TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº , da Comarca de, em que são apelantes PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO e JUIZO EX OFFICIO, é apelado V.A.L.' EMPREENDIMENTOS E SERVIÇOS LTDA. ACORDAM, em 14ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores HENRIQUE HARRIS JÚNIOR (Presidente), MÔNICA SERRANO E GERALDO XAVIER., 28 de abril de HENRIQUE HARRIS JÚNIOR RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação / Reexame Necessário nº Apelantes: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO e Juizo Ex Officio Apelado: V.A.L.' EMPREENDIMENTOS E SERVIÇOS LTDA Interessado: DIRETOR DA DIVISÃO DE ACOMPANHAMENTO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL-DICAJ (SECR. DAS FINANÇAS DO MUN.S.PAULO) Comarca: Voto nº 6672/2016 Apelação Mandado de segurança ITBI e IPTU - Diversidade de valores para cálculo Inadmissibilidade Artigos 33 e 38 do Código Tributário Nacional Recolhimento que deverá ser efetivado com base no valor venal adotado para cálculo do IPTU ou com base no valor da transação, devendo preponderar o que for maior Afastamento do valor venal de referência previsto na Lei Municipal nº /91 Manutenção da sentença Recurso voluntário e reexame necessário DESPROVIDOS. Trata-se de mandado de segurança impetrado por V.A.L. Empreendimentos e Serviços Ltda. contra ato praticado pelo Diretor da Divisão de Acompanhamento do Contencioso Administrativo e Judicial- DICJ (Secretaria das Finanças do Município de ), em que pretende efetivar o recolhimento do ITBI calculado com base no valor venal utilizado para cálculo do IPTU. A r. sentença de fls. 105/109, sob fundamento de ocorrência de desrespeito ao Decreto n /05 e ao princípio da legalidade tributária previsto no artigo 150, inciso I, da Constituição Federal, concedeu a segurança, determinando a suspensão da exigibilidade do crédito tributário em valor superior ao valor venal considerado para fins de recolhimento de IPTU. Embargos de declaração interpostos às fls. 115/118 (com manifestação do impetrante às fls. 121/125), conhecidos porém, Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº 6672/2016 2

3 rejeitados- à fl Recorre o Município, às fls. 128/141, buscando a reforma do julgado. Decorrido in albis o prazo para apresentação de contrarrazões (fl. 144). Manifestação do Ministério Público, à fl. 148, ratificando o parecer anteriormente lançado nos autos. É o relatório. Pretende, o impetrante, a concessão da segurança para efetivar o recolhimento do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis calculado com base no valor venal utilizado para o cálculo do IPTU, em lugar do valor venal de referência previsto nos termos da legislação municipal vigente. Com efeito, por força do comando constitucional inserto no inciso II do artigo 156, foi atribuída ao Município a competência para instituir o ITBI, que tem, como fato gerador, a transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição, conforme também disposto no artigo 35 do Código Tributário Nacional. Com este direcionamento, a Prefeitura de efetiva a exigibilidade do ITBI calculado com base no valor de referência de mercado do imóvel, constante nas Leis Municipais nºs /91 e /06, que instituíram dois valores venais distintos, um para IPTU e outro para o ITBI. Ora, não pode o Município adotar um valor venal para o cálculo do IPTU e outro, mais elevado, para cálculo do ITBI, sem que tal diferenciação signifique afronta ao princípio da legalidade estrita. De fato, conforme comandos advindos dos artigos 33 Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº 6672/2016 3

4 e 38 do Código Tributário Nacional, o IPTU e o ITBI têm, como base de cálculo, o valor venal do Imóvel e o valor venal dos bens ou direitos transmitidos, respectivamente. Ademais, se a planta genérica de valores adotada para cálculo do IPTU está defasada, deve a Administração proceder à sua revisão, e o valor obtido deverá ser adotado para ambos os tributos, durante todo o exercício fiscal. Sobre o tema, as lições de Kiyoshi Harada, no sentido de que De fato, a legislação do IPTU dispõe de critério objetivo para apuração do valor venal, bem como de mecanismo para manter atualizado esse valor apurado em 1º de janeiro de cada exercício. Nada justifica apuração de outro valor venal para o mesmo imóvel, só para efeito de ITBI. A própria legislação estadual para cobrança do imposto sobre transmissão causa mortis determina a utilização da base de cálculo do IPTU ou do ITR, conforme se trate, respectivamente, de imóvel urbano ou rural, ressalvado aos interessados o direito de requererem avaliação judicial (art. 15 da Lei nº 9.591, de ). (in Direito Tributário Municipal, 2ª edição,, ed. Atlas, página 96). Desse modo, denota-se, à evidência, a inviabilidade de que um mesmo imóvel apresente dois valores venais como expoentes, fato este que rechaça, de plano, as razões da Municipalidade aduzidas em informações e no recurso voluntário. A propósito, já se posicionou este Egrégio Tribunal de Justiça sobre a inadmissibilidade da base de cálculo do ITBI adotada pelo Município de : APELAÇÃO CÍVEL Mandado de Segurança Preventivo ITBI Preliminares de falta de interesse de agir e inadequação da via eleita afastadas Existência de dois valores venais para o mesmo imóvel, diante da edição da Lei Municipal nº /06 Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº 6672/2016 4

5 Impossibilidade Precedentes A base de cálculo do ITBI encontra-se definida sobre dois parâmetros: ou é o valor venal do qual o contribuinte já tem prévio conhecimento e é definido pela Fazenda Pública, ou então é o valor indicado no instrumento de venda e compra, sendo defeso ao Município surpreender o contribuinte com outro valor que não reflita nenhuma destas realidades Impossibilidade de arbitramento de outro valor por outro parâmetro Sentença mantida Recursos oficial e voluntário da Municipalidade não providos, nos termos do acórdão. (14ª Câmara de Direito Público. Apelação nº ; Relatora Desembargadora Silvana M. Mollo; j. 05/02/2015). APELAÇÃO Base de cálculo de ITBI Artigo 35 do CTN dispõe que é o valor venal do bem imóvel Utilização, para fins de tributação, do valor venal utilizado para a cobrança do IPTU ou valor do negócio traduzido no instrumento de transmissão, o que for maior Precedentes RECURSO PROCEDENTE. (14ª Câmara de Direito Público. Apelação / Reexame Necessário nº ; Relatora Desembargadora Mônica Serrano; j. 11/12/2014). APELAÇÃO MANDADO DE SEGURANÇA ITBI Base de Cálculo Valor venal do imóvel ou o valor da transação, prevalecendo o que for maior. Ilegalidade da apuração do valor venal como previsto no Decreto Municipal /2012 Ofensa ao principio da legalidade tributária, artigo 150, inciso I da CF Precedentes RECURSO DE OFÍCIO Sentença sujeita ao reexame necessário, nos termos do art. 14, 1, da Lei /09. Recursos não providos. (14ª Câmara de Direito Público. Apelação / Reexame Necessário nº ; Relatora Desembargadora. Mônica Serrano; j. 11/12/2014). De rigor, conclusivamente, a manutenção da objurgada decisão de primeiro grau por seus próprios fundamentos, Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº 6672/2016 5

6 devendo o ITBI incidir sobre o mesmo valor venal do imóvel apurado para o cálculo do IPTU, ou sobre o preço da transação, no caso deste ser superior àquele. Ante o exposto, NEGA-SE provimento ao necessário reexame bem como ao recurso voluntário, ficando expressamente prequestionados todos os dispositivos constitucionais e infraconstitucionais tidos por violados. HENRIQUE HARRIS JÚNIOR Relator Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº 6672/2016 6