A CONTRIBUIÇÃO DO CONSELHO ESCOLAR NA CONSTRUÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA Nelci Olímpia Meassi 1 Janaina Aparecida Mattos Almeida 2 RESUMO. O Conselho Escolar é uma das instâncias colegiadas da escola pública, que tem como função contribuir na perspectiva da gestão democrática. Há, porém, muitos empecilhos para o funcionamento adequado desse órgão, os quais têm contribuído para que ele exista apenas como mais um cumprimento burocrático, deixando de exercer as atividades que lhe são pertinentes. Sendo o Conselho Escolar o principal órgão de tomada de decisões na escola pública é imprescindível um estudo mais aprofundado sobre o seu papel. Palavras chave: Gestão democrática, conselho escolar, legislação atual. É preciso e até urgente que a escola vá se tornando em espaço escolar acolhedor e multiplicador de certos gestos democráticos como o de ouvir os outros, não por puro favor, mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância o do acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo o direito de quem diverge de exprimir sua contrariedade. (Paulo Freire, Professora sim, tia não, p.91). 1 Professora da Rede Estadual de Ensino Paranaense Região Oeste do Estado. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional. 2 Professora do Centro de Educação e Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unioeste. Mestre em Educação pela UFPR.
Este texto é uma revisão bibliográfica sobre o Conselho Escolar e, faz parte das atividades do PDE ainda em andamento que, no seu desdobramento, se efetivará uma pesquisa ação na perspectiva da fundamentação teórica de THIOLLENT (2002) e, tem por objetivo contribuir na ampliação do debate sobre o tema da democratização da gestão escolar, através do fortalecimento dos mecanismos de participação na escola, em especial o Conselho Escolar, buscando contribuir para a construção de uma gestão democrática na escola pública. A Constituição Federal de 1988, no Capítulo que trata da Educação, apresenta no seu Artigo 206 os princípios que devem pautar o ensino nos Estabelecimentos da rede pública. Dentre esses princípios destaca-se a gestão democrática, igualmente enfocada na Constituição Estadual Paranaense de 1989 e, tão enfatizado a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e do Plano Nacional da Educação, aprovado em 2001. Expressa também um conjunto de dispositivos que garantem direitos aos indivíduos, e dentre os quais destacamos o capítulo III, da Educação, da Cultura e do Desporto, que em seu artigo 205 trata: A educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Constituição Federal, 1988). A educação, então, passa a ser um direito do indivíduo, devendo contribuir para sua formação pessoal e para o desenvolvimento de atividade laboral, sendo que o Estado deve garanti-la a todos. Enfatizamos ainda no art. 206, que rege sobre a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, a gratuidade do ensino público em todos os níveis, e o entendimento da educação como direito subjetivo. Nesse sentido, a gestão escolar exige novos modos de fazer e pensar a educação, novos espaços sociais de diálogo e manifestações
de opiniões e reivindicações, a fim de possibilitar uma formação política que contemple o novo modo de agir da comunidade escolar conforme a Lei de Diretrizes e Bases - LDB 9394/96 e demais legislações em vigor, que surgiram para reforçar as diretrizes instituídas pela Constituição Federal de 1988. Diante das questões apontadas acima, educadores das mais diversas tendências têm consensuado sobre a importância da gestão democrática num sistema público de ensino, como meio político-pedagógico de formação da cidadania. De acordo com PARO, administrar a escola pública não se reduz apenas à aplicação de uma infinidade de métodos e técnicas. A administração escolar ou gestão escolar é portadora de especificidades que a diferenciam da administração capitalista, que tem como objetivo principal o lucro. No âmbito da unidade escolar, esta constatação tem apontado para a necessidade da comunidade participar efetivamente da gestão da escola numa perspectiva de ampliar sua autonomia. No entanto, isso só se efetivará tanto pedagógica quanto administrativamente, (...) num ambiente escolar em que todos possam conviver como sujeitos, com direitos e deveres percebidos a partir da discussão aberta de todas as questões que afetam a vida de todos na escola (PARO, 1996, p.113). Neste sentido Antunes (2002) também compreende que é necessário que tenhamos clareza de que democracia é algo que se aprende e se aprende, principalmente praticando-a, vivenciando-a. Dentre os instrumentos que vêm sendo estruturados no processo de democratização em gestão, conjuntamente com os autores pesquisados, entre eles, ALMEIDA (2006); PARO (1996), RODRIGUES (1993), destacamos o Conselho Escolar por considerarmos o mais democrático, principalmente, por contemplar representação de todos os segmentos da comunidade, portanto, para que a escola pública
cumpra o seu papel social, tornou-se cada vez mais importante e indispensável o envolvimento na gestão escolar dos diferentes segmentos da comunidade escolar bem como a participação da comunidade local. Conforme Rodrigues (2000) o colegiado poderá se converter em um centro permanente de debate, de articulação dos objetivos e das necessidades de vários setores educacionais da escola, de busca de alternativas pedagógicas e administrativas, de manifestação e administração dos conflitos internos, de elaboração de propostas curriculares e de ação pedagógica. Para garantir a participação dos diferentes segmentos da escola e da comunidade local instituiu-se o Conselho Escolar. Porém, essa instância deliberativa instalou-se, em alguns lugares, como um mero aparato burocrático para preencher exigências legais, visando receber recursos financeiros e materiais. Por esse motivo, pretendemos apontar como os Conselhos podem constituir-se como instâncias cada vez mais decisivas para o trabalho pedagógico e administrativo da escola, como já indicado pela história da própria natureza e do caráter que os conselhos assumem na sua trajetória. Segundo Almeida (2006), os Conselhos Escolares surgem no cenário educacional brasileiro no início da década de 80, embalados pelo movimento de redemocratização do país, resultado da reorganização da sociedade civil. Essa nova organização popular buscava formas de participação e representação direta, tendo como horizonte a derrubada de um poder centralizador e autoritário. Segundo Lima (2004, apud Almeida, 2006), a década de 80 representou uma reorganização de diversos setores sociais e de diferentes formas, como a organização de conselhos populares, movimentos sociais, manifestações de rua. Na escola, foram reativados, pelo menos na forma da lei, os grêmios estudantis livres; conquistou-se a eleição de diretores, implantadas em alguns Estados, como o caso do Paraná; e os Conselhos Escolares, que passaram a compor o organograma da escola como instância deliberativa, (como é o caso de Minas Gerais e São Paulo).
Esse foi um marco na história dos Conselhos Escolares (colegiados), que até então eram instâncias consultivas (ou seja, não tinham poder de decisão, apenas de colaboração quando solicitados pela direção da escola). A mudança na natureza dos Conselhos Escolares, de consultivos para deliberativos, foi substancial. Porém, é necessário ressaltar que, embora indique maiores possibilidades de participação e de democratização da escola, essa mudança não garante por si só a transformação da concepção e dos princípios de uma educação e de uma sociedade não democrática, fundada num modo de produção social gerador de exclusão. Juntamente com a autora pesquisada, concorda-se com a afirmação de Wachowicz (1992), que não se pode perder de vista que a democratização da escola se realiza no contexto de democratização da sociedade, ela é ao mesmo tempo produto e produtora da democratização social. Corrobora PARO (2001) neste sentido e ampliando as análises feitas pela autora acima citada que, (...) inteirado o conselho numa política mais ampla da gestão escolar, parece que outra importante questão a ser enfrentada refere-se à necessidade de uma definição mais precisa de suas funções, dotando-o de atribuições e competências que o torne co-responsável pela direção da escola, sem provocar choque de competências com o diretor [...]. Uma solução que se poderia imaginar para essa questão é a de dotar o conselho de escola de funções diretivas, semelhantes às que tem hoje o diretor. Dessa forma, o responsável último pela escola deixaria de ser o diretor, passando a ser o próprio conselho, em co-responsabilidade com o diretor, que dele também faz parte. A vantagem desse tipo de solução é que o conselho, na condição de entidade coletiva, fica menos vulnerável, podendo tomar medidas mais ousadas, sem que uma pessoa, sozinha corra o risco de ser punida pelos escalões superiores. [...]. Seu poder de barganha e sua capacidade de pressão, para reivindicar benefícios para a escola, seriam, também, superiores ao do diretor isolado (PARO 2001, p. 81-82). Essa experiência de atuação do Conselho Escolar como órgão co-gestor da escola, como auxiliar do diretor na tomada de decisões e implementação de ações, não é comum, como já afirmamos, porém,
acreditamos ser possível construir esse espaço de atuação do Conselho no interior das instituições escolares. A escola, como espaço social da educação de qualidade e inclusão social, é um espaço privilegiado de formação humana. O Conselho Escolar, enquanto órgão participativo da gestão escolar tem de modo particular, o direito e o dever de zelar pela educação de qualidade socialmente referenciada. Para tanto, deve ser entendido como um órgão coletivo de decisões colegiadas, sendo uma instância atenta e preocupada, um espaço de reflexão/estudo e um órgão coletivo investigativo e propositivo, tem como finalidade acompanhar a gestão e o trabalho educativo escolar, buscar alternativas para enfrentar problemas e dificuldades e implantar e implementar inovações. Deve, portanto, tomar decisões em colegiado e apoiar a escola, especialmente seus gestores, agindo com vistas à melhoria do processo educativo escolar. Conforme o estatuto que rege o funcionamento dos conselhos escolares das escolas públicas paranaenses, o Conselho Escolar é um órgão colegiado, representativo da Comunidade Escolar, de natureza deliberativa, consultiva, avaliativa e fiscalizadora, sobre a organização e realização do trabalho pedagógico e administrativo da instituição escolar em conformidade com as políticas e diretrizes educacionais da SEED, observando a Constituição, a LDB, o ECA, o Projeto Político-Pedagógico e o Regimento da Escola/ Colégio, para o cumprimento da função social e específica da escola. A função deliberativa refere-se à tomada de decisões relativas às diretrizes e linhas gerais das ações pedagógicas, administrativas e financeiras quanto ao direcionamento das políticas públicas, desenvolvidas no âmbito escolar. A função consultiva refere-se à emissão de pareceres para dirimir dúvidas e tomar decisões quanto às questões pedagógicas, administrativas e financeiras, no âmbito de sua competência.
A função avaliativa refere-se ao acompanhamento sistemático das ações educativas desenvolvidas pela unidade escolar, objetivando a identificação de problemas e alternativas para melhoria de seu desempenho, garantindo o cumprimento das normas da escola bem como, a qualidade social da instituição escolar. A função fiscalizadora refere-se ao acompanhamento e fiscalização da gestão pedagógica, administrativa e financeira da unidade escolar, garantindo a legitimidade de suas ações. Sendo assim, segundo o documento orientador da Secretaria de Estado da Educação, a efetivação deste mecanismo de ação coletiva propicia a participação dos vários segmentos da comunidade escolar em direção à renovação de escola, na busca da melhoria do ensino e de uma sociedade humana mais democrática. A pesquisa em andamento tem como objetivo analisar como as diretrizes que fundamentam a implantação dos conselhos escolares nas escolas públicas paranaenses se efetivam no chão da escola, bem como contribuir na ampliação desta discussão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: ALMEIDA, J A. M. Os Conselhos Escolares e o Processo de Democratização: História, Avanços e Limites. 2006. 245 p. (Dissertação de Mestrado) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de fortalecimento dos Conselhos Escolares. 2004. CA- DERNOS. CONSTITUIÇAO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Capítulo da Educação. CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DO PARANÁ DE 1989. Capítulo da Educação. HORA, Dinair Leal da. Gestão Democrática na Escola: Artes e ofícios da participação coletiva. Campinas, SP: Papirus, 1994.
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