LITERATURA: CONHECENDO AS PROFISSÕES

Transcrição

1 LITERATURA: CONHECENDO AS PROFISSÕES Karine Gisele Dagnaisser Pinto Franz Christian Scherer Luciane Hermany Berengan 1 Introdução Os adolescentes não gostam de ler é o que dizem os professores e os próprios alunos. Infelizmente este quadro se reflete nas aulas de Literatura e de Redação, nas quais a leitura sistemática e a produção de textos são primordiais. A falta de familiaridade com o texto escrito provoca, por vezes, o desinteresse pelos temas tratados, o que leva a uma deficiente expressão linguística. Essa era a realidade observada pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência PIBID, da CAPES Brasil, da sub-área de Letras/PUCRS, na E.E.E.M. Agrônomo Pedro Pereira, em Porto Alegre. Sendo assim, iniciou-se a elaboração de um projeto voltado para o estímulo do hábito da leitura nas duas turmas do terceiro ano do Ensino Médio da escola. Para isso, buscou-se a utilização das novas tecnologias como aliadas no contato entre os alunos e a literatura. Porém, a partir dos primeiros encontros com estas turmas, percebeu-se o interesse e as dificuldades dos alunos em relação à escolha do futuro profissional, assunto de extrema importância para os alunos de terceiro ano (último ano da formação básica). Assim, o projeto, que tinha como objetivo inicial o incentivo ao contato com a Literatura, foi redirecionado e ampliado para esclarecer questionamentos, rever conceitos, nortear e traçar objetivos quanto à carreira pretendida pelos alunos. Assim, acrescentou-se ao projeto, que visava ao estímulo à interação com a Literatura e a produção textual, um novo objetivo: ampliar o conhecimento dos alunos sobre as profissões e estimular a reflexão sobre esta escolha. 2 Detalhamento das atividades As atividades relacionadas a este projeto foram feitas durante o horário de aula das duas turmas de terceiro ano. Para isso, foi utilizado um período de aula por semana, cedido pela professora de Língua Portuguesa e Literatura. Além do trabalho realizado em sala de

2 aula, também foram utilizadas algumas ferramentas de internet, que dão continuidade a tais atividades e que oferecem maiores informações sobre os temas abordados. Para a realização das atividades com as novas tecnologias, foram criados um blog do projeto 1 e uma página no Facebook 2, nos quais são feitas postagens diárias de vídeos e criações (publicados na internet, ou de autoria das bolsistas, ou dos alunos), artigos, leituras dos mais diversos estilos literários e outras complementações informativas. Esta concepção é salientada por Gomes: A criação e dinamização de um blog com intuitos educacionais pode, e deve, ser um pretexto para o desenvolvimento de múltiplas competências. O desenvolvimento de competências associadas à pesquisa e selecção de informação, à produção de texto escrito, ao domínio de diversos serviços e ferramentas da web são algumas das mais valias associadas a muitos projectos de criação de blogs em contextos escolares. (GOMES, 2005, p. 313) O trabalho em sala de aula foi desenvolvido por meio de oficinas, em que são trabalhados, a cada semana, um novo texto e uma nova reflexão sobre o futuro, resultando em uma atividade de produção por parte dos alunos. Os textos escolhidos para a realização das oficinas são dos mais variados gêneros e tipos, porém, todos apresentam um aspecto literário e estão relacionados ao tema das profissões. Essas oficinas são elaboradas de acordo não só com os objetivos do projeto, mas também com o perfil de cada turma. Para a realização desse trabalho, junto às turmas 301 e 302, foi desenvolvida, antes do início do projeto, uma atividade para a construção do perfil de cada uma delas, a partir de questões como: tipos de música favorita, a frequência com que assistem à televisão, se gostavam de ler, se já leram algum livro que gerou um interesse maior, um autor favorito, o que haviam procurado nos livros e ainda não tinham encontrado, entre outras. Excluindo as questões sobre gostos pessoais, ficou claro que quase 70% dos alunos do terceiro ano dessa escola, não possuem o hábito da leitura e praticamente todos disseram que os livros não trazem uma linguagem clara ou mais atual. Em relação à escolha profissional, alguns ainda têm dúvidas sobre que carreira seguir e possuem uma noção muito básica do tipo de trabalho realizado nas profissões pretendidas. Em cada oficina realizada, buscou-se apresentar a literatura de uma forma diferente da tradicional, aquela em que são abordadas as escolas literárias e seus períodos históricos. Aplicando, conforme Paulo Freire, o princípio de que na prática educativa, o professor deve 1 Disponível em: <

3 ser o mediador da leitura, ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção e criação. (2003. p. 22) Nesse sentido, partiu-se da ideia de mostrar a literatura a partir da sua ligação com outras artes, como os quadrinhos, a música e o teatro. Assim, os alunos entraram em contato com textos que possuem aspectos literários, mas que, ao mesmo tempo, fazem parte de outras esferas artísticas, mais próximas do cotidiano dos estudantes. Sendo assim, trabalhou-se com os alunos o fato de que podemos encontrar a literatura dentro da letra de uma música, ou nas histórias em quadrinhos ou, até mesmo, em espetáculos de stand-up comedy. Portanto, com base nas relações estabelecidas entre a literatura e essas outras artes, os alunos foram convidados a produzirem literatura a partir das diversas possibilidades artísticas abordadas em cada oficina. Foram criadas algumas histórias baseadas nas músicas preferidas dos alunos e histórias em quadrinhos fundamentadas na situação apresentada por um conto ( O Coveiro, de Millôr Fernandes). Essa última proposta de criação transformou-se em um concurso, no qual os próprios alunos, por meio do Facebook, votaram nos quadrinhos dos colegas, a fim de eleger os melhores. A última atividade desenvolvida foi uma oficina que utilizava a representação teatral para falar sobre os pontos positivos e negativos das profissões desejadas pelos estudantes. Nela, os alunos assistiram a diversos vídeos de stand-up comedy, relacionando-os à literatura (criação de personagens e roteiro teatral). Através disso, eles criaram as suas próprias apresentações teatrais sobre a profissão que pretendem seguir. Este projeto teve seu término com as apresentações teatrais dos alunos no final do primeiro semestre de 2012 e, com a visitação à Feira das Profissões da PUCRS, no dia 27 de Novembro do mesmo ano. A utilização do blog e da página do Facebook, que até então fazem parte das atividades desenvolvidas, deve prosseguir, auxiliando no trabalho desenvolvido em sala de aula e oferecendo aos alunos conteúdos complementares sobre literatura e profissões. 3 Análise e discussão do relato A partir do questionamento dos hábitos de leitura dos adolescentes e do objetivo dos professores de incentivá-los a ler, fez-se necessária a elaboração de mais oficinas que trouxessem o estímulo que falta a esses jovens. Essa relação difícil entre o aluno do Ensino 2 Disponível em <

4 Médio e a Literatura nasce já no Ensino Fundamental quando predominam as interpretações textuais trazidas pelos livros didáticos, a partir de textos incompletos e descontextualizados. O Ensino Médio mantém a mesma regra, agregando as características das escolas literárias, autores e obras mais importantes. São raras as oportunidades de leitura de um texto integral. Na sociedade brasileira, com índices baixos na educação, chegar à fase adulta com interesse pela leitura é cada vez mais raro. Segundo Paulo Freire:... esse movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de escrevê-lo, ou de reescrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.. (FREIRE, 1982, p. 22) Não se pode deixar de lado a necessidade de incentivar este hábito nos adolescentes. Porém, o conhecimento da literatura não pode ser simplesmente imposto aos alunos. É preciso transformar a necessidade da leitura em prazer da leitura. Para isso, torna-se importante relacionar a literatura à vida cotidiana dos educandos, criando possibilidades de aproximação entre a realidade do estudante e o mundo dos livros. A partir do trabalho com os terceiros anos da escola, percebeu-se que o interesse e a preocupação deles com o seu futuro profissional poderiam servir como ligação com o texto literário. Assim, os alunos têm a oportunidade de encontrar a literatura ao mesmo tempo em que refletem sobre seu futuro. Ao integrar esses assuntos, espera-se estabelecer um contato maior e mais prazeroso dos alunos com o texto literário e, também, proporcionar um momento de reflexão e informação sobre as possibilidades para o futuro desses jovens. Acredita-se também, que a figura do professor e o relacionamento que ele estabelece com o aluno, exercem grande influência no processo de escolha profissional, conforme salienta Kathia Neiva: Por meio dos conteúdos pragmáticos que ensinam, transmitem informações sobre processos sociais, relações de produção, sistemas de trabalho, profissões e ocupações, mercado de trabalho, etc. A quantidade e qualidade dessas informações são sua responsabilidade. Além disso, na transmissão dessas informações, passam também seus valores pessoais e da própria sociedade em que vivem, contribuindo assim para a formação dos valores do adolescente. (NEIVA, 2007, p. 79) Também é importante o uso das novas tecnologias no processo de ensino. Se a internet possui tantas ferramentas que agradam aos adolescentes, se faz cada vez mais necessário torná-la uma aliada. Algumas redes sociais, como o blog e o Facebook, podem contribuir para uma maior interação entre a escola e os alunos. Trata-se também de disponibilizar aos alunos

5 mais uma fonte de informação e atividade com grande potencial educativo, não só pela necessidade de desenvolver competências de pesquisa de informação e de domínio da comunicação escrita mas também por contribuir para o desenvolvimento de pontos de vista diferentes. 4 Considerações finais Através do trabalho que vem sendo desenvolvido com as turmas do terceiro ano do Ensino Médio, percebeu-se a importância de conciliar os conteúdos a serem ensinados com as necessidades e interesses dos alunos, algo que já era conhecido pelos bolsistas, mas que se tornou realidade no desenvolvimento das primeiras oficinas feitas na escola. Ao oferecer aos alunos a possibilidade de produzir algo a partir do que foi visto e discutido em aula, percebeu-se também a importância da participação ativa dos estudantes no processo de aprendizagem. Observou-se que muitos têm se engajado mais nas atividades, demonstrando interesse em participar das produções propostas em aula. Assim, compreende-se também que a literatura não pode ser apenas um conteúdo a ser ensinado na sala de aula, mas sim vivenciado pelos alunos, buscando-se o ponto de encontro com a realidade deles. Também foi observado que as novas tecnologias mostram-se como aliadas do professor, pois proporcionam uma nova esfera de ação do ensino aprendizagem. Esse fato vem se confirmando com o número crescente de alunos que procuram informações e interagem com as atividades realizadas nas redes sociais incluídas neste projeto. Referências BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, CATTANI, Maria Izabel; AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura no primeiro grau: a proposta dos currículos. In: ZILBERMAN, Regina (Org.). Leitura em crise na escola: alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, p

6 GOMES, Maria João. Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. In: VII Simpósio Internacional de Informática Educativa. Leira/Portugal, Nov Disponível em: < Acesso em 10 jun GUADALUPE, Ana. A literatura brasileira em tempos de internet: blogs, microblogs e outros logs. In: SILVA, M.L. et al. (Org.). II Conalti. Maringá: UEM, p CD-ROM FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, NEIVA, Kathia Maria Costa. Processos de escolha e orientação profissional. São Paulo: Vetor, 2007.