Conceito de raça e relações étnico-raciais

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Transcrição:

Conceito de raça e relações étnico-raciais Mestre em Economia UNESP Graduado em História UNESP email: prof.dpastorelli@usjt.br blog: danilopastorelli.wordpress.com

Você já sofreu ou conhece alguém que sofreu discriminação racial?

Você acha que o Brasil é um país racista?

Você se considera preconceituoso?

Você é contra ou a favor das cotas raciais em universidades públicas?

o Brasil na teoria ou como gostaríamos que fosse povo único miscigenação de culturas e raças convivência harmônica ausência de segregação o Brasil na prática ou como ele realmente é práticas racistas discriminação pensamento racista exclusão

afinal, o que é raça? biologicamente baixo grau de variabilidade genética estruturação da espécie humana conceito incompatível inexistência de identidade biológica

afinal, o que é raça? sociologicamente até séc. XIX: amplamente aceita (raça e clima) associada ao desenvolvimento diferencial hierarquização racismo doutrinário

mundo pósguerra desejo de apagar o conceito de raça como categoria científica traços fisionômicos, fenótico ou genótipo, não tem respaldo científico raças são uma construção social e trata de identidades

e a experiência brasileira? escravidão africanos e negros : identidades criadas o negro tem um lugar e esse lugar era a escravidão

1ª fase: a partir dos anos 1930 Semana de Arte Moderna (1922) e Gilberto Freyre: Casa Grande e Senzala (1933) constituição da nação* brasileira ideia do antiracialismo é fundamental incorporação mesmo que simbólica do negro cor é apenas um acidente, somos todos brasileiros sociedade aberta em que negros, brancos, índios, mestiços, pessoas de qualquer cor, podem transitar pelos diferentes grupos sociais *nação: etnias ou raças passam a reivindicar um destino político comum, quando formam uma comunidade de origem e destino.

2º fase: final dos anos 1950 Florestan Fernandes & F. Batisde: Relações raciais entre brancos e negros em São Paulo (1955) confirmação da existência de PRECONCEITO RACIAL pode haver áreas onde não exista preconceito (BA ou PE) em SP há ameaça real do negro tomar o lugar do branco: competição social

mito da democracia racial: crítica de Florestan discurso de dominação política não era nem IDEAL, nem REAL desmobilização da comunidade negra

3ª fase: final dos anos 1970 Movimento Negro Unificado (MNU) (1978) reintrodução da ideia de raça reivindica a origem africana: IDENTIDADE DOS NEGROS antepassados, ancestrais negros que não cultivam são alienados desigualdades são consequências de diferentes oportunidades e tratamento

POLÍTICAS DE AFIRMAÇÃO (reparadoras) cotas raciais em universidades criminalização do racismo

Demétrio Magnoli - contra Jean Willys a favor

crítica às políticas de afirmação minorias culturais seriam protegidas indiretamente através de garantias dadas a todos os indivíduos direitos fundamentais são para todos

direito de livre expressão: como proceder num contexto de coexistência de línguas diferentes? direito de ir e vir: como responder à imigração e à naturalização?

debate é melhor conduzido a partir das reivindicações dos segmentos e não a partir da teoria da mistura racial (Kabengele Munanga) será que as políticas de reconhecimento não acabam por criar conflito onde não há?

ação afirmativa 1. não é apenas para compensar o negro do passado escravocrata 2. estimula a ideia de PERTENCIMENTO 3. construção de SOLIDARIEDADE e IDENTIDADE dos excluídos pelo racismo cientificamente não existe raça mas a ideologia racista não precisa desse conceito para se refazer e se reproduzir

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Como trabalhar com raça em sociologia. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1, p. 93-107, jan./jun. 2003. PENA, Sérgio D.J. Razões para banir o conceito de raça da medicina brasileira In: MAIO, Marcos Chor; SANTOS, Ricardo Ventura (editores-convidados). Dossiê: raça, genética, identidades e saúde. V.12, n.2, p.321-46, maio-ago. 2005. MUNANGA, Kabengele. Algumas considerações sobre raça, ação afirmativa e identidade negra no Brasil: fundamentos antropológicos. Revista USP, São Paulo, n. 68, p. 46-57, dezembro/feveireiro 2005-2006. NOGUEIRA, Juliana Keller; FELIPE, Delton Aparecido; TERUYA, Teresa Kazuko (UEM). Conceitos de gênero, etnia e raça: reflexões sobre a diversidade cultural na educação escolar. Fazendo Gênero 8 Corpo, violência e Poder. Florianópolis, 25 e 28, agosto. 2008. Disponível em: http://professor-ruas.yolasite.com/resources/culturaafro2-090517225330-phpapp02.pdf