A PRÁTICA DE ENSINO NA ESCOLA MUNICIPAL DR. GLADSEN GUERRA DE REZENDE: ATIVIDADES DE FLAUTA DOCE, PERCUSSÃO E VIOLÃO. Autores Profa. dra. Sônia Tereza da Silva Ribeiro(UFU) Adriana Castanheira Araújo Alexandre Garcia Bisinoto Gilda Aparecida Faria Cardoso Monalisa Marques Franco Priscila Pacheco Freitas O presente texto se relaciona a um recorte de experiência realizada dentro de uma das diferentes situações didáticas vividas entre estudantes e professores no âmbito da Universidade Federal de Uberlândia e da Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra. Trata-se de uma experiência realizada nas disciplinas Prática de Ensino 1, 2, 3 e 4 do Curso de Música e um grupo de estudantes da escola citada. O período de realização da Prática de Ensino se iniciou em 2003 sendo que o estágio supervisionado ocorreu no espaço da escola Municipal Dr. Gladsen Guerra entre 2004 e 2005. As disciplinas mencionadas perfazem cada uma, um total de 75 horas e têm como uma de suas metas, desenvolver a formação crítica do estudante trazendo para sala de aula, diferentes realidades didáticas que servem como reflexões sobre a prática musical e pedagógica do futuro professor de música. Os objetivos gerais, conforme ementa da Prática de Ensino é o de integrar a formação musical, pedagógica e pedagógico-musical feitas durante o curso de graduação no âmbito do contexto do trabalho teórico e no exercício reflexivo da prática do estágio. Os específicos, discutir o campo de conhecimento profissional da Educação Musical, as diferentes concepções de práticas musicais trabalhadas nos espaços citados; as metodologias de ensinoaprendizagem formal e não formal e a atuação dos próprios alunos na educação musical. Ainda, elaborar e desenvolver projetos sobre o espaço de estágio selecionado para o exercício reflexivo da atuação docente. Atualmente, no curso de música da UFU, o processo de elaboração da proposta de trabalho em cada uma das disciplinas de 1 a 4, pode variar de docente para docente e ter
flexibilidade quanto aos objetivos, locais de estágio, procedimentos de avaliação e registros da mesma. A experiência desenvolvida se justificou pela vivência de um trabalho com música no Ensino de Arte através do violão, flauta doce e de percussão corporal e/ou instrumental. Estas atividades foram fundamentadas pelo princípio da vivência musical prazerosa e significativa. Trabalhou-se com a noção de que a sala de aula é um espaço em que a música é utilizada como linguagem. Procurou-se contemplar a experiência musical e os saberes trazidos pelo grupo da escola a fim de contextualizar os conteúdos programados desenvolvidos durante o estágio. Através da observação, execução, criação, apreciação e improvisação, a experiência se desenvolveu em etapas: observação das atividades de arte na escola; elaboração e execução do projeto de atividades de violão, percussão e flauta doce; avaliação das atividades tanto na escola quanto na UFU. O presente texto se fundamentou nos registros feitos coletivamente em formato de projeto e relatório bem como do portfólio feito pelos estudantes. Importante dizer que os projetos e relatórios ficam na instituição e servem de material pedagógico pois possuem fotos, fitas e comentários das discussões coletivas. A seguir apresenta-se o texto em duas partes. A primeira diz respeito às atividades da Prática de Ensino. A segunda destaca o referencial teórico-metodológico das atividades desenvolvidas na escola. Por fim ressalta-se a importância das disciplinas citadas se constituírem como um processo formativo-musical entre docentes, estudantes e a escola. 1. Atividades da Prática de Ensino. A Prática de Ensino 1, dentre as atividades previstas, ficou marcada por uma atividade reflexiva acerca da construção social da formação musical e pedagógica dos próprios alunos matriculados na disciplina. Também pela discussão acerca do espaço do estágio ser a escola citada e da avaliação das viabilidades de se desenvolver um projeto de musicalização através de instrumentos musicais. O trabalho da disciplina se fundamentou, entre outros, nos pressupostos de Freire (1986) em que o autor orienta os docentes a investigar o universo dos estudantes para conhecer quais conhecimentos eles trazem para as aulas. Inicialmente desvelaram-se alguns aspectos significativos dos saberes e práticas que os estudantes desenvolviam enquanto alunos e profissionais da área de música. Posteriormente, foram feitos estudos e reflexões sobre as
dimensões formadoras do estágio supervisionado a fim de ir construindo com eles, o conceito do mesmo no âmbito da sua importância para a formação dos licenciandos em música. A Prática de Ensino 2 foi o período de observação das atividades de arte ministradas pelos professores da escola. Freire (1986) foi referência para as análises desta etapa mostrando que a observação é um ato educativo e um procedimento que procura colaborar com os estudantes para que eles superem os seus saberes relativos. Observou-se principalmente o trabalho de musicalização de uma turma da escola, durante dez semanas letivas. Os resultados foram registrados no relatório da disciplina e no portfólio dos estudantes. Por fim, a Prática de Ensino 3 e 4 se dedicou à elaboração e o desenvolvimento dos planos de atividades bem como o re-planejamento das aulas conforme as situações didáticas vivenciadas na escola. Este processo foi complexo e demandou avaliações sobre as diferentes formas de se ensinar música na escola. 2. Metodologia. A proposta das atividades do estágio se utilizou do modelo (T) E C (L) A, que é a tradução do Modelo C (L) A S (P) de Swanwick. De acordo com FRANÇA (2002) O Modelo C (L) A S (P) não é um método de educação musical, nem um inventário de práticas pedagógicas. O modelo carrega uma visão filosófica sobre a educação musical, enfatizando o que é central e o que é periférico (embora necessário) para o desenvolvimento musical dos alunos. Implícita no modelo há uma hierarquia de valores e objetos, na qual a vivência holística, intuitiva e estética nas três modalidades centrais deve ser priorizada, subsidiada por informações sobre música (L) e habilidades técnicas (S). (FRANÇA, 2002, p. 18) O estudo sobre esta proposta foi detalhado pelo grupo de alunos da disciplina Prática de Ensino e se revelou como um dos fundamentos que orientou o trabalho na escola. Outro estudo importante foi sobre o ensino do instrumento em grupo. Neste aspecto foi privilegiado o exercício da apreciação, vivência, imitação e criação no âmbito dos procedimentos metodológicos do estágio. O modelo prevê diferentes formas dos alunos se relacionarem com a música. A saber: T (Técnica) envolve aspectos como controle técnico, tocar em conjunto, manusear sons com aparatos eletrônicos, desenvolver a percepção auditiva e ter habilidade de leitura.
E (Execução) trata da música como presença, na qual o intérprete é o mediador entre o trabalho musical e o ouvinte. C (Criação) inclui todas as formas de invenção musical e não somente obras que são escritas através de algum tipo de notação. Pode ser ou não experimentação com sons. L (Literatura) inclui não somente estudos contemporâneos ou históricos da literatura da música através de partituras e gravações, mas também crítica musical e literatura em música, histórica e musicológica. A (Audição) consiste na compreensão auditiva e colabora para que o aluno se relacione intimamente com o objeto musical de forma estética. O modelo possibilitou desenvolver o exercício de musicalização através dos instrumentos, considerando a música como um todo e oportunizando o envolvimento do aluno com o objeto musical. Permitiu ainda que os estagiários ficassem mais conscientes sobre os diferentes momentos do processo de ensino-aprendizagem desenvolvidos durante o trabalho. A seguir apresenta-se uma síntese das principais ações referente aos momentos de preparação, execução e avaliação do estágio. A PREPARAÇÃO DO ESTÁGIO - Visita à Escola para conhecer, discutir e viabilizar a proposta de estágio. - Observação das atividades de arte na escola. - Elaboração do Projeto durante as aulas teóricas da disciplina Prática de Ensino. - Avaliação do diagnóstico de preferências musicais na escola Dr. Gladsen a fim de preparar material pedagógico com repertório significativo para os participantes. - Preparação das atividades de estágio durante as aulas teóricas da disciplina. A REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO - Elaboração do plano de atividades contendo objetivos, metodologia, repertório e avaliação bem como o desenvolvimento do mesmo na escola. - Revisão da literatura acerca do referencial teórico-metodológico e sobre temáticas ligadas ao ensino instrumental em grupo. - Realização, avaliação das atividades desenvolvidas e re-planejamento de aulas. - Registro do trabalho e produção de textos com comentários sobre a prática do estágio desenvolvidos pelos estudantes do curso de música.
A AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO E DA DISCIPLINA - Elaboração do relatório final entregue na escola. - Avaliação do trabalho junto à escola e com os participantes do estágio. - Avaliação da disciplina e auto-avaliação dos alunos estagiários. - Redação e Apresentação do portfólio. Considerações finais. A experiência relatada desvelou que o estágio como componente curricular tem uma importante dimensão formadora. Neste aspecto, Freire (1986 e 1999) e Swanwick (2003) fundamentaram as reflexões sobre a prática educativa de o estágio ficar mais atenta à diversidade e aos diferentes contextos sócio-musicais em que os estudantes estão envolvidos. A título de considerações finais chama-se a atenção para os espaços da sala de aula da UFU e da escola. Locais coletivos em que as disciplinas Prática de Ensino 1 a 4 foram desenvolvidas a partir de projetos e relatórios de estágios supervisionados. Projetos estes que foram construídos com um determinado grupo de estudantes e desenvolvidos durante o período entre 2003 e 2005 na Universidade Federal de Uberlândia e Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra. Na sala de aula da UFU, a interação verbal, musical e as análises dos planos de atividades das condições concretas realizadas nos estágios. A discussão e a oportunidade de usar a formação acadêmica na elaboração e realização dos planos de atividades bem como a da pedagogia musical para refletir e assimilar novas práticas. Também a tentativa de encontrar resultados sonoros que melhor representavam o exercício do grupo e ainda a produção de material didático para cada etapa do trabalho. Na sala de aula da escola a interação com outras pessoas, seus valores musicais, seus símbolos e representações bem como sentimentos, atitudes e a observação de outros saberes. O desafio e a satisfação de trabalhar a educação musical no Ensino de Arte da Escola M. Dr. Gladsen Guerra. Após o exposto, avalia-se que o trabalho permite deixar algumas anotações sob o ponto de vista da formação universitária. A primeira no sentido da disciplina possibilitar o debate sobre as variadas práticas e modos de ser professor(a) de música. A segunda por destacar que a vivência de situações educativo-musicais permite fundamentar observações
mais concretas acerca das ações de um saber plural que integra a formação dos estudantes de música. A última por sublinhar experiências reflexivas sobre diferentes formas de aprendizagens que são construídas na formação inicial e na prática educativa. Referências. FRANÇA, Cecília Cavalieri; SWANWICK, Keith. Composição, apreciação e performance na educação musical: teoria, pesquisa e prática. Em pauta. Porto Alegre, v. 13, n. 21, p. 05 41, dezembro 2002. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1986 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.10.ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999. SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.