EMPRESÁRIAS DE SUCESSO



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Transcrição:

Resumo EMPRESÁRIAS DE SUCESSO NA GESTÃO DO VAREJO Lucia Simone Grivot Orientador metodológico: Prof. Dr. Márcio de Souza Pires Co-orientadora: Prof. Drª. Janice Inchauspe Pereira Este estudo busca: conhecer características no perfil de empresárias de sucesso na gestão do varejo em Porto Alegre/RS; verificar o significado de sucesso na perspectiva das participantes; identificar fatores determinantes do sucesso; identificar facilidades e dificuldades encontradas nos negócios, decorrentes da condição feminina. Trata-se de uma pesquisa qualitativa. A coleta de informações foi realizada através da técnica de grupos focais. Participaram oito empresárias varejistas, com idade entre 40 e 59 anos, indicadas pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre/RS. O material obtido foi trabalhado através do método de análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Verificou-se como significado de sucesso: reconhecimento, construir, realizar e alcançar objetivos. São fatores determinantes do sucesso: parcerias, persistência, sonhar, iniciativa, garra e perseverança. Dentre as facilidades e as dificuldades encontradas, evidenciam-se: aspectos culturais discriminatórios, conciliar com a família, a multiplicidade da mulher, emoção, duplas jornadas, dentre outros. Palavras-chave: Mulher. Mulher e trabalho. Sucesso. Varejo. Gestão do varejo. 1. Considerações Iniciais A mulher vem conquistando posições no mercado de trabalho e atualmente divide espaço com empreendedores de sucesso, sendo reconhecida pelo mercado. Até alcançar o reconhecimento, foi preciso percorrer uma longa trajetória, romper padrões e vencer obstáculos. Hoje, aquelas mulheres que lutavam por igualdade, buscam destaque entre modelos masculinos criados nas organizações ao longo do tempo. O sucesso das mulheres no trabalho pode estar atrelado à capacidade para conciliar vida pessoal e profissional, alcançando realização em diferentes áreas. São apontadas diferenças entre homens e mulheres, especialmente no que se refere aos estilos de percepção e padrões de comportamento, diferenças essas presentes também no trabalho. Uma característica feminina é o fato de serem educadoras por vocação natural: educam em casa e conseqüentemente na empresa também o fazem (HSM Management, 2004). A partir da década de 60, mudanças nos padrões culturais e valores relativos ao papel da mulher interferiram no perfil do trabalho feminino no Brasil, alterando a identidade feminina. Ao mesmo tempo, a expansão da escolaridade proporcionou o acesso das mulheres a novas oportunidades de trabalho. Esses fatores explicam o crescimento da atividade feminina no mercado de trabalho. As trabalhadoras que nos anos de 1970, em maioria, eram jovens, solteiras e sem filhos, atualmente estão mais velhas, casadas e mães. Mesmo com tantas mudanças, muito continua igual: as mulheres ainda são as principais responsáveis pelas atividades domésticas e cuidados com familiares. Segundo o IBGE, em pesquisa de 2006-07, 79% das mulheres se dedicam a afazeres domésticos e empregam neles 36 horas semanais. Apenas 28% dos homens realizam atividades semelhantes e gastam nelas apenas 4 horas semanais. Pesquisa da Editora Abril, "Melhores Empresas para Trabalhar", organizada pela consultoria internacional Great Place to Work, constata maior participação feminina no comando das empresas brasileiras. Em 2007, as mulheres ocuparam 44% dos postos de trabalho das cem melhores empresas, sendo que 32% dessas atuavam em cargos de liderança índice que era de 11% em 1997. Planejamento de longo prazo e capacidade de trabalhar em equipe são características que fazem diferença na gestão feminina. Outra peculiaridade é a atenção aos detalhes, que se traduz em mais qualidade dentro das organizações. Atualmente, 65% dos estabelecimentos em shopping center são comandados por mulheres, demonstrando destaque das empreendedoras no varejo. Na cidade de Porto Alegre/RS a participação

do varejo na economia é bastante abrangente e diversificada, o setor conta com a atuação de empresárias de sucesso, capacidade demonstrada através de suas trajetórias na gestão do setor. O sucesso pode ter diferentes significados e diversos entendimentos no mundo dos negócios, assim como, na perspectiva de homens e mulheres. Muitas vezes é atribuído sentido pejorativo a sucesso, confundindo com vida-boa ou fama. O empreendedorismo é considerado uma alternativa significativa para o crescimento da economia. Destaca-se o trabalho de David McClelland, psicólogo da Universidade de Harvard, que identificou características comuns entre empreendedores de sucesso em diversos países. Percebeu-se então que o resultado atingido estava diretamente relacionado com a forma de agir, assim, foram descritas dez características do comportamento empreendedor. Baseado no estudo citado, a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu treinamento que visa à prática consciente das características empreendedoras. O presente estudo tem como objetivo: conhecer características no perfil de empresárias de sucesso na gestão do varejo de Porto Alegre/RS. Para isso, propõe: verificar o significado de sucesso na perspectiva das participantes; identificar fatores determinantes do sucesso dessas empresárias; identificar facilidades e dificuldades encontradas nos negócios, decorrentes da condição feminina. Portanto, define-se o problema de pesquisa: Quais as características no perfil de empresárias de sucesso na gestão do varejo de Porto Alegre/RS? 2. Desenvolvimento MÉTODO Esse estudo pode ser caracterizado como qualitativo. Utilizou-se como procedimento para a coleta de informações a técnica de grupos focais e, as informações obtidas, foram trabalhadas através da análise de conteúdo. Os métodos qualitativos têm o objetivo de identificar os significados que as pessoas atribuem aos fenômenos, e não o de medir ou quantificar. As pesquisas qualitativas não precisam, segundo Triviños (1990), apoiar-se na informação estatística. Considera que, as impressões e os significados que um ambiente de estudo proporciona [...] são produto de uma visão subjetiva, [que] rejeita toda expressão quantitativa, numérica, toda medida. (p. 128) Ainda explica que por isso, a interpretação dos resultados surge da soma de investigações baseadas na percepção de um fenômeno em um determinado contexto. Por isso, a pesquisa qualitativa não é vazia, mas coerente, lógica e consistente. Assim, os resultados são expressos, por exemplo, em relatos (ou descrições), em narrativas, ilustradas com declarações das pessoas para dar o fundamento concreto necessário, [...] acompanhados de [...] fragmentos de entrevistas etc. (TRIVIÑOS, 1990, p. 128). Sobre os grupos focais, Romero (2008), refere que são aplicados quando se deseja identificar opiniões; sentimentos; formas de pensar, entender e interpretar a realidade das pessoas nela envolvidas. A discussão sobre um tema determinado norteia os grupos focais; e a coleta de informações, envolve os conteúdos manifestos e latentes, surgido nessa discussão através das linguagens verbais e não-verbais. Para compor os grupos, foi solicitada indicação da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre/RS, entidade de classe representativa do varejo na cidade. Os critérios para identificar as participantes foram definidos conforme: idade a partir de 40 anos (pressupõe tempo para que tenham percorrido uma trajetória significativa, constituíram família e as empresas que criaram já têm tempo para sucessão); mínimo 10 anos de existência do negócio atual (tempo para demonstrar que as empresas estão consolidadas no mercado. Conforme SEBRAE/RS, no estado, 40% das empresas fecham no primeiro ano, 30% no segundo e somente 10% chegam ao quinto ano); atuação principal como empresária varejista (o estudo foi direcionado às características específicas do varejo); trajetória de sucesso na gestão do varejo em Porto Alegre/RS. Dessa forma, os grupos focais foram compostos por oito empresárias, sendo quatro do segmento de vestuário, uma de livros, uma de alimentação e duas de móveis. Possuindo nível superior de escolaridade, idade entre 40 e 59 anos e tempo médio de atuação como empresárias do varejo de 18 anos. Realizou-se gravação em áudio e o conteúdo obtido foi posteriormente trabalhado através da técnica de análise de conteúdo. Segundo Bardin (2009), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. É a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção. Pertencem ao seu domínio todas as iniciativas que, a partir de um conjunto de técnicas complementares, consistam na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da

expressão deste conteúdo. Esta abordagem tem por finalidade efetuar deduções lógicas e justificadas, referentes à origem das mensagens tomadas, o emissor e seu contexto. A MULHER NO TRABALHO [...] nos dias de hoje, não existe mais a essência do masculino e do feminino, mas somente definições históricas sendo, portanto, relativas e revogáveis. [...] forçado a constatar que a dinâmica da igualdade acabou por conquistar um domínio que as sociedades democráticas esforçaram-se durante muito tempo em escamotear: as relações entre homens e mulheres. [...] esta redefinição de papéis profissionais nos conduz a questionar o papel mais fundamental que exerceram desde o início da humanidade, a diferenciação de sexo na organização social (BELLE, 1994, p. 196-197). Bruschini (2004) sugere que mudanças ocorridas nas últimas décadas do século XX, interferiram no perfil característico do trabalho feminino no Brasil: queda da taxa de fecundidade; redução no tamanho das famílias; envelhecimento da população e maior expectativa de vida das mulheres conseqüentemente, aumento do percentual de viúvas e do número de famílias chefiadas por mulheres. Conforme Belle (1994), o exercício do poder pode dividir-se em duas modalidades: um aspecto paternal, autoritário e fazedor de leis, que será vivenciado como hierarquizado; ou um aspecto maternal, ligado a condutas de persuasão e sedução. As pessoas que souberem integrar estas duas tendências em seu estilo de administrar terão maiores oportunidades de sucesso. Abramo (2007) relata que a noção da mulher como uma força de trabalho secundária está no imaginário social, empresarial e das próprias mulheres. Porém, essa noção é cada vez menos adequada para representar as distintas realidades da presença feminina no mercado de trabalho. É um dos elementos sobre os quais se estruturam e se reproduzem as hierarquias e os padrões de discriminação e subordinação de gênero no mundo do trabalho. Afirma ainda que a segregação ocupacional entre homens e mulheres é uma das expressões mais evidentes da discriminação, que está relacionada a construções culturais e sociais que atribuem posições e valores diferenciados ao trabalho realizado por homens e mulheres. Segundo Chanlat (1994), toda pesquisa sobre executivas pressupõe uma renovação dos questionamentos. Os estudos consagrados até hoje sobre o trabalho feminino tratam com freqüência da família que atrai sempre o interesse dos especialistas. A maioria desses estudos foca dois aspectos: a mulher é prioritariamente destinada à esfera doméstica; sua vida profissional é apenas a conseqüência de suas obrigações familiares. A empresa permanece fora do campo de visão dos pesquisadores. Afirma ainda que, o acesso recente das mulheres a postos de responsabilidade na empresa vem questionar a repartição tradicional entre masculinidade e feminilidade. Não se pode estudar a identidade das executivas na organização sem levar em conta que a mulher encontra-se prisioneira nos paradigmas e sistemas de representação viris, e isto é tão mais forte que estas imagens inconscientes estão concretamente instaladas no cerne das instituições. Leone e Baltar (2008) ressaltam que qualquer análise do mercado de trabalho no Brasil deve considerar a progressiva participação das mulheres, desde o final da década de 60. É o aumento da participação feminina que tem sustentado o intenso crescimento da população ativa, embora isso ainda signifique uma dupla jornada de trabalho, na medida em que continuam responsáveis pelos afazeres domésticos. Portanto, sua maior participação no mercado de trabalho vai diminuindo lentamente a segregação em determinados tipos de ocupação. Demonstram a continuidade do aumento da participação da mulher na atividade econômica, manifestado através do crescimento do trabalho feminino por conta própria (Tabela 1), o que acentua o crescimento da participação da mulher na renda familiar. TABELA 1 Distribuição da PEA por conta-alheia e conta-própria e taxa de crescimento, por sexo Brasil 2004-2006 TAXA DE Indicadores Homens Mulheres CRESCIMENTO 2004-2006 (%) 2004 2006 2004 2006 Homens Mulheres PIA (pessoas de dez anos e mais) 100,0 100,0 100,0 100,0 2,15 2,17 PEA 73,2 72,9 51,6 52,6 1,95 3,19 Conta-alheia 63,6 64,3 69,5 69,8 2,53 3,34 Conta-própria 36,4 35,7 30,5 30,2 0,93 2,82 Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD 2004 e 2006. Leone e Baltar (2008) destacam o mercado de trabalho por conta-própria, considerando que o aumento do número de empregadores foi intenso, principalmente para mulheres, elevando assim sua representatividade na ocupação total por conta-própria (Tabela 2). TABELA 2 Distribuição da PEA por conta-própria e taxa de crescimento, por sexo, segundo posição na ocupação (Brasil 2004-2006)

Homens Mulheres Taxa de Crescimento Indicadores 2004-2006 (%) 2004 2006 2004 2006 Mulhere Homens s Conta-própria 100,0 100,0 100,0 100,0 0,92 2,82 Empregador 13,4 14,9 7,4 8,1 6,44 8,27 Autônomo 66,6 65,4 47,3 47,4 0,02 2,95 Nãoremunerado 13,9 11,9 26,3 23,8-6,46-2,32 Autoconsumo e autoconstrução 6,1 7,8 19,0 20,7 13,83 7,2 Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD 2004 e 2006. Mesmo que apresentando aumento de participação, os mesmos autores apontam que a segregação das mulheres no trabalho ainda não foi eliminada, parte desta se expressa na reduzida participação entre os empregadores e os autônomos (Tabela 2). Manifesta-se ainda nas diferenças de renda (Tabela 3). TABELA 3 Distribuição dos ocupados com 15 anos e mais de estudo, por posição na ocupação e sexo, segundo faixas de rendimento (Brasil 2004-2006) Salários Formal (1) Sem carteira Autônomo Empregador (%) Mínimos Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Menos de 2 3,7 8,7 13,8 19,5 7,6 12,8 3,6 6,6 De 2 a 3 7,2 14,5 13,9 17,5 7,8 11,0 6,0 6,9 De 3 a 5 17,5 27,1 22,1 28,5 18,5 21,6 12,1 19,1 De 5 a 10 34,5 33,2 26,8 24,4 31,5 30,2 28,0 29,4 10 e mais 37,1 16,5 23,4 10,1 34,6 24,4 50,3 38,0 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD 2004 e 2006. (1) Inclui empregado em estabelecimento e serviço doméstico com carteira assinada. SUCESSO Sucesso é acordar de manhã não importa quem você é, onde você está, se é velho ou se é jovem e pular da cama porque existem coisas importantes que você adora fazer, nas quais acredita, e em que você é excelente. Algo que é maior que você, que você quase não resiste esperar para empreendê-lo hoje (WHIT HOBBS, 2009*). O sucesso está diretamente relacionado à capacidade de alcançar os objetivos planejados. Seu significado literal sugere acontecimento, resultado feliz, que alcança grande êxito, de largo prestígio e/ou popularidade (Ferreira, 1998). O sucesso é uma expressão utilizada desde a Grécia Antiga, que foi remodelada e recebeu novos significados no transcorrer dos tempos, reforçada nos anos 60. Por muito tempo o sucesso esteve somente relacionado ao trabalho e a sua busca diretamente associada a seguir uma carreira profissional de destaque. A partir da década de 80 os gestores passaram a questionar se tanto esforço realmente valeria à pena. Nos anos de 1990 o significado de sucesso foi ampliado, sendo visto também como sucesso pessoal dando margem a uma dimensão privada e familiar. Huggins (apud SILVA, 2006) define sucesso não somente como a busca de dinheiro ou tecnologia, mas a descoberta de um equilíbrio entre trabalho, lazer, família e comunidade. Entretanto, mesmo que o significado de sucesso tenha sido ampliado, ainda se mantém um conceito adotado desde a década de 60, onde o foco do indivíduo ou o seu tempo maior era voltado para conseguir atingir o sucesso profissional, esquecendo outras dimensões da vida pessoal, como a exemplo da família, Bertolomé e Evans (apud SILVA 2006). Assim como a vida pessoal pode influenciar no trabalho, apontam também o trabalho interferindo na vida pessoal. Consideram que para haver vida pessoal saudável é necessário que o indivíduo seja capaz de administrar as dificuldades do trabalho, o que não ocorre para a maioria. Morgan (2002) destaca que um indivíduo que vivencia um progresso ou sucesso, muitas vezes quer ir além, atingir mais e mais, ou melhor, o poder atua como estimulador ou catalisador para o indivíduo na busca insaciável do sucesso. Descreve que, apesar do sucesso não ter um significado único para todos, constitui um objetivo comum, variando os critérios de sucesso conforme a profissão e a cultura em que o indivíduo está inserido. Considera o interesse como sendo um conjunto de predisposições de valores, desejos e objetivos que acabam direcionando a pessoa na sua ação, concebendo interesses em três aspectos: tarefa, carreira e vida pessoal. Lacombe (2002) pondera que, quando desenvolve uma carreira, a relação que o indivíduo estabelece com o trabalho se revela, pois, a carreira profissional está diretamente relacionada a duas dimensões: a objetiva cargos que o indivíduo ocupa na trajetória profissional; e a subjetiva como percebe a trajetória percorrida. Projetar uma carreira de sucesso envolve indivíduo, organização e interesses de ambos. McClelland, através da Teoria da Motivação pelo Êxito e/ou Medo, por Rego e Leite (2003), destaca três motivos/necessidades que orientam a dinâmica do comportamento humano, como está demonstrado a seguir (Quadro 1). QUADRO 1 - Teoria da motivação pelo êxito e/ou pelo medo Motivo/Necessidade Realização Afiliação Poder Fonte: Nutep Escola de Administração UFRGS. Meio de satisfação - competir como forma de auto-avaliação - relacionar-se cordial e afetuosamente - exercer influência

Rego e Leite (2003) afirmam que, esta teoria sustenta que diferentes indivíduos têm diferentes níveis de cada motivo, mas nunca a inexistência de qualquer deles, em especial o da realização. Esses motivos têm relação íntima à resolução de problemas. Sendo assim, quando o indivíduo obtém sucesso, utilizando-se de determinado motivo, tenderá a repeti-lo para a solução de outros problemas, o que caracterizará o estilo da pessoa. Os mesmos caracterizam os motivos de sucesso baseados nos extensos estudos inspirados por McClelland: a) motivo de realização: representa uma orientação para excelência, preferência por riscos moderados, procura o feedback visando melhora do desempenho. Aqueles fortemente motivados para a realização aspiram metas elevadas, mas realistas, tomam iniciativa, tendem a ser inquietos e a bem-sucedidos como empreendedores; b) motivo afiliativo: representa uma orientação por relações fortes e amistosas. As pessoas fortemente motivadas para a afiliação tendem a agir amigável e cooperativamente, embora possam atuar irada e defensivamente sob condições de ameaça; c) motivo de poder: orientação para o prestígio, busca de posições de influência, assumir riscos elevados, e produzir impacto nos outros. A elevada motivação pelo poder está associada a atividades competitivas e assertivas, ao interesse em alcançar e manter prestígio e reputação. Barletta (2003) afirma que os homens tendem a ser obstinados e focados, enquanto as mulheres tendem a ser mais abrangentes e integradas. Destaca que suas principais diferenças são que as mulheres demonstram ser mais detalhistas na observação de um ambiente, enquanto os homens se detêm à visão geral. Também se refletem na forma como os dois gêneros estruturam suas atividades diárias e de trabalho. Homens listam suas atividades e, somente após concluírem uma, passam a executar outra. Já as mulheres desenvolvem várias atividades simultaneamente e, quando não estão fazendo mais de uma atividade ao mesmo tempo, em geral sentem certo desconforto e afirmam que seus esforços não estão rendendo o esperado. Considera ainda que: [...] o efeito multiplicador é exercido pela mulher consumidora. O que as mulheres compram, elas vendem quando estão satisfeitas com os produtos e serviços, falam para outras pessoas homens e mulheres. O resultado desse boca a boca é a ferramenta de marketing mais poderosa que você poderia esperar. E não apenas por ser de graça: tem mais credibilidade, é mais eficaz e persuasiva do que qualquer tática paga de marketing. Cada nova mulher consumidora que você conquista gera um efeito multiplicador de vendas direcionadas e negócios extras (p. 23). Ferry (2004) compreende que a busca do sucesso é muitas vezes a meta principal, mas que não é dita pela pessoa. Chega-se ao ponto de êxito assumir um modo de culpabilização do indivíduo: os fracassados permanecerão anônimos. Afirma que o sucesso pode também ter assumido significado de vida-boa ou fama, mas não pode ser somente assim considerado, pois, vai além. O que mais caracteriza a época contemporânea é a convicção de que sucesso ou fracasso não pode mais ser avaliado com base na transcendência. É na vida concreta, sem sair da esfera real ou fugir em direção a qualquer princípio superior, que decretamos uma existência mais ou menos bem-sucedida, mais ou menos rica e intensa, ou ao contrário. Pondera ainda que, atualmente vida bem-sucedida substituiu o termo vida-boa e hoje o êxito social foca performance e alto desempenho. Ressalta que uma vida realmente bem-sucedida está relacionada a ser bem-sucedido socialmente, inerente aos valores construídos pela sociedade, mas que difere de pessoa para pessoa, podendo significar ser admirado, inteligente ou ter status. Pahl (1997) aborda que muitas vezes a busca pelo sucesso traz consigo ansiedade, frustração e insegurança, pois o fracasso está relacionado somente à própria pessoa. Assim, afeta o indivíduo como um todo, acarretando dificuldades nos relacionamentos afetivos e acostuma-se estar menos tempo com a família. Considera ainda que atualmente, ocorre o que pode ser denominado obsessão tecnológica, enriquecimento e ânsia por status e que esses fatores geram dúvidas sobre o que é necessário para alcançar sucesso. Complementa que, enquanto as mulheres engendram-se no mundo dos negócios e na competição organizacional, os homens tentam engendrar-se no mundo da família, do lar, estando assim, ambos os gêneros procurando um equilíbrio. O VAREJO As mais antigas relíquias descobertas pelo comércio, segundo Las Casas (2007), mostram a existência de atacadista e varejista em épocas bem remotas, de modo que Atenas, Alexandria e Roma foram grandes áreas comerciais, e os gregos, conhecidos como excepcionais comerciantes. As lojas tornaram-se numerosas em Roma e em outras cidades imperiais, formando-se vários centros de compras, atualmente denominados shopping centers. No Brasil, o varejo iniciou-se no final do século XIX. Nos períodos seguintes surgiram estabelecimentos que fizeram história, como Casa Masson (1871), Casas Pernambucanas (1906) e

Mesbla (1913), com sedes instaladas nas principais cidades do país, a exemplo de Porto Alegre/RS. Las Casas (2007) afirma que atualmente, atendendo às mudanças dos hábitos de compra, qualquer produto pode ser oferecido através da Internet. Assim, consumir ficou mais prático, rápido e fácil, bastando estar próximo a um computador. Porém, para o varejo é fundamental, mesmo não necessitando de um ponto físico, atentar à qualificação da equipe, o que é de suma importância para o sucesso da empresa. Considera ainda que existem diversas definições de varejo, sua essência é a comercialização de produtos e serviços a consumidores finais. Kotler (apud LAS CASAS, 2007) indica que o varejo inclui todas as atividades envolvidas na venda de bens ou serviços diretamente aos consumidores finais para uso pessoal. Portanto, qualquer organização que utiliza de venda, seja fabricante, atacadista ou varejista, está praticando varejo. Não importa nem mesmo o local ou a forma em que está sendo praticado. Segundo Parente (2009), à medida que as empresas varejistas se expandem, passam a adotar tecnologias avançadas de gestão, desempenhando papel cada vez mais importante na modernização do sistema de distribuição e da economia brasileira. Considera ainda que, ao longo das últimas décadas o varejo atravessou um intenso ritmo de transformação. Se voltasse no tempo até uma metrópole brasileira em 1960, notaria que ainda não existia shopping centers, hipermercados, clubes de compras, franquias, ou pet shops. Ao longo do tempo, vários modelos cederam lugar a novos formatos, mais eficientes e mais adequados ao mercado consumidor. O autor constata ainda que, o varejo representa mais de 10% do PIB brasileiro, as atividades varejistas desempenham um papel de relevante importância no cenário econômico do país. Nos últimos anos, está passando por um processo de transformação especialmente intenso. Com o acelerado ritmo de consolidação do setor, um número crescente de varejistas aparece na relação das maiores empresas do Brasil. O Carrefour e o Pão de Açúcar situam-se entre as cinco maiores empresas privadas brasileiras. Dentre as cem maiores empresas privadas brasileiras, doze são varejistas. Afirma também que é preciso entender a dinâmica do mercado e enfrentar com sucesso as mudanças dramáticas que estão ocorrendo no setor. Considera que mesmo o varejista sendo intermediário, cada vez mais assume função pró-ativa na identificação das necessidades do consumidor e na definição do que deverá ser produzido para atender expectativas do mercado. Las Casas (2007), expõe que as mudanças decorrentes da abertura de mercado estão modificando o varejo, principalmente com os grupos estrangeiros. A acirrada concorrência leva o segmento a buscar pela diferenciação, seja por investimentos em automação ou treinamento de pessoal, mas sempre visando à agilidade e eficiência operacional. Observa que objetivando a fidelidade do cliente, o varejo tem sido pressionado a utilizar estratégias cada vez mais focadas no consumidor, gerando dessa forma um ritmo mais competitivo, o que possibilita a expansão desse segmento de negócio. Conforme o mesmo autor, ao se analisar o cenário descrito, é fácil perceber a importância do varejo no contexto mercadológico e econômico. Seu papel é o de intermediar a mercadoria entre o consumidor final. Por esses fatores, além de criar emprego e girar a economia, o varejo é o principal elemento de ligação da cadeia de distribuição. Segundo o autor, o varejo precisa de uma boa administração e de administradores para planejar, organizar, e controlar a sobrevivência e o futuro dos seus negócios. Caso contrário, verão seus esforços desmoronar mediante a concorrência e a competitividade existente no setor. As funções do administrador serão estabelecidas conforme a cultura da organização, mas sempre será ele que decidirá quais variáveis controláveis sofrerão influências das variáveis incontroláveis do ambiente em que está inserido. Determinar qual a melhor forma de administrar, ou qual o perfil do administrador do varejo pode ser inadequado. Porém, para Las Casas (2007), algumas características são primordiais e essenciais a esse profissional, tais como: dinamismo; flexibilidade; adaptação às mudanças dos ambientes interno e externo; atuação criativa e inovadora; entender o consumidor e atualizar-se constantemente, para conhecer as tendências mercadológicas independentemente da estrutura ou porte da organização. Considera ainda que, é importante o profissional estar atento às tendências do futuro, preparar-se para enfrentá-las é a tônica do varejista. Mesmo que as preocupações presentes sejam muitas e o mantenham muito ocupado, analisar novas tendências é uma atividade necessária para o empresário do setor. Afirma que para ser bem-sucedido no varejo, é preciso estar alerta e pronto para se adaptar aos desafios do mercado, é também fundamental estar em permanente processo de melhoria.

RESULTADOS DA PESQUISA Apresenta-se a seguir os resultados da análise das categorias: significado de sucesso; fatores determinantes do sucesso; facilidades e dificuldades encontradas nos negócios, decorrentes da condição feminina. Significado de Sucesso Na busca desse significado as participantes apontam: desafio, reconhecimento, assim como manter orientação para resultados e alcançar objetivos. É também considerado sinônimo da qualidade com a qual realizam suas atividades profissionais, sendo o resultado de muito trabalho e dedicação. Morgan (2002) descreve que, apesar do sucesso não ter um significado único para todos os executivos, constitui um objetivo comum variando os critérios de sucesso conforme a profissão e a cultura em que o indivíduo está inserido. É possível alcançar o sucesso, independente do porte da empresa, como refere uma participante: Não somos uma empresa grande. Não somos uma rede. Bem diferente, de certas realidades. A gente tem empresa com uma loja só e eu acho que somos muito bem sucedidos. Ferry (2004) considera que, sucesso pode também ser tratado de forma pejorativa quando é percebido como vida-boa. Essa é uma noção limitada, mas está presente na concepção de algumas participantes, o que pode ser observado quando afirmam: soa arrogante, ser bem-sucedida parece ser diferente de ter sucesso, não acredito no sucesso. Constata-se que muitas pessoas trazem dentro de si mesmo que não revelem, ou até mesmo neguem crenças relacionadas a sucesso, a algo não permitido. Essas crenças podem determinar a dificuldade de reconhecer sucesso como algo positivo. A que sucesso significa algo errado, sem valor verdadeiro, vazio, ou desmerecedor de reconhecimento. A análise das informações obtidas permite afirmar que sucesso é um conjunto de resultados positivos em diferentes áreas da vida, especialmente para as mulheres, que cuidam de cada uma dessas áreas não se satisfazendo com o sucesso em uma delas em detrimento de outra. Fatores Determinantes do Sucesso A posição feminina em relação ao consumo pode ser determinante do sucesso da mulher varejista: aquilo que compram, vendem naturalmente a outros. Dessa forma parecem tirar proveito das características de consumidora, utilizando-as como uma ferramenta de gestão. Uma participante comenta sobre o seu atendimento às clientes quando provam roupas em sua loja: Eu consigo ouvi-las. Não precisa falar muito para eu entender, é só escutar [...] Dificilmente eu deixava a cliente sair enquanto eu achava que não estivesse bom. Se a pessoa insistia, tudo bem. Eu acho que não está bom! Está muito justo! Mas se tu gosta, tudo bem. Jogava limpo! E elas adoram isso. Porque eu não estou querendo só vender. Isso surpreende. Evidenciou-se a relação entre o sucesso alcançado e as parcerias, ou seja, sucesso depende de bons parceiros. Foram referidos cônjuges, irmãos, ou mesmo sócios. As participantes consideraram também que é preciso ter obstinação, iniciativa, garra e perseverança e afirmam que essas são características femininas. Relacionam o sucesso à dedicação, persistência, disponibilidade para crescer, construir e realizar. Foi afirmação freqüente nos grupos o fato das mulheres serem múltiplas. Ter um sonho e seguir em direção a ele para alcançar o sucesso é também considerado pelas empresárias como sendo fundamental. Sobre sonhos, outra participante refere: Eu sonhei muito alto. Achava quase inalcançável. Olho para minhas conquistas e nem acredito. Morgan (2002) examina sucesso e poder: destaca que um indivíduo que vivencia o sucesso muitas vezes quer ir além, atingir mais e mais. Considera que o poder atua como estimulador ou catalisador do sucesso. Ainda sobre o significado e importância da família relacionada ao sucesso, evidenciou-se que a família é tão importante quanto o negócio. De acordo com as participantes não há como obter sucesso em uma ou outra área da vida, sem o apoio da família. Esses elementos evidenciam algumas características do perfil das empresárias de sucesso na gestão do varejo. Como Rego e Leite (2003) denominam por motivos de sucesso, que orientam a dinâmica do comportamento humano. Esses motivos estão relacionados aos padrões individuais de resolução de problemas e tendem a ser repetidos à medida que a pessoa alcança sucesso utilizando um determinado motivo.

Facilidades e Dificuldades Encontradas nos Negócios, Decorrentes da Condição Feminina Conforme Barletta (2003), os homens tendem a ser focados, enquanto, as mulheres tendem a ser mais abrangentes, integradas e detalhistas na observação de um ambiente. Isso se verifica, na atuação das participantes desse estudo, quando afirmam que a mulher evidencia e demonstra suas emoções, tirando proveito delas para tornar o ambiente belo e harmonioso. Isso pode ser observado na criação de vitrines assim como na relação cuidadosa com a equipe de trabalho. A emoção foi muito citada e considerada de fundamental importância para o sucesso na atuação da mulher. Os relatos a seguir elucidam essas características que podem ser consideradas facilidades para o sucesso: Mulher tem mais alma no que ela está fazendo. A mulher é mais preparada para lidar com a emoção. Sentimento e percepção sensorial são segredos do sucesso da mulher no trabalho. Conseguir ficar atenta a várias coisas ao mesmo tempo, aos sentimentos, as tarefas a realizar, ao objetivo da tarefa. Preocupada também com a rentabilidade que vai trazer para a família. Isso tem a ver com o sucesso da mulher. O varejo tinha que ser movido pelas mulheres. Porque são elas que dão emoção a tudo. E varejo é isso: é emoção! Huggins (apud SILVA, 2006) define sucesso não somente como a busca de dinheiro, mas um equilíbrio entre trabalho, lazer, família e comunidade. Pahl (1997) considera que muitas vezes a busca pelo sucesso acaba acarretando dificuldades ao indivíduo, bem como, acostuma ficar menos tempo com a família, o que pode ser confirmado quando uma participante relata: Sempre o mais complicado para mim foi administrar a vida pessoal com a profissional. É questão de tempo, prazos, agenda [...] sobra menos tempo para vaidade, para saúde [...] saúde engloba uma atividade física [...] essas coisas acabam ficando comprometidas. Sempre cuida bem do lado profissional, já o pessoal, a família, isso acaba ficando em terceiro plano. Bruschini (2004) refere que mudanças sociais interferiram no perfil característico do trabalho feminino no Brasil. Mudanças nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel da mulher alteraram a identidade feminina. Essas mudanças e a predominância de padrões masculinos no trabalho são evidenciadas quando as participantes afirmam: CONCLUSÕES Somos sempre podadas e isso, nos faz crescer. Há grandes diferenças entre a mulher varejista e as outras empresárias, aquelas que trabalham até sexta-feira. Nós não temos hora. Na hora que os normais descansam, nós trabalhamos dobrado. Não ter estabilidade para a minha mãe era muito difícil. A maneira que eu tinha de lidar com isso era omitindo. Era fazer, e depois que estava feito, aí eu contava. Precisou o mercado reconhecer e valorizar o que eu fiz, para a minha mãe reconhecer, e hoje estimular. Meu pai queria que eu fosse professora. No máximo, que eu casasse com um fazendeiro ou militar e fosse dona de casa. Na época militar era muito bem reconhecido [...] Pra mim foi muito difícil o reconhecimento. Nesse mês que vem a empresa está fazendo vinte anos. Hoje posso sentar ao lado do meu primeiro chefe. Desde pequena eu não queria aquela vida. Eu achava um terror ser submissa. Eu sempre sonhei muito alto, queria ser diferente. Mas quase imaginando nunca alcançar esse objetivo. Achava praticamente impossível para uma criaturinha completamente analfabeta como eu era. Hoje olho para as minhas conquistas e nem acredito. Hoje a gente ainda vive um mundo muito machista e totalmente masculino. A gente vai comendo pelas beiradas e chega lá. A coleta de informações através dos grupos focais foi fundamental para a obtenção do conteúdo e do resultado apresentado ao final da pesquisa. Pode-se verificar os significados de sucesso, os fatores determinantes do sucesso, e também as facilidades e dificuldades encontradas nos negócios, decorrentes da condição feminina. Dessa forma, o objetivo geral desse estudo, que propôs conhecer características no perfil de empresárias de sucesso no varejo de Porto Alegre/RS, foi cumprido. A análise do conteúdo dos grupos possibilitou conhecer as características dessas empresárias, sendo que algumas foram mais freqüentes. A análise dos resultados descreve alguns dos significados que as participantes atribuíram a sucesso, o que coincide as idéias dos autores referidos quanto aos diferentes significados de sucesso para cada indivíduo. Alguns relatos demonstraram limites impostos pela família e situações de êxito através do uso de características femininas, o que gerou facilidades e dificuldades encontradas nos negócios decorrentes da condição feminina. O estudo oportunizou o debate entre empresárias varejistas reconhecidas pelo mercado. Suas trajetórias de sucesso foram ouvidas e analisadas com o intuito de conhecer características do seu perfil. A apresentação dessas características femininas permite que outras pessoas possam inspirar-se e buscar praticá-las conscientemente, intensificando aquelas já evidenciadas e/ou desenvolvendo outras, aumentando suas chances de

sucesso. Pode-se concluir que há muito a ser conhecido e ouvido das pessoas, por isso, há necessidade de investimento na discussão acerca das experiências na gestão do varejo, contribuindo para o desenvolvimento do setor. 3. Considerações Finais A partir desse estudo, espera-se gerar inspiração a outras pesquisas para continuidade em conhecer o tema. Poderão ser criados projetos de interesse ao meio acadêmico e empresarial. Sugere-se a implantação de um núcleo de pesquisa na Faculdade IBGEN sobre o tema aqui abordado e que a participação dos diferentes cursos, possa promover uma abordagem interdisciplinar entre as diferentes áreas do conhecimento. Também sugere-se a implantação de grupos de discussão sobre o tema, com a participação das empresas parceiras, o que pode aproximar o meio acadêmico e empresarial, como intencionado pela instituição. Será uma oportunidade de aprendizado extracurricular, complementando, a formação acadêmica e gerando diferencial. A proposta de continuidade estende-se também à CDL POA que poderá, através de pesquisa de maior abrangência, conhecer em maior profundidade as empresárias varejistas atuantes em Porto Alegre/RS. As informações obtidas contribuirão para o crescimento do varejo. Foi também demonstrado pelas participantes o desejo por novos encontros para a discussão do tema. Portanto, sugere-se a criação de um grupo regular para discussão das características femininas na gestão do varejo. O que será de relevante contribuição para o desenvolvimento pessoal e profissional dos participantes e conseqüentemente, do setor varejista. Referências BRUSCHINI, Cristina; PUPPIN, Andrea Brandão. Trabalho de mulheres executivas no Brasil no final do século XX. Rio de Janeiro: Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas; Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, 2004. CHANLAT, Jean-François. O indivíduo na organização. São Paulo: Atlas, 1994. DOSSIÊ: as mulheres e o management. HSM Management, São Paulo, v. 2, n. 43, p. 49-74, mar./abr. 2004. FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. FERRY, Luc. O que é uma vida bem-sucedida? Portugal: Difel, 2004. LACOMBE, Beatriz Maria Braga. O aluno de administração de empresas, o trabalho e a construção da carreira profissional: contribuições de um estudo na grande São Paulo. In: ENAMPAD, 26., 2002, Salvador. Anais... Salvador: ANPAD, 2002. LAS CASAS, Alexandre Luzzi; GARCIA, Maria Tereza. Estratégias de marketing para varejo. São Paulo: Novatec, 2007. LEONE, Eugenia Troncoso; BALTAR, Paulo. A mulher na recuperação recente do mercado de trabalho brasileiro. Revista Brasileira de Estudos de População, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 233-249, jul./dez. 2008. MORGAN, Gareth. Imagens da organização: edição executiva. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. PAHL, Ray. Depois do sucesso. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: gestão e estratégia. São Paulo: Atlas, 2000. REGO, Arménio; LEITE, Emanuel. Motivos de sucesso, afiliação e poder: um estudo de validação do constructo no Brasil. Estudos de Psicologia, v. 8, p. 185-191, jan./abr. 2003. ROMERO, Sonia Mara. A utilização da metodologia dos grupos focais na pesquisa em psicologia. 2. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Sulina, 2008. SILVA, Juliana Vieira Almeida. As relações de trabalho, família e sucesso: um estudo com gerentes. 2006. 175 f. Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2006. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1990. Sobre o Autor Lucia Simone Grivot Administradora (CRA 033664). Psicóloga em formação. Coach certificada pelo Instituto Brasileiro de Coaching, European Coaching Association e Global Coaching Community. Analista Comportamental no Instrumento Coaching Assessment. Atua por mais de 20 anos na área organizacional em cargos de Gestão e como Consultora. Sócia da Consultoria Détien Planejamento e Gestão. E-mail: simone@detien.com.br ABRAMO, Lais Wendel. A inserção da mulher no mercado de trabalho: uma força de trabalho secundária? 2007. 327 f. Tese (Doutorado em Sociologia) Faculdade de Sociologia, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2007. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 5. ed. rev e atual. Lisboa: Edições 70, 2009. BARLETTA, Martha. Como as mulheres consomem: marketing para impactar e seduzir o maior segmento do mercado. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003. BELLE, Françoise. Executivas: quais as diferenças na diferença? In: CHANLAT, Jean-François (Org.). O indivíduo na organização. São Paulo: Atlas, 1994. v. 2, p. 195-231.