Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Edilson Fernandes Des.(a) Edilson Fernandes 07/11/ /11/2017 EMENTA: TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. SUSPENSÃO DO PROCESSO DETERMINADA PELO ESCRIVÃO. VIABILIDADE DO ATO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Configura-se a prescrição intercorrente quando transcorridos mais de cinco anos, a contar do escoamento do prazo de um ano de suspensão do processo, sem que tenha a Fazenda Pública diligenciado a fim de retomar o curso regular da execução. 2. A suspensão da execução por determinação do escrivão é circunstância de caráter formal que não inviabiliza o reconhecimento da prescrição intercorrente. APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): JOSÉ TEODORO, TEODORO TRANSPORTES LTDA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. DES. EDILSON FERNANDES RELATOR. 1

2 DES. EDILSON FERNANDES (RELATOR) V O T O Trata-se de recurso interposto contra sentença proferida nos autos de Execução Fiscal ajuizada pela FAZENDA PÚBLICA DE MINAS GERAIS contra TEODORO TRANSPORTES LTDA., que julgou extinta a execução fiscal, nos termos do artigo 40, 4º da Lei 6.830/80 e do artigo 924, V do CPC (ff. 120/121). O apelante sustenta que o artigo 40 da Lei 6.830/80 dispõe que enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens para satisfação do crédito, o prazo prescricional não pode ser contado. Afirma que a suspensão do processo por ato do escrivão é inconstitucional, visto que a Constituição, em seu artigo 93 inciso XIV, prescreve que apenas atos sem caráter decisório podem ser delegados aos servidores do judiciário. Diz que o artigo 40 da Lei nº 6.830/80 prevê que o ato de arquivamento dos autos somente pode ser ordenado por Juiz. Ressalta que o artigo 162, 4º do CPC/73 estabelece os limites dos atos do servidor público, podendo-se inferir que a suspensão do feito não é ato atribuído ao escrivão, ainda que houvesse a intimação pessoal do Estado, conforme dispõe o artigo 25 da Lei nº 6.830/80. Pugna pelo provimento do recurso (ff. 123/127). Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Cuida a espécie de execução fiscal ajuizada pela Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais, visando satisfazer o crédito tributário, consoante Certidão de Dívida Ativa (f. 03), decorrente do não recolhimento de ICMS no exercício de Proposta a execução em (f. 05), foi determinada a citação da executada, a qual foi realizada por edital (f. 09). 2

3 Após várias diligências, o Estado de Minas Gerais requereu a suspensão do processo em (f. 105), tendo o Juiz deferido o pedido (f. 107) e a Escrivã suspendido o presente processo, conforme o artigo 40 da Lei nº 6830/80 (f. 109). Em a Fazenda Pública foi intimada para manifestar acerca de possível prescrição intercorrente (f. 114) e, após sua manifestação, o digno Juiz da causa extinguiu o processo na forma do artigo 40, 4º da Lei nº 6.830/80 e no artigo 924, inciso V, do CPC. A Lei nº , de , acrescentou o 4º ao artigo 40 da Lei nº 6.830/80, autorizando o Juiz a decretar, de ofício, a prescrição intercorrente, depois de ouvida a Fazenda Pública, se da decisão que ordenar o arquivamento do processo tiver decorrido o prazo para a perda do direito. A aludida norma possui natureza processual, que tem aplicação imediata, alcançando os processos em curso, conforme já decidiu reiteradas vezes este egrégio Tribunal (AC /001, de minha relatoria, DJ ; AC /001, Rel. Des. MAURÍCIO BARROS, DJ ; AC /001, Rel. Des. ANTÔNIO SÉRVULO, ; entre outros), e colendo Superior Tribunal de Justiça (AgRg no REsp /PE, Relª. Minª. DENISE ARRUDA, DJe ; REsp /RS, Relª. Minª. ELIANA CALMON, DJe , entre outros). Anoto a constitucionalidade da aludida lei, porquanto é norma reguladora do reconhecimento em juízo da prescrição em matéria tributária, e não sobre os elementos do instituto propriamente dito, quer dizer, acerca do direito material relativo ao prazo de ocorrência e aos casos de interrupção e suspensão, matéria que seria afeta à Lei Complementar (art. 146, III, "b", da CRFB) - AC /001, de minha relatoria, DJ ; AC/RN /001, Rel. Des. MAURÍCIO BARROS, DJ ; AC /001, Rel. Des. ANTÔNIO SÉRVULO, DJ ; AC /001, Relª. Desª. MARIA ELZA, DJ 3

4 ; ED /002, Rel. Des. ALMEIDA MELO, DJ ; entre outros. Segundo enunciado da Súmula nº 314 do STJ, a prescrição intercorrente somente deve ser reconhecida quando transcorridos mais de cinco anos a contar do escoamento do prazo de um ano do despacho que ordena a suspensão do processo, sem que tenha a Fazenda Pública diligenciado utilmente a fim de retomar a execução. Sendo assim, nos termos do 4º do artigo 40 da Lei nº 6.830/80, transcorrido o prazo de 05 (cinco) anos, da decisão que ordenou o arquivamento, pode o juiz, de ofício, decretar a prescrição intercorrente. Em casos idênticos ao dos presentes autos, tenho decidido que o artigo 40 da Lei de Execução Fiscal dispõe que a suspensão do processo é ato jurisdicional por excelência, privativo do Magistrado que preside o processo, situação que inviabiliza seu deferimento pelo escrivão da secretaria em que a execução fiscal tem regular prosseguimento. Tenho registrado que, segundo o entendimento do colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, é desnecessária a intimação pessoal da Fazenda Pública acerca da decisão que determina a suspensão do processo por ela mesma requerida, não sendo dispensada a própria decisão, que é ato privativo de Juiz. No entanto, curvei-me ao posicionamento que esta colenda Sexta Câmara Cível vem adotando, conforme se observa dos seguintes julgados, no que interessa: REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE OFÍCIO - RECURSO DE APELAÇÃO - EXECUÇÃO FISCAL - FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - SUSPENSÃO REQUERIDA PELO PRÓPRIO CREDOR - DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO ACERCA DO DEFERIMENTO DA PRETENSÃO - SOBRESTAMENTO NÃO PLEITEADO COM BASE NO ARTIGO 40, DA LEF - INAPLICABILIDADE DA 4

5 SUSPENSÃO ESTABELECIDA NA LEI N /80 E NA SÚMULA N. 314, DO STJ - INCIDÊNCIA DO ART. 219, 5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - ATO PRATICADO POR ESCRIVÃO - PARALISAÇÃO POR MAIS DE CINCO ANOS - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE CARACTERIZADA - SENTENÇA MANTIDA EM REEXAME NECESSÁRIO, CONHECIDO DE OFÍCIO. 1. Requerida a suspensão do feito pelo próprio credor, é desnecessária a sua intimação acerca do deferimento da medida. 2. A ausência de decisão judicial determinando expressamente a suspensão do processo não impede o reconhecimento da prescrição intercorrente, máxime por ter sido o sobrestamento requerido pela própria parte credora. 3. Inerte a Fazenda Pública em imprimir à execução o seu normal andamento, por período superior ao quinquênio legal, cumpre ao Juízo, nos termos do artigo 219, 5º, do CPC, declarar a ocorrência da prescrição intercorrente do crédito exequendo. 4. Não incide a norma do artigo 40, 4º, da Lei n /80, bem como o teor da Súmula n. 314, do STJ, quando o pedido de suspensão não se baseia no referido dispositivo legal. 5. Prescrição caracterizada. Sentença mantida em reexame necessário conhecido de ofício. (TJMG - Apelação Cível /001, Relator(a): Des.(a) Claret de Moraes (JD Convocado), DJe: 15/03/ destaquei). REEXAME NECESSÁRIO - APELAÇÃO CÍVEL - PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - SUSPENSÃO ART. 40, LEI 6.830/80 - REQUERIMENTO DO CREDOR - SUSPENSÃO DETERMINADA PELO ESCRIVÃO - NULIDADE RELATIVA - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO DIRETO - DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL QUANTO AO DEFERIMENTO DA SUSPENSÃO - PRECEDENTES DO STJ - TRANSCURSO DE LAPSO TEMPORAL SUPERIOR A CINCO ANOS - AUSÊNCIA DE IMPULSO OFICIAL - INÉRCIA DA EXEQUENTE - CULPA CONCORRENTE - INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 106/STJ. A determinação de suspensão/arquivamento da execução fiscal deve ser por decisão interlocutória, porém a delegação de tal ato ao escrivão constitui mera irregularidade, isto é, nulidade relativa, que somente pode ser declarada se demonstrado o prejuízo, em atenção ao princípio pas de nullité sans grief. Se a própria exequente formulou pedido de 5

6 suspensão/arquivamento do processo, e o seu pedido foi deferido, não existe prejuízo direto, logo, não há nulidade. É desnecessária a intimação pessoal da Fazenda Pública quanto ao deferimento do pedido de suspensão e arquivamento da execução fiscal por ela mesma formulado. Precedentes do STJ. O transcurso de lapso temporal superior a cinco anos sem movimentação processual, após um ano de suspensão do processo, leva ao reconhecimento da prescrição intercorrente, e consequentemente à extinção da execução fiscal. Súmula 314 do STJ. A falta de impulso oficial do processo, por si só, não exime a responsabilidade da exequente pela condução do feito executivo, que não pode ficar inerte frente à execução fiscal. Inaplicabilidade da Súmula 106 do STJ. (TJMG - Apelação Cível nº /001, Relator(a): Des.(a) Yeda Athias, DJe: 15/03/ destaquei). EXECUÇÃO FISCAL - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - PEDIDO DE SUSPENSÃO DO FEITO PELA PRÓPRIA FAZENDA ESTADUAL - CERTIDÃO DO ESCRIVÃO - PREJUÍZO AO EXEQUENTE - INOCORRÊNCIA - FEITO PARALISADO POR MAIS DE CINCO ANOS - DESÍDIA DO ENTE PÚBLICO CARACTERIZADA - INTIMAÇÃO - DESNECESSIDADE - EXTINÇÃO DO FEITO EXECUTIVO - RECURSO DESPROVIDO. 1 - Permanecendo suspensa a execução fiscal sem qualquer manifestação das partes por período superior a 05 (cinco) anos, reconhecese a ocorrência da prescrição intercorrente, nos moldes do art. 40 da LEF. 2 - Se da circunstância de o feito ter sido suspenso pelo escrivão judicial, a pedido do ente público exequente, não decorreu qualquer prejuízo à Fazenda estadual, não havendo óbice ao reconhecimento da prescrição intercorrente. 3 - Suspensa a execução a requerimento do próprio ente estadual, desnecessária é a respectiva intimação da determinação da suspensão. Precedentes do col. Superior Tribunal de Justiça. 4- Recurso a que se nega provimento. (TJMG - Apelação Cível nº /001, Relator(a): Des.(a) Sandra Fonseca, DJe: 16/02/2016). APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO TRIBUTÁRIO - FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - EXECUÇÃO FISCAL - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE DECLARADA - SENTENÇA MANTIDA. V.v. EXECUÇÃO 6

7 FISCAL - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - SUSPENSÃO DO PROCESSO DETERMINADA PELO ESCRIVÃO - INVIABILIDADE DO ATO - INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO - PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO - RECURSO PROVIDO. A partir da edição da Lei /04, que introduziu o 4º no art. 40 da Lei 6.830/80, é admitida a decretação de ofício da prescrição intercorrente, cuja norma é aplicável aos processos em curso, na medida em que dispõe sobre matéria processual. Todavia, o art. 40 da Lei de Execução Fiscal dispõe que a suspensão do processo é ato jurisdicional por excelência, privativo do Magistrado que preside o processo, situação que inviabiliza seu deferimento pelo escrivão da secretaria em que a execução fiscal tem regular prosseguimento. (TJMG - Apelação Cível nº /001, Relator(a): Des.(a) Audebert Delage, DJe: 11/12/ destaquei). A propósito, na Sessão de , no julgamento do processo nº /001, de Relatoria do eminente Desembargador Audebert Delage, foi aplicado o procedimento previsto no artigo 942 do CPC/2015, relativo à ampliação do colegiado, tendo a Sexta Câmara Cível pacificado o entendimento no sentido de que é uma questão formal a circunstância de a suspensão da execução fiscal não ter sido determinada pelo magistrado de primeiro grau e que não inviabiliza o reconhecimento da prescrição intercorrente diante da efetiva inércia estatal, ficando vencido apenas este Desembargador, que figurou como Revisor, conforme acórdão assim ementado: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO TRIBUTÁRIO - FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - EXECUÇÃO FISCAL - PARALISAÇÃO DO TRÂMITE PROCESSUAL POR LAPSO TEMPORAL SUFICIENTE - PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE CONFIGURADA - SENTENÇA MANTIDA. Diante desse quadro, vencido isoladamente em relação à 7

8 controvérsia, passei a adotar o posicionamento sustentando pelos ilustres componentes desta Sexta Câmara Cível, ressalvando o meu entendimento pessoal, a fim de evitar a postergação do julgamento definitivo de processos com matéria idêntica à da Apelação Cível nº /001, prestigiando os princípios orientadores do direito processual civil contemporâneo e, em especial o da colegialidade, bem como o disposto expressamente no "caput" do artigo 926, do Novo Código de Processo Civil, pois "Os Órgãos do Poder Judiciário devem obrigatoriamente seguir os seus próprios precedentes, sem prejuízo do disposto nos 9º do art e 4º do art. 927", sendo certo que "a decisão que aplica precedentes, com a ressalva de entendimento do julgador, não é contraditória" (Enunciados 169 e 172 do Fórum Permanente de Processualistas Civis). Ressalto, aliás, que foi deferido pelo digno Juiz da causa a suspensão do processo antes do ato ter sido realizado pela Escrivã, não havendo óbice ao reconhecimento da prescrição intercorrente. Em síntese, passados 07 (sete) anos da suspensão do processo sem que o exequente se manifestasse, deve ser reconhecida a prescrição intercorrente. NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Isento de custas recursais (Lei Estadual nº /03). DES. CORRÊA JUNIOR - De acordo com o(a) Relator(a). DESA. YEDA ATHIAS - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO." 8