Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO AZEVEDO (RELATOR CONVOCADO): Apelação interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS, em face de sentença que julgou procedente a exceção de pré-executividade oposta, para extinguir os créditos exeqüendos em virtude da prescrição. Alegou o Recorrente que, no caso concreto, o prazo prescricional é de 30 (trinta) anos, uma vez que dentre as contribuições previdenciárias em cobrança, há competências compreendidas entre 04/1977 a 12/1980, as quais, por força da EC 08/77, não detinham natureza tributária, conforme disciplina o art. 144, da Lei n.º 3.807/60. Contra-razões às fls. 80/82. Dispensado o duplo grau de jurisdição obrigatório, nos termos do art. 475, 2º, do Código de Processo Civil. É o relatório. Dispensada a revisão.

2 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO AZEVEDO (RELATOR CONVOCADO): Penso que a v. sentença não carece de retoques. Justifico. A Execução Fiscal em pauta tem por objeto contribuições previdenciárias relativas às competências de 03/71 a 12/80. Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o prazo prescricional para a cobrança das referidas contribuições se define em função da data do fato gerador, à luz do principio tempus regit actum, verbis : PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. PRESCRIÇÃO. OSCILAÇÕES AO LONGO DO TEMPO. NATUREZA TRIBUTÁRIA. CONSTITUIÇÃO DE O prazo prescricional das contribuições previdenciárias foi modificado pela EC n.º 8/77, Lei 6.830/80, CF/88 e Lei 8.212/91, à medida em que as mesmas adquiriam ou perdiam sua natureza de tributo. Por isso que firmou-se a jurisprudência à luz do Princípio tempus regit actum, no sentido de que: "O prazo prescricional das contribuições previdenciárias sofreram oscilações ao longo do tempo: a) até a EC 08/77 - prazo qüinqüenal (CTN); b) após a EC 08/77 - prazo de trinta anos (Lei 3.807/60); c) após o advento da Constituição de 1988, tornando indiscutível a natureza tributária das referidas contribuições, o prazo prescricional retornou às regras do CTN (5 anos). d) após a Lei 8.212/91, prazo de dez anos." 2. In casu, a empresa autora ajuizou a ação em , pretendendo o ressarcimento de valores indevidamente recolhidos a título de contribuição previdenciária, incidente sobre a folha de pagamento de salários de seus empregados no mês de setembro de 1989, o que revela inequívoca a ocorrência da prescrição, porquanto opera-se em 5 (cinco) anos após o advento da Constituição Federal de 1988, de acordo as oscilações de prazo supracitadas, sendo posteriormente modificado pela Lei n.º 8.212/ Agravo Regimental desprovido. (STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, AGRESP /PE, PRIMEIRA TURMA, Decisão: 06/12/2005, DJ DATA:06/03/2006 PÁGINA:196, Relator LUIZ FUX ). - destaquei

3 Com o advento da EC 8/77, as contribuições previdenciárias perderam a natureza tributária; todavia, levando-se em conta o princípio da continuidade das normas jurídicas, somente após a Lei 6.830/80, passou-se a considerar trintenário o prazo prescricional para a cobrança de contribuições previdenciárias, na forma do art. 144 da LOPS, verbis : " 9º - O prazo para a cobrança das contribuições previdenciárias continua a ser o estabelecido no artigo 144 da Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960." Nesse sentido, colaciono os seguintes precedentes deste Tribunal e do Superior Tribunal de Justiça, os quais corroboram o referido entendimento, verbis : PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CONTRIBUIÇÃO PARA FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. DECRETAÇÃO DE OFÍCIO APÓS O ADVENTO DA LEI Nº /04. POSSIBILIDADE DESDE QUE TRANSCORRIDO O LAPSO PRESCRICIONAL E OUVIDO PREVIAMENTE O INSS. APELAÇÃO PROVIDA. SENTENÇA ANULADA. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM PARA QUE SE PROCEDA AO ARQUIVAMENTO DO FEITO SEM BAIXA NA DISTRIBUIÇÃO. 1 - Antes do advento da Lei nº /04, que introduziu o parágrafo 4o, no art. 40, da Lei nº 6.830/80, era vedado ao juiz, em se tratando de direitos patrimoniais, decretar de ofício a prescrição na execução fiscal, ou seja, sem argüição da parte a quem aproveita; 2 - No entanto, após a edição da Lei nº /04, esgotado o prazo de suspensão; transcorrido, após o arquivamento provisório, previsto no parágrafo 2o, do art. 40, da Lei nº 6.830/80, por inércia do exeqüente, o prazo prescricional; e ouvido em seguida o INSS, o juízo a quo poderá reconhecer de ofício a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato, conforme o disposto no parágrafo 4o, recémintroduzido, extinguindo-se, assim, a execução fiscal; 3 - O art. 6o, da Lei nº /04, introduziu no art. 40, da Lei nº 6.830/80, norma de natureza processual, tendo assim aplicação imediata, a alcançar, inclusive, os processos em curso; 4 - No tocante ao prazo prescricional para a cobrança das contribuições previdenciárias, o STJ já consolidou o entendimento de que: a) é qüinqüenal o prazo em relação aos fatos geradores ocorridos até a edição da EC nº 8/77; b) continua sendo qüinqüenal em relação aos fatos geradores ocorridos entre a EC nº 8/77 e a Lei nº 6.830/80; c) passou a ser trintenário em relação aos fatos geradores ocorridos após a Lei nº 6.830/80, que restabeleceu o art. 144 da Lei nº 3.807/60; e d)

4 tornou-se decenal em relação aos fatos geradores ocorridos após a Lei nº 8.212/91; 5 - In casu, ao se observar a CDA, verifica-se que o período da dívida compreende maio/1993 a maio/1994, quando as contribuições para financiamento da seguridade social sujeitavamse à prescrição decenal; 6 - Assim, sem o transcurso do lapso prescricional aplicável à espécie, não é lícito ao juiz reconhecer, de ofício, a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato, razão pela qual a sentença deve ser anulada; 7 - Precedentes do STJ e do TRF da 1a Região; 8 - Apelação provida para anular a sentença e determinar o retorno dos autos à origem para que se proceda ao arquivamento do feito sem baixa na distribuição. (TRIBUNAL - QUINTA REGIAO, AC /PB, Terceira Turma, Decisão: 11/01/2007, DJ - Data::13/03/ Página::534 - Nº::49, Desembargador Federal Paulo Gadelha ). - destaquei "PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DO DEVEDOR. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO. PRECEDENTES. 1. Editada a EC nº 8/77 e advindo a Lei 6.830/80, que restabeleceu o art. 144 da Lei 3.807/60, o prazo prescricional para cobrança das contribuições previdenciárias é trintenário, permanecendo qüinqüenal o lapso de decadência. 2. Para as contribuições cujos fatos geradores ocorreram no interregno das vigências desses diplomas, a prescrição manteve-se jungida ao prazo de 5 anos pelo princípio da continuidade das normas jurídicas, pois só através da Lei 6.830/80 foi restaurado o lapso maior. 3. Não há, assim, como negar-se a decadência dos créditos previdenciários anteriores a junho/ Recurso especial conhecido, mas improvido". (REsp /SP, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, DJ de 13/03/2000) destaquei PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. NATUREZA. DECADÊNCIA. EC Nº 8/ Tratando-se de prescrição para a cobrança de contribuições previdenciárias tem-se que: a) é qüinqüenal o prazo com relação aos fatos geradores ocorridos até a edição da EC nº 8/77; b) entre a EC 8/77 e a Lei 6.830/80 manteve-se qüinqüenal; c) advindo a Lei 6.830/80, que restabeleceu o art. 144 da Lei 3.807/60, o prazo prescricional passou a ser trintenário; d) após a Lei 8.212/91, decenal.

5 2. Como visto, a aferição do lapso prescricional sofreu alterações em virtude das diversas alterações legislativas, porém, o decadencial permaneceu qüinqüenal. 3. Embargos de declaração acolhidos, sem efeitos modificativos. (STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, EDRESP /SP, PRIMEIRA TURMA, Decisão: 28/06/2005, DJ DATA:15/08/2005 PÁGINA:213, Relator JOSÉ DELGADO ). destaquei Como a Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, foi publicada em , com previsão de vigência após 90 dias da data de sua publicação, apenas a partir de é que pode ser considerado o prazo de 30 (trinta) anos de prescrição. Diante disso, e atento ao fato de as contribuições em tela tiveram fato geradores ocorridos até 12/80, tenho que a prescrição declarada pelomm. Juiz se reputa irretocável. Ressalte-se, ainda, que as contribuições previdenciárias readquiriram a natureza de tributo, a partir da vigência da Constituição Federal de 1988, tornando a ser qüinqüenal o prazo de prescricional, conforme preconizado em seus arts. 146, III, b, e 149. Sob o influxo de tais considerações, nego provimento à Apelação. É como voto.

6 APTE : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APDO : RETIFICA IRMÃOS CAMELO LTDA E OUTRO ADV/PROC : SEVERINO DA COSTA GOMES NETO RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL FREDERICO AZEVEDO (CONVOCADO): EMENTA CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. PRESCRIÇÃO TRINTENÁRIA. OCORRÊNCIA APENAS A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 6.830/80 ATÉ A CF/ A Execução Fiscal em pauta tem por objeto contribuições previdenciárias relativas às competências de 03/71 a 12/ Com o advento da EC 8/77, as contribuições previdenciárias perderam a natureza tributária; todavia, levando-se em conta o princípio da continuidade das normas jurídicas, somente após a Lei 6.830/80, passou-se a considerar trintenário o prazo prescricional para a cobrança de contribuições previdenciárias, na forma do art. 144 da LOPS. Precedentes. 3. Como a Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, foi publicada em , com previsão de vigência após 90 dias da data de sua publicação, apenas a partir de é que pode ser considerado o prazo de 30 (trinta) anos de prescrição. 4. As contribuições previdenciárias readquiriram a natureza de tributo, a partir da vigência da Constituição Federal de 1988, tornando a ser qüinqüenal o prazo de prescricional, conforme preconizado em seus arts. 146, III, b, e 149. Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 13 de setembro de 2007 (data do julgamento). Desembargador Federal Frederico Azevedo (Relator Convocado).