Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Cuida-se de Mandado de Segurança impetrado pelo Município de Baturité-CE com o fito de obter Certidão Positiva de Débitos com Efeitos de Negativa-CPD-EN. O pedido liminar foi indeferido (fls. 48/50). As informações da autoridade Impetrada estão às fls. 56/64. No parecer, o Ministério Público Federal opinou pela denegação da Segurança (fls. 86/89). A Sentença concedeu a Ordem, sob o fundamento de haver o Impetrante regularizado os seus débitos fiscais. Inconformada, a União apelou Federal -fls. 111/117; requereu a reforma do julgado, sob o fundamento da existência de falhas na entrega de algumas das GFIP s-guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social, assim como divergências no preenchimento de outras. Sem contra-razões. Sentença sujeita à Remessa Necessária. Dispensada a Revisão. É o Relatório.

2 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Averbando a costumeira vênia aos que perfilham entendimentos dissonantes, penso que a decisão sub censura não merece ser modificada. Extrai-se dos autos que a Impetrante não vinha apresentando mensalmente a Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social GFIP; ademais, constatou-se a existência de falhas nos valores declarados em outros meses, e por este motivo, foi-lhe negada a expedição de CPD-EN-Certidão Positiva de Débitos com efeito de Negativa. A entrega da GFIP configura obrigação tributária acessória autônoma, que, uma vez inadimplida, impede a expedição de qualquer documento comprobatório da inexistência de débitos, conforme o disposto no art. 1, 9, do Decreto n 2.803/98, que regulame ntou o art. 32, da Lei 8.212/91, in verbis: Art. 1. A empresa é obrigada a informar mensalmen te ao Instituto Nacional do Seguro Social INSS, por intermédio da Guia de Recolhimento ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social GFIP, na forma por ele estabelecida, dados cadastrais, todos os fatos geradores de contribuição previdenciária e outras informações de interesse daquele Instituto. 9. Independentemente das disposições do art. 85 do Regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social ROCSS, aprovado pelo Decreto n 2.173, de 5 de março de 19 97, o descumprimento do disposto neste artigo é condição impeditiva para expedição do documento comprobatório de inexistência da débito (grifei) No mesmo sentido, prescreveu o artigo 32, IV, 10, da Lei 9.528, de 10 de dezembro de 1997; confira-se: Art. 32. A empresa também é obrigada a:

3 IV informar mensalmente ao Instituto Nacional do Seguro Social INSS, por intermédio de documento a ser definido em regulamento, dados relacionados aos fatos geradores de contribuição previdenciária e outras informações de interesse do INSS. 10. O descumprimento do disposto no inciso IV é condição impeditiva para a expedição de prova de inexistência de débito para com o Instituto Nacional do Seguro Social INSS (grifei) Ademais, já ficou pacificado que a declaração que o contribuinte presta à Administração Fazendária relativamente aos tributos sujeitos ao lançamento por homologação equivale a uma confissão de dívida, por possuir o condão de formalizar o crédito tributário, conferindo, assim, ao Fisco, instrumento hábil para a imediata inscrição na Dívida Ativa, caso os valores ali declarados não correspondam aos valores efetivamente devidos pelo contribuinte. Nesse sentido, trago à balha a seguinte decisão do Superior Tribunal de Justiça STJ, julgado em sede de Recursos Repetitivo : TRIBUTÁRIO. TRIBUTO DECLARADO PELO CONTRIBUINTE E PAGO COM ATRASO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. SÚMULA 360/STJ. 1. Nos termos da Súmula 360/STJ, "O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo". É que a apresentação de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS GIA, ou de outra declaração dessa natureza, prevista em lei, é modo de constituição do crédito tributário, dispensando, para isso, qualquer outra providência por parte do Fisco. Se o crédito foi assim previamente declarado e constituído pelo contribuinte, não se configura denúncia espontânea (art. 138 do CTN) o seu posterior recolhimento fora do prazo estabelecido. 2. Recurso especial desprovido. Recurso sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/08. (REsp /RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/10/2008, DJe 28/10/2008) Assim, não restam dúvidas de que a falta de apresentação mensal da GFIP, assim como a apresentação da referida guia com o preenchimento irregular das informações fiscais, torna inadimplente o contribuinte, mesmo em se tratando de Municipalidade, e impede, por si só, a

4 expedição de certidão positiva com efeitos de negativa, conforme requerida nos autos. Forte nestas razões, INDEFIRO o pedido de efeito suspensivo e DOU provimento à Apelação da Fazenda Nacional e a Remessa Necessária. Custas como de lei. É como voto.

5 APELANTE APELADO ADV/PROC REMTE RELATOR : FAZENDA NACIONAL : MUNICÍPIO DE BATURITÉ - CE : HELIO MONTENEGRO COELHO DE ALBUQUERQUE : JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DO CEARÁ (FORTALEZA) : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA TRIBUTÁRIO. CPD-EN-CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITO DE NEGATIVA PRETENDIDA POR MUNICÍPIO. OBRIGAÇÃO DE ENTREGA DA GFIP-GUIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS E INFORMAÇÕES À PREVIDÊNCIA SOCIAL. AUSÊNCIA DE ENTREGA EM ALGUNS MESES E ENTREGA IRREGULAR EM OUTROS. IMPOSSIBILIDADE DE EXPEDIÇÃO. 1. A Administração Fazendária deixou de fornecer a CPD-EN com fundamento na ausência da entrega da GFIP em alguns meses, assim como pela presença de divergências no preenchimento da guia em outros meses. 2. A entrega da GFIP configura uma obrigação tributária acessória autônoma, que, uma vez não adimplida, impede a expedição de qualquer documento comprobatório de inexistência de débitos, mesmo em se tratando de Municipalidade, conforme preconiza o art. 1, 9, do Decreto n 2.803/98, que regulamenta o art. 32, da Lei 8.212/ A entrega da referida guia com o preenchimento irregular das informações fiscais, torna inadimplente o contribuinte, mesmo em se tratando de Municipalidade, uma vez que a apresentação de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS GIA, ou de outra declaração dessa natureza, prevista em lei, é modo de constituição do crédito tributário, dispensando, para isso, qualquer outra providência por parte do Fisco (STJ, REsp /RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 28/10/2008-Recurso Repetitivo). Apelação da Fazenda Nacional e Remessa Necessária providas. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade de votos, DAR provimento à Apelação da Fazenda Nacional e à

6 Remessa Necessária, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 10 de dezembro de Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator.