RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO AZEVEDO (RELATOR CONVOCADO): Apelação interposta por Luiz Gonzaga Guedes, em face da sentença de fls. 136/139 que, rejeitando a preliminar de coisa julgada, julgou improcedente o pedido de incorporação do adicional de insalubridade aos proventos do demandante. Para tanto, entendeu o ilustre magistrado a quo que, a teor do exposto pelo próprio autor, aduzindo a não percepção do referido adicional por parte do empregador, não tendo, assim, como compelir o Instituto Nacional da Seguridade Social a considerá-lo para o cálculo do benefício, a Assessoria Contábil, analisando o cálculo concessório da aposentadoria, observou que restaram obedecidos os ditames da Lei nº 8.213/91 no recálculo da Renda Mensal Inicial, correspondente ao valor máximo do salário-de-contribuição da época. Honorários fixados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa. Na Apelação (fls. 194/201), aduziu o Autor, em síntese: como trabalhador portuário, teria direito à aplicação do adicional de insalubridade sobre os seus proventos; a ausência da fiscalização do Ministério do Trabalho e do INSS, órgãos gestores para as devidas contribuições previdenciárias, sobre as atividades portuárias Contra-razões às fls. 147/149. É o relatório. Dispensada a revisão.
VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO AZEVEDO (RELATOR CONVOCADO): A pretensão deduzida na exordial versa sobre a implementação do adicional de 40% (quarenta por cento) de insalubridade sobre o benefício mensal, devido ao exercício laborativo prestado sob condições especiais. Em princípio, não há dúvida quanto ao preenchimento dos requisitos para classificar a atividade do Autor portuário - como insalubre, com a exposição a agentes agressivos biológicos e químicos, visto que a própria Autarquia Federal a reconheceu, conforme o documento acostado aos autos de fl. 13. Não obstante, procedeu a Autarquia Previdenciária com a concessão da aposentadoria por tempo de serviço, e não especial, como se pode perceber à fl. 12 do processado. Feitas estas observações, destaco que, como bem anotou o INSS, o cálculo do salário-de-benefício do autor foi realizado tomando por base a relação dos salários-de-contribuição fornecidos pela Empresa onde o segurado exercia suas atividades (fls. 85/87), constando em algumas rubricas o registro de adicional, mas não tendo como se inferir tratar-se de adicional de insalubridade. Neste sentido, também se manifestou a Assessoria Contábil do juízo à fl. 93. De outra banda, também verificou a Assessoria que, para a concessão da aposentadoria, foi observada a média dos últimos 36 (trinta e seis) meses de saláriode-contribuição, obedecendo aos ditames legais para a fixação da Renda Mensal Inicial do autor, inclusive procedendo-se às revisões da aposentadoria para adequálas às disposições da Lei nº 8.213/91. Anoto, ainda, que a renda mensal, por sua vez, equivale a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício (fls. 93 e 96), valor máximo do salário-decontribuição de acordo com o que dispunha a legislação vigente à época. Ao juiz é lícito, com base no princípio de seu livre convencimento, assegurado no art. 131, do CPC, decidir a lide fundamentando-se nos cálculos realizados pela Assessoria do Juízo, os quais gozam de presunção de veracidade, por ser órgão eqüidistante às partes e sem qualquer interesse no feito, detentor de fé pública. Deste modo, é incabível uma aplicação de adicional de insalubridade de 40% (quarenta por cento) sobre os proventos do Autor, em face de o benefício,
como bem dispôs o magistrado sentenciante (fl. 138), já ter sido fixado no teto máximo permitido, permanecendo inalterado o valor da RMI acaso o suplicante percebesse em atividade o adicional de insalubridade. De todo o modo, acrescenta-se aos argumentos acima delineados, o fato de que o próprio Autor destacar não ter percebido o adicional de insalubridade enquanto exercida a atividade insalubre, fato este que torna inviável a retificação da RMI do seu benefício de forma a considerá-lo como parte integrante do salário-decontribuição utilizado no cálculo originário, como se pode inferir do precedente a seguir colacionado, veja-se: PREVIDENCIÁRIO E PROC. CIVIL. RETIFICAÇÃO DE RMI. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. DECRETO Nº 89.312/84. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE CONSIDERADO PARTE INTEGRANTE DO SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. ÔNUS DA PROVA. ART. 333, I, DO CPC. - De acordo com o art. 135, I, do Decreto nº 89.312/84, em vigor à data da concessão da aposentadoria por invalidez, considerava-se o salário-decontribuição a remuneração efetivamente recebida, a qualquer título, até o limite de 20 salários mínimos de forma que o adicional de insalubridade a que faria jus o segurado viria a integrá-lo. - A parte autora não logrou comprovar, a teor do art. 333, I, do CPC, a efetiva percepção do adicional de insalubridade e, não sendo esta a esfera competente para consegui-lo, não se torna possível reconhecer o direito à retificação da RMI de seu benefício de forma a considerar o referido adicional como parte integrante do salário-decontribuição utilizado no cálculo originário. - Ônus da sucumbência não invertido em face da condição de beneficiária da justiça gratuita da parte vencida. - Apelação e remessa obrigatória providas. (TRIBUNAL - QUINTA REGIAO, AC - 200183000180869 /PE, Primeira Turma, Decisão: 14/09/2006, DJ - Data::27/10/2006 - Página::1130 - Nº::207, Desembargador Federal Jose Maria Lucena )-destaquei Destarte, o pagamento do adicional de insalubridade é devido enquanto exercida atividade em caráter especial, como a submetida a agentes agressivos, como físicos, biológicos ou químicos, dentre outros. Não tendo o segurado percebido tal adicional quando em atividade, indevida qualquer repercussão ou mesmo incorporação no cálculo do valor da aposentadoria, tendo em vista, como consectário lógico, não mais subsistir a insalubridade. A esse respeito, confiram-se julgados do egrégio Superior Tribunal de Justiça e deste Tribunal em situações semelhantes:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR INATIVO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. COMPOSIÇÃO DOS PROVENTOS DE APOSENTADORIA. DIREITO ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O adicional de insalubridade possui pressuposto vinculado ao tipo de função e seu exercício, constituindo vantagem de caráter transitório, que cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram causa à sua concessão. E por ser vantagem pecuniária de caráter transitório, não deve integrar os proventos de aposentadoria. 2. Recurso especial conhecido e improvido. (STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, RESP - 200001349520 /RS, QUINTA TURMA, Decisão: 06/06/2006, DJ DATA:26/06/2006 PÁGINA:182, Relator ARNALDO ESTEVES LIMA )-destaquei PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. INCORPORAÇÃO DE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. IMPOSSIBILIDADE. - Não tendo o segurado percebido o adicional de insalubridade quando na ativa, esta vantagem não integrará o salário-decontribuição, inviabilizando a sua repercussão no cálculo do valor da aposentadoria. - Inexiste previsão legal para incorporação do adicional de insalubridade ao valor da aposentadoria. Apelação improvida. (TRIBUNAL - QUINTA REGIAO, AC - 200005000582283 /PB, Primeira Turma, Decisão: 06/04/2006, DJ - Data::05/05/2006 - Página::1165 - Nº::85, Desembargador Federal Cesar Carvalho (Convocado) )-destaquei Com essas considerações, nego provimento à Apelação. É como voto.
APTE ADV/PROC APDO ADV/PROC RELATOR : LUIZ GONZAGA GUEDES : JULIANNA ERIKA PESSOA DE ARAUJO E OUTRO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL : MARIA DE FATIMA DE SA FONTES E OUTROS : DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO AZEVEDO (CONVOCADO) EMENTA PREVIDENCIÁRIO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. NÃO PERCEPÇÃO QUANDO DA ATIVIDADE. REPERCUSSÃO SOBRE OS PROVENTOS DE APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Pretensão autoral objetivando a implementação do adicional de 40% (quarenta por cento) de insalubridade, com repercussão sobre os proventos de aposentadoria, devido ao exercício laborativo prestado sob condições especiais, não percebido quando em atividade. 2. Constatação pela Assessoria Contábil do Foro de que o cálculo concessório da aposentadoria do Autor fora efetuado corretamente, equivalendo a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, valor máximo do salário-de-contribuição de acordo com o que dispunha a legislação vigente à época. 3. O pagamento do adicional de insalubridade é devido enquanto exercida atividade em caráter especial, como a submetida a agentes agressivos, como físicos, biológicos ou químicos, dentre outros. Não tendo o segurado percebido tal adicional quando em atividade, indevida qualquer repercussão ou mesmo incorporação no cálculo do valor da aposentadoria, tendo em vista, como consectário lógico, não mais subsistir a insalubridade. 4. Caso em que seria incabível a aplicação de adicional de insalubridade de 40% (quarenta por cento) sobre os proventos do Autor, em face de o benefício ter sido fixado no teto máximo permitido. Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 06 de setembro de 2007. (data do julgamento). Desembargador Federal Frederico Azevedo Relator (Convocado)