Assunto: Representação com fundamento no art. 113, 1º, da Lei nº 8.666/93.

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1 Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 408/95 - Plenário - Ata 37/95 Processo nº TC /95-1 Interessada: CONTHÁBIL Auditoria, Consultoria e Planejamento Ltda. Entidade: Departamento Regional do SENAI em Pernambuco - SENAI/PE. Relator: Ministro BENTO JOSÉ BUGARIN. Representante do Ministério Público: não atuou. Unidade Técnica: SECEX/PE. Especificação do "quorum": Ministros presentes: Homero dos Santos (na Presidência), Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva, Paulo Affonso Martins de Oliveira e Olavo Drummond e os Ministros-Substitutos Bento José Bugarin (Relator) e José Antonio Barreto de Macedo. Assunto: Representação com fundamento no art. 113, 1º, da Lei nº 8.666/93. Ementa: Representação formulada por empresa privada contra o SENAI PE. Licitação. Convite. Alegação de impedimento de participar do processo licitatório mesmo tendo manifestado-se com antecedência prevista na Lei 8666/93. Considerações sobre a matéria. Conhecimento. Determinação para anulação. - SENAI - natureza jurídica e finalidade. - Convite - conceito. Data DOU: 04/09/1995 Página DOU: Data da Sessão: 16/08/1995 Relatório do Ministro Relator: GRUPO: II - CLASSE: VII - PLENÁRIO TC /95-1 NATUREZA: Representação contra a Carta Convite nº 022/95, do

2 Departamento Regional do SENAI/PE. INTERESSADA: CONTHÁBIL Auditoria, Consultoria e Planejamento Ltda. EMENTA: - Representação. Conhecimento. Inobservância do contido no art. 119 da Lei nº 8.666/93, alterada pela de nº 8.883/94, uma vez que o Regulamento de Licitações e Contratos do SENAI não foi editado respeitando-se o referido dispositivo. Determinação no sentido da anulação do Convite nº 022/95 e do Contrato, fixando prazo para ciência ao Tribunal. Conhecimento ao interessado e à CISET/MT. Juntada às contas correspondentes. Trata-se de Representação formulada pela empresa CONTHÁBIL Auditoria, Consultoria e Planejamento Ltda., apontando irregularidades ocorridas na Carta Convite nº 22/95 do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Departamento Regional em Pernambuco - SENAI/PE. 2. À vista dos fatos relatados na Instrução de fls. 08/09, a SECEX realizou diligência, solicitando o pronunciamento do Diretor Regional do SENAI sobre os fatos denunciados e a remessa dos elementos ali referidos (fls. 10). PRONUNCIAMENTO DO RESPONSÁVEL. 3. Em seus esclarecimentos de fls. 11/14, aquela autoridade ressaltou que o SENAI não se incluiu entre os destinatários da Lei nº 8.666/93, já que: - a Lei 8.666/93 foi editada a pretexto de regulamentar o art. 37, inciso XXI, da Carta Magna de 1988; - o "caput" daquele artigo tem pertinência restrita à Administração Pública direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a qual se obriga à obediência dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade; - a orientação ínsita naquele dispositivo constitucional restringe-se à ambiência da Administração Pública direta, indireta e das empresas sob seu controle, nas diversas esferas do governo; - o SENAI é entidade essencialmente privada, organizada e gerida pelo empresariado da indústria, por meio do CNI, logo, sem a interveniência do Poder Público; - também não lhe alcança o art. 1º da Lei 8.666/93 que, em seu parágrafo único, sujeita aos seus ditames, além dos órgãos da administração direta, as autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundos especiais e demais

3 entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios; - muito embora o SENAI esteja subordinado à vigilância do Poder Público, expressa na aprovação do seu orçamento por autoridade ministerial, no acompanhamento de sua gestão por auditoria externa do governo e no exame de suas contas pelo TCU, tais circunstâncias não implicam controle indireto na acepção jurídico-administrativa; - a inteligência do art. 1º da Lei 8.666/93 há de ser extraída do disposto no art. 22, inciso XXVII, da Constituição Federal, que, ao definir as competências privativas da União, atribuiu-lhe a competência para legislar sobre "normas gerais" de licitação e contrato, em todas as modalidades, para a Administração Pública direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público nas diversas esferas do governo e empresas sob seu controle. EXAME DA SECEX/PE. 4. A Srª Assessora, após proceder a minudente exame nos elementos apresentados, propõe (fls. 71/76), com anuência do Sr. Secretário, que o Tribunal: a) conheça da presente Representação, formulada nos termos do 1º, art. 113, da Lei 8.666/93, tendo em vista a presença dos requisitos e formalidades prescritos no "caput" do art. 213 do Regimento Interno deste Tribunal; b) determine à Diretoria Regional do SENAI que, com fulcro no art. 49 da Lei 8.666/93, promova, no prazo de 15 (quinze) dias, a anulação da Carta Convite nº 22/95 e dos atos dela decorrentes, ante a ilegalidade destes, praticados com absoluta inobservância da Lei a que está subordinada, "ex-vi" do art. 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c os arts. 45 da Lei 8.443/92 e 195 do Regimento Interno do TCU, comunicando-se ao Tribunal as medidas adotadas; c) transmita ao Departamento Nacional do SENAI o entendimento desta Corte, manifestado na Decisão 522/93 (Ata 57/93 - Plenário), de que, mesmo em relação à sociedade de economia mista, empresas e fundações públicas e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, incluindo-se o SENAI, o disciplinamento estabelecido pela Lei 8.666/93 tem aplicação imediata; d) fixe o prazo de 60 (sessenta) dias para que o citado Departamento Nacional edite regulamento próprio, nos termos do art.

4 119 da Lei 8.666/93, que, consoante disposto no art. 115 da mesma Lei, somente poderá disciplinar aspectos operacionais ou operar mudanças que não contrariem os dispositivos do supracitado diploma legal; e) determine a juntada dos autos às contas do SENAI relativas ao presente exercício, para exame em conjunto. É o Relatório. Voto do Ministro Relator: O ponto central da Representação de fls. 04/06 reside no fato de o SENAI/PE não ter aceito a interessada como licitante, na forma do art. 22, 3º, da Lei nº 8.666/93, alterada pela de nº 8.883, de 08/06/94, que encampou a possibilidade de quaisquer outros interessados, não convidados, participarem de licitação na modalidade Convite, desde que manifestem seu interesse com antecedência de até 24 horas da apresentação das "propostas" e sejam cadastrados. 2. Para uma melhor apreciação dos fatos apresentados, entendemos que algumas considerações fazem-se necessárias acerca da natureza jurídica e finalidade da entidade em questão. 3. O SENAI é entidade de direito privado, cabendo a sua organização e direção à Confederação Nacional da Indústria; vincula-se ao Ministério do Trabalho e integra o rol das unidades jurisdicionadas a este Tribunal, pertencendo à clientela da 1ª SECEX. 4. Constituem receita do SENAI as contribuições previstas em lei, as doações e legados, as subvenções, as multas arrecadadas e as rendas oriundas de prestações de serviços e mutações patrimoniais. 5. Como entidade de ensino, o SENAI submete-se, ainda, à fiscalização do Ministério da Educação (fls. 73, item 14). 6. Trata-se, portanto, de entidade paraestatal, na qual intervém o Estado. 7. De acordo com o art. 183 do Decreto-lei 200, as entidades e organizações em geral, dotadas de personalidade jurídica de direito privado, que recebem contribuições parafiscais e prestam serviços de interesse público ou social, estão sujeitas à fiscalização do Estado, nos termos e condições estabelecidas na legislação pertinente a cada uma. 8. No âmbito deste Tribunal, a questão que trata da sujeição às disposições do Decreto-lei nº 2.300/86, até que as sociedades de economia mista, empresas e fundações públicas e demais entidades

5 controladas direta ou indiretamente pela União editassem regulamentos próprios, foi apreciada em diversas assentadas (Ata nº 06/93 - Plenário - Decisão nº 24/93, Ata nº 30/90, Anexo II, Ata nº 46/89, Anexo IX e Ata nº 74/87, Anexo III). 9. Nesse sentido, o Tribunal, acolhendo as conclusões do eminente Ministro Fernando Gonçalves, decidiu esclarecer que o SESC e o SENAC estavam sujeitos às disposições do Decreto-lei nº 2.300/86 e alterações subseqüentes, até que editassem regulamentos próprios de licitação, conforme estabelecia o art. 86 daquele diploma legal (Ata nº 46/89 - Anexo IX - Sessão de 27/09/89 - TC /88-7). 10. Recentemente, o Tribunal, ao acolher o VOTO proferido pelo eminente Ministro Homero Santos, entendeu que, mesmo na vigência da Lei nº 8.666/93, os Serviços Sociais Autônomos (como é o caso do SENAI) estão submissos aos ditames do Estatuto das Licitações e Contratos Administrativos (Ata nº 08/95-1ª Câmara - Decisão nº 047/95). 11. Observa-se, assim, que, em se tratando de entidade congênere, a mesma decisão aplicar-se-ía ao SENAI. 12. No presente caso, o ponto fundamental dos argumentos apresentados pela Diretoria Regional prende-se à alegação de que o SENAI não estaria sujeito ao controle indireto da União e, via de conseqüência, não lhe alcançaria o art. 1º, parágrafo único, e 119 da atual nº 8.666/93, que revogou o DL 2.300/ Ora, a mencionada Lei reproduziu, nos dispositivos citados, o texto do art. 86 do Decreto-lei nº 2.300/86, inovando no sentido de conferir caráter impositivo a todas as suas disposições, e não apenas aos princípios básicos de licitação, na seguinte forma, "ipsis litteris": "Art. 1º... Parágrafo Único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as sociedades de economia mista `e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União', Estados, Distrito Federal e Municípios (o grifo não é do original).... Art As sociedades de economia mista, empresas e fundações e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União e pelas entidades referidas no artigo anterior (Estados, DF e Municípios) editarão regulamentos próprios devidamente publicados, ficando sujeitas às disposições desta Lei.

6 Parágrafo Único. Os regulamentos a que se refere este artigo, no âmbito da Administração Pública, após aprovados pela autoridade de nível superior a que estiverem vinculados os respectivos órgãos, sociedades e entidades, deverão ser publicados na imprensa oficial". 14. O Regulamento de Licitações e Contratos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, publicado no DOU de 26/09/94, posterior, portanto, à edição da Lei nº 8.666, de 24/06/93, alterada pela de nº 8.883, de 08/06/94, não tem legitimidade, uma vez que foi editado e publicado ao absoluto arrepio da Lei à qual deveria submeter-se. 15. Vejamos de forma comparativa o que estabelece o art. 12, 3º, do Regulamento do SENAI, e o art. 22, 3º, da Lei nº 8.666/93: Regulamento do SENAI: "Convite é a modalidade de licitação entre, no mínimo 3 (três) interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos pelo órgão competente". Lei nº 8.666/93: "Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas". 16. Percebe-se, assim, que o conceito de Convite, na acepção do SENAI, não permite que os interessados manifestem seus interesses com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas de participarem do procedimento licitatório, o que vai de encontro aos ditames estabelecidos pela Lei nº 8.666/ Dessa forma, podemos concluir que a Diretoria Regional, ao realizar o certame baseando-se apenas no Regulamento Interno do SENAI, feriu o direito da empresa CONTHÁBIL candidatar-se à licitação, violando, pois, o princípio da legalidade e da igualdade a que se refere o art. 3º da mencionada Lei. Diante do exposto, acolho os pareceres da SECEX e VOTO no sentido de que o Tribunal adote a Decisão que ora submeto a este E. Plenário.

7 Decisão: O Tribunal pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 1. conhecer da Representação de fls. 01 à 06 para, com fundamento no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c o art. 45 da Lei nº 8.443/92 e com o art. 195 do Regimento Interno desta Corte, determinar ao Departamento Regional do SENAI/PE que adote medidas cabíveis para o exato cumprimento do disposto no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, nos arts. 1º, parágrafo único, 3º e 22, 3º e 49, da Lei nº 8.666/93, alterada pela Lei nº 8.883/94, no que tange ao Convite nº 22/95, bem como ao contrato dele decorrente, providenciando, no prazo de 15 (quinze) dias, a anulação dos mesmos, dando conhecimento ao Tribunal a respeito; 2. determinar ao SENAI, à vista do disposto no art. 119, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93, alterada pela de nº 8.883/94, que adote providências objetivando editar regulamento próprio de licitação e contrato que, após aprovado pela autoridade de nível superior, deverá ser publicado na imprensa oficial, enviando-lhe, como subsídio, cópias desta Decisão, bem como do Relatório e Voto que a fundamentam; 3. levar ao conhecimento da interessada, a empresa CONTHÁBIL Auditoria, Consultoria e Planejamento Ltda., o inteiro teor desta Decisão, bem como do Relatório e Voto que a fundamentam; 4. enviar cópia desta Decisão, assim como do Relatório e Voto que a fundamentam à CISET/MT para acompanhamento da matéria em questão e providências que julgar necessárias, no âmbito de sua competência específica; 5. determinar a juntada dos autos às contas do SENAI relativas ao presente exercício. Indexação: Representação; Convite; SENAI; PE; Prazo; Convocação de Licitantes; Licitação; Serviço Social Autônomo; Empresa Privada; Aplicação; Legislação; Regulamento de Licitação; Contrato; Anulação;