ALFABETIZAÇÃO: DA HISTÓRIA DOS MÉTODOS AO TEXTO
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- João Gabriel Brandt Teixeira
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1 ALFABETIZAÇÃO: DA HISTÓRIA DOS MÉTODOS AO TEXTO CRUZ, Eliane Travensoli Parise - UEPG Resumo A pesquisa de cunho bibliográfica tem por objetivo apresentar um breve resgate histórico sobre a alfabetização no Brasil, explicitando as principais características dos métodos sintéticos, que se dividem em: soletração (alfabético), fônico e da silabação, também as ideias do método analítico, assim como os pressupostos do Construtivismo com os estudos realizados por Emília Ferreiro apresentando as cinco fases do processo de aquisição da escrita e ainda as novas teorias sobre o processo sociointeracionista da linguagem que elege o texto como núcleo do processo de alfabetização. Na seqüência, são apresentadas as considerações finais a respeito do trabalho com o texto enfatizando que é na prática de sala de aula que o professor irá construir uma ação pedagógica, cujo processo de alfabetização esteja pautado em duas dimensões: a do significante e a do significado em contextos significativos. PALAVRAS-CHAVE: métodos de alfabetização, construtivismo e sociointeracionismo. O presente trabalho visa a apresentar algumas contribuições em relação à formação do professor alfabetização explicitando um breve resgate à história dos métodos de alfabetização no Brasil, com as principais características de cada método e suas conseqüências nesse processo, também apresenta considerações sobre os pressupostos do Construtivismo, baseadas nas pesquisas de Emílio Ferreiro e ainda as teorias do processo sociointeracionista. A pesquisa bibliográfica ocorreu em virtude da necessidade de estudar o processo de alfabetização com turmas de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa na disciplina Lingüística Aplicada à Alfabetização. Alguns alunos não eram professores e por isso as dúvidas e incertezas em relação a esse período eram marcadas pela busca da compreensão de como se processava a aquisição da escrita pelas crianças. Assim sendo, foram objetivos da pesquisa: construir um referencial teórico resgatando a história da alfabetização no Brasil, apontar o texto como elemento responsável à aquisição da leitura e escrita e também apresentar algumas contribuições para o enriquecimento desse processo. Anais do I JOPED 1 ISSN:
2 1.1 Breve resgate histórico da alfabetização no Brasil Durante muito tempo, quando se falava em alfabetização sempre era remetida a ideia de aprender a escrever através dos métodos sintéticos de alfabetização. Nas palavras de Mortatti, Para o ensino da leitura, utilizavam-se os métodos de marcha sintética (da "parte" para o "todo"), da soletração (alfabético), partindo do nome das letras; fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons), partindo das sílabas. Dever-se-ia, assim, iniciar o ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes (método de soletração/ alfabético), ou de seus sons (método fônico), ou das famílias silábicas (método da silabação), sempre de acordo com certa ordem crescente de dificuldade. Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em sílabas, ou conhecidas as famílias silábicas, ensinava-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavamse frases isoladas ou agrupadas. Quanto à escrita, esta se restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando-se o desenho correto das letras. (MORTATTI, 2006, p.05) Parafraseando ZACHARIAS (2007) eram princípios do método sintético: a pronúncia correta para evitar as confusões entre os fonemas, as grafias de formas semelhantes deviam ser apresentadas separadas para evitar confusões visuais entre elas, devia-se ensinar um par de grafema-fonema de cada vez, e só avançar para outros quando a associação estivesse memorizada e iniciar com os casos de ortografia regular, isto é, palavras nas quais a grafia coincidisse com a pronúncia. Neste sentido, inicialmente havia a aprendizagem da leitura e escrita, que eram atividades mecânicas, tratava-se de adquirir uma técnica para decifrar o texto porque se concebia a escrita como a transcrição gráfica da linguagem oral e ler equivalia a decodificar o escrito em som. Já para os defensores do método analítico, o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo todo, para depois se proceder à análise de suas partes constitutivas. Contudo, diferentes se foram tornando os modos de processuação do método, dependendo do que seus defensores consideravam o todo : a palavra, ou a sentença, ou a "historieta". O método analítico ao romper com o processo de decifração propõe formas de trabalho que priorizam a análise e compreensão. Anais do I JOPED 2 ISSN:
3 Segundo Frade (2007), esses métodos defendem a inteireza do fenômeno da língua e do processo de percepção infantil. A alfabetização tem como unidade de análise a palavra, a frase e o texto tendo como estratégia inicial a compreensão global para posterior análise das unidades menores. É importante destacar que como o foco do trabalho era o sentido, o professor priorizava um convívio significativo com o texto para posteriormente introduzir o processo de decomposição. É possível perceber que os problemas existentes e a necessidade de superar os fracassos que foram surgindo no decorrer da implementação de cada um dos métodos impulsionaram novas formas de desenvolver as atividades de leitura e escrita. A busca de significado para esse ensino trouxe avanços significativos para a compreensão do processo evolutivo que acontece nas discussões sobre as práticas escolares de alfabetização. No Brasil, a partir do início da década de 80, essa tradição passou a ser questionada em decorrência de novas propostas de mudança na área educacional, com o intuito de enfrentar o fracasso na alfabetização. Assim introduziu-se o pensamento construtivista, resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas pela pesquisadora argentina Emília Ferreiro e colaboradores. Para ela, a escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal, antes de iniciar o processo formal de aprendizagem da leitura/escrita, as crianças constroem hipóteses sobre este objeto de conhecimento. Assim sendo, a escrita resulta de um processo de construção. Emília Ferreiro(1986) destaca cinco fases desse desenvolvimento: Na fase 1, início dessa construção, as tentativas das crianças dão-se no sentido da reprodução dos traços básicos da escrita com que elas se deparam no cotidiano. O que vale é a intenção, pois, embora o traçado seja semelhante, cada um "lê" em seus rabiscos aquilo que quis escrever. Desta maneira, cada um só pode interpretar a sua própria escrita, e não a dos outros. Nesta fase, a criança elabora a hipótese de que a escrita dos nomes é proporcional ao tamanho do objeto ou ser a que está se referindo. Na fase 2, a hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso usar formas diferentes. A criança procura combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de reproduzir. Nesta fase, ao tentar escrever, a criança respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras (nunca inferior a três) e a variedade entre elas, (não podem ser repetidas). Anais do I JOPED 3 ISSN:
4 Na fase 3, são feitas tentativas de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a palavra. Surge a chamada hipótese silábica, isto é, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigida para que a escrita possa ser lida. A criança, neste nível, trabalhando com a hipótese silábica, precisa usar duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro às suas idéias iniciais de que são necessários, pelo menos, três caracteres. Este conflito a faz caminhar para outra fase. Na fase 4 ocorre, então a transição da hipótese silábica para a alfabética. O conflito que se estabeleceu - entre uma exigência interna da própria criança (o número mínimo de grafias) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com que ela procure soluções. Ela, então, começa a perceber que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça corretamente. Na fase 5, finalmente, é atingido o estágio da escrita alfabética, pela compreensão de que a cada um dos caracteres da escrita corresponde valores menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exigindo, portanto, dois movimentos para ser pronunciada, necessitará mais do que duas letras para ser escrita e a existência de uma regra produtiva que lhes permite, a partir desses elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenham exercitado. Tais mudanças conceituais, traduzidas pelo construtivismo, reverteram a ênfase anterior no método de ensino para o processo de aprendizagem da criança que se alfabetiza e para suas concepções progressivas sobre a escrita, entendida como um sistema de representação. Além disso, passou-se a valorizar o diagnostico dos conhecimentos prévios dos alunos e a análise de seus erros como indicadores construtivos de seus processos cognitivos e hipóteses de aprendizagem. 1.2 O texto no processo de alfabetização A alfabetização foi vista, durante algum tempo, como atividade desvinculada de sentido, pois a linguagem utilizada priorizava práticas mecânicas de decifração do código escrito visando à leitura e à escrita de sílabas e palavras descontextualizadas e fragmentadas, segundo Ferreira (2005 p. 13) a linguagem trabalhada era geralmente distanciada do seu uso real e de sua função principal - a interação entre as pessoas. Anais do I JOPED 4 ISSN:
5 Então, a partir da influência de teorias que ressaltam a função interlocutiva da linguagem e o seu papel como enunciado ou discurso significativo, passou-se a se defender o uso do texto como núcleo do trabalho com a língua, desde a alfabetização. O significado tornou-se prioritário no processo e o trabalho com o código escrito ficou relegado a um segundo plano. Porém, é preciso repensar essa prática, pois não há dúvidas de que a criança necessita passar pelo estágio inicial de apreensão do código escrito, mas as atividades de alfabetização devem priorizar uma linguagem viva como prática social, como forma de interlocução entre os seus produtores para a produção de sentidos. Desta forma, o núcleo do processo de alfabetização é o próprio texto e os gêneros textuais são os objetos dessa prática. Considerações Finais É imprescindível proporcionar às crianças o convívio com diferentes práticas sociais de uso da linguagem para apropriar-se da língua escrita, mas não basta apenas o contato com o material escrito, é fundamental que se estabeleça uma reflexão sobre os aspectos convencionais da escrita, a fim de compreender que a aprendizagem da leitura e da escrita implica compreender as leis de composição do sistema de representação da linguagem escrita. Ferreira(2005 p. 15) destaca que é no texto que as relações entre código e significado se concretizam e é da prática textual que surgirão a frase, a palavra, ou seja, que se buscará a matéria-prima a ser trabalhada na alfabetização. Enfim, é na prática de sala de aula que o professor irá construir uma ação pedagógica, cujo processo de alfabetização esteja pautado em duas dimensões: a do significante e a do significado em contextos significativos. REFERÊNCIAS FERREIRA, Maria Beatriz. Alfabetização um processo de dupla dimensão. In: Orientações Pedagógicas: Língua Portuguesa Ciclo Básico de Alfabetização. SEED, Curitiba, FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. In: Anais do I JOPED 5 ISSN:
6 ANTUNES, Helenise Sangoi (Org.) Dossiê Alfabetização e Letramento. Educação: Revista do Centro de Educação. Santa Maria, UFSM, Vol 32, nº1. MORTATTI, Maria Rosário Longo. História dos Métodos de Alfabetização no Brasil Disponível em: <portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf> em 21/ 05/2009. Acesso ZACHARIAS, Vera Lúcia Camara. Emília Ferreiro. Disponível em Acesso em: 21/05/2009. Anais do I JOPED 6 ISSN:
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