nesse sentido, pesquisa e formação se inter-relacionam. Referimos-nos, porém, à perspectiva de pesquisa educacional que tem como centro as instituições (escolares e não escolares) e seus educadores, e cujos precursores foram Stenhouse (1975) e Elliott (1998). Nessa outra referência de pesquisa os sujeitos e contextos envolvidos consideram-se mutuamente como produtores de saberes e se produzem novos sentidos de interlocução entre os pesquisadores e os sujeitos da pesquisa. No bojo dessa construção, emerge a ideia de pesquisa-formação que, segundo Longarezi e Silva (2008) e Prada (2012), volta-se às situações que, enquanto necessidade, mobilizam os educadores a construir novas práticas. Metodologia da pesquisa A instituição de educação não formal em que a pesquisa está sendo desenvolvida foi criada em 1970 e atendia, em 2014, a 150 crianças com idades entre 4 e 12 anos. O desenvolvimento da pesquisa, de abordagem qualitativa (ESTEBAN, 2010), teve como objeto a participação dos educadores em um grupo constituído na instituição, do qual participavam também pesquisadoras de uma universidade local. As dúvidas dos educadores se constituíram na base sobre a qual o encaminhamento e os procedimentos metodológicos foram construídos, a saber: a observação participativa, o estudo de caso e a análise das narrativas (PRADO; SOLIGO, 2005) orais e escritas produzidas pelos educadores. Do diálogo entre pesquisadoras e educadores: a pesquisa e a formação Os encontros mensais do grupo, com a participação das pesquisadoras, tiveram como encaminhamento o estudo de caso de educandos escolhidos pelos educadores. A

partir da observação de que os educadores tinham um saber fragmentado, descontextualizado e, em algumas situações, contraditório sobre a atuação da criança, um primeiro exercício proposto pelas pesquisadoras foi que reorganizassem seus saberes (individual e no coletivo, de forma oral e, também, de forma escrita). Na discussão sobre o que produziram os educadores, questionar e não responder - foi, no grupo, a forma encontrada pelas pesquisadoras para suscitar reflexões. Educadores dizem que C. sabe a regra, mas não quer cumprir. Ele sabe, afirmam, porque quando questionado sabe dizer o que não é certo. S., uma das pesquisadoras, questiona sobre alguns aspectos apresentados, como: C. parece gostar de J. e por isso fica mais calmo com ela? Quais as diferenças na atuação de C. com J. já que na sala de J. também tem crianças que provocam C? Será que a turma é mais calma? Quando C. muda? J. diz que outra criança, S. é uma influencia boa sobre C. A pesquisadora S. solicita que os educadores reflitam sobre que situações e/ou com quais crianças C. se desorganiza (Notas do Diário de Campo; outubro 2014). Um aspecto que se pode observar nos encontros do grupo se refere à relação entre formar/informar experienciada pelas pesquisadoras. Algumas discussões foram iniciadas pelas mesmas, que, por atuarem profissionalmente nas áreas de Psicologia e Pedagogia, foram solicitadas pelos educadores a socializar o que sabiam. Ressalta-se, porém, que essas (in)formações se davam a partir das situações dilemáticas narradas pelos educadores (LONGARESI; SILVA, 2008). A relação que se estabeleceu entre as pesquisadoras e os educadores propiciou também que as informações circulassem e fossem apropriadas por todos. Nesse sentido, pesquisadoras e sujeitos da pesquisa, pares na situação vivida, se constituíam mutuamente na relação interlocutiva e constitutiva estabelecida, como afirma Amorim (2001 2 ). D., uma das pesquisadoras diz que uma outra questão é perceber o que C. faz quando não está fazendo algo inadequado. J., educadora da instituição, afirma que sabe que ele gosta de história, que sabe disso porque viveu uma situação com 2 A perspectiva constitutiva da relação eu/outro presente na interlocução pesquisador/sujeitos da pesquisa apresentada e discutida por Amorim tem como referência os estudos de M. Bakhtin (1895-1975) acerca do papel da linguagem na formação dos sujeitos.

ele assim. N., sobre a fala anterior da pesquisadora/formadora., diz que o que foi dito despertou algo nela sobre o que não sabia. (Notas do Diário de Campo; novembro 2014). Foi possível, como um dos resultados esperados, observar o início de um processo de reconstrução em que o foco se ampliou do educando para reflexões mais amplas, e que envolviam a própria atuação do educador, como indica o excerto que segue. C. relembra que no final do último encontro D. sugeriu que se levantassem pontos positivos da atuação de C. Alguns educadores disseram que C. ficou suspenso na semana e que ainda têm dificuldades para ver o que ele fez de bom. T., porém, conta que C. trouxe um desenho para mostrar; era o desenho da família com corações. Afirma que ele faz sim coisas que não espera, como essa. T. disse que ao longo dessas semanas pode explicar melhor as coisas para a criança. (Notas do Diário de Campo; novembro 2014). Formar e formar-se (pesquisadoras e educadores) acontecia a cada encontro tendo sempre como mote a prática educacional e os acontecimentos vividos (NÓVOA, 1995). A proposta de que os educadores narrassem por escrito o que sabiam da criança, sua atuação com a mesma e dúvidas foi gradativamente aceito e realizado pelos educadores. Este registro também tinha como objetivo sistematizar as reflexões realizadas. Considerações A análise dos resultados da pesquisa indica que a partilha no grupo foi fundamental para a formação dos educadores e para o próprio desenvolvimento da pesquisa. As reflexões tinham como foco as dúvidas e necessidade dos educadores (dimensão da formação); essas reflexões, sistematizadas e analisadas, no que contribui a escrita das primeiras narrativas, se converteram também em uma metarreflexão sobre o vivido na instituição e no próprio grupo (dimensão da pesquisa). Nesse sentido, as dimensões pesquisa e formação se entrelaçaram no emprego dos procedimentos de pesquisa, no encaminhamento dado ao grupo e nos lugares assumidos pelas pesquisadoras e educadores. Nesse contexto, as pesquisadoras assumiram o lugar de pesquisadoras/formadoras, o que foi construído na sua participação no grupo.

Referências AMORIM, M. O Pesquisador e seu outro: Bakhtin nas Ciências Humanas. São Paulo: Musa, 2001. CANÁRIO, R. (org.). Formação e situações de trabalho. Porto: Porto Editora, 1997. ELLIOTT, J. Recolocando a pesquisa-ação em seu lugar original e próprio. In GERALDI, C. M. G.; FIORENTINI, D.; PEREIRA, E. M. A.(orgs.). Cartografias do trabalho docente: professor(a)-pesquisador(a). Campinas: Mercado das Letras/ALB, 1998. p. 137-153. ESTEBAN, M. P. S. Pesquisa qualitativa em educação. Fundamentos e tradições. Porto Alegre: Artmed/Mc Graw Hill, 2010. LONGAREZI, A. M.; SILVA, J. L. Interfaces entre pesquisa e formação de professores: delimitando o conceito de pesquisa-formação. In: EDUCERE, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: EDUCERE, 2008, p. 4039-4061. NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (org.) Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. p. 15-34. PEREIRA, C. C. Inclusão de pessoas com deficiência em espaços não formais de educação: um estudo dos Centros para crianças e adolescentes. 2011. 181 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011. PRADA, E. A. Metodologia de pesquisa-formação de professores nas dissertações e teses: 1998-2008. In: XI ANPED SUL. Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 2012, Caxias do Sul. Anais...Caxias do Sul: ANPED SUL, 2012. p. 1-16. PRADO, G. T.; SOLIGO, R. Memorial de formação: Quando as memórias narram a história da formação. In: PRADO,G. T.; SOLIGO, R. Porque escrever é fazer

história: revelações, subversões, superações. Campinas: Graf. FE/Abaporu, 2005. p. 47-62. SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: Nóvoa, A. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. p. 77-92. STENHOUSE, L. An introduction to curriculum research and development. Londres: Heinemann, 1975. UNESCO. Declaração de Salamanca e Enquadramento da Ação na Área das Necessidades Especiais. Salamanca: UNESCO, 1994. Disponível em: www.portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf Acesso em: 10 fev. 2015. ZEICHNER, K. Para além da divisão entre professor-pesquisador e pesquisadoracadêmico. In: GERALDI, C. M. G.; FIORENTINI, D.; PEREIRA, E. M. A.(orgs.). Cartografias do trabalho docente. Campinas: Mercado de Letras/ALB, 1998. p. 207-236.