Conceptualizando Alfabetização e Letramento

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Transcrição:

Curso: Alfabetização e letramento na educação bilíngue SINPRO-SP, fev a abr/2012 Conceptualizando Alfabetização e Letramento Selma de Assis Moura

O que é alfabetizar? (segundo o dicionário) Ensinar a Ler. O que é ler? Conhecer, interpretar por meio de leitura Conhecer as letras do alfabeto e saber juntálas em palavras Pronunciar ou recitar em voz alta o que está escrito Estudar, vendo o que está escrito Decifrar ou interpretar bem o sentido Decifrar, perceber, reconhecer (Dicionário Michaelis)

ALFABETIZAÇÃO ALFABETIZAR ANALFABETISMO ALFABETIZADO ANALFABETO LETRAMENTO ILETRADO ALFABETISMO

ANALFABETISMO-estado ou condição de analfabeto A (n) + alfabet + ismo Prefixo grego - Privação - falta Sufixo -modo de proceder -modo de pensar ANALFABETO que não conhece o alfabeto, que não sabe ler e escrever. ALFABETIZAR tornar o individuo capaz de ler e escrever ALFABETIZAÇÃO é a ação de alfabetizar, de tornar alfabeto. ção- sufixo = AÇÃO

Perspectiva Condutista Pré-requisitos para alfabetização: período preparatório Cartilhas, silabários, leitura fotossilábica Aprendizagem = resultado direto do ensino (instrução)

Não se pode permitir que a criança entre em contato com um objeto antes de ter as condições necessárias de maturidade. (...) Basta analisar os exercícios de maturidade que se propõe para o adestramento, preparação, ou prontidão para a língua escrita, para dar-se conta de que o que se está preparando é a mão para que pegue o lápis e faça traçados controlados; o olho para que distinga entre formas fechadas e abertas, curvas e retas, orientação acima/abaixo e direita/esquerda; o ouvido para que distinga as diferenças sonoras desligadas do significado, e o aparelho fonador para que pronuncie isoladamente os sons que nunca são produzidos isoladamente na fala. De nenhuma maneira está se preparando a inteligência da criança para compreender esse modo particular de representação da linguagem que é o sistema alfabético de escrita (Emília Ferreiro, Com Todas as Letras)

A criança em sua integridade psicológica desaparece e se converte numa soma de elementos isolados (uma mão, um par de olhos, um aparelho para registrar e outro para produzir ruídos estranhos). E também desaparecem a língua e a escrita como tais (esta última deixa de ser representação para transformar-se em mero conjunto de formas gráficas). Leitura = decodificação Escrita = codificação

O que significa ser alfabetizado? Alfabetizado é aquele que consegue juntar as letras, percebendo seus sons? Alfabetizado é aquele que consegue ler e escrever seu nome e palavras simples? Alfabetizado é aquele que consegue ler e compreender qualquer tipo de texto? Alfabetizado é aquele que consegue escrever textos simples? Alfabetizado é aquele que consegue ler e escrever qualquer tipo de texto?

O que é a escrita? Código de comunicação? Representação da fala? Representação de idéias? O que a escrita representa? Como a escrita representa?

A escrita não é um código de transcrição da língua oral - mas sim um sistema de representação da realidade e o processo de alfabetização é o domínio progressivo desse sistema, que começa muito antes de a criança se escolarizar. Por ser um membro de uma sociedade letrada, a criança adquire noções sobre a língua escrita antes de ingressar na escola Martha Kohl de Oliveira, em Por trás das letras.

Psicogênese da língua escrita Psico Gênese Perspectiva Construtivista Contribuições de Jean Piaget, Vygotsky, Luria, Emília Ferreiro, Ana Teberosky,Telma Weisz, Paulo Freire, Isabel Solé...

A aprendizagem da leitura e da escrita tem uma profunda influência sobre muitos aspectos da competência lingüística dos falantes, e isso em níveis tão díspares como o fonema, o morfema, a palavra ou o texto (Ana Teberosky e Teresa Colomer)

Conflitos conceituais sobre letramento e alfabetização Paulo Freire, Emília Ferreiro, Moacir Gadotti, entre outros X Magda Soares e PCNs

Para Magda Soares Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, lingüísticas e psicolingüísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita o letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só pode desenvolver-se no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização. (Magda Soares)

Para Paulo Freire A alfabetização tem sido entendida tradicionalmente como um processo de ensinar e aprender a ler e escrever, portanto, alfabetizado é aquele que lê e escreve. O conceito de alfabetização para Paulo Freire tem um significado mais abrangente, na medida em que vai além do domínio do código escrito, pois, enquanto prática discursiva, possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social (Paulo Freire, Educação na cidade, 1991, p. 68). Ele defendia a idéia de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, fundamentando-se na antropologia: o ser humano, muito antes de inventar códigos lingüísticos, já lia o seu mundo. (Moacir Gadotti)

O que é preciso para alfabetizar? Ambiente alfabetizador Professor como modelo de leitor mais experiente: práticas de leitura Possibilidade de reflexão, interação, construção Contato com diversos portadores de texto Atividades: atuar na Zona de Desenvolvimento Proximal (difíceis mas possíveis)

Portadores de texto: Jornais, revistas, gibis, folhetos, bulas de remédio, livros, textos da Internet, guia de ruas, catálogos, propagandas Ler para quê? Para ter prazer, para se divertir, para saber mais sobre determinado assunto, para buscar informações específicas, para seguir instruções, para se informar do que acontece, para estudar,

Restituir à língua escrita seu caráter de objeto social Desde o início (inclusive na educação infantil) aceita-se que todos podem produzir e interpretar escritas, cada qual em seu nível Permite-se e estimula-se que as crianças tenham interação com a língua escrita, nos mais variados contextos. Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio Não se pode pedir de imediato correção gráfica nem correção ortográfica

O que sabemos é que os professores que se atrevem a dar a palavra às crianças e a escutá-las descobrem rapidamente que seu próprio trabalho se torna mais interessante (e inclusive mais divertido), embora seja mais difícil porque os obriga continuamente a pensar. Emília Ferreiro, Com Todas as Letras