PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO

Transcrição

1 APELAÇÃO CÍVEL Nº /RN ( ) APTE : AURELIANO CLEMENTINO DE MEDEIROS NETTO ADV/PROC : ANDREIA ARAÚJO MUNEMASSA E OUTROS APDO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE ORIGEM : 4ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - RN RELATOR : DES. FED. FRANCISCO WILDO RELATÓRIO O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator): Trata-se de apelação contra sentença que, em ação ordinária em o autor objetivava a revisão da RMI do seu benefício mediante a aplicação dos mesmos índices de reajuste dos salários-de-contribuição ocorridos em dezembro/98, dezembro/03 e jan/04, por força das EC s nº 20/98 e 41/03, julgou improcedente o pedido. Em seu apelo à parte requer a reforma da sentença com o provimento do recurso, reiterando o pedido contido na peça vestibular. Contrarrazões apresentadas. É o relatório.

2 APELAÇÃO CÍVEL Nº /RN ( ) APTE : AURELIANO CLEMENTINO DE MEDEIROS NETTO ADV/PROC : ANDREIA ARAÚJO MUNEMASSA E OUTROS APDO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE ORIGEM : 4ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - RN RELATOR : DES. FED. FRANCISCO WILDO VOTO O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator): Antes de adentrar no mérito, resta por apreciar a questão da decadência para revisão do presente benefício, cuja DIB remonta 01/04/80, por se tratar de matéria de ordem pública, que pode ser conhecida de ofício. O instituto da decadência pode ser aplicado ao caso, embora tenha sido introduzida na legislação previdenciária após a concessão do benefício recebido pela parte autora. Explico. É que em sendo estatutária a natureza das relações jurídicas entre a Previdência Social e os seus segurados, dependentes e beneficiários, porquanto disciplinada por lei, é viável a sua modificação de seus parâmetros normativos a qualquer tempo, respeitados apenas o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A regra instituidora a decadência pode ser aplicada imediatamente, inclusive em relação aos benefícios concedidos anteriormente a sua vigência. O que não se poderia tolerar, evidentemente, é que ela permitisse a utilização de tempo pretérito para fulminar o direito do beneficiário. Porém, nada impede, salvo expressa disposição em sentido contrário, o que não é o caso, que o prazo decadencial nela previsto comece a correr imediatamente, a partir da vigência do diploma legal. Diante das sucessivas alterações legislativas ocorridas no que se refere à decadência do direito à revisão dos atos concessivos de benefícios previdenciários, necessário se faz um breve histórico acerca da disciplina dessa questão no tempo. Tradicionalmente, as leis previdenciárias não previam a decadência do direito do beneficiário do RGPS rever seus benefícios. Nada dispunha sobre a matéria, a própria redação originária da Lei n , de 24/07/1991, que instituiu o Regime Geral de Benefícios da Previdência Social. A Medida Provisória n , publicada em 28/06/1997, reeditadas algumas vezes até ser convertida na Lei n /97, foi a primeira a introduzir a disciplina da matéria no ordenamento jurídico, dando a seguinte redação ao art. 103 da Lei n /91:

3 AC nº /RN (V-2) Art É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo. Esse prazo decadencial de 10 anos prevaleceu até a entrada em vigor da Medida Provisória n , publicada em 23/10/1998, reeditada e convertida na Lei n /98, que o reduziu para 05 anos. Ao dispositivo acima transcrito foi dada a seguinte redação: Art É de cinco anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo. Por fim, com a Medida Provisória n. 138, publicada em 20/11/2003 e convertida na Lei n /04, o prazo decadencial foi mais uma vez estabelecido em 10 anos. Ipsis litteris: Art É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo. Esse último é o dispositivo atualmente em vigor. O benefício do recorrente foi concedido em 01/04/80, quando o direito de postular sua revisão não se sujeitava à decadência. Em 28/06/1997, com a vigência da Medida Provisória n , começou a correr o prazo decadencial de 10 anos. Porém, antes de seu integral transcurso, em 23/10/1998, entrou em vigor a Medida Provisória n , que o reduziu para 05 anos. A Medida Provisória n não introduziu instituto novo, apenas reduziu o interstício para sua consumação. Diante da pluralidade de regras no curso do prazo decadencial, deve ser observado o seguinte para verificação da decadência: 10 anos a partir de 28/06/1997 (prazo antigo) ou em 05 anos a contar de 23/10/1998 (prazo novo), valendo o que completar primeiro.

4 AC nº /RN (V-3) Essa é a regra que este Tribunal, acolhendo entendimento do STJ, vem utilizando para aplicação da Lei Complementar n. 118/05, que reduziu de 10 para 05 anos o prazo prescricional da ação de repetição de indébito de tributos sujeitos a lançamento por homologação. In verbis: O prazo prescricional das ações de compensação/repetição de indébito, do ponto de vista prático, deve ser contado da seguinte forma: relativamente aos pagamentos efetuados a partir da vigência da Lei Complementar 118/2005 ( ), o prazo para se pleitear a restituição é de cinco anos a contar da data do recolhimento indevido; e relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição obedece ao regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a contar da vigência da novel lei complementar. 2. Isto porque a Corte Especial declarou a inconstitucionalidade da expressão "observado, quanto ao art. 3º, o disposto no art. 106, I, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de Código Tributário Nacional", constante do artigo 4º, segunda parte, da Lei Complementar 118/2005 (AI nos ERESP /PE, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em )" - Excerto do voto do Ministro LUIZ FUX noresp /SC. (AC CE, 1ª Turma, unânime, rel. Desembargador Federal Francisco Cavalcanti, julgado em 05/03/2009). Contados 05 anos de 23/10/1998, data de início da vigência da Medida Provisória n , conclui-se pelo seu término em 23/10/2003, quase um mês antes da publicação da Medida Provisória n. 138 (20/11/2003), que restabeleceu a decadência decenal. A decadência qüinqüenal estabelecida na Provisória n /98 se consumou anteriormente ao restabelecimento do prazo decadencial de 10 anos previsto na Medida Provisória n. 138/03, pelo que este último diploma normativo não pode ser aplicado, salvo se possuísse regra expressa em sentido contrário, o que não possui. In casu, o direito de revisão da RMI (Renda Mensal Inicial) do benefício da parte autora, levando em consideração a aplicação dos mesmos índices de reajuste dos salários-de-contribuição ocorridos em dezembro/98, dezembro/03 e jan/04, por força das EC s nº 20/98 e 41/03, se encontra caduco, tendo em vista que a ação somente foi ajuizada em 14/05/09 (fl. 02). Diante de todo o exposto, reconheço de ofício a decadência do direito de revisar o ato de concessão do benefício, julgando prejudicada a apelação do particular. É como voto.

5 APELAÇÃO CÍVEL Nº /RN ( ) APTE : AURELIANO CLEMENTINO DE MEDEIROS NETTO ADV/PROC : ANDREIA ARAÚJO MUNEMASSA E OUTROS APDO : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE ORIGEM : 4ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - RN RELATOR : DES. FED. FRANCISCO WILDO EMENTA PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO REVISÃO DO ATO DE CONCESSÃO. RMI. TETO. EMENDAS CONSTITUCIONAIS NºS 20/98 E 41/03. DECADÊNCIA. OCORRÊNCIA. 1. A decadência do direito à revisão do ato concessório de benefício previdenciário, então inexistente no ordenamento jurídico, foi instituída pela Medida Provisória n (DOU de 28/06/1997), convertida na Lei n /97, que estabeleceu o prazo de 10 anos. A Medida Provisória n (DOU de 23/10/1998), convertida na Lei n /98, reduziu o interstício decadencial para 05 anos. Por fim, a Medida Provisória n. 138 (DOU de 20/11/2003), convertida na Lei n /03, restabeleceu o prazo decenal originário. 2. O benefício do recorrente foi concedido em 1980, quando o direito de postular sua revisão não se sujeitava à decadência. Em 28/06/1997, com a Medida Provisória n , começou a correr o prazo decadencial de 10 anos. Porém, antes de seu integral transcurso, em 23/10/1998, entrou em vigor a Medida Provisória n , que o reduziu para 05 anos. 3. A Medida Provisória n não introduziu instituto novo, apenas reduziu o interstício para sua consumação. Diante da pluralidade de regras no curso do prazo decadencial, deve ser observado o seguinte para verificação da decadência: 10 anos a partir de 28/06/1997 (prazo antigo) ou em 05 anos a contar de 23/10/1998 (prazo novo), valendo o que completar primeiro. Aplicação analógica dos precedentes deste Tribunal e do STJ sobre a aplicação da Lei Complementar n. 118/05 no que se refere à redução do prazo prescricional de 10 para 05 anos da pretensão à repetição de indébito de tributos sujeitos a lançamento por homologação. 4. Contados 05 anos de 23/10/1998, data de início da vigência da Medida Provisória n , conclui-se pelo seu término em 23/10/2003, quase um mês antes da publicação da Medida Provisória n. 138 (20/11/2003), que restabeleceu a decadência decenal. 5. A decadência qüinqüenal estabelecida na Provisória n /98 se consumou anteriormente ao restabelecimento do prazo decadencial de 10 anos previsto na Medida Provisória n. 138/03, pelo que este último diploma normativo não pode ser aplicado, salvo se possuísse regra expressa em sentido contrário, o que não possui. 6. In casu, o direito de revisão do ato de concessão da RMI (Renda Mensal Inicial) do benefício da parte autora, levando em consideração a aplicação dos mesmos índices de reajuste dos salários-de-contribuição ocorridos em dezembro/98, dezembro/03 e jan/04, por força das EC s nº 20/98 e 41/03, se encontra caduco, tendo em vista que a ação somente foi ajuizada em 14/05/ Por se tratar de matéria de ordem pública, a decadência pode ser conhecida de ofício. 8. Apelação do particular prejudicada.

6 AC /RN Vistos, etc. ACÓRDÃO Decide a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, reconhecer de ofício a decadência, julgando prejudicada a apelação nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 22 de junho de (Data de julgamento) Des. Fed. FRANCISCO WILDO Relator