Superior Tribunal de Justiça

Transcrição

1 RECURSO ESPECIAL Nº MS (2008/ ) RELATOR : MINISTRO JOSÉ DELGADO RECORRENTE : OVÍDIO LOPES DE OLIVEIRA ADVOGADO : FRANCISCO CIRO MARTINS - DEFENSOR PÚBLICO RECORRIDO : MUNICÍPIO DE MARACAJU PROCURADOR : ADERSINO VALENSOELA GOMES E OUTRO(S) EMENTA TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CRÉDITOS FISCAIS PROVENIENTES DE IPTU. NOTIFICAÇÃO DO CONTRIBUINTE COM O ENVIO DO CARNÊ DE COBRANÇA. ACÓRDÃO RECORRIDO EM ABSOLUTA SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. APONTADA OFENSA AO ART. 174, PARÁGRAFO ÚNICO, I, DO CTN. MANIFESTA INEXISTÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. ARGUMENTOS DE RECURSO DISSOCIADOS DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 282 E 284/STF. RECURSO ESPECIAL NÃO-CONHECIDO. 1. Tratam os autos de execução fiscal movida em pelos débitos de IPTU referentes aos exercícios de 1992 a O juízo sentenciante acolheu a exceção de pré-executividade e extinguiu o feito sem resolução de mérito. O Município apelou e o TJMS reconheceu de ofício a prescrição do tributo referente aos anos de 1992 a 1996 e considerou a execução fiscal em relação ao ano de 1997 regularmente constituída, aplicando o entendimento de que a remessa do carnê de IPTU é procedimento suficiente para a notificação do contribuinte em relação a débitos com a Fazenda Pública. Defende o recorrente, no especial, que o acórdão combatido violou o parágrafo único, I, do art. 174 do CTN, uma vez que decorreu in albis o prazo da prescrição do crédito tributário. Requer o benefício da assistência judiciária gratuita, com amparo nas provas dos autos. Contra-razões pugnando pelo não-provimento do recurso especial. 2. O acórdão recorrido de nenhum modo examinou a matéria específica regulada no inciso I, parágrafo único, do art. 174 do CTN, concernente à interrupção da prescrição pelo despacho que determina a citação ou pela efetiva citação, a par da LC 118/2005. Esse tema, registre-se, não foi examinado no acórdão que, diversamente do alegado, sob ângulo absolutamente distinto, assentou o entendimento de que em relação ao crédito tributário proveniente de IPTU (fl. 131) "A notificação do contribuinte ocorre com o envio do carnê de pagamento". 3. No particular, as razões expressas no recurso especial estão em manifesta dissociação dos fundamentos do acórdão recorrido, sendo caso de aplicação da Súmula 284/STF. Também incidente, aliás, os enunciados das Súmulas ns. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal, ante a evidente inexistência de prequestionamento da matéria formulada no recurso especial. 4. Por relevante, ademais, cumpre anotar que a exegese empregada pelo aresto atacado está em absoluta sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior que, ao tratar da notificação do contribuinte no que se refere a débitos de IPTU, afirma que a remessa do carnê é suficiente para a notificação do lançamento tributário: Resp /PR, DJ 12/11/2007, Rel. Min. Teori Albino Zavascki 5. Recurso especial não-conhecido. ACÓRDÃO Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 1 de 8

2 Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Denise Arruda (Presidenta) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 06 de maio de 2008 (Data do Julgamento) MINISTRO JOSÉ DELGADO Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 2 de 8

3 RECURSO ESPECIAL Nº MS (2008/ ) RELATOR : MINISTRO JOSÉ DELGADO RECORRENTE : OVÍDIO LOPES DE OLIVEIRA ADVOGADO : FRANCISCO CIRO MARTINS - DEFENSOR PÚBLICO RECORRIDO : MUNICÍPIO DE MARACAJU PROCURADOR : ADERSINO VALENSOELA GOMES E OUTRO(S) RELATÓRIO O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): Cuida-se de recurso especial (fls. 136/158) interposto por Ovídio Lopes de Oliveira, com fulcro no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, contra acórdão do TJMS, assim ementado (fl. 129): APELAÇÃO - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - IPTU - POSSIBILIDADE DE PRESCRIÇÃO DE OFÍCIO - AÇÃO AJUIZADA DEPOIS DO TRANSCURSO DE MAIS DE CINCO ANOS ENTRE O VENCIMENTO DO TRIBUTO E A DISTRIBUIÇÃO DA AÇÃO - NULIDADE DA CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA AFASTADA - NOTIFICAÇÃO DO CONTRIBUINTE PRESUMIDA PELA ENTREGA DO CARNÊ - RECURSO PROVIDO EM PARTE. Tratam os autos de execução fiscal movida em pelo Município de Maracaju contra Ovídio Lopes de Oliveira pelos débitos de IPTU referentes aos exercícios de 1992 a A sentença acolheu a exceção de pré-executividade para extinguir a execução fiscal sem resolução de mérito, na forma dos arts. 267, IV, c/c o 586 do CPC e 145 do CTN, por considerar as certidões executivas nulas, pela falta do regular lançamento tributário (fl. 99). O Município apelou e o TJMS reconheceu de ofício a prescrição do tributo referente aos anos de 1992 a 1996 e considerou a execução fiscal em relação ao ano de 1997 regularmente constituída, em virtude da notificação do lançamento do IPTU que é realizada com o envio do carnê de cobrança ao endereço do contribuinte, no qual é comunicado o valor devido (fl. 131). Irresignado, o contribuinte manejou recurso especial por intermédio da Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso do Sul, fulcrado na alínea a do permissivo constitucional, alegando violação do seguinte dispositivo do Código Tributário Nacional: Art A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II - pelo protesto judicial; Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 3 de 8

4 III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. Defende o recorrente, no especial, que o acórdão combatido violou o parágrafo único do art. 174 do CTN, uma vez que decorreu o prazo in albis da prescrição do crédito tributário e mesmo assim entendeu ser cabível a execução fiscal no tocante ao exercício do ano de Sustenta que no caso em tela não se aplica a alteração trazida pela Lei Complementar n. 118/2005, que interrompe a prescrição com o despacho inicial, uma vez que a determinação de citação via edital ocorreu antes do advento da referida lei (fls. 147/157). Transcreve ementas de julgados do TJDFT e desta Corte em favor de sua tese e requer o benefício da assistência judiciária gratuita, de conformidade com a Lei n /50 e Lei Complementar Federal n. 080/1994 (fl. 157), com fundamento nas provas insertas nos autos. Contra-razões (fls. 165/169) pugnando pelo não-provimento do recurso especial. Juízo positivo de admissibilidade do recurso especial às fls. 170/171. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 4 de 8

5 RECURSO ESPECIAL Nº MS (2008/ ) EMENTA TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CRÉDITOS FISCAIS PROVENIENTES DE IPTU. NOTIFICAÇÃO DO CONTRIBUINTE COM O ENVIO DO CARNÊ DE COBRANÇA. ACÓRDÃO RECORRIDO EM ABSOLUTA SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. APONTADA OFENSA AO ART. 174, PARÁGRAFO ÚNICO, I, DO CTN. MANIFESTA INEXISTÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. ARGUMENTOS DE RECURSO DISSOCIADOS DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 282 E 284/STF. RECURSO ESPECIAL NÃO-CONHECIDO. 1. Tratam os autos de execução fiscal movida em pelos débitos de IPTU referentes aos exercícios de 1992 a O juízo sentenciante acolheu a exceção de pré-executividade e extinguiu o feito sem resolução de mérito. O Município apelou e o TJMS reconheceu de ofício a prescrição do tributo referente aos anos de 1992 a 1996 e considerou a execução fiscal em relação ao ano de 1997 regularmente constituída, aplicando o entendimento de que a remessa do carnê de IPTU é procedimento suficiente para a notificação do contribuinte em relação a débitos com a Fazenda Pública. Defende o recorrente, no especial, que o acórdão combatido violou o parágrafo único, I, do art. 174 do CTN, uma vez que decorreu in albis o prazo da prescrição do crédito tributário. Requer o benefício da assistência judiciária gratuita, com amparo nas provas dos autos. Contra-razões pugnando pelo não-provimento do recurso especial. 2. O acórdão recorrido de nenhum modo examinou a matéria específica regulada no inciso I, parágrafo único, do art. 174 do CTN, concernente à interrupção da prescrição pelo despacho que determina a citação ou pela efetiva citação, a par da LC 118/2005. Esse tema, registre-se, não foi examinado no acórdão que, diversamente do alegado, sob ângulo absolutamente distinto, assentou o entendimento de que em relação ao crédito tributário proveniente de IPTU (fl. 131) "A notificação do contribuinte ocorre com o envio do carnê de pagamento". 3. No particular, as razões expressas no recurso especial estão em manifesta dissociação dos fundamentos do acórdão recorrido, sendo caso de aplicação da Súmula 284/STF. Também incidente, aliás, os enunciados das Súmulas ns. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal, ante a evidente inexistência de prequestionamento da matéria formulada no recurso especial. 4. Por relevante, ademais, cumpre anotar que a exegese empregada pelo aresto atacado está em absoluta sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior que, ao tratar da notificação do contribuinte no que se refere a débitos de IPTU, afirma que a remessa do carnê é suficiente para a notificação do lançamento tributário: Resp /PR, DJ 12/11/2007, Rel. Min. Teori Albino Zavascki 5. Recurso especial não-conhecido. VOTO O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): Como relatado, defende o recorrente violação do parágrafo único, I, do art. 174 do CTN (A prescrição se interrompe: I pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal), sob o argumento de que decorreu o prazo in albis da prescrição do crédito tributário referente ao IPTU no tocante ao exercício do ano de Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 5 de 8

6 Afirma, nessa ótica, que o caso em tela não se aplica à alteração trazida pela Lei Complementar n. 118/2005, que interrompe a prescrição com o despacho inicial, uma vez que a que determinação de citação via edital ocorreu antes do advento da referida lei (fls. 147/157). Todavia, o acórdão recorrido de nenhum modo examinou a matéria específica regulada no inciso I, parágrafo único do art. 174 do CTN, concernente à interrupção da prescrição pelo despacho que determina a citação ou pela efetiva citação, a par da LC 118/2005. Esse tema, registre-se não foi examinado no acórdão que, diversamente, sob ângulo absolutamente distinto, assentou o entendimento de que em relação ao crédito tributário proveniente de IPTU (fl. 131) "A notificação do contribuinte ocorre com o envio do carnê de pagamento". No particular, as razões expressas no recurso especial estão em manifesta dissociação dos fundamentos do acórdão recorrido, sendo caso de aplicação da Súmula 284/STF. Também incidente, aliás, os enunciados das Súmulas ns. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal, ante a evidente inexistência de prequestionamento da matéria formulada em recurso especial. Por relevante, ademais, cumpre anotar que a exegese empregada pelo aresto atacado está em absoluta sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior, que ao tratar da notificação do contribuinte no que se refere à débitos de IPTU assenta: TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. IPTU. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO. NOTIFICAÇÃO COM O ENVIO DO CARNÊ DE COBRANÇA. VALIDADE. RECEBIMENTO DO CARNÊ. VERIFICAÇÃO. SÚMULA 7 DO STJ. ATUALIZAÇÃO DO VALOR VENAL DO IMÓVEL POR DECRETO. POSSIBILIDADE. SÚMULA 160/STJ. PROVA DE QUE O AUMENTO SE DEU EM ÍNDICES ACIMA DA INFLAÇÃO. ÔNUS DO CONTRIBUINTE. 1. Incabível, em razões de recurso especial, invocar matéria constitucional, de competência do STF. Precedentes. 2. É vedado o reexame de matéria fático-probatória em sede de recurso especial, a teor do que prescreve a Súmula 7 desta Corte. No caso, o Tribunal de origem, após analisar as provas dos autos, considerou que ocorreu a entrega do carnê de recolhimento do IPTU ao sujeito passivo tributário. 3. A jurisprudência do STJ vem se posicionando no sentido de que, no caso do IPTU, a remessa do carnê de pagamento do tributo ao contribuinte é suficiente para Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 6 de 8

7 a notificação do lançamento tributário (AGA /GO, 2ª T., Min. Franciulli Netto, DJ de ; REsp /RS, 2ª T., Min. João Otávio de Noronha, DJ de ; RESP /RS, 1ª T. Min. Luiz Fux, DJ de ; REsp /PR, 1ª T. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de ; REsp /PR, 2ª T., Min. Castro Meira, DJ de ) 4. Em razão da presunção de certeza e liquidez da Certidão de Dívida Ativa, é ônus do contribuinte a demonstração de que a atualização do valor venal do imóvel, base de cálculo para incidência do IPTU, extrapolou os índices oficiais de inflação (REsp /PR, 2ª T., Min. Castro Meira, DJ de ; REsp PR, 1ª T., Min. Denise Arruda, DJ de ). 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido. (Resp /PR, DJ 12/11/2007, Rel. Min. Teori Albino Zavascki) Como se pode ver às fls. 129/132 dos autos, o acórdão recorrido reconheceu de ofício a prescrição do crédito tributário referente ao IPTU dos exercícios de 1992 a 1996, nos termos do art. 219, 5º, do CPC e considerou regularmente constituído o crédito fiscal referente ao ano de 1997, em virtude da notificação do lançamento do IPTU, que é realizada com o envio do carnê de cobrança ao endereço do contribuinte, no qual é comunicado o valor devido. Anote-se, por fim, que o pedido de assistência judiciária gratuita, por se o recorrente juridicamente necessitado (fl. 157), não é passível de regular exame, porquanto o pedido não foi instruído com elementos que de algum modo lograssem amparar a pretensão. Ao revés, constata-se dos autos que, citado por edital, a Defensoria Pública passou a representar o recorrente que, no entanto, é proprietário de inúmeros imóveis, sobre os quais, a propósito, pesam os débitos fiscais. Ante o exposto, não conheço do recurso especial. É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 7 de 8

8 ERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA TURMA Número Registro: 2008/ REsp / MS Números Origem: PAUTA: 06/05/2008 JULGADO: 06/05/2008 Relator Exmo. Sr. Ministro JOSÉ DELGADO Presidente da Sessão Exma. Sra. Ministra DENISE ARRUDA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JOÃO FRANCISCO SOBRINHO Secretária Bela. MARIA DO SOCORRO MELO AUTUAÇÃO RECORRENTE : OVÍDIO LOPES DE OLIVEIRA ADVOGADO : FRANCISCO CIRO MARTINS - DEFENSOR PÚBLICO RECORRIDO : MUNICÍPIO DE MARACAJU PROCURADOR : ADERSINO VALENSOELA GOMES E OUTRO(S) ASSUNTO: Tributário - IPTU - Imposto Predial Territorial Urbano CERTIDÃO Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Denise Arruda (Presidenta) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 06 de maio de 2008 MARIA DO SOCORRO MELO Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/06/2008 Página 8 de 8