Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 503/96 - Plenário - Ata 32/96 Processo nº TC 625.062/96-5 Responsável: Ricardo Leônidas Ribas Entidade: Banco Meridional S/A Relator: Ministro Humberto Guimarães Souto Representante do Ministério Público: Não atuou Unidade Técnica: SECEX/RS Especificação do "quorum": Ministros presentes: Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça (Presidente), Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva, Homero dos Santos, Paulo Affonso Martins de Oliveira, Humberto Guimarães Souto (Relator), Bento José Bugarin e os Ministros-Substitutos José Antônio Barreto de Macedo e Lincoln Magalhães da Rocha. Assunto: Acompanhamento da publicação de extratos de contratos e dispensas de licitação no D.O.U. Ementa: Acompanhamento. Banco Meridional do Brasil. Publicação de extratos de contratos e dispensa de licitação. Contratação de serviços de vigilância sem licitação. Aquisição de bens por preço superior ao de mercado. Pagamento antecipado de serviços de manutenção. Prorrogação de prazo de contrato de prestação de serviços. Determinação. Data DOU: 04/09/1996 Página DOU: 17355 Data da Sessão: 14/08/1996 Relatório do Ministro Relator: GRUPO I - CLASSE V - PLENÁRIO TC 625.062/96-5
NATUREZA: Acompanhamento ENTIDADE: Banco Meridional do Brasil RESPONSÁVEL: Ricardo Leônidas Ribas - Presidente EMENTA: Acompanhamento da publicação de extratos de contratos e dispensas de licitação. Diligência. Audiência do responsável. Pertinência das determinações exaradas por este Tribunal em razão do adiamento por prazo indeterminado do Leilão de Privatização do Banco Meridional. Contrato com prazo de duração em desacordo com o art. 57, II da Lei nº 8.666/93. Aplicação do art. 71, inciso IX da Constituição Federal. Determinações. Tratam os autos do acompanhamento da publicação de extratos de contratos e dispensas de licitação efetuadas pelo Banco Meridional do Brasil S/A no período de 01.12.95 a 27.12.95. Foi realizada diligência junto ao Banco Meridional para que fossem enviados esclarecimentos acerca dos itens abaixo relacionados, verificados por ocasião do exame das publicações dos extratos de contratos e dispensas de licitação: I - justificativas para dispensa de licitação em duas contratações de serviços de vigilância; II - documentação referente a processo licitatório para compra de equipamentos de informática("notebooks" e projetores de multimídia) com preços acima dos praticados no mercado e justificativas para contratação e pagamento antecipados de serviços de manutenção para os referidos equipamentos antes da expiração do prazo de garantia dos mesmos; III - justificativas para prorrogação de prazo de 16(dezesseis) contratos de prestação de serviços; IV - cópia de contrato de locação comercial, celebrado por tempo indeterminado, de imóvel em Alvorada/RS; V - cópia de autorização da Subsecretaria de Comunicação Institucional SCS/PR para patrocínio de "jogos escolares" no valor de R$ 8.000,00. Os itens I, III e V, segundo a Unidade Técnica, foram satisfatoriamente esclarecidos, ressalvado, em relação ao item III, o contrato CT 0118/90 celebrado com a empresa Philips Telecomunicações S/A em 31.10.90, que está fora do alcance da possibilidade da prorrogação de 60 meses prevista no inciso II do art.57 da Lei nº 8.666/93, em virtude de sua data de celebração. O item II trata da aquisição de três "notebooks", por preços 90% acima do mercado, fato esse que configura infringência ao art.
43 da Lei nº 8.666/93. A SECEX/RS, considerando a possibilidade da ocorrência de dano ao Erário considerou necessária a realização de audiência do responsável para que o mesmo se justificasse. Em relação ao mesmo item a Unidade Técnica não considera satisfatórias as justificativas quanto à contratação de serviços de manutenção para os "notebooks" antes da expiração do prazo de garantia(três anos), porque tal contratação pode ser danosa ao contratante, pois, mesmo considerando que o pagamento só será feito após o encerramento do prazo de garantia, contempla o cálculo de seu valor anual de 10%(dez por cento), sobre o valor do bem a preços correntes no momento de sua aquisição. Além disso, também deve ser considerado que os bens de informática sofrem uma desvalorização acelerada, o que, no caso concreto, faz com que,após três anos, os valores a serem pagos a título de manutenção representem consideravelmente mais do que 10% do valor real dos microcomputadores. Quanto ao item IV, que se refere ao contrato de locação do prédio da agência do Meridional de Alvorada/RS, a Unidade Técnica considera irregular as suas prorrogações sucessivas desde 1985, à luz da Lei nº 8.666/93, que veda a existência de contrato com prazo superior a 60 meses. Recomenda, ainda, a celebração de novo contrato, procurando condições mais vantajosas para a Administração. Efetivada a audiência prévia do Sr. Ricardo Leônidas Ribas - Presidente do Banco Meridional do Brasil S/A, a Unidade Técnica tece as seguintes considerações: "Alega a Diretoria do Banco Meridional que as discrepâncias entre os preços de aquisição dos "notebooks" e aqueles praticados no mercado ocorreram em função da configuração técnica específica dos equipamentos adquiridos que incluíam outros componentes de "hardware" e "software". Observamos, no entanto, que nos componentes básicos da aquisição - o próprio "notebook" e memória adicional - os preços de compra(fl. 154) foram bastante superiores àqueles praticados no mercado, segundo indicação da própria entidade(fl. 151)" ITEM REFERÊNCIA(fl.151) AQUISIÇÃO(fl.154) Notebook 3.799,00 5.986,14 Memórias 318,00 558,82 Total 4.100,00 6.544,96 Notamos, assim, uma diferença de quase 60% entre os valores de referência de mercado e os efetivamente praticados no procedimento
licitatório. Destacamos, ainda, que, embora o procedimento licitatório tenha sido realizado em 25.09.95, a entrega dos equipamentos foi efetuada somente em 03.05.96. Confrontando os preços de aquisição dos "notebooks" (R$ 6.544,96), incluíndo expansão de memória, com aqueles levantados por esta SECEX, em abril de 1996(fl. 143 - R$ 4.600,00), verificamos que há, realmente, divergência (42% a maior), apontando, ao menos, a antieconomicidade da compra. Poderíamos, portanto, cogitar da aplicação da multa do art. 58, inciso III, da Lei nº 8.443/92, por ato de gestão antieconômico. Contudo, tendo em vista o recente falecimento do responsável, Sr. Ricardo Leônidas Ribas, e sendo tal multa de caráter eminentemente pessoal, parece-nos mais apropriado sugerir que este Tribunal proceda as recomendações e determinações necessárias, arroladas abaixo, quando for efetuado o julgamento da prestação de contas referentes ao exercício de 1995." Conclui a Unidade Técnica: "Ante o exposto, propomos, nos termos do art. 20 da Resolução nº 29/95 do TCU, a juntada dos autos à prestação de contas do Banco Meridional S.A., relativas ao exercício de 1995, a fim de que o Tribunal de Contas da União, no julgamento da mesma: a) determine ao Banco Meridional o estrito cumprimento do disposto no art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/93, no que diz respeito à observação, nos processos licitatórios, dos preços de mercado; b) determine à entidade a rescisão dos contratos cujos prazos de vigência ultrapassaram o limite de 60(sessenta) meses estabelecido pela Lei nº 8.666/93, em especial o contrato CT 01118/90 com a empresa Philips Telecomunicações S/A e o contrato celebrado com a empresa Rutepar - Participações Ltda. referente a locação de imóvel do prédio localizado na Av. Presidente Getúlio Vargas, 1791, em Alvorada/RS; e c) recomende ao Banco Meridional evitar a contratação de serviços de assistência técnica de equipamentos de informática com antecedência superior a seis meses ao término da garantia, tendo em vista a desvalorização acelerada que tais aparelhos sofrem." É o Relatório. Voto do Ministro Relator:
Registro inicialmente que, embora a Decisão nº 232/96 - Plenário, de 08.05.96, tenha considerado os procedimentos adotados pelo BNDES relativos aos primeiro ao quinto estágios do processo de privatização conformes à legislação relativa à matéria, o leilão de privatização do Banco, inicialmente marcado para 14.05.96, foi adiado por tempo indeterminado em virtude de decisão do BNDES e, conseqüentemente, todas as deliberações que possam ser emanadas desta Corte em relação a este processo se mantém funcionalmente válidas. Sobressai dos autos a prorrogação do contrato CT 0118/90, celebrado com a empresa Philips Telecomunicações em 31.01.90, efetuada em 19.09.95 pelo período de 01.12.95 a 30.11.97, com amparo no art. 57,II c/c o art. 121 da Lei nº 8.666/93. O contrato em questão foi assinado sob a égide do DL nº 2.300/86, o qual em seu artigo 47, inciso II, definia que a prestação de serviços a serem executados de forma contínua poderia ter seu prazo de duração estendido ao exercício seguinte ao da vigência do respectivo crédito. Verifica-se pois que à luz do DL nº 2.300/86, o referido contrato deveria ter sido encerrado em janeiro de 1992. Com o advento da Lei nº 8.883/94, que modificou a Lei nº 8.666/93, o art. 57 desta passou a vigorar com a seguinte redação: "art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos:... II - à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que deverão ter a sua duração dimensionada com vistas à obtenção de preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada a duração a sessenta meses;... A mesma Lei nº 8.883/94 alterou o art. 121 da Lei nº 8.666/93, que passou a vigorar como: "art. 121. O disposto nesta Lei não se aplica às licitações instauradas e aos contratos assinados anteriormente à sua vigência, ressalvado o disposto no art. 57, nos 1º, 2º e 8º do art. 65, no inciso XV do art. 78,(...)." Percebe-se que o legislador estabeleceu expressamente a aplicação do art. 57 aos contratos assinados anteriormente à vigência da Lei nº 8.666/93.
Conseqüentemente, o contrato sob exame já não se encontra mais sob a égide do DL nº 2.300/86, com referência à sua duração, recebendo, desde a edição da Lei nº 8.883/94, a autorização legal para que seus prazos de duração se estendam a 60 meses da sua assinatura. Em relação à prorrogação dos contratos de prestação de serviços assinados antes da Lei nº 8.883/94, a Decisão nº 366/95 - Plenário, Ata nº 35/95 definiu que são aplicáveis aos mesmos as disposições contidas no art. 57, inciso II, da Lei 8.883/94, "independentemente do prazo de vigência inicialmente previsto no ato convocatório e, por conseguinte, no contrato, por expressa autorização legal(art.121), devendo ser observado o interesse público e o critério de razoabilidade na estipulação do novo prazo contratual a ser fixado". Entendo, dessa maneira, que o contrato em questão poderia ter seu prazo de duração estendido somente até 1995, ano em que far-se-ia necessário novo certame licitatório. Aplica-se portanto ao caso o art. 71, IX da Constituição Federal e art. 45 da Lei nº 8.443/92 c/c o art. 195 do Regimento Interno deste Tribunal. Em referência ao fato do contrato de locação da agência do Meridional de Alvorada/RS vir sendo prorrogado desde 1985, esclareço que o art. 24 da Lei nº 8.666/93, no seu inciso X, prevê a dispensa de licitação para compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da Administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia. Dessa maneira não me parece que haja nenhum óbice legal às prorrogações sucessivas do referido contrato, uma vez que a lei permite a sua celebração através de dispensa do processo licitatório. Quanto ao aspecto econômico da questão, não há elementos nos autos que permitam inferir que o contrato de locação em tela não represente a opção mais vantajosa para a administração, ou que o preço se encontre num patamar mais elevado que o praticado no mercado. Isso sem considerar os custos que a transferência de uma agência bancária para um novo endereço implicam. O processo licitatório para aquisição dos "notebooks" objeto destes autos poderia ensejar a aplicação de multa ao responsável,
mas considerando o seu falecimento e o caráter pessoal de que a cominação de multa se reveste, o procedimento mais apropriado a ser empregado é o de uma determinação corretiva. Por último, considero antieconômica a contratação antecipada de assistência técnica para os "notebooks" em questão, antes do término do prazo de garantia, pois além de se estar efetivando um contrato futuro sem garantias de que tal procedimento resulte ganhos de qualquer espécie para a Administração, o percentual indicado no contrato a título de manutenção representará, após o período de garantia de três anos, seguramente mais do está se pactuando, em virtude da depreciação acelerada dos equipamentos. Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE determinar ao Banco Meridional S/A que: 1 - com base no art. 71, IX da Constituição Federal e art. 45 da Lei nº 8.443/92 c/c o art. 195 do Regimento Interno deste Tribunal, dê início, imediatamente, a procedimento licitatório para a prestação de serviços realizados pela empresa Philips Telecomunicações S/A, cujo contrato CT 01118/90 foi celebrado em 1990, encontrando-se portanto em desacordo com o art. 57, II da Lei nº 8.666/93, informando a esta Corte de Contas no prazo de 15 (quinze)dias as providências adotadas; 2 - cumpra estritamente o disposto no art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/93, no que diz respeito a observação, nos processos licitatórios, dos preços de mercado; 3 - se abstenha de contratar serviços de assistência técnica de equipamentos de informática cujos prazos de garantia ainda estejam vigentes. Indexação: Acompanhamento; Banco Meridional do Brasil SA; Serviços de Vigilância e Guarda; Aquisição; Bens; Informática; Preço de Mercado; Pagamento Antecipado; Prazo; Contrato; Prestação de Serviços; Superfaturamento de Preços;