ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSVALDO CAPRARO (Presidente sem voto), BEATRIZ BRAGA E MOURÃO NETO.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Bauru, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU, é apelado JOSE APARECIDO BORGES. ACORDAM, em 18ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSVALDO CAPRARO (Presidente sem voto), BEATRIZ BRAGA E MOURÃO NETO. São Paulo, 13 de dezembro de Roberto Martins de Souza RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação sem Revisão n Apelante : Prefeitura Municipal de Bauru Apelado : José Aparecido Borges Comarca : Bauru 1.ª Vara da Fazenda Pública Proc /09 Voto nº APELAÇÃO - Execução fiscal IPTU - Exercícios de 2003 e Sentença que extinguiu o processo reconhecendo a prescrição Exercício de Ajuizamento da ação ocorrido tardiamente - Exercício de Inteligência do artigo 174, caput e parágrafo único, inciso I, do CTN, com redação dada pela LC 118/05 Execução distribuída eletronicamente em dezembro de Entrega dos autos do processo em Cartório somente em novembro de 2011 Ocorrência da prescrição - Impossibilidade de retroação do marco prescricional em decorrência da inércia da Municipalidade - Sentença mantida - Recurso desprovido. Trata-se de apelação interposta pela Prefeitura Municipal de Bauru contra a r. sentença de fls.05/05 verso, que julgou extinta a execução fiscal ajuizada pela apelante contra José Aparecido Borges, em razão de créditos oriundo de IPTU dos exercícios de 2003 e 2005, no valor de R$637,73, sob fundamento de que foram atingidos pela prescrição, nos termos do artigo 269, IV do CPC. A apelante, nas razões recursais (fls.08/18), alega, em síntese, que a ação foi proposta em 18 de dezembro de 2009, portanto, os exercícios fiscais foram ajuizados dentro do prazo legal. Sustenta que a interrupção da prescrição deve ser contada da data da propositura da ação, e não do despacho ordinatório da citação. Afirma que a autuação dos processos judiciais é de responsabilidade do Poder Judiciário, consoante disposto no artigo 166 do CPC. Ademais, imperativa a aplicação da Súmula 106 do STJ. Pede o prosseguimento da execução fiscal. Recurso recebido (fl.26), sem apresentação das contrarrazões. É o relatório. O apelo não merece guarida, uma vez que a prescrição restou Apelação nº

3 perfeitamente caracterizada. PODER JUDICIÁRIO Trata-se de execução fiscal proposta pelo Município de Bauru, em razão de créditos tributários relativos ao IPTU do exercício de 2003, com vencimento em 17/02/2003, e do exercício de 2005, com vencimento em 15/02/2005 (conforme CDA de fl.03). À fl.05, consta certidão lavrada pela serventia, informando que a ação foi distribuída eletronicamente em 18/12/2009 e os autos do processo foram entregues em Cartório pela exequente, somente em 03/11/2011, materializados pelo uso de recursos externos Prov. 11/ CGJ. (fl.05). O despacho que ordenou a citação foi proferido em 22/03/2012 Com relação ao exercício de 2003, considerando que a partir do primeiro dia útil seguinte ao vencimento da parcela (17/02/2003) o devedor estaria em mora e, sendo a ação ajuizada em 18/12/2009, conclui-se que a Municipalidade não agiu dentro do prazo prescricional a que alude o artigo 174, caput, do CTN que reza: A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. Nos termos do artigo 142 do Código Tributário Nacional, o crédito tributário se constitui pelo lançamento, aperfeiçoando-se com a notificação, enquanto a inscrição da dívida é apenas a prática de ato administrativo unilateral que nada tem a ver com o termo a quo do prazo decadencial ou prescricional. Cabe ainda frisar que, de acordo com entendimento majoritário dos demais integrantes desta C. Câmara, ressalvada posição deste relator, efetuado o lançamento do crédito tributário no dia 1º de janeiro de cada ano, neste caso concreto no exercício de 2003, com a distribuição da execução fiscal em 18/12/2009, já configuraria a prescrição, ou seja, quando da distribuição da execução a prescrição já havia fulminado o direito de ação. Apelação nº

4 Esse entendimento se baseia em que, se tratando de IPTU, cujo lançamento é efetivado de ofício e no dia 1º de janeiro de cada ano, a notificação do lançamento é concretizada com o recebimento do carnê pelo correio, geralmente no início de cada exercício, nos termos do enunciado da Súmula 397 do C. STJ que reza: O contribuinte de IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço. Nessa esteira a jurisprudência do C. STJ: o termo inicial do prazo prescricional, em se tratando de IPTU, tributo sujeito a lançamento direto com vencimento previsto em lei, ocorre em primeiro de janeiro de cada ano (REsp /MS, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 14/10/2008, DJe 07/11/2008). Portanto, considerando que a constituição definitiva do crédito tributário é aperfeiçoada com a notificação para o pagamento feita em janeiro de 2003, é de ser reconhecida a ocorrência da prescrição mesmo antes do ajuizamento da execução fiscal, pois a ação foi distribuída em 18/12/2009 (Súmula 409 STJ). Logo, a prescrição referida no artigo 174 do Código Tributário Nacional está comprovada ante o tardio manejo da execução, em evidente desídia da exequente. Com efeito, dispõe a Súmula 409 do STJ: Em execução fiscal, a prescrição ocorrida antes da propositura da ação pode ser decretada de ofício (art. 219, 5º, do CPC). Todavia, com relação ao tributo vencido em 15/02/2005, entre o vencimento e o despacho ordinatório da citação, exarado em 22/03/2012, que consiste em marco interruptivo da prescrição, nos termos do artigo 174, parágrafo único, I, do Código Tributário Nacional, com redação da LC nº 118/05, vigente à Apelação nº

5 época da distribuição da execução fiscal, transcorreu lapso temporal de mais de cinco anos, que corresponde ao prazo prescricional (artigo 174, caput, do Código Tributário Nacional). Verifica-se que a ação foi distribuída eletronicamente em 18/12/2009, portanto, após a alteração da redação do art. 174 do CTN, de sorte que o despacho que ordena a citação interrompe o prazo prescricional. No entanto, não obstante a execução fiscal ter sido interposta dentro do quinquênio legal, somente em relação ao exercício de 2005, consta da certidão de fl.05 que a Municipalidade entregou os autos para as providências somente em 03/11/2011 e o despacho que ordenou a citação foi proferido em 22/03/2012, portanto, além do prazo prescricional de cinco anos. Em razão disso, não há como deixar de reconhecer a ocorrência da prescrição, pois ficou evidente a desídia da Municipalidade em relação à execução, que foi responsável pelo integral escoamento do prazo. Ademais, o juiz pode reconhecer e declarar de ofício a prescrição, nos termos do art. 219, 5º do CPC, com a redação conferida pela Lei nº /06, sendo que neste caso concreto a sentença foi prolatada na vigência da lei nova. Aliás, o advento da citada Lei nº /06, modificou entendimento anterior da jurisprudência do C. STJ invocado pela recorrente, que ficou superado em face da nova redação do 5º do art. 219 do CPC, que deve prevalecer sobre o anterior, relativamente ao 4º do art. 40 da LEF. A questão foi muito bem decidida em lúcido v. acórdão daquele sodalício, no sentido de reconhecer a prescrição de ofício, nas execuções fiscais, com sentença proferida após a entrada em vigor da Lei /2006, aplicando-se o 5º do art. 219 do CPC, sem a necessidade da oitiva da Fazenda Pública, conforme o REsp nº /RS (1ª Turma, Relator Ministro José Delgado, v.u., DJ de , valendo transcrever a ementa: (...) PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO Apelação nº

6 ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. FEITO PARALISADO HÁ MAIS DE 5 ANOS. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. DECRETAÇÃO DE OFÍCIO. ART. 219, 5º, DO CPC (REDAÇÃO DA LEI Nº /2006). DIREITO SUPERVENIENTE E INTERTEMPORAL.(...) 4. Correlatamente, o art. 40, 4º, da Lei nº 6.830/80 foi alterado pela Lei nº /04, passando a vigorar desta forma: Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. 5. Porém, com o advento da Lei nº , de 16/02/06, com vigência a partir de 17/05/06, o art. 219, 5º, do CPC, alterando, de modo incisivo e substancial, os comandos normativos supra, passou a viger com a seguinte redação: O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição. 6. Id est, para ser decretada a prescrição de ofício pelo juiz, basta que se verifique a sua ocorrência, não mais importando se refere-se a direitos patrimoniais ou não, e desprezando-se a oitiva da Fazenda Pública. Concedeuse ao magistrado, portanto, a possibilidade de, ao se deparar com o decurso do lapso temporal prescricional, declarar, ipso fato, a inexigibilidade do direito trazido à sua cognição.7. Por ser matéria de ordem pública, a prescrição há ser decretada de imediato, mesmo que não tenha sido debatida nas instâncias ordinárias. In casu, tem-se direito superveniente que não se prende a direito substancial, devendo-se aplicar, imediatamente, a nova lei processual.8. Tratando-se de norma de natureza processual, tem aplicação imediata, alcançando inclusive os processos em curso, cabendo ao juiz da execução decidir a respeito da sua incidência, por analogia, à hipótese dos autos (REsp nº /RS, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 10/04/2006).9. Execução fiscal paralisada há mais de 5 (cinco) anos. Prescrição intercorrente declarada. 10. Recurso improvido. Diante de tais considerações, forçoso reconhecer a caracterização da prescrição, devendo ser mantida a r. sentença de primeiro grau. Apelação nº

7 Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. Roberto Martins de Souza Relator Apelação nº