O Brasil, o HIV. a Aids: desafios atuais. sobre o cumprimento das metas Ungass-aids



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Transcrição:

O Brasil, o HIV e a Aids: desafios atuais Visão O geral Brasil, do Relatório o HIV e Alternativo a Aids: da SC sobre o cumprimento das metas Ungass-aids no Brasil 2012 desafios atuais

Tópicos do Relatório A involução do processo de formulação do Relatório Brasileiro sobre as Metas UNGASS; Aids no Brasil: o acesso ao tratamento não é universal e a prevenção vive retrocessos; Faltam mecanismos transparentes em negociações que afetam a vida das pessoas; O retrocesso brasileiro na promoção, garantia e defesa dos direitos humanos, direitos sexuais e direitos reprodutivos; A carência de programas e políticas públicas que tratem transversalmente violência contra as mulheres, HIV e AIDS;

RelatórioPaís Desde 2003 a sociedade civil acompanha as metas UNGASS Houve participação da sociedade civil na produção do relatório desde 2006 Processo em 2012: Sem discussão prévia, apesar de demanda da SC; Convocação do governo só em 14 de março, em reunião da CAMS; Na CNAIDS, o tema só foi discutido em 20 de março. Data da UNAIDS para recebimento do relatório era 31/03

Acesso universal? Prevenção? Todo ano, mais de 12 mil brasileiros morrem em decorrência da Aids e mais de 38 mil adoecem; A cobertura do tratamento anti-hiv no país tem variações entre 60% e 79%; (UNAIDS 2011) Alta taxa de diagnóstico tardio; As campanhas de testagem são dirigidas ao público em geral e não atingem as populações mais vulneráveis; Em 30 anos de Aids, nunca houve no Brasil um 1º de dezembro dedicado à população LGBTT ( pop +afetada); É comum o desabastecimento e fracionamento de ARVs. A política nacional nesta área é lenta e pouco transparente na utilização de todas as flexibilidades previstas na legislação patentária;

Falta transparência Não há informações detalhadas sobre os critérios para a adoção e financiamento de PPPs e acordos de transferência de tecnologia para produção nacional de ARVs Há pouca clareza sobre os preços acordados pelo Ministério da Saúde para ARVS e insumos; Isto leva ao risco de desabastecimentos decorrentes da criação de monopólio temporário. Não se faz uso de todas as flexibilidades de proteção da saúde publica previstas no Acordo TRIPS da OMC, que possibilitariam a aquisição de medicamentos a preços acessíveis e enfrentariam as praticas monopolistas das empresas farmacêuticas.

Retrocesso na defesa e garantia dos DH e DSDR: lá fora Interferência de interesses religiosos e morais no que deveriam ser políticas públicas de um Estado laico; 56ª sessão da CSW (Comissão sobre o Status da Mulher): retirada de todo o capítulo sobre HIV e AIDS e, pela primeira vez, não se chegou a um consenso sobre o texto. O Brasil entrou mudo e saiu calado. (março- 2012/ ONU) Não se faz nenhuma referência ao HIV e à AIDS no relatório oficial brasileiro perante o Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Retrocessos em casa também Suspensão da campanha de prevenção para homens gays para o Carnaval 2012; Suspensão do kit anti-homofobia nas escolas; Desabastecimento e falta de acesso às camisinhas femininas; Edição da Medida Provisória nº 557 (Cadastro Universal de Gestantes e Direito do Nascituro); Programa Rede Cegonha, que mais uma vez enfoca a saúde da mulher a partir do viés reprodutivo, com destaque à criança.

Mulheres, violência e HIV Há uma carência grave de informações e dados oficiais sobre as relações entre a VCM e o HIV. Levantamento realizado pela ONG Gestos em 2010 entre 100 mulheres vivendo com HIV e Aids: 67,6% delas sofreu algum tipo de violência física, emocional ou moral ao longo da vida Quase 100% relataram situações de violência após a infecção pelo HIV. Não há muitos dados sobre casos de HIV e Aids devidos a relações sexuais não-consentidas, Tampouco há dados sobre a população transexual feminina (ou masculina).

Um indicativo: o Nordeste O Nordeste é a região onde as mulheres mais sofrem agressões em sua residência. O Nordeste também registra crescentes números de novos casos de infecção pelo HIV, principalmente entre mulheres, contrariando a tendência nacional, de estabilização da epidemia. Este pode ser mais um indicador da relação entre VCM e HIV que não tem sido observado pelo governo brasileiro.

Coinfecção TB e HIV No Brasil, cerca de 70 mil novos casos surgem por ano, e 4,6 mil mortes pela doença são registradas. O Brasil é um país de alta carga da doença, o 17º entre os 22 enquadrados nesta categoria. As pessoas que vivem com HIV e Aids, estão 30 vezes mais vulneráveis à tuberculose, que é a principal causa de morte das PVHA. Na região Sul, a taxa de co-infecção chega a 20%, quase o dobro da media nacional.

TB e HIV O governo brasileiro: o investimento na prevenção e tratamento da TB teria crescido 14 vezes na última década. O que não é dito... Os investimentos em TB há dez anos eram irrisórios. O crescimento se deveu, em boa parte, ao projeto do Fundo Global, que não vigora mais em nosso país.

A ausência de marco regulatório e crise de sustentabilidade das ONGs O Brasil vive uma situação sem precedentes de desmantelamento do controle social da resposta à epidemia de HIV e da Aids. Há uma relação direta e de extrema importância no papel da sociedade civil na resposta ao HIV no Brasil. Neste sentido, a crise das ONGs AIDS e dos grupos de PVHA significa, também, crise da resposta brasileira à epidemia.

(In)Sustentabilidade das ONGS ONGs importantes do movimento HIV e Aids fecharam suas portas depois de anos de serviço público relevante. A ameaça do fechamento também paira sobre outras organizações históricas que enfrentam crises severas de recursos. Obs: esta situação tem se agravado desde a elaboração do relatório sombra.

Saída da cooperação internacional Fatores que contribuíram para o recuo financeiro da cooperação internacional: A crise financeira internacional dos países desenvolvidos; A nova projeção do Brasil no cenário internacional A mudança de prioridades por parte da cooperação internacional. Situação é ainda mais grave para ONGs-AIDS, penalizadas pela imagem externa de que o melhor programa de AIDS no mundo é o brasileiro.

Descaso dos governos estaduais e municipais com a política de transferências Fundo a Fundo Segundo o DNDST, Aids e Hepatites Virais, todos os 26 Estados e o Distrito Federal estão aptos a receber esse incentivo, bem como 489 municípios. Os municípios beneficiados abrangem 62% da população nacional e 89% dos casos de Aids registrados no país. O total de recursos repassados anualmente é de R$ 129,53 milhões, sendo: R$ 101,3 milhões destinados às ações das SES e SMS; R$ 22 milhões para organizações da sociedade civil; R$ 6,23 milhões para a disponibilização de fórmula infantil, alternativa ao leite materno, para as crianças verticalmente expostas ao HIV, filhas de mães soropositivas.

Estagnação nos repasses fundo a fundo Em dez/2011, mais de R$ 141 milhões restavam estagnados em Fundos Estaduais e Municipais em todo o país. O percentual médio de execução dos recursos transferidos foi 83,64%, e houve Estados que executaram tão-somente 54,68%, como é o caso de Goiás. Enquanto os recursos ficam parados, os gastos com a prevenção do HIV caíram consistentemente e atualmente representam apenas 50% do que está sendo destinado para o tratamento. O MS não possui, hoje, mecanismos legais para punir os Estados e Municípios pelo não uso dos recursos. Mais de seis meses depois, nada mudou, nem há indicativo de que isto venha a acontecer em breve. Estados serão premiados mesmo sem gastar 100% dos recursos!!

Obrigado! Jair Brandão de Moura Filho Membro da Coordenação do FÓRUM UNGASS-AIDS BRASIL