A VIVÊNCIA DA ARTE E O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO EDUCANDO

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Transcrição:

A VIVÊNCIA DA ARTE E O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO EDUCANDO Ana Carolina Ferreira Francisco anacarolina@emcantar.org ONG EMCANTAR Comunicação Relato de experiência 1. Introdução O Projeto Educando é realizado pelo Instituto Algar de Responsabilidade Social e pela ONG EMCANTAR, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Uberlândia-MG, Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais e Faculdade Católica. Desenvolve atividades de formação continuada com 60 educadores e 300 alunos do ensino fundamental de escolas públicas no município de Uberlândia-MG. O projeto tem duração de três anos (2006-2008) e suas atividades se dão no contexto escolar buscando possibilitar a construção de práticas educativas efetivas de Educação pela Arte e Educação Socioambiental. Em Educação pela Arte, o intuito é contribuir, por meio da vivência de linguagens artísticas, para o desenvolvimento das habilidades básicas de Leitura e Escrita. Já em Educação Socioambiental, busca-se através da realização de Ações Socioambientais um relacionamento responsável com o espaço escolar, além da inserção da escola nesse debate tão atual. Em 2008, o projeto encerra-se com muitos resultados alcançados e a convicção de que o trabalho com a vivência artística no espaço escolar abre muitas possibilidades para o desenvolvimento de habilidades, para a construção do conhecimento e para um novo olhar sobre as relações humanas e com o espaço ocupado. Além disso, há a própria fruição da arte como componente humano, que contribui imensamente para uma formação humanizadora. Esse relato tem a intenção de descrever o trabalho realizado semanalmente nas oficinas com alunos, em que a arte é o ingrediente e prato principais de tudo que é vivenciado e descoberto. 2. A opção pela Educação pela Arte A vivência da Arte no Projeto Educando se dá na perspectiva do encantamento, da experiência, do desvelar e da descoberta do ser criador. Por meio de brincadeiras, jogos, contações de histórias, dinâmicas musicais e encenações, todos os participantes

têm contato com as linguagens artísticas e, após esse contato, são convidados a se aventurar no mundo da fantasia e do criar. É nessa perspectiva que acontece um trabalho educacional por meio da arte e o principal foco desse processo pedagógico é o desenvolvimento da Leitura e Escrita. Essa opção se faz porque o domínio dessas habilidades é uma grande preocupação da atualidade, já que essas elas são básicas para atuação do cidadão em uma sociedade letrada. Para ilustrar essa necessidade atual, pode-se citar Os Sete Códigos da Modernidade, elaborados por Bernardo Toro, que descreve as sete habilidades e competências necessárias para a participação produtiva do cidadão no século XXI. O primeiro desses códigos é o domínio da Leitura e da Escrita: Para se viver e trabalhar na sociedade altamente urbanizada e tecnificada do século XXI será necessário um domínio cada vez maior da leitura e da escrita. As crianças e adolescentes terão de saber comunicar-se usando palavras, números e imagens. Por isso, os melhores professores, as melhores salas de aula e os melhores recursos técnicos devem ser destinados às primeiras séries do ensino fundamental. Saber ler e escrever já não é um simples problema de alfabetização, é um autêntico problema de sobrevivência. Todas as crianças devem aprender a ler e a escrever com desenvoltura nas primeiras séries do ensino fundamental, para poderem participar ativa e produtivamente da vida social. (TORO, 1997) Essa relação do domínio de tais habilidades e de uma efetiva atuação social, que possibilite ao cidadão (re)escrever sua História, tem como um de seus principais defensores o professor e pensador Paulo Freire. Seu trabalho aponta para a relação intrínseca entre linguagem e realidade em uma concepção de educação política e libertária, pois permite aos educandos uma compreensão crítica da realidade, para nela poder intervir. Desse modo, seu método de ensino parte da leitura de mundo para ensinar a leitura da palavra escrita, o que permite ao aluno ler o mundo de modo crítico, incluindo-o assim de modo efetivo na dinâmica social. Em uma sociedade que exclui dois terços de sua população e que impõe ainda profundas injustiças à grande parte do terço para o qual funciona, é urgente que a questão da leitura e da escrita seja vista enfaticamente sob o ângulo da luta política a que a compreensão científica do problema traz sua colaboração. (FREIRE, 2003, p. 9) Baseados em concepções como as apresentadas acima, o Projeto Educando busca, através de um processo pedagógico que tem como fio condutor a arte, possibilitar

aos educandos uma possibilidade de ver, ler e escrever o mundo, desenvolvendo através desse contato com a ficção sua criticidade e criatividade. A opção pela vivência artística para o trabalho com a Leitura e Escrita por parte da ONG se faz tanto por sua própria experiência artística, que tem a arte como princípio agregador e de conhecimento, quanto pela possibilidade que se apresenta de artisticamente encantar as pessoas pelo mundo do conhecimento. As atividades desenvolvidas nas oficinas são essencialmente de vivência e criação artísticas, ampliando o universo cultural e a leitura de mundo, além de desenvolver as capacidades de criação e expressão dos participantes. O trabalho com a Leitura e Escrita se justifica em um primeiro momento pelas possibilidades de leitura e encantamento que a arte proporciona e em segundo momento pelo desenvolvimento dos potenciais expressivos e criativos e, conseqüentemente, da competência comunicativa dos participantes. 3. Oficinas com alunos As oficinas com alunos são realizadas semanalmente durante um ano com uma turma de 3ª ou 4ª série das escolas participantes do projeto. A vivência da arte é empreendida com o intuito de promover a ampliação do universo cultural e da leitura de mundo, além do desenvolvimento da capacidade de expressão, criação e de habilidades cognitivas e de convivência das crianças participantes. Nas oficinas, a arte é o início, o meio e o fim de tudo o que é experimentado. Através da vivência artística os alunos têm contato com obras desconhecidas, se divertem e despertam a criatividade presente em cada um. Brincando as crianças aprendem, criam, lêem e escrevem. Ao final do ano, muitos têm um novo olhar para a arte e para seus próprios potenciais expressivo, comunicativo e criativo. Acredita-se que dessa forma a arte pode contribuir significativamente para que essas crianças tenham maior capacidade de se expressar criativamente na linguagem oral e escrita. Outra contribuição é o fato de que, através do contato com manifestações artístico-culturais desconhecidas, seja despertado o gosto pela leitura e pelo conhecimento formal de uma maneira geral. Vale a pena destacar que todas as habilidades que o projeto tenta desenvolver são habilidades próprias das crianças, mas que muitas vezes são tolidas em função da representação de mundo dos adultos que os cercam, inclusive na escola. A proposta do

Projeto Educando é ir na contramão e ajudar a criança a despertar aquilo que lhe é essencial: a fantasia. 4. Conteúdos trabalhados Os conteúdos trabalhados nas oficinas são ora das linguagens artísticas vivenciadas, ora de leitura e escrita. No caso das linguagens artísticas, podemos destacar: Música: parâmetros do som; noções de harmonia, melodia e ritmo; parlendas; músicas do cancioneiro popular; cirandas e cantigas de roda. Artes Cênicas: movimento e expressão física; improvisação; criação e composição de personagens; cenário e figurino. Literatura: gêneros literários: narrativo; lírico e dramático. No caso da leitura e escrita, o principal objeto de trabalho são os gêneros textuais, pois possibilitam o desenvolvimento da capacidade de expressão oral e escrita e da criatividade das crianças. Os principais são: tipos de linguagem (verbal, não-verbal e mista); graus de formalismo na fala e na escrita; elementos da comunicação; funções da linguagem; figuras de linguagem; tipos e gêneros textuais. A relação entre os dois conteúdos pode ser exemplificada com alguns gêneros trabalhados, como fábulas, poemas, textos dramáticos, contos, causos, leitura de imagens, desenhos, entrevistas, além da interpretação, criação e composição de personagens. Esses conteúdos, juntamente com o conhecimento e vivência de obras artísticas, possibilitam a criação de apresentações e produtos artísticos que mesclam a leitura, a escrita e a arte, demonstrando a contribuição desta para o desenvolvimento de habilidades e para a construção do conhecimento. 5. Metodologia A metodologia utilizada poderia ser resumida poeticamente como oficinas de brincar de brincar, brincar de escrever e brincar de criar, pois o fio condutor de todas as atividades é a vivência e a criação artísticas. O trabalho desenvolvido com cada turma se pauta por um mini-projeto, que elege uma linguagem artística como predominante no processo e culmina com a produção de uma apresentação e produto artísticos. O primeiro passo é identificar a linguagem artística que predomina no gosto e nas habilidades da turma. Nessa etapa, as crianças vivenciam jogos, dinâmicas,

brincadeiras, contação de histórias, brinquedos cantados, encenações, declamações, exibições de áudio-visual, etc. São nos momentos de vivência que os educadores responsáveis identificam a linguagem predominante. Em seguida, são vivenciadas obras artísticas ligadas a essa linguagem, que apresentam possibilidades de contribuir para a melhoria do nível de leitura e escrita, mesclando assim elementos da linguagem e dos conteúdos acima mencionados. Como resultado de toda a vivência, é formado um repertório artístico da turma. A partir desse repertório, as crianças e os educadores do projeto fazem exercícios de criação oral e escrita que são matérias-primas para as criações artísticas. Dessa forma, as crianças vivenciam a arte, se aventuram no mundo das palavras e ainda se tornam artistas. Após essas criações, que tiveram como fundamento as vivências artísticas, os alunos experimentam criar artisticamente. É nessa fase que se produzem canções, poemas, histórias e brincadeiras e, além disso, apresentações artísticas inéditas que são realizadas na própria escola. Depois de tudo produzido, a última etapa é a preparação para a Mostra de Criatividade. É um conjunto de apresentações artísticas resultantes do processo pedagógico vivenciado nas oficinas. Esse evento é uma maneira de demonstrar para a comunidade escolar a possibilidade de brincar de aprender e aprender brincando. Cada turma apresenta o resultado de seu trabalho na própria escola, colorindo-a de criatividade. 6. Resultados do trabalho Os resultados desse trabalho são perceptíveis tanto no cotidiano da sala de aula como nas apresentações e produtos artísticos produzidos. Vivenciando as linguagens artísticas como a música, a literatura, as artes cênicas e a brincadeira, as crianças percebem que ler é uma viagem no mundo da fantasia e escrever é uma divertida brincadeira. Assim, aos poucos, as crianças vão brincando de escrever e se tornando autores e artistas. Algumas mudanças de comportamento demonstram que os objetivos dessa atividade são realizáveis, pode-se destacar: envolvimento, comprometimento e sentido de pertencimento por parte das crianças; desenvolvimento da capacidade de comunicação e expressão oral e escrita que engloba aspectos como organização de idéias, argumentação e senso crítico; desenvolvimento da capacidade de concentração,

do potencial criativo e da organização para realização de trabalhos em grupo; melhora na compreensão/ interpretação de textos; aumento do gosto pela leitura e da disposição para produção escrita.; início da familiarização com gêneros e tipos textuais trabalhados, permitindo o exercício de produção escrita, que prioriza a comunicação e a criação. Esse trabalho deixou também resultados concretizados em forma de obras artísticas, que podem ser apreciadas e servir como estímulo para trabalhos como esses em quaisquer lugares. Nos produtos criados, além do registro de tudo o que foi vivenciado, fica a marca da expressão, comunicação e criação, dos artistas que participaram das oficinas. De 2006 a 2008, foram produzidos: Brincadeiras de Rua; livro com a sistematização de brincadeiras realizadas pelas crianças (2006) Pequenos Grandes Poetas; livro com poemas de crianças que se aventuraram a escrever poemas (2006) Contando histórias e molecagens; livro com mais de 160 textos sobre os mais diversos temas trabalhados com as crianças. (2007) Idéias engarrafadas e histórias incotidas: palavras que brincam; livro que mescla poema, biografia de palhaços, dicionário de música, entre outros, como resultado das atividades desenvolvidas em 2008 (ainda em fase de produção) Arte de Fato: CD com 13 canções inéditas produzidas pelas crianças nos anos de 2006 a 2008 (ainda em fase de produção). O reflexo desse trabalho na sala de aula se percebe quando as crianças já não mais reclamam de atividades que envolvam a leitura e escrita, além do interesse crescente pela leitura de livros literários e outros e também pela qualidade de seus textos, que passaram a ser mais longos, coesos, com idéias mais claras e até poéticos. Além disso, ocorre, em muitos casos, a mudança de metodologia do professor da turma, que percebe a arte como companheira para a produção de conhecimento e para construção de laços de afetividade na sala de aula. Alguns exemplos de mudança de metodologia podem ser exemplificados por: apropriação das metodologias trabalhadas por parte do professor, englobando os conteúdos formais nas atividades artísticas desenvolvidas; criação de metodologias que estimulam o contato e o gosto pela leitura; reconhecimento do professor de que o trabalho artístico contribui para

aprendizagem dos educandos; multiplicação das atividades/metodologia para outros professores da escola. 7. Conclusão Os resultados do trabalho demonstram de certa maneira a contribuição da arte para o desenvolvimento humano de uma forma geral. As mudanças de comportamento e maneira de ver o mundo por parte das crianças e das professoras reafirmam a necessidade humana do contato com a arte e o quanto esse contato é frutífero. Nas apresentações artísticas, a capacidade de expressão e criação das crianças participantes fica evidente tanto na originalidade dos números apresentados, como na desenvoltura dos artistas mirins. Pela qualidade dos produtos artísticos gerados, que são poéticos, singelos e originais, reforça-se a convicção de que a arte contribui significativamente para o desenvolvimento da leitura e da escrita. E no processo vivenciado fica claro o quanto, através da arte, é possível trabalhar com crianças em busca de uma formação de cidadãos que tenham criticidade, criatividade e habilidades de convivência para atuar de forma efetiva na sociedade. A aposta do Projeto Educando em casar a arte com a Leitura e Escrita é ousada, pois essas são duas grandes necessidades das crianças e do mundo atual. Acreditamos, porém, que essa experiência tem dado certo, já que depois de três anos de experiência podemos ver tanta criatividade se mostrando no espaço escolar e, com isso, crianças se tornando autores de sua própria história. REFERÊNCIAS EMCANTAR. Projeto Educando. Formação Continuada. (2006-2008) FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2006. LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2006. MARTINS, Maria Helena Martins. O que é leitura. 18. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. Coleção Primeiros Passos. Projeto Educando. Ferramentas de acompanhamento do projeto. (2006-2008) TORO, Bernardo. Os sete códigos da modernidade. Trad.: GOMES DA COSTA, Antônio Carlos. 1997. Disponível em: http://www.sagrada.net/contentid/21861. Acesso em 24 julho. 2008 (acesso em 24/07/08).