CAPÍTULO V - CARACTERIZAÇÃO DE RISCO



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Transcrição:

CAPÍTULO V - CARACTERIZAÇÃO DE RISCO V.1. Introdução O processo de caracterização do risco inclui uma análise integrada dos resultados mais importantes da avaliação de risco. A análise integrada reúne as informações das etapas de identificação de perigo, da avaliação da relação dose-resposta e da avaliação de exposição, para fazer estimativas do risco para os cenários de exposição de interesse. Seu objetivo é fornecer um relato dos objetivos, do alcance e nível de detalhamento dos resultados e da abordagem utilizada na avaliação, identificando o(s) cenário(s) de exposição utilizado(s). Estima a distribuição da exposição entre os membros da população exposta tanto quanto os dados permitem e identifica e compara a contribuição de diferentes fontes, vias e modelos de exposição. As estimativas de magnitude, duração e freqüência são incluídas com os resultados de modelos, monitoramentos disponíveis ou outros permitidos pelo método. As forças e limitações (incertezas) dos dados e dos métodos de estimativa são expostas de forma clara (EPA, 1991 e 1996a). Ao final, apresenta um perfil qualitativo e/ou quantitativo do excesso de risco em seres humanos provocados pela exposição as substâncias tóxicas (Quadro V.1). Seus objetivos são (Quadro V.2) (EPA, 1991): integrar e resumir a identificação do perigo, a avaliação da relação dose-resposta e a avaliação de exposição; desenvolver estimativas de riscos para a saúde pública; desenvolver um marco para definir o significado do risco; apresentar as suposições, incertezas e juízos científicos. V.2. Aplicação da Caracterização do Risco A caracterização do risco é uma parte necessária na geração de qualquer relatório sobre risco, uma vez que o relatório é usado de forma preliminar para dar suporte à alocação de recursos para estudos mais avançados ou dar suporte às decisões reguladoras. No primeiro caso, os detalhes e a sofisticação da caracterização são apropriadamente pequenos, enquanto que no último devem ser mais extensos. Mesmo que um documento cubra somente algumas partes da avaliação de risco (por exemplo análise do perigo e da dose-resposta), os seus resultados devem ser caracterizados.

A avaliação de risco é um processo interativo que cresce em profundidade e alcance em diversos estágios que buscam estabelecer prioridades, realizar estimativas preliminares e examinar a situação do modo mais completo possível para dar suporte à tomada de decisões regulamentadoras. Considerações padrões são utilizadas em todos os estágios, apesar de se considerar o fato de que nenhuma base de dados é sempre completa. Uma vez conhecido o espectro de prioridades e de problemas, bem como o alcance e a profundidade das avaliações, nem todas as caracterizações do risco podem ou devem ser iguais. O avaliador de risco precisa decidir cuidadosamente quais questões, em particular, são importantes para serem apresentadas, selecionando aquelas que são dignas de atenção pelo seu impacto nos resultados. Por exemplo, avaliações de efeito à saúde contam tipicamente com dados de animais uma vez que os dados de seres humanos raramente são disponíveis. O objetivo da caracterização do uso de dados de animais não é dar conta das questões genéricas sobre interpretação e uso de dados de animais. Pelo contrário, o objetivo é evidenciar qualquer questão significativa que tenha sido levantada dentro da avaliação que esta sendo caracterizada e informar o leitor sobre o significado das incertezas que afeta as conclusões. V.3. Procedimentos Para Caracterizar os Riscos Os procedimentos básicos para caracterizar os riscos são (OPS/EPA, 1996): apresentar os procedimentos para estimar o risco mediante a combinação do cálculo da dose com os dados sobre dose-resposta; analisar a somatória de riscos; apresentar os descritores de risco; assinalar as incertezas. Para as substâncias não carcinogênicas os procedimentos são (Quadro V.3) (OPS/EPA, 1996): 1. Comparar a exposição atual com a DRf ou IDA (índice de perigo - IP): Exposição Medida (mg/kg-peso/dia) IP = DRf ou IDA (mg/kg-peso/dia) 2. Estimar a margem de exposição (ME): NOAEL (estudo crítico) ME = Exposição Medida

Para substâncias carcinogênicas os procedimentos são (Quadro V.3) (OPS/EPA, 1996): 1. conhecer a unidade de risco e a unidade de dose para a substância; 2. estimar o excesso de risco individual para toda a vida: unidade de dose x exposição atual (dose medida) unidade de risco x concentração atual da substância no ambiente 3. Estimar o risco de cancêr na população: risco individual x população exposta Estes procedimentos são também acompanhados de uma descrição qualitativa do risco. O estimado para a unidade de risco para uma substância carcinogênica presente no ar se define como o risco de contrair cancêr durante todo o período de vida que se apresenta em uma população na qual todos os indivíduos estão continuamente expostos, desde o nascimento até o final de sua vida, à uma concentração da substância de 1 µg/m 3 no ar que respiram (OPS/EPA, 1996). O estimado para a unidade de risco para uma substância carcinogênica presente na água se define como o risco de contrair cancêr durante todo o período de vida que se apresenta em uma população na qual todos os indivíduos estão continuamente expostos, desde o nascimento até o final de sua vida, à uma concentração da substância de 1 µg/m 3 na água que bebem (OPS/EPA, 1996). Os estimados nas unidades de riscos se utilizam com dois objetivos: comparar várias substâncias entre si, em termos de potência carcinogênica; dar uma indicação geral dos riscos para a saúde humana que poderiam estar associados com a exposição à estas substâncias, caso se conheçam as exposições reais. O cálculo do risco individual de cancêr é realizado do seguinte modo (Quadro V.4) (OPS/EPA, 1996): potência da substância segundo unidade de dose (FPC) x dose medida; potência da substância segundo unidade de risco (UR) x concentração da substância em um meio específico. O cálculo do risco populacional de cancêr é realizado do seguinte modo(quadro V.4) (OPS/EPA, 1996): incidência de cancêr = risco individual x população exposta.

Para melhor explicitar estes cálculos será utilizado o exemplo hipotético do berílio, um carcinogênico pulmonar. Seus dados são os seguintes (OPA/EPA, 1996): seria: FPC = 8,4 por mg/kg/dia; UR = 2,4 x 10-3 por µg/m 3 exposição por via respiratória concentração de Be determinada no ar = 0,4 µg/m 3 taxa média de ventilação pulmonar de um adulto = 20m 3 /dia peso médio de um adulto = 70 kg população total = 1 milhão de pessoas De acordo com estes dados, o cálculo do risco individual ficaria do seguinte modo: 0,0004 mg/m 3 x 20 m 3 segundo o FPC = 8,4 x 70 kg = 8,4 x 0,000114 = 0,00096 ou 9,6 x 10-4 segundo a UR = 2,4 x 10-3 x 0,4 = 9,6 x 10-4 Para o risco populacional o cálculo da incidência de casos de cancêr pulmonar incidência de casos de câncer pulmonar = 9,6 x 10-4 x 1.000.000 = 960 casos A partir destes cálculos é realizado o somatório de riscos das diferentes substâncias, sendo que (Quadro V.5) (OPA/EPA, 1996): para substâncias carcinogênicas, supõe-se que os riscos são aditivos no mesmo órgão; para substâncias não carcinogênicas, somam-se os índices de perigo (IP) para cada tipo de manifestação toxicológica, como por exemplo: IP = Dose A + Dose B =... DRf a DRf b É também realizado o somatório das diferentes rotas e vias de exposições devendo-se (Quadro V.6) (OPA/EPA, 1996): verificar a suposição de que o indivíduo está exposto através de múltiplas rotas; corrigir de acordo as diferentes taxas de absorção quando as rotas que levam a ingestão compreendem vários transmissores; somar somente as rotas que afetam o mesmo órgão para os riscos não carcinogênicos;

utilizar, de modo ideal, modelos farmacocinéticos. Toda esta série de procedimentos permitem, por exemplo, caracterizar os riscos nos seguintes modos extremos (Quadro V.7) (OPA/EPA, 1996): A substância A é provavelmente carcinogênica para seres humanos, possuindo um risco unitário de câncer de 5 x 10-3. Os seres humanos expostos à esta substância apresentam um excesso de risco de cancêr de 1 x 10-5 ou de 1 em 100.000. A substância A foi identificada como causando cancêr em animais de laboratório, de modo que é prudente limitar a exposição de seres humanos, ainda que não tenhamos provas de carcinogenicidade em seres humanos. Os descritores de risco individual baseiam-se nos cálculos de tendência central de média, mediana e/ou ambos (Quadro V.8). Os cálculos de extremo superior devem (Quadro V.9) (OPA/EPA, 1996): descrever a exposição, a dose e o risco para os indivíduos a nível de ou acima do percentual de 90% na distribuição populacional; não serem maiores que o indivíduo com a exposição, dose ou risco mais alto. Já o risco populacional é uma projeção probabilística da incidência do efeito em uma população exposta por toda a vida (70 anos), a qual divide-se por 70 para obter-se o risco anual, sendo (Quadro V.10) (OPA/EPA, 1996): risco populacional = Σ de riscos individuais = tamanho da população x média do risco individual. Os descritores de riscos populacionais tem por objetivo (Quadro V.11) (OPA/EPA, 1996): estimar o número de indivíduos afetados em uma população em um dado período de tempo específico; estimar o percentual da população ou o número de pessoas que estejam acima de um nível específico de risco, de DRf, de CRf ou de um nível de interesse especial. É extremamente importante observar que todo o processo de avaliação de riscos, da identificação do perigo à avaliação da exposição é marcado por diversas incertezas que surgem. Estas incertezas também devem ser avaliadas e apresentadas na caracterização do risco, tendo por objetivo (QuadroV.12) (OPA/EPA, 1996): localizar os resultados em um contexto; agregar integridade à análise;

orientar novas coletas futuras de dados. As incertezas, que representam a falta de conhecimento acerca de o quanto corretas são as medições ou os cálculos, diferem da variabilidade, que consiste na diferença nos níveis de exposição entre os indivíduos (Quadro V.13) (OPA/EPA, 1996). Os modos de expressar a variabilidade são (Quadro V.14) (OPA/EPA, 1996): calcular as medidas de tendência central e de dispersão da exposição; calcular a exposição no extremo superior; calcular a exposição em um limite superior teórico. V.4. Apresentação da Caracterização de Risco A caracterização de risco costuma ser seguida por um Sumário da Caracterização do Risco. Este sumário é apresentado de um modo que minimiza o uso de termos técnicos de modo a tornar os resultados inteligíveis para o leitor não especialista. É uma apreciação científica que dá suporte ao gerenciador de risco para tomar decisões na área de saúde pública, assim como em outras áreas como econômica, social ou tecnológica. Ele também serve às necessidades de outros leitores interessados. O sumário é uma fonte de informações para o preparo da comunicação do risco. Porém, por suas características, não constitui-se por si só em um veículo usual para a comunicação do risco para o público em geral. Os resultados apresentados na caracterização de riscos podem ocupar-se de diferentes cenários, enquanto que outros podem examinar, por exemplo, somente os riscos associados à água de beber. Podem também conter as análises quantitativas das incertezas. Os valores definidos pela caracterização de risco através do processo de avaliação devem ser transparentes o bastante para a tomada de decisão, claros o suficiente para uma efetiva comunicação e consistentes no núcleo das considerações das políticas científicas caso a caso. Uma vez que a análise integrada é apropriada para a proteção da saúde e do ambiente, o senso comum e a aplicação racional das considerações são essenciais para obter estimativas de risco, tendo em vista as incertezas. Tanto as análises integradas quanto o Sumário da Caracterização de Risco devem apresentar um quadro equilibrado e integrado da avaliação do perigo, da avaliação da relação dose-resposta e da avaliação da exposição. O analista de risco deve fornecer o resumo das evidências e dos resultados, e descrever a qualidade dos dados disponíveis e o grau de confiança a ser utilizado na estimativa do risco. Informações sobre os dados

disponíveis, o nível de conhecimento das questões científicas significativas e acerca das escolhas cientificas devem ser incluídas. As escolhas realizadas sobre o uso de considerações ou dados padrões no processo de avaliação de riscos são discutidas detalhadamente e se a escolha é uma questão importante, ela tem que ser evidenciada no sumário V.5. Revisão da Caracterização do Risco Todo o processo de avaliação de riscos obviamente é mais extenso do que aquilo que é apresentado no Sumário da Caracterização do Risco. Esta avaliação pode ser revisada por pares científicos ou ser submetida ao comentário público, de modo que a preparação de uma decisão por uma agência pública de saúde e/ou meio ambiente possa ser mais ampla e abrangente no escopo e no impacto desejado. A revisão, tanto pela equipe que preparou a avaliação de riscos, como por pares científicos ou por membros representantes do público leigo é importante para que se evite que alguns fatores contribuam para subestimar os riscos, tais como (Quadro V.15) (OPA/EPA, 1996): análise demasiadamente limitada da rota ou da exposição; não avaliação de todos os contaminantes presentes em uma mistura; comparar as concentrações da exposição com níveis basais inapropriados; limites de detecção não sensíveis; desconhecimento de outras possíveis rotas de exposição. Também devem ser evitados os fatores que contribuem para sobrestimar os riscos, tais como (Quadro V.16) (OPA/EPA, 1996): parâmetros de exposição demasiadamente conservadores; apresentação das exposições possíveis como se fossem exposições reais; utilização da forma linear da equação de riscos para os riscos mais altos. Além da subestimação e sobrestimação dos riscos, existem uma série de fatores que podem contribuir para uma representação errônea dos riscos, tais como (Quadro V.17 e V.28) (OPA/EPA, 1996): quantidade inadequada de cifras significativas; erros de computador; uso inadequado de fatores de exposição; descrição insuficiente de incertezas; fatores de absorção inapropriados;

definições inadequadas de riscos em que: não se apresentam as estimativas do excesso de risco para toda a vida; predição de óbitos por cancêr; não apresentação do peso das evidências. V.6. Apresentação do Sumário da Caracterização do Risco A apresentação é uma discussão não técnica das conclusões importantes, questões e incertezas e análises integradas do perigo, dose-resposta e exposição para fornecer o suporte técnico. O suporte técnico primário dentro da avaliação de risco consiste na caracterização do perigo, da dose-resposta e da exposição. A caracterização do risco é derivada destas. Geralmente, a caracterização do risco inclui os itens importantes contidos na caracterização do perigo, dose-resposta e exposição: conclusões primárias sobre perigo, dose-resposta e exposição, incluindo alternativas igualmente plausíveis, natureza das informações chave de suporte e de métodos analíticos, estimativa de risco e as incertezas associadas, incluindo o uso de considerações padrões quando existir perda de dados, relatório do grau de extrapolação do risco estimado de dados observados para os níveis de interesse (ou seja, margem de exposição) e suas implicações de certezas e incertezas na quantificação do risco, peso significativo e limitações dos dados e análises, incluindo quaisquer questões importantes, comparação apropriada com a análise de risco da EPA ou não, com a qual as pessoas possam se familiarizar, e comparação com a avaliação do mesmo problema por outra organização. V.7. Resumo: Caracterização de Risco O processo de caracterização do risco inclui uma análise integrada dos resultados mais importantes da avaliação de risco. A análise integrada reúne as informações das três etapas do processo para fazer estimativas do risco para os cenários de exposição de interesse. Seu objetivo é fornecer um relato dos objetivos, do alcance e nível de detalhamento dos resultados e da abordagem utilizada na avaliação, identificando o(s) cenário(s) de exposição utilizado(s). Estima a distribuição da exposição

entre os membros da população exposta tanto quanto os dados permitem e identifica e compara a contribuição de diferentes fontes, vias e modelos de exposição. As estimativas de magnitude, duração e freqüência são incluídas com os resultados de modelos, monitoramentos disponíveis ou outros permitidos pelo método. As forças e limitações (incertezas) dos dados e dos métodos de estimativa são expostas de forma clara (EPA, 1991 e 1996a). Ao final, apresenta um perfil qualitativo e/ou quantitativo do excesso de risco em seres humanos provocados pela exposição as substâncias tóxicas.